Formação: aposta ou placebo?
Pedro Azevedo
Muito se tem falado sobre o momento actual da Formação do Sporting. Nesse sentido, vou tentar deixar aqui a minha opinião e, ao mesmo tempo, eventualmente traçar uma perspectiva distinta daquela que tenho lido por aí. Então, aqui vai: as sementes são plantadas com anos de antecedência. Se tudo tivesse sido assim tão mal plantado, não teríamos equipas muito boas em iniciados e juvenis. É certo que haverá muito a melhorar (até porque os nossos adversários não estão parados) e que os juniores estão muito mal. Mas eu faço uma pergunta: sabem quem são estes jogadores? São aqueles que na história do Sporting ganharam mais vezes de forma consecutiva. É verdade! Diogo Brás, Bernardo Sousa, Gonçalo Costa, Tiago Djaló ganharam no segundo ano de iniciados, depois no primeiro ano de juvenis e, finalmente, no segundo ano de juvenis. Então, porque é que chegados ao antigo patamar superior da Formação (agora há os sub23) falham? E pelo segundo ano (estamos a 20 pontos, haverá uma nova fase, ainda não acabou)? É porque a sementeira foi má, mesmo tendo estes meninos ganho tudo? Foi pelas constantes mexidas operadas na cúpula dos juniores, desde a saída de Tiago Fernandes, à contratação de Pedro Venâncio e, agora à entrada de Lima? Ou é, principalmente, porque os sonhos dos miúdos começam a ser condicionados quando percebem que "não contam para o Totobola", com tudo o que isso significa de perda de motivação? O Leitor leu o que Tiago Djaló comentou no momento da sua saída? Que sentiu que não lhe dariam hipóteses? Porque é que Demiral quis sair? O que está a acontecer com Miguel Luís e Jovane? Não é verdade que pela primeira vez em 566 jogos entrámos em campo sem um jogador proveniente da Formação a titular? E depois queixamo-nos de que os habituais titulares estão exaustos...
Enfim, receio que estejamos sempre a ver a Formação numa perspectiva "bottom-up" e que ignoremos a visão "top-down". Se em cima não se criarem condições vai sempre dizer-se que a Formação não presta. Por isso, sejamos sérios, isto merece uma reflexão muito mais profunda. E, se nada acontecer agora, quando com o distanciamento que estas coisas exigem for feita a história correremos o risco de este período vir a ser lido como ‘O efeito placebo da Formação do Sporting’. É que, de há anos a esta parte, temos vindo a ser liderados, nos gabinetes como no campo, por sucessivos Dr Feelgood que vêem a Formação como a bóia de salvação e o ópio do povo quando o resto falha. Para depois voltarem ao mesmo. Uma e outra vez, e assim sucessivamente.