O Estado da Art&manha
Pedro Azevedo
O estado de crispação e de desesperança a que chegou a nossa sociedade é intolerável. E a responsabilidade é toda nossa, cada um contribuindo com o seu quinhão para esta triste realidade. Uns por vocação maniqueísta, outros por inacção e um silêncio tolhido de medo, alguns pela irresponsabilidade, muitos movidos pelo interesse. É por isso difícil nomear uma única razão que justifique o status-quo. Nas sociedades sempre conviveram situacionistas, reformistas e revolucionários. Se dependesemos dos primeiros, ainda viveríamos em ditadura. Mas se entregassemos o nosso destino aos terceiros, passaríamos o tempo a reconstruir, com todos os danos colaterais que a sociedade saída de Abril abundantemente ilustra. Pelo que o barómetro de um país se mede pela capacidade dos reformistas de alterar o sistema por dentro. E onde estão esses reformistas, presentemente? Provavelmente submersos por um aparelho judicial que não funciona bem e não protege devidamente as pessoas do bem, por oportunidades que são cirurgicamente entregues a yes-men que não se afastem de uma determinada linha condutora, por uma audiência que os ignora, privilegiando os soundbites inflamados para os telejornais, nos facebooks e demais redes sociais em detrimento da opinião razoável, moderada e construtiva. Isto que se aplica para o país, repassa também para o nosso Sporting.
No Sporting actual, e quando digo actual refiro-me às últimas décadas, abundam os maniqueístas, gente que vê o mundo a preto e branco e não observa prioritariamente o que deveria ser o predominante verde. Há também os interesses que se movem de forma mais ou menos óbvia, desde o director do jornal que acredita que terá melhor fontes de informação que ajudem a vender se alinhar a sua opinião com a de quem dirige o clube até aos marginais infiltrados nas claques que não querem perder os seus negócios mais ou menos clandestinos. Depois, existem também os irresponsáveis, os pirómanos e fomentadores de ódio, cuja vaidade os faz despudoradamente procurar escaranfunchar a ferida em busca de uma maior audiência da opinião publicada. Finalmente, há uma enorme maioria silenciosa que se afastou do estádio e do clube, perdeu paixão e compromisso. São pessoas a quem a histeria agride, que têm a paz como um bem inalienável e a sua segurança como prioridade e movem-se pelo amor e não pelo ódio às coisas. Ninguém actualmente comunica para estas pessoas, e não há presentemente soluções para as suas necessidades. Porque se a comunicação não vem de dentro, do coração, não cria um eleo identificador entre os homens e as mulheres de boa-vontade. Se a comunicação apenas visa defender o poder, só um estranho alinhamento de estrelas faria com que tal fosse conjugável com o interesse colectivo, o superior interesse do Sporting. Que deveria ser também o dos Sportinguistas, mas infelizmente não é, desde logo por haver Sportinguistas a achar que o Sporting muito lhes deve e, por conseguinte, a sobreporem-se ao clube, ou a justapor o seu interesse pessoal e agenda mais ou menos oculta ao interesse colectivo.
Como referi em cima, não há uma só razão que justifique termos chegado aqui, a esta encruzilhada. Assim, não tenho um diagnóstico preciso para a situação presente. Mas sei que se quisermos sair daqui só poderá haver uma solução. E essa solução será passarmos a mover-nos pelo amor às coisas, no caso o amor à causa, ao Sportinguismo, que crie uma cultura corporativa que isole comportamentos nocivos em sociedade e nos una em prol de um bem comum. Por isso, exorto o actual Conselho Directivo a preocupar-se com a próxima geração e não com a próxima eleição. Dando o exemplo e encorajando a enorme massa silenciosa a segui-lo. As pessoas precisam de bons exemplos, e necessitam de quem as lidere por esse caminho. Só assim teremos a nossa causa, só assim não perderemos a nossa relevância desportiva e social.