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18
Fev21

A Vida de "Chirola" Yazalde

Parte I - Da Villa Fiorito a Rei de Copas


Pedro Azevedo

Héctor Casimiro Yazalde nasceu em 29 de Maio de 1946 na Villa Fiorito, um pobre e degradado bairro de Lomas de Zamora, na periferia sul de Buenos Aires, onde 14 anos depois viria também ao mundo o génio Diego Armando Maradona, que aliás teve Yazalde como um dos seus grandes ídolos de infância. Começou a jogar à bola nas ruas da cidade argentina, onde com 13 anos já trabalhava, vendendo jornais, bananas e picando gelo. Como retribuição davam-lhe umas moeditas de cêntimos, apelidadas de "chirolas", o que lhe viria a valer uma alcunha para a vida. Desta forma pretendia ajudar os pais, Pedro e Petrona, e os 7 irmãos, mas o seu sonho era tornar-se profissional de futebol e jogar no Boca. 

 

Tentou a sua sorte no Racing e no Los Andes, mas o seu físico franzino e as sapatilhas esburacadas com que se apresentava nas captações não deixaram os técnicos da cantera desses clubes propriamente bem impressionados, pelo que a oportunidade continuou a passar-lhe ao lado. Até que surgiu o Piraña, um humilde clube que militava na quarta divisão argentina. Tinha 18 anos e finalmente poderia jogar futebol a nível federado. O momento era também de teste às suas reais capacidades, se falhasse ingressaria como mecânico na fábrica textil de Don Prieto. O Piraña havia sido fundado em 1942 como homenagem a Jaime "piraña" Sarlanga, um goleador do Boca do início da década de 40 (122 golos, um dos 5 maiores goleadores da história dos xeneize). O seu fundador, Alcides Solé, era um sonhador e um romântico. De forma que 3 dias apenas após o último jogo de Sarlanga pelo Boca decidira criar e registar o clube, convencendo todos à sua volta de que o nome era sonante e gracioso. Quando Yazalde chegou ao Parque de los Patricios, o clube só estava afiliado na federação argentina (AFA) há apenas 3 anos, por isso não tinha histórico significativo e encontrava-se nas profundezas das divisões inferiores argentinas. Na verdade, dificilmente se poderia chamar àquilo uma oportunidade, mas Yazalde não tinha outra e havia que tentar dar nas vistas o mais possível. E Yazalde aproveitou o que pôde, marcando 52 golos nos dois anos que passou no Piraña, o último dos quais no jogo decisivo que definia a promoção à 3ª divisão. Nessa final, disputada no estádio do Arsenal de Sarandí, clube fundado e presidido à época por Julio Grondona, futuramente presidente da AFA e vice-presidente da FIFA, do outro lado estava um clube de Avellaneda, o General Mitre, presidido por Pedro Iso. Acontece que Grondona e Iso já tinham acertado passar a desempenhar funções dirigentes no Independiente, o primeiro como presidente da comissão de futebol profissional do clube de Avellaneda. Apesar de Yazalde ter sido expulso aos 10 minutos dessa final, o golo que marcou e o requinte que mostrou deixaram impressionado Grondona, que logo convenceu o presidente Carlos Radrizzani a despender 1,8 milhões de pesos para o levar para o Independiente. Do nada, o Chirola dava um salto lunar na carreira. Tinha 21 anos e ia-se estrear na Primera A (primeira divisão da Argentina).

 

Estávamos em 1967 e o Rei de Copas, alcunha atribuída ao Independiente, o melhor clube argentino nas décadas de 60 e 70, disputava o Torneio Nacional (Clausura), o campeonato argentino que encerrava a época (na primeira fase da época ocorria o Torneo Metropolitano, hoje Apertura, podendo assim haver 2 campeões diferentes num ano). Entrando a todo o gás na competição. o Independiente cedo somou 8 vitórias consecutivas. A equipa era fortíssima e tinha um ataque de meter medo, formado por Bernao (o poeta da direita), "El Artillero" Artime, Tarabini e o polivalente Savoy, um canhoto de excelência. Mas Yazalde não se intimidou e estreou-se a marcar logo à 3ª jornada, obtendo o golo decisivo que permitiu ao "Rojo" (outro apodo) vencer no campo do Platense. Tomando-lhe o gosto e não acusando a pressão de quem vinha da 4ª divisão nem a adapatação à nova realidade, o Chirola iniciava sem ainda o saber um ciclo de 6 jogos consecutivos a marcar, obtendo logo de seguida um hat-trick na recepção ao Lanús e bisando frente ao Quilmes. A série não viria a ser interrompida sem novos golos ao Ferrocarril, Chaco e Mar de La Plata, perfazendo um total de 9 em apenas 6 jogos. No final, o Independiente, treinado pelo brasileiro Oswaldo Brandão, sagrar-se-ia campeão, com 12 vitórias, dois empates e apenas uma derrota (San Lorenzo, 1-3, golo do Chirola), e Yazalde seria o 2º melhor marcador da competição (10 golos), a apenas 1 golo do seu colega de equipa, Luis Artime, que viria a coroar-se como o melhor marcador. Continuando nesse transe de astronómico crescimento, no ano seguinte José María Minella convoca-o para a selecção argentina e chega a jogar pela Celeste no Maracanã num tanto quanto possível amistoso contra o Brasil. Nesse mesmo ano e no de 69 continua entre os melhores marcadores na Argentina, mas o título de campeão foge-lhe. Chega então o ano de 1970 e Yazalde volta a ganhar um campeonato argentino, desta vez o Metropolitano. O título teve tanto de glória como de dramatismo, com Independiente e River Plate a acabarem empatados em quase tudo, desde pontos (27) até à diferença de golos (18). Um campeonato que se assemelhou portanto ao célebre Campeonato do Pirolito ganho pelo Sporting ao Benfica, só que com Hector Yazalde a fazer as vezes de Fernando Peyroteo. O independiente acabaria por ser declarado vencedor devido ao terceiro critério de desempate, os golos marcados (43 contra 42 do River). Para chegar aí, o Rei de Copas teve de superar o rival Racing na última jornada. Com o jogo empatado a 2, viria a ser Yazalde a resolver nos minutos finais, assegurando a vitória no jogo e campeonato e obtendo o seu 12º golo da competição. Em consequência, seria eleito o Jogador do Ano (1970), distinção mais tarde também atribuída a craques como Passarella, Fillol, Kempes, Maradona (4 vezes), Francescoli, Riquelme, Tévez, Verón ou Messi.

 

Desperto sobre o valor de Yazalde, Abraão Sorin, dirigente do Sporting, iniciou então negociações pelo seu concurso. E em Janeiro de 1971, o Chirola assinava pelo nosso clube. Para trás haviam ficado 72 golos em 112 jogos realizados pelo Independiente de Avellaneda. Lisboa esperava-o. Antes, porém, uma despedida em beleza: a Argentina convida o Bayern de Munique, de Maier, Beckenbauer e Muller, e a 30 de Dezembro de 1970 vence os bávaros por 4-3. Yazalde bisa. Há também uma última homenagem: o histórico bandoneonista Ernesto Baffa compõe um tango a que chama "Para vos Chirola".

 

(Amanhã: Yazalde em Lisboa)   

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