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Castigo Máximo

De forma colocada, de paradinha, ou até mesmo à Panenka ou Cruijff, marcaremos aqui a actualidade leonina. Analiticamente ou com recurso ao humor, dentro ou fora da caixa, seremos SPORTING sempre.

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Castigo Máximo

19
Out22

As causas das coisas


Pedro Azevedo

Quando se fala do actual momento da equipa de futebol do Sporting é possível fazer uma súmula das principais críticas efectuadas por sócios e adeptos. Estas são: 1) A protecção que alegadamente Amorim dá a certos jogadores do plantel; 2) A ausência de um ponta de lança matador; 3) A falta de aposta na Formação; 4) A venda não devidamente compensada (desportivamente) de Matheus Nunes; 5) A menor qualidade dos reforços; 6) A imutabilidade do sistema táctico. 

 

A meu ver as críticas fazem sentido nos 4 primeiros pontos, são apenas em parte justificadas no ponto 5 e duvido que tenham nexo de causalidade no 6º ponto. Adicionalmente, creio haver um 7º ponto, que correlaciona com o 4º, não tão falado e que eventualmente estará a ter mais peso nos resultados e exibições que quaisquer dos outros comumente apontados por sócios e adeptos. 

 

Vou passar a explicar: é certo que a insistência em Esgaio e Paulinho parece carecer de meritocracia. O lateral/ala tem cometido arros sucessivos (Braga, Boavista, Santa Clara, Marselha cá e lá...) que na sua esmagadora maioria custaram pontos e o ponta de lança ainda só marcou 1 golo (ainda que importante, contra o Tottenham) desde o início da época. Se no caso de Esgaio tal mais realça o enigma do empréstimo do jovem Gonçalo Esteves ao Estoril (ainda mais sabendo-se do histórico de lesões musculares de Porro), no que concerne a Paulinho questiona-se a razão pela qual a ida ao mercado para buscar uma alternativa não foi equacionada. Poderia ter sido para dar oportunidades a Rodrigo Ribeiro, mas não, pelo que num e noutro caso emerge a falta de aposta na Formação: não só o jovem e promissor lateral/ala deixou o plantel como a única alternativa a Paulinho (Rodrigo Ribeiro) não tem tido possibilidade de jogar. Rúben alega que o momento não é o melhor para lançar jovens, mas sendo o momento de uma equipa uma situação imprevisível no mundo do futebol pergunta-se porque então foi entendido ser Rodrigo a única alternativa a Paulinho. É-se alternativa para nunca jogar? Claro, pode sempre invocar-se a opção pelo ataque móvel como justificação, mas no ponto 7 procurarei explicar que essa opção trouxe mais inconvenientes que vantagens à equipa do Sporting. Ainda no que respeita aos jovens, só à luz de pura propaganda se entende a aposta não continuada em Dario Essugo ocorrido na época passada. Já no que se refere a Mateus Fernandes é difícil de perceber o motivo de ainda não ter sido opção, dado o actual elenco de médios. (Uma nota: Rúben diz que o momento não é o melhor para lançar jovens, mas curiosamente a única oportunidade que concedeu a Rodrigo Ribeiro ocorreu quando o Sporting já perdia por 2 a 0, em casa, contra o Chaves.) Esta tergiversão no que respeita à Formação, bem como a insistência no mesmo ponta de lança e a protecção a jogadores "preferidos", tem tido impacto nos resultados desportivos. Mas, mais até do que nos resultados, tem tido repercussão no estado de espírito de sócios e adeptos, o que faz com que o que ontem seria impensável (haver já quem veja o treinador mais como um problema do que como uma solução) hoje esteja a ser equacionado. Do meu ponto-de-vista precipitadamente, até porque não trocaria um treinador que ainda recentemente nos deu um campeonato e mostrou consistência numa segunda época completa por outro (Abel Ferreira) que pode ter ganho duas Libertadores e vir a ser campeão brasileiro esta época mas não me dá a garantia de triunfos similares no Sporting. Além disso, se li bem o que se tem passado, o que está mais a constrangir a equipa nem é da responsabilidade directa de Rúben. Passo a explicar: para mim, a saída de Matheus Nunes, pelo que individualmente valia e pela compatibilidade com o jogo da equipa/características dos colegas, não foi devidamente colmatada e está na origem directa de um jogo ofensivamente arrastado e sem acelerações e de uma maior exposição dos nossos defesas. Não é que Morita não tenha imensa qualidade (e aqui entramos no tema dos reforços), mas embora partilhe com o luso-brasileiro a técnica apurada não tem o motor nem a presença física deste. Já o jovem grego (Alexandropoulos) tem apenas o transporte de bola em comum com Matheus, pois fica bastante aquém na capacidade técnica (passe, recepção, remate, drible), explosão no arrranque (Matheus era especialmente imprevisível quando recebia de costas para a baliza adversária, rodando com igual facilidade para a esquerda ou direita) e decisão (timing de largar a bola). St Juste é um central com técnica e velocidade, qualidades que lhe permitiriam facilmente ocupar a posição de lateral. Infelizmente, cada vez mais se assemelha a um homem de cristal (lembram-se do Jeffren?) e a gestão do seu estado físico aparenta ser pouco coerente. (Apressa-se o seu regresso para depois numa perspectiva conservadora jogar o mínimo de tempo possível e ser substituído, mas muitas vezes nem a perspectiva conservadora o salva e sai novamente lesionado.) Depois há o Edwards, que é claramente o malabarista desta equipa, um jogador com grandes recursos ofensivos mas com carências que explorarei no tal 7º ponto. O inglês destaca-se de Trincão por jogar de cabeça levantada, ter um drible mais imprevisível e uma melhor decisão. Com Edwards e Trincão na equipa, Fatawu parece redundante. E ainda chegou Arthur, que impressionou no pouco tempo que esteve em campo com o Tottenham e só voltou a jogar com o Santa Clara, desaparecendo depois. Quantos aos outros, o Marsá pode vir a fazer a diferença, o Israel nem tanto. Em resumo, não creio que globalmente os reforços sejam maus. Por exemplo, o Morita é um excelente jogador de futebol e o Edwards é um extraordinário jogador de bola (futebol de rua), a precisar de mais compromisso com a equipa e o jogo. O St Juste sem lesões será muito útil e o Marsá tem uma saída de bola que impressiona. Outros há que parecem não aquecer nem arrefecer, sendo de questionar se não haveria na Formação igual ou melhor. Já Trincão não tem justificado até agora o racional da sua contratação, seja em termos absolutos ou por via da comparação com Sarabia.   

