De mal a pior
Pedro Azevedo
A Sporting SAD emitiu um comunicado a clarificar o ponto da situação em torno do futuro do goleador holandês Bas Dost.
Eis o Comunicado (transcrito de abola.pt):
"A Sporting Clube de Portugal – Futebol, SAD (adiante Sporting SAD ou Sociedade) vem, nos termos e para efeitos do cumprimento da obrigação de informação que decorre do disposto no artigo 248.º-A, n.º 1 al. a) do Código dos Valores Mobiliários, informar o mercado, nos seguintes termos:
1. Em Maio de 2019, o jogador Bas Dost informou o treinador de que queria sair da Sporting SAD;
2. Dias depois, o seu agente reuniu com o Presidente da Sporting SAD e o director desportivo, e transmitiu que Bas Dost queria sair da Sporting SAD, por considerar ter terminado o seu ciclo no Clube;
3. No seguimento dessa conversa, a Sporting SAD e o agente vêm trabalhando em conjunto para a saída do atleta;
4. Ao longo dos últimos meses, houve interesse de vários clubes da China, Rússia, Turquia e México. Bas Dost recusou sequer ouvir as propostas, comunicando à Sporting SAD que a sua decisão não tinha por base motivos financeiros, mas sim pessoais;
5. Apesar de se tratarem de propostas muito mais atractivas financeiramente do que aquela que lhes veio a suceder, a Sporting SAD respeitou a decisão do jogador, procurando alternativas que iam ao encontro ao seu interesse e vontade;
6. Há cerca de uma semana, o agente informou a Sporting SAD que o Eintracht Frankfurt estava interessado em Bas Dost e que este clube e campeonato iam de encontro ao desejado pelo jogador, tendo este inclusivamente já chegado a acordo com o clube alemão;
7. A Sporting SAD, que conforme oportunamente comunicado também já alcançou um princípio de acordo com o Eintracht Frankfurt, foi no entanto surpreendida com exigências financeiras de última hora da parte do jogador que estão a impedir a concretização da transferência;
8. A Sporting SAD sabe muito bem quem está a colocar e porque é que está a colocar as notícias falsas na imprensa de hoje;
9. A Administração da SAD mantém-se disponível para alcançar um acordo vantajoso para todas as partes, mas permanecerá firme e intransigente na defesa dos interesses da Sporting SAD e imune a pressões mediáticas desta espécie."
De traidor a mártir, na visão de alguns adeptos, de mártir a traidor provavelmente para a Direcção do clube, duas rectas paralelas que certamente só se encontrarão no infinito. Entretanto, a tenda voltou a instalar-se em Alvalade. À cautela, dada a flagrante falta de equilíbrio (a verdade, na maioria das vezes, esconde-se no meio) dos "artistas", o melhor será colocar uma rede debaixo do trapézio. É o circo, senhores, é o circo!
P.S. Há uma coisa (bom, na verdade várias) que não entendo: então, se o Sporting recusou "propostas muito mais atractivas financeiramente pelo jogador", são agora exigências financeiras de última hora que estão a impedir o negócio? Desproporção do tipo dezenas de milhões vs "peanuts"? E aceitamos vender o jogador por um preço muito abaixo de outros que chegaram a Alvalade, só para satisfazer a vontade dele? E o interesse do clube, onde fica no meio disto? É verdade que o Sporting tinha interesse vendedor, ou tudo fez para que o atleta ficasse? E Keizer já sabia desde Maio que o jogador queria sair? Isto parece-me querer matar dois coelhos de uma cajadada e até já estou com medo de ouvir a versão do jogador... É que, olhando para o Comunicado, é difícil não ficar com a percepção que visa essencialmente tornar de todo inviável a permanência do atleta, demonizando-o perante a opinião pública leonina. Perguntas (retóricas): o contrato do jogador não foi assinado de livre vontade entre as partes? É o jogador obrigado a deslocar-se, a si e à sua família, para o México, a China ou a Rússia? Não é verdade que o treinador e o plantel, com o seu capitão à cabeça, têm interesse em que ele fique? Uma última pergunta (aberta): qual a razão que levou um atleta que disse amar o clube, adorar o país, o sol, cuja família plenamente se integrou, que ganha sumptuosamente, a pedir para sair do clube? Conclusão da minha parte: da mesma maneira que o jogador não era obrigado a mudar-se para o México, China ou Russia, também nós não éramos obrigados a aceitar a proposta mais baixa pela sua aquisição. Se o fizemos, é porque tínhamos um óbvio interesse vendedor alicerçado naquela ideia da poupança de salários. Caso contrário, o jogador teria ficado connosco, onde aliás seria bem-vindo pelo treinador, restantes jogadores e maioria dos sócios.