Bruno e a essência da paixão
Pedro Azevedo
Por algo que só mais tarde vim a compreender, a minha ligação ao Sporting nunca foi alimentado pela rivalidade com outros clubes. Na minha meninice, bem tentei odiar o Humberto Coelho ou o Chalana mas falhei por completo, não resistindo a admirar a liderança serena de um ou o génio exuberante do outro no terreno de jogo. Da mesma forma, aprendi a gostar da postura do treinador Toni, um homem sem fanatismos esdrúxulos e que, no meu entendimento, nunca fez mal ao futebol.
Não, não foi pelos piores motivos que alimentei o meu amor ao Sporting. A minha paixão pelo clube começou ao ouvir na telefonia os golos improváveis do Yazalde, as fintas desconcertantes do Dinis, as arrancadas do Marinho e as defesas impossíveis do Damas, e foi reforçada pelo sortilégio de pisar pela primeira vez o solo sagrado do antigo José de Alvalade. Aí, primeiro na Superior, depois na Bancada Nova, até me fixar na Bancada da Tribuna de Honra encostado ao varandim, fui tendo a minha vivência de Sporting.
Ao longo dos anos vi passar grandes jogadores pelo nosso Sporting. Desde o Manuel Fernandes ao Oliveira, passando pelo Jordão, Fraguito ou Futre, do Figo ao Balakov, não ignorando o Paulo Sousa ou o Cherbakov, estes últimos, por motivos diferentes, em passagem meteórica pelo leão rampante. Mais tarde, vi nascer o Quaresma e o Ronaldo, e com eles a consolidação de mais uma bandeira da nossa Cultura, a aposta na Formação, que passámos orgulhosamente a ostentar de mão dada com o ecletismo.
Com o passar do tempo, o futebol-negócio foi tomando o lugar do futebol-espectáculo. A abertura das fronteiras europeias e o fim das restrições em certos países à aquisição de jogadores estrangeiros, tornou mais difícil a vida dos grandes clubes dos pequenos países periféricos e afectou a sua competitividade extramuros. Pensei, por isso, que não os formando em nossa casa, jamais conseguiríamos ter acesso a um desses craques do passado.
Eis então que vi pela primeira vez jogar Bruno Fernandes. E fiquei maravilhado. Quem me segue certamente não olvidará que sempre o considerei, por larga margem, o melhor jogador do Sporting. Mesmo quando sondagens de opinião entre adeptos não o colocavam entre os 3 melhores do plantel na época passada. Mas não é para mostrar razões que escrevo este texto, mas sim para partilhar uma reflexão que adiante desenvolverei.
É mentira que não haja jogadores insubstituíveis: Eusébio, Cruijff, Di Stefano, Pelé, Beckenbauer, Maradona, Messi ou Ronaldo foram ou são insubstituíveis. Pelo menos durante décadas, e mesmo assim nenhum adepto quer ter de esperar 50 anos para por fim vêr um Cristiano se equiparar ao outrora esplendor da "seta rúbia", Don Alfredo.
Enfrentemos a realidade: Bruno Fernandes é hoje insubstituível. Nenhum médio do Sporting conseguirá nos próximos tempos ter uma influência de cerca de 60% nos golos do clube. Uma barbaridade! Por outro lado, exibe uma liderança pelo exemplo que serve de inspiração a todo o plantel. Um jogador com esta relevância deveria sair com o título de campeão nacional. Por isso, dever-se-ia aumentá-lo e convencê-lo a ficar connosco mais uma temporada. Por ele e por nós. Assim, teria a motivação extra de deixar a sua marca para sempre no futebol do clube, vencendo o desígnio de outros craques como Balakov e Figo (para não falar de Futre) que saíram de Alvalade sem coroa nem glória. E, aos 25 anos, ainda estará muito a tempo de deixar o seu nome gravado no futebol internacional.
P.S. Se ninguém pagar a cláusula de opção, dêem-lhe os 5 milhões. Se um Kepa, guarda-redes, também ele não titular da sua selecção e oriundo do Atlético de Bilbau, vale 80 milhões para um Chelsea, porque é que nos havemos de contentar com pouco no que respeita a Bruno Fernandes, o médio mais goleador da Europa? Assim, repito o pedido/apelo que hoje Ristovski lhe formulou (a julgar pela imagem pode ser que esteja a ouvir): FICA!!!