Matador!
Pedro Azevedo
Na sua ainda curta carreira desde cedo tudo pareceu fazer sentido. Iniciou-se como "novilheiro" num picadeiro ali para os lados de Pina Manique. A alternativa recebeu-a das mãos de Salvador, que lhe cedeu a arena em Braga. Em pouco tempo Varandas chamou-o, e ele desceu até Lisboa à procura da glória. A princípio participou nuns festivais taurinos de fim de época, foi-se mostrando. Até que entrou em cartel grande. Como mais novo, era a terceira figura do cartaz: no meio estava Conceição, um clone de Ponce, de estilo vigoroso adornado a lidar com os Vitorinos da sua predilecção; à cabeça, Jesus, o Curro Romero da Reboleira. Cabia-lhe iniciar a lide. O sol ia ainda alto e ele escolhera trajar de esmeralda e ouro como se a esperança se mesclasse com o seu desejo de ostentar um valor para quase todos então ainda desconhecido. O inteligente já dera o sinal, o cornetim tocara a condizer, começava o primeiro tércio. O touro saía do curro e já o caPote de um dos seus peões de brega arrancava bruás em cada lar. Atento, foi lendo os movimentos do touro, apercebendo-se como investia ao engano. Entre chicuelinas e verónicas, lidou com todas as ameaças sem perder a graciosidade, entrando mesmo nos perigosos terrenos do touro sem dar a ilusão de poder ser colhido. Com uma revolera rematou o toureio de capote. Novo toque de cornetim e eis que, qual Morante, ele próprio assume as bandarilhas. Um par logo de entrada, de poder a poder, mostra que Braga já ficou lá para trás. As sortes de bandarilhas saem-lhe como o capote, mas ainda há mais uma para completar o segundo tércio. Não será fácil, como nunca o foi. Entretanto, vem até à barreira limpar o suor e tomar um pouco de água. Segredam-lhe que acabam de estender por mais uma temporada o contrato que lhe permitirá continuar a exibir os seus dotes em praças de primeira. Vem aí a lide a pé, muleta e espada, onde sempre se decide o destino da Corrida. A multidão, em casa, sempre em casa, agita-se. O sol já baixa, o tércio decisivo está mesmo aí a chegar. Passo a passo, como desde cedo nos ensinou, procurará superá-lo. Passo a passo, interiorizando nós, procuraremos durante mais dois meses resistir a pensar vê-lo sair pela Porta Grande a caminho do Marquês, a caminho de todos nós. Boa sorte, Rúben Amorim. Que sejas "Matador"!