O Felix e o Demiral
Pedro Azevedo
Os diários desportivos portugueses fazem hoje manchetes com a transferência de João Felix para o Atlético de Madrid. O valor pelo qual, alegadamente, o jogador irá sair, não sendo indiferente para ninguém, não nos deverá desestabilizar. Deve ser claro para todos que dentro de uma política de comunicação que pretende traduzir uma estratégia de hegemonia no futebol português, o jogador teria de sair pela cláusula de rescisão e constituir uma das maiores vendas de sempre a nível mundial. Não creio, no entanto, que não haja um conjunto de contrapartidas, que irão da compra de jogadores a preços relativamente inflacionados até às comissões pagas na totalidade desses negócios que não baixem significativamente o preço da transferência. Nada, aliás, que o próprio Sporting (com o mesmíssimo Atlético de Madrid) não tenha já feito no negócio Gelson/Vietto, pelo menos na avaliação que foi feita do jogador argentino (eventuais comissões não foram divulgadas). Logo veremos, o que não invalida que o Benfica vá certamente fazer um óptimo encaixe e que tal só tenha sido possível pelo indesmentível mérito de ter apostado num jovem na equipa principal.
A mim, que incomoda tanto foco na casa do vizinho, interessa-me muito mais o que se passa na nossa casa. E, nesse sentido, dou mais relevância ao facto de o conceituado portal italiano Calciomercato andar há uma semana a divulgar que Demiral será jogador da Juventus, num negócio que rondará os 15 milhões de euros. Afinal, andamos há tanto tempo a desvalorizar a nossa Formação, a dizer que não há qualidade - nada disto invalida que se trabalhe mais, melhor e com outras condições nos escalões jovens -, e tínhamos aqui à mão um jogador super talentoso e que futuramente integrará, lado-a-lado com Cristiano Ronaldo, o plantel de um colosso como a "Vecchia Signora". O que me leva a outra interrogação: se Demiral tem ficado no Sporting, o que se diria dele hoje? O mais certo era não ser aposta e ser apontado como mais um daqueles a quem faltaria algo para se impôr no clube, razão pela qual seria dado primazia a um Marcelo ou um André Pinto, por exemplo. Assim sendo, que garantias temos nós, sportinguistas, que não haja mais "demirais" em Alcochete que conosco nunca jogarão? Mais do que o "barulho das luzes" com que os Illuminati do futebol português nos pretendem brindar, estas são as questões que a meu ver merecem reflexão. Até porque o passado não se pode mudar, mas o futuro dependerá de nós e das nossas convicções. Tal como a nossa sobrevivência, é bom não esquecer.
P.S. Aos 25 anos, Ilori foi avaliado em 4M€ (compra de 60% do passe por 2,4M€). Aos 20 anos, Demiral saiu por 3,5M€, valor ao qual ainda há que deduzir 300.000 euros pagos em comissões (conforme último R&C). Bem sei, diferentes administrações. O mesmo clube, no entanto...
P.S.2. Ou há um Gabinete Técnico, transversal a cada administração da SAD, que faz a pré-avaliação de cada jogador da Formação e as suas conclusões são letra de lei, significando que daí depende a ascenção dos jovens futebolistas à equipa principal, ou então a avaliação da Formação fica a cargo de cada nova administração da SAD, com todos os riscos políticos inerentes a tal.