Eterno
Pedro Azevedo
Quando um jogador é muito bom, mesmo que pertencente à um clube rival, ele passa a ser de todos os adeptos. Essa, aliás, é uma das raras ocasiões em que a clubite cede ao gosto pelo futebol, esmagada que fica pela excelência do futebolista. Foi exactamente isso que se passou com Fernando Chalana, a quem um dia Neves de Sousa (o seu a seu dono) apelidou de O Pequeno Genial, um apodo mais do que justo para quem surpreendeu o mundo como um meteoro no Euro-84 e inspirou futuros craques como Paulo Futre. Com o seu bigode farfalhudo e jeito de homem simples, humilde e bom, Chalana virou após esse Europeu um ícone, o Chalanix, consequência da sua transferência para Bordéus e da semelhança fisionómica com o herói gaulês criado pelo traço de Uderzo. Mas os seus melhores tempos haviam ficado para trás. Lançado na equipa principal do Benfica com 17 anos acabados de perfazer, Chalana cedo chamou a atenção pela imprevisibilidade do seu drible, finta estonteante que executava muitas vezes parado. Raras aliás eram as vezes em que os adversários não ficavam no chão, bastando-lhe o desarmante ulular dos braços para produzir esse efeito. Além disso possuía a visão de jogo de um "10", um entendimento do jogo muito superior ao habitual num extremo. Tudo alicerçado numa técnica apuradíssima que lhe permitia jogar com igual rendimento com qualquer um dos pés. Mestre na arte do engano no terreno de jogo, até nisso Chalana foi diferente: destro, levou a maioria das pessoas ainda hoje a pensar que era um canhoto natural. Um grande. E, como grande, eterno.