A ver jogar Portugal
Pedro Azevedo
Demasiados jogadores a pedirem a bola no pé e poucos a procurarem o espaço, eis a selecção portuguesa de futebol. Some-se a proverbial falta de objectividade no remate por parte da maioria dos jogadores lusos - demasiados toques na bola na hora de chutar à baliza, a anos-luz daquilo que vemos qualquer inglês ou alemão fazer - e estão explicadas as dificuldades encontradas por Portugal para bater uma frágil República da Irlanda.
Com apenas Diogo Jota e os laterais a desmarcarem-se, Portugal torna-se uma equipa previsível e muito dependente do génio da lâmpada que uma das suas inúmeras individualidades pode libertar. Tal torna-se ainda mais evidente quando o adversário estaciona o autocarro, condicionante que geralmente é suficiente para bloquear a engrenagem por as nossas variações do centro de jogo não serem suficientemente rápidas (ou devido à ineficácia do nosso jogo interior).
Não surpreende assim que o suspeito do costume tenha sido a solução para resolver o problema que os "leprechaun" irlandeses colocaram a uns gigantes lusos com os pés fartos do barro que Fernando Santos não há modo de libertar. Uma vez mais, foi Cristiano, em dois momentos de atleticidade tonitruante, que nos salvou, elevando-se nas alturas com a aura de um deus do Olimpo do ludopédio. O que choca, ou talvez não se considerarmos o país onde vivemos, é ver Ronaldo dado como acabado e atacado nos media e redes sociais. A tal questão da dependência negativa, dizem eles. Na quarta-feira viu-se... Temo, porém, que um dia lá para a frente ainda venhamos a lamentar a ausência dessa tal tão danosa dependência. Creio até que nesse dia seremos definitivamente independentes... de ilusões.
P.S. Dos 111 golos (180 jogos) de Ronaldo, 59 (62 jogos) foram marcados depois de completar 30 anos.