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Castigo Máximo

De forma colocada, de paradinha, ou até mesmo à Panenka ou Cruijff, marcaremos aqui a actualidade leonina. Analiticamente ou com recurso ao humor, dentro ou fora da caixa, seremos SPORTING sempre.

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18
Jun22

A Vida de "Chirola" Yazalde (*)

Parte III - A caminho da glória


Pedro Azevedo

Após 8 meses sem jogar, Yazalde tem a oportunidade de finalmente poder justificar a sua contratação pelo Sporting. É o início da época 71/72 e o treinador é Fernando Vaz, campeão em 70 e vencedor da Taça de Portugal em 71 pelo clube. Yazalde entusiasma na estreia com 3 golos ao Boavista. Na jornada seguinte, mais um golo, desta vez ao Barreirense. O ímpeto goleador vai continuando: faz abanar as redes do Leixões e do Vitória de Guimarães. À sexta jornada o Sporting tem 6 vitórias e Yazalde 6 golos. Se seis é o número da união perfeita, Alvalade está em delírio com a equipa e o seu avançado.

 

Subitamente, uma derrota, em Belém. Yazalde não marca e o Sporting perde. A equipa parece retomar um caminho virtuoso com vitórias sobre Farense e CUF e um empate nas Antas, mas é sol de pouca dura: um empate em Setúbal e uma derrota caseira com o Beira Mar dão pouco espaço de manobra, o desaire caseiro com o Benfica (0-3) põe fim às aspirações de ganhar o título. Yazalde, entre pequenas lesões e abaixamento de forma não é mais o mesmo, consequência porventura da falta de ritmo ocasionada por ter estado tanto tempo parado durante a temporada anterior. Até ao fim da época marcará apenas em mais 7 ocasiões, 3 golos para o campeonato e outros 4 na Taça das Taças. Nesta última acontece o caricato: após eliminar o Lyn, da Noruega (3 golos de Yazalde), o Sporting enfrenta o Glasgow Rangers. Primeiro, é derrotado na Escócia por 3-2. Em Alvalade, Yazalde inaugura o marcador. Mas, por cada golo que os leões marcam, os protestantes logo igualam. Perto do fim, Pedro Gomes faz o 3-2 e o jogo vai para prolongamento. Desta vez são os escoceses que se adiantam, mas Peres volta a colocar o Sporting na frente. Termina o prolongamento e o árbitro manda seguir com as penalidades. Damas defende por três vezes, é o herói da noite. Alvalade festeja a eliminação do Rangers. Por pouco tempo: ao acordarem de manhã, os adeptos tomam conhecimento que o árbitro falhou ao não cumprir com os novos regulamentos que prevêm que em caso de igualdade final prevaleçam os golos marcados fora. Ora, o Sporting fizera 2 em Glasgow e os escoceses 3 em Lisboa, o golo a mais, ainda que marcado no prolongamento, conta mesmo para desempatar a contenda a favor do Rangers.

 

A época não é menos frustrante: Fernando Vaz não resiste aos maus resultados e é despedido num processo com o seu quê de sinistro. Três vezes campeão pelo Sporting como adjunto de, respectivamente, Robert Kelly, Cândido de Oliveira e Randolph Galloway, Vaz havia ganho como treinador principal o campeonato e a taça, a última após goleada por 4-1 na final contra o eterno rival Benfica. Sai Vaz, entra Mário Lino, antes adjunto. Com o campeonato perdido (3º lugar) e já eliminado na Europa, Lino concentra-se na Taça de Portugal. E o Sporting vai à final, reeditando o duelo com o Benfica. Desta vez sem glória: derrota por 3-2. Yazalde fica em branco e termina da pior maneira uma temporada que pareceu auspiciosa. No total marca 13 em 28 jogos. Chico Faria faz 14 e Fernando Peres, o maestro, é o melhor marcador da equipa (16 golos). 

 

Se no plano futebolístico Yazalde ainda está a aquecer os motores, no amor as coisas vão de vento em popa. Assim, terminada a época, viaja com Camizé, futuramente dita Carmen, para a Argentina a fim de lhe apresentar a família e estar presente no casamento de Teté Coustarot, modelo e rainha de beleza do país das pampas.

