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Castigo Máximo

De forma colocada, de paradinha, ou até mesmo à Panenka ou Cruijff, marcaremos aqui a actualidade leonina. Analiticamente ou com recurso ao humor, dentro ou fora da caixa, seremos SPORTING sempre.

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Castigo Máximo

18
Jun22

A Vida de "Chirola" Yazalde (*)

Parte VI (e última) - Até sempre, Chirola!


Pedro Azevedo

Após uma boa primeira época em França, nada faria supor que estaria iminente o seu regresso à Argentina. Inclusivé, Carmen acaba de dar à luz o único filho do casal, Gonzalo, em terras francesas. Yazalde tem uma vida estável, tranquila e confortável na Riviera Francesa, mas a ilusão de voltar a jogar um Mundial, ainda mais na Argentina (anfitriã do Mundial de 78), fá-lo esticar a corda e regressar a casa. Perde muito dinheiro (com contrato por mais dois anos, tem de pagar 500.000 dólares de valor de rescisão ao Marselha) no processo, mas no início de 77 (a meio da temporada em França) assina pelo Newell's Old Boys, um clube argentino da cidade de Rosário, 300 km a noroeste de Buenos Aires. 

 

Estreia-se pela sua nova equipa no Campeonato Nacional (hoje Clausura), competição que funcionava como segundo turno do campeonato argentino. O primeiro jogo é em Mar del Plata, contra o Círculo Deportivo. Fica em branco. Em 4 de Fevereiro, contra o San Martin de Tucumán, o primeiro golo. Mas não é só 1, são 3 de uma vez, um hat-trick. Acaba o ano com 7 golos. Reencontrado com a forma de jogar na Argentina, inicia o Metropolitano de 78 em grande forma. Logo a abrir, 2 golos ao Argentinos Juniors, a equipa de "El Pibe" Maradona, mago que tem em Yazalde um dos seus ídolos de criança. O Newell's vence por 3-0 e os dois craques tiram uma foto que um dia Maradona utilizará para homenagear nas redes sociais o seu ídolo (entretanto já falecido). Os golos voltam-lhe aos pares, marca a dobrar ao Colón, Chacarita e San Lorenzo. Acaba o primeiro turno do campeonato com 10 golos. Yazalde está novamente em grande, mas a tristeza por não ter sido incluído na convocatória de Menotti para o Mundial deixa-o inconsolável. Entra em depressão. Como se não bastasse, segundo Carmen, leva uma injecção contra a gripe e é contagiado com hepatite num tempo em que as seringas são muitas vezes reutilizadas. Começa a ter recorrentes problemas de fígado.  Na 2ª parte da época, disputada pós-Mundial, o Chirola só faz 4 golos. Mais animado, regressa em 79 com um bis ao Racing de Avellaneda, rival dos tempos em que esteve no Independiente. De seguida, um hat-trick ao Velez Sarsfield. Acaba 1979 com 14 golos marcados, o mesmo registo do ano anterior. Em 80 está em grande evidência no dérbi de Rosário, o Classico Rosarino, que põe em confronto "leprosos" (Newell's) e "canalhas" (Rosário Central). Marca por duas vezes e o Newell's vence por 3-0. Em finais de Outubro, volta a bisar. Desta vez contra o seu antigo clube, o Independiente. Um mês depois, faz 2 golos no espaço de 3 dias. A vítima é o "all mighty" River Plate. Acaba o ano com 13 golos, como um relógio suiço. Ainda faz uma perninha no Metropolitano de 81. São apenas 2 meses, o suficiente para se despedir com 6 golos. No total, são 54 pelo Newell's. Por fim, é visto em 82, num jogo pelo Huracán, mas é o canto do cisne. 

 

Terminada a carreira de futebolista, Yazalde assume funções no staff directivo do Huracán e chega até a treinar o clube durante um curto período de tempo. No Natal de 84 vem a Lisboa para apresentar Saucedo, compatriota que jogava no Equador. Entra em Alvalade, é recebido e saudado pela direcção presidida por João Rocha e regressa à Argentina. Nunca se esquecerá do Sporting, vivendo-o sempre com intensidade, fazendo fé nas próprias palavras de Carmen Yazalde. Carmen de quem se separa em 87, nunca porém se divorciando. E morre, em 97, a 18 de Junho, aos 51 anos. Conta Carmen ao "As": "o meu filho ligou-me pelas 6h30, mas quando cheguei já o Yazalde estava morto. Tinha vindo de jantar, sentiu-se indisposto. Não estava bem desde há 2 anos atrás, tinha uma úlcera perfurada e muitas hemorrogias internas". 

 

Um Homem só verdadeiramente morre quando já não existe ninguém para o lembrar. Assim, estou em crer que Yazalde viverá enquanto existir pelo menos 1 Sportinguista, logo eternamente (assim o espero). Para a história ficarão essencialmente os seus 50 golos em 73/74 (apenas 35 jogos) - 46 dos quais, no campeonato, valer-lhe-iam a Bota de Ouro - , marca só muitos anos mais tarde batida por outro "leproso" (Messi) e por um jogador da Formação do Sporting (Ronaldo). Não digam que não há coincidências...

 

P.S. Termino hoje, no dia em que se perfazem 50 anos desde a data em que Yazalde se estreou em Alvalade, este ciclo de Posts sobre a vida de Héctor Yazalde. Uma homenagem ao Chirola em que procurei trazer alguns novos, ou pouco divulgados, dados sobre a sua carreira desportiva e vida fora das quatro linhas. Foram 6 capítulos escritos com amor, ciente do impacto (não querendo desvalorizar a importante acção do meu pai) que o meu 1º ídolo teve na minha decisão de ser do Sporting. Era algo que um dia teria de fazer, assim como que uma espécie de chamamento, eu que me estreei na blogosfera exactamente a escrever sobre Yazalde. Ficará em arquivo, espero que vivo, deste blogue enquanto acervo da vida deste enorme futebolista que tão bem serviu o nosso Sporting. Nunca se esqueçam que, tal como as nossas referências, princípios ou valores, as pessoas só morrem verdadeiramente se nos esquecermos delas. 

 

Obrigado, Yazalde!

 

Bibliografia: Esquadrão Imortal (site brasileiro); Jornal AS (Espanha, artigo de Topo López); Puntal Villa María (jornal argentino); En Una Baldosa (site argentino); Cápsulas de Carreño (site colombiano); Clarin (jornal argentino); Infobae (site de notícias argentino propriedade de Daniel Hadad), Bifana Bifana (blog, Inglaterra); OM4ever.com (blog de apoiantes do Marselha); Entrevista de Rui Miguel Tovar a Carmen Yazalde; WikiSporting. O meu agradecimento especial ao Francisco Navarro. 

yazalde newells.jpg

yazalde newells 2.jpg

yazalde newell.jpg

 

yazalde e maradona.jpg

(*) Publicado originalmente neste blogue em 24 de Fevereiro de 2021

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