Notavelmente notório
Pedro Azevedo
Numa peça assinada no jornal Record, o antigo Director de Comunicação do Sporting, Nuno Saraiva, diz que se "sobressaltou" ao ler que um documento laudatório em relação ao trabalho da actual Direcção assinado por mais de 200 Sportinguistas foi atribuído a um grupo de "notáveis". E acrescenta não ser ele próprio um "notável", pese embora vá adiantando que até foi convidado a assinar o referido documento - algo alegadamente apenas não concretizado por o "documento já estar impresso" -, não fosse provavelmente alguém menos atento esquecer-se da sua relevância no clube. Eu não me esqueço. E, a propósito do contentamento do próprio com o fim (que eu efusivamente, ontem como hoje ou amanhã, sempre aplaudirei) da excessiva adjectivação e linguagem deplorável na instituição, não me esqueço do afã com que Nuno Saraiva semanalmente doutrinava, na Sporting TV, em intermináveis e inesgotáveis homilias destinadas a lavar o cérebro aos Sportinguistas, que muito contribuíram para um inapropriado aumento de crispação interna no clube. Usando, por exemplo, expressões como "sportingados" que agora condena sem acto de contrição, camuflando assim o rasto das suas próprias acções. Pois é, Nuno Saraiva não é de facto notável, mas é notório. Como notório igualmente é que o zircónio também brilha mas nunca será um diamante, e que uma peça não se diz de joalheria por ser executada de joelhos. Notoriamente (que não notavelmente).