 

No regresso conhece um novo treinador. É inglês e chama-se Ronnie Allen, antigo ponta de lança do WBA e dos "Three Lions" (as armas inseridas no escudo da selecção inglesa de futebol). A expectativa é grande, Allen vem com bom cartel de Bilbau onde conseguiu um segundo lugar na La Liga com o Athletic. A estreia no campeonato não poderia ser melhor: o Sporting desloca-se às Antas e ganha por 1-0. Marca Yazalde, "of course". Seguem-se vitórias tranquilas sobre União de Tomar, Farense e Vitória de Guimarães. Em todos esses jogos Yazalde factura, bisando mesmo contra os nabantinos. Quatro jornadas, quatro vitórias, Yazalde já leva 5 golos. Segue-se deslocação à Luz e derrocada: o Sporting perde por 4-1 (póquer de Eusébio). O golo solitário ainda assim é do Chirola. De seguida o Sporting ainda ganha ao Atlético e Yazalde lá faz o seu golito, marcando pelo 6º jogo consecutivo, mas um empate no Montijo inflama os ânimos e na recepção ao Leixões a casa vai abaixo. Estávamos no dia 29 de Outubro de 1972 e o Sporting jogava com os matosinhenses. Damas, a quem Allen deliberadamente havia atribuído culpas do massacre (6-1) na Escócia frente ao Hibernian (Taça das Taças), havia sido agredido por adeptos montijenses no jogo anterior e o ambiente estava quente. Para piorar, logo no início, o auxiliar dá fora de jogo a um ataque leixonense, mas o árbitro deixa seguir. Na sequência, assinala grande penalidade contra os leões. Damas defende, Carlos Lopes (assim se chamava o árbitro) manda repetir alegando que o guarda-redes se havia movimentado antes do tempo. O Leixões marca à segunda tentativa. Começam a chover pedras no relvado. O jogo pára por uns instantes e quando é reatado produz-se o caos: um jogador dos "bebés" corta para canto, o árbitro dá pontapé de baliza. Logo adeptos provenientes do peão, superior e central invadem o campo. Um deles tenta perfurar o árbitro com um guarda-chuva. Às tantas o árbitro é socado, cai no chão. Seguem-se pontapés, alguns na cabeça. Teme-se o pior. Num instinto, Carlos Alhinho corre e deita-se por cima do árbitro. Apanha também ele alguns pontapés. Depois vem Yazalde, conhecido pelo seu elevadíssimo fair-play, que replica o gesto do seu colega de equipa. Outros jogadores ocorrem, fazem um cordão de segurança e Carlos Lopes consegue escapar com vida. O incidente não escapa sem a punição devida e o Estádio José Alvalade fica interditado por 9 jogos. É o fim da picada, a equipa nunca mais se reencontra e termina o campeonato com a até aí pior classificação de sempre, um 5º lugar. 

 

A época é marcada pelo tumulto. Logo de início, Fernando Peres é suspenso pelo clube. Motivo: a defesa da honra de Fernando Vaz. Na Europa, Allen culpa publicamente Damas por 3 dos 6 golos sofridos na Escócia. O guarda-redes chega mesmo a ser agredido por adeptos no Montijo e na jornada seguinte produzem-se os incidentes acima descritos em Alvalade. Allen acaba por ser despedido em Abril, Lino volta a assumir a batuta. Sofridamente, com vitórias tangenciais sobre o mesmo Leixões e a CUF, o Sporting chega à final. Do outro lado, o Vitória de Setúbal, treinado por José Maria Pedroto, 3º classificado nesse campeonato depois de já ter feito sensação no ano anterior (2º). O Sporting acaba por ganhar a Taça após vencer por 3-2. Mário Lino garante o lugar de treinador principal para 73/74 e Yazalde vai de férias com 1 golo importante na final. No total da época faz 28 golos (38 jogos), 19 no campeonato, 7 na Taça, 1 na Europa, 1 na Taça de Honra.

 

De regresso á Argentina, Yazalde desposa Carmen. Dia 16 de Julho de 1973, a cerimónia tem lugar na Basílica María Auxiliadora y San Carlos, em Buenos Aires. Segue-se copo-d'água no Cafe Tabac, jantar a que faltaram metade dos convidados devido ao temporal que nesse dia se abateu sobre a capital argentina. Os noivos vão de lua-de-mel para Mar del Plata. Daí regressarão imediatamente para Lisboa, o Sporting iniciará a pré-época da temporada de 73/74. Estável, dentro e fora do campo, Yazalde está em crescendo. A esperança pinta-se de verde. Vem aí um ano inesquecível.

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(*) Publicado originalmente pelo autor neste blogue em 20 de Fevereiro de 2021

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