O embargo
Pedro Azevedo
O embargo é uma prática comum no comércio internacional que pode ser ditado por querelas políticas entre países, ou simplesmente por questões de proteccionismo económico. Sempre fértil em absorver os elevadíssimos padrões morais e éticos da sociedade moderna, o futebol parece tê-lo adoptado recentemente.
Sejamos francos, parece haver uma estratégia de controlo dominante do poder por parte de um clube nacional. Essa estratégia implicará o condicionamento dos rivais. Aparentemente, e pelo que se vai percebendo no que às transferências diz respeito (recomendo a leitura de um tal Pippo Russo), determinadas ligações entre agentes e presidentes/directores desportivos internacionais, alegadas mas nunca provadas participações económicas de empresários em clubes e falta de regulação geral do sistema ajudam tal propósito. Só nesse cenário pode ser compreensível que um Félix saia por 120 milhões de euros e que por um Bruno, melhor jogador da nossa Liga em 2 anos consecutivos, não se pague nem €70 milhões.
Perante este cenário, mandaria o bom senso que o Sporting desenvolvesse o seu produto sem estar dependente do mercado. E que o promovesse com garantia de qualidade, apoiado para tal em inúmeros exemplos da sua gloriosa história. Acontece porém que o senhor presidente do clube de Alvalade, seguro dos seus dotes de anatomista, produziu o diagnóstico de que o "paciente" não se encontra bem, não sendo possível determinar de momento, dada a profusão de notícias de baixas na Formação, se investido de médico-legista não terá já mesmo decretado o óbito. Fiél àquele ensinamento da Clarice Lispector, de que "não se deve preocupar em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento" (pelo menos até à hora da morte), foi mesmo alimentar o tal mercado que nega valor aos nossos activos, tendo numa voltinha de Verão comprado um T5 na Reboleira equipado com uma Sala de Enfermaria com duas camas (para Rosier e Camacho), empreendimento para o qual se receia que nem haja colchões suficientes.
Ao mesmo tempo que se vão empilhando stocks de compras no mercado (que mais tarde doaremos a alguma instituição), a Formação continua em filas-de-espera. Um modelo genial de Investigação Operacional, em que não há limite às importações, mas, em oposição, o sinal de trânsito de Alcochete para Alvalade encontra-se quase sempre (ai Thierry, até quando...) vermelho, coisa que aliás já vem de trás. Ora, vermelho é a côr do rival, pelo que esta "Gertrudes" que promove o controlo "inteligente" do nosso tráfego já me está a incomodar. Proponho então que se mude o nome para "Dolores", em homenagem à mãe do nosso Cristiano Ronaldo, rapaz que aparentemente não se deu mal com a luz verde que recebeu para Alvalade, de onde saiu para uma carreira digna de estórias de encantar. Como esta, ficcionada pois com certeza, aliás é. Não para nós, bem entendido.