 

A alegada imutabilidade do sistema táctico muitas críticas tem valido a Rúben Amorim. Mas aqui estou com ele. Os sócios e adeptos dizem não haver um Plano B, mas a verdade é que já vi o Sporting terminar a jogar em 3-2-5, o célebre WM (exemplo: Gil Vicente, em casa, no ano do título). Além disso, várias nuances têm vindo a ser adicionadas ao nosso tradicional 3-4-3: Paulinho chegou a jogar a partir da esquerda com Slimani no meio, a lembrar o que Mourinho fez com Derlei e McCarthy  no Porto campeão europeu; Matheus passou para a meia-esquerda e Pote ficou a jogar de perfil com Palhinha; a dado momento da época passada houve uma clara intenção de dar mais dinâmica atacante à equipa, com Amorim a preterir Palhinha em detrimento de Ugarte. Em todas essas alterações notou-se a preocupação de Amorim em melhorar a equipa e/ou torná-la menos previsível, porém nem sempre resultaram. (Ainda hoje não sei se não teríamos ganho o campeonato, se o Matheus tem continuado a jogar a partir do centro e não derivado mais para a esquerda.) De notar que com o plantel actual o 4-3-3, o 3-5-2 ou mesmo o 4-4-2 seriam sistemas ainda mais desadequados a um único ponta de lança e com as características de Paulinho. Por fim, cumpre lembrar a todos os  que gostam de mudanças de sistema operadas durante os jogos que o nosso antigo treinador, Silas, mudava de sistema como quem substitui um jogador. Com os resultados conhecidos... (E é difícil alterar um sistema à terceira jornada de um campeonato e quando se trabalhou na pré-época a contar que Matheus ficasse e ajudasse a mitigar os possíveis desequilíbrios defensivos que jogadores entretanto adquiridos com menor propensão para pressionar na frente poderiam previsivelmente causar.)

 

Analisados os principais pomos de discórdia, entro agora no tal enigmático ponto 7 que imediatamente desvendarei: defensivamente a equipa comporta-se muito pior do que em 20/21 ou 21/22 por motivos muito concretos. Senão vejamos: o Sporting de 20/21 tinha Sporar como ponta de lança. Ofensivamente falhava golos incríveis, mas defensivamente trabalhava que nem um mouro. O Sporting pressionava muito à frente, no que também Tiago Tomás era bastante útil (e o raçudo Nuno Santos, que nessa era jogava lá na frente, como interior). Depois havia Palhinha, que era um polvo e disfarçava a menor intensidade de João Mário. Este acabava quase sempre substituído por Matheus Nunes, que trazia a força que começava a faltar ao meio-campo e ainda como "plus" marcava golos decisivos como contra o Benfica, em Alvalade (onde foi titular), ou ao Braga (cá e lá). Com a substituição de Sporar por Paulinho e o gradual apagamento de TT, o Sporting começou a ser mais permável defensivamente. Tal pode ser atestado pelo maior número de golos sofridos nessa segunda volta, mas também pelo desempenho na época seguinte. Ainda assim, os números eram perfeitamente razoáveis e dignos de um sério candidato ao título. Todavia, este ano tudo mudou. Para pior. E a meu ver há uma razão para isso. Com o ataque móvel passámos a ter dois dianteiros (Edwards e Tricão) que não defendem, a que acresce um Pote menos lutador que em anos anteriores. Isso poderia ter sido mitigado havendo Palhinha e Matheus Nunes. Ambos porém foram vendidos, o que justifica o mal-estar que Amorim não se coibiu de exibir publicamente. Aliás, em defesa do treinador é preciso dizer que estava bem consciente do desequilíbrio que a saída de Matheus poderia provocar, nomeadamente quando antes da sua saída afirmou preferir manter todos os jogadores a ir ao mercado. Ora, não estando em causa a valia de Ugarte ou de Morita, nenhum deles consegue impôr tanto o corpo, esticar o jogo, desgastar os adversários e regressar á posição inicial (como se estivesse ligado à equipa por um elástico) tantas vezes num jogo como o Matheus Nunes. E se o adversário tem fôlego e encontra menos oposição, então tem a sua vida facilitada, o que é inversamente proporcional à vida da nossa defesa. Acresce que o nosso jogo ofensivo também se tornou mais pastoso após a saída de Matheus, facto aliás reconhecido pelo olho certeiro de vários Leitores deste blogue. É que o Menino do Rio tirava rapidamente a bola da zona de pressão e em duas/três passadas já ameaçava a área contrária. Morita é um belíssimo jogador, mas é mais de passe e menos de transporte, o que significa que tem dificuldade em produzir jogo atacante se não tiver referências de passe, mas Matheus estava num patamar superior. Havia melhorado muito o passe frontal e o remate à baliza (aspectos da "decisão") e conciliava agilidade com técnica irrepreensível e velocidade de condução de bola. Sem ele, hoje em dia há uma inglória sobreutilização dos flancos e dos cruzamentos para um ponta de lança com características mais eufemisticamente ditas de associativas e menos de finalização nata, o qual fica a parecer pior do que é precisamente devido ao menor fluxo de jogo interior (a lentidão no transporte de bola leva ao reposicionamento do adversário e congestão da zona central, restando as alas para tentar criar o desequilíbrio). Por isso digo que a saída de Matheus desestabilizou treinador e equipa e dou mérito ao treinador por imediatamente ter percebido a falta que o Menino do Rio viria a fazer, não esquecendo que se não fosse Rúben o Matheus provavelmente ainda andaria a bater à porta da equipa A (ideia peregrina anunciada por Silas aquando da sua passagem pelo Sporting). 

 

Olhando para todos os aspectos aqui considerados e pensando eu que a serenidade voltará à acção e ao discurso de Rúben, não tenho dúvidas de que apesar da sua quota de responsabilidade na nossa actual crise ainda é o treinador que nos dá mais garantias no presente. E para o futuro, caso retorne a interrompida aposta na Formação. Creio é que os sócios e adeptos estão fartos de assistir a este jogo de espelhos, de fontes luminosas, novas ou pereira de melo citadas por jornais, por onde Direcção e treinador vêm vendendo as suas razões. Entendam-se! (É que os jogadores também assistem a estas coisas e a autoridade de quem os lidera não se pode perder.) 

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