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Castigo Máximo

De forma colocada, de paradinha, ou até mesmo à Panenka ou Cruijff, marcaremos aqui a actualidade leonina. Analiticamente ou com recurso ao humor, dentro ou fora da caixa, seremos SPORTING sempre.

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Castigo Máximo

13
Ago19

A teoria do todo


Pedro Azevedo

Já é habitual, quando as coisas não correm bem numa equipa de futebol, o treinador ser logo posto em causa. A meu ver, na conjuntura actual do Sporting, o técnico, apesar de muito longe de estar isento de erros ou limitações próprias, não é o problema principal, pelo que a sua imediata substituição não me parece que resolva de forma definitiva os problemas existentes. Também não vou enumerar exaustivamente neste Post os erros evidentes de gestão desportiva por parte da Direcção do clube (escolha de um treinador alegadamente da escola Ajax, mas que não partilha de muitos princípios da referida escola), algo aliás comum a outras direcções no passado. O que motiva este Post é uma reflexão não conjuntural, mas sim estrutural, sobre as causas do nosso permanente insucesso, recorrendo para tal a uma análise de cima a baixo sobre a organização do futebol do Sporting.

 

Quando olho para o tipo de futebol que Keizer pretende apresentar, saltam à vista alguns estereótipos: alas de pé trocado para fomentar o jogo interior, uma posição "6" encarada mais como tipo limpa pára-brisas (daí talvez o Ajax, limpa-vidros evidentemente...) do que como início de construção do jogo. Aqui residem os primeiros equívocos da montagem do actual plantel e também se torna evidente a entropia entre Formação e equipa principal. Vou tentar explicar de seguida: se eu quero que os meus alas venham para dentro, então necessito de laterais ofensivos que subam nas costas dos alas e vão à linha cruzar para Dost. Ora, se em relação a Thierry (ainda tímido e a dar os primeiros passos a este nível) e Rosier (lesionado) ainda é cedo para se tirarem conclusões definitivas, no caso de Borja é por demais evidente que não possui as características ideais para o que é requerido. Não estando dentro da Estrutura e não conhecendo qual a importância da opinião de Keizer nas nossas idas ao mercado, não me é possível determinar se a contratação do colombiano foi um erro de Scouting, ou se tal deve ser assacado ao treinador, o que me parece evidente é que Borja não é o jogador adequado para o sistema posto em prática pelo treinador holandês. A não ser que a ideia de utilização ofensiva dos laterais seja só dissuasora e destinada apenas a criar uma ilusão no adversário para depois o "matar" pelo centro... Já no que diz respeito à posição "6", fica exposta a falta de coordenação entre o futebol sénior e juvenil. Só assim se compreende que em Alcochete tenhamos durante anos desenvolvido para essa posição um médio com características de construção do jogo ofensivo (Daniel Bragança) para depois, na equipa principal, querermos um tipo de jogador diferente, mais corpulento e dissuasor do que criativo. 

 

Há demasiados erros conceptuais no projecto do futebol do Sporting. Creio, por isso, que mais do que um novo treinador o que necessitamos é de um Director Técnico. O Sporting precisa de alguém que seja um pensador de todo o futebol do clube e que possa actuar com total autonomia, numa abordagem "top-down", definindo o tipo de jogo que se pretende praticar a nível sénior - se a Direcção, como entendo que o deve fazer até em função de poder chamar mais gente aos estádios, definir como prioridade uma ideia de "futebol positivo", então o Director Técnico deve procurar modelizar um sistema de jogo compatível com tal - , sugerindo à Direcção treinadores que se possam adequar a esse desiderato, coordenando o futebol juvenil, de forma a que as rotinas implementadas se assemelhem tanto quanto ao possível à realidade dos seniores, trabalhando com os treinadores da Formação no sentido de serem desenvolvidas determinadas características em futebolistas jovens que mais tarde possam constituír uma mais-valia no plantel principal. A meu ver, esse Director Técnico deveria também ser responsável pelo complemento da formação de jovens treinadores a trabalhar na Academia, facilitando assim o seu crescimento na Estrutura até, alguns deles, poderem assumir-se como timoneiros da equipa principal do clube (vidé o exemplo de Bruno Lage no Benfica), ganhando assim o projecto por haver técnicos bem identificados com o processo. 

 

O investimento na Formação tem de ter um propósito para além da futura poupança de custos no futebol profissional. Como tal, desde tenra idade os nossos jovens devem estar identificados com o processo de treino dos seniores. Assim ganhar-se-ão jogadores plenamente identificados com as metodologias e rotinas do plantel principal, uma vantagem comparativa face a quem vem de fora. Adicionalmente, a existência de um Director Técnico com plenos poderes permitirá ir monitorizando o crescimento individual de cada miúdo e estabelecer estimativas do potencial de cada um, elementos fundamentais na ligação à gestão de activos. É que não só de craques vive a Academia e é preciso rendibilizar todos os anos o investimento produzido, pelo que a venda de alguns jovens não considerados prioritários também ajudará a produzir algumas receitas. (Há anos que defendo o pré-diagnóstico e escalonamento dos nossos jovens em 4 categorias - excelente, muito bom, bom e razoável - , de forma a ser possível tomar decisões sobre o seu futuro.)

 

Da forma como entendo o modelo, de cada vez que o treinador principal necessitar