Entre a Petit e a grande discussão
Pedro Azevedo
O futebol em Portugal é um jogo com imensas regras dentro do campo e poucas fora dele. Por isso, a controvérsia é uma constante, o que constitui um paraíso para a imprensa e para os blogues deste país. Sendo sempre mais fácil criticar comportamentos do que sugerir regras, passamos a vida a apontar o dedo a alguém, mas tudo continua precisamente igual. Deve ser a isso que se chama a função social do futebol, uma forma de libertação de frustrações diversas, de outra forma perigosamente reprimidas, e que se esgota nisso, sem quaisquer outras consequências práticas. Como sempre venho dizendo, o circo romano dos nossos dias.
Acontece que o futebol hoje em dia é muito mais do que um jogo ou um espectáculo. É um negócio, onde há muito dinheiro a circular, e como qualquer outra actividade económica tem de ser regulado e supervisionado sem amadorismos, de forma profissional. Por isso, o problema não é Petit e a sua frontalidade - se ficasse calado teria actuado melhor? - , mas sim a impassividade dos organismos desportivos que supervisionam o futebol (Federação e Liga, esta última composta por clubes) e a sua incapacidade de criarem regulamentos e códigos de conduta que reprimam comportamentos pouco éticos. Desta forma, entregues a si próprios, os agentes desportivos vão sempre procurar o melhor para si, descurando o interesse global, apesar da obstinada resistência de um ou outro paladino da ética e da transparência, impotente(s) para virar o curso aos acontecimentos.
P.S. enquanto estas e outras questões do futebol português não se resolvem (desconheço qualquer proposta do meu clube nesta matéria específica), talvez não fosse má ideia olharmos para dentro da nossa casa. É que se o Benfica derrotou o Nacional da Madeira por 10-0, o Sporting teve pelo menos 10 oportunidades de golo na Choupana. Só Diaby deve ter perdido uma meia-dúzia de chances. E acabámos a defender o 1-0. Já dizia Bobby Robson: o Sporting não tem "killer instinct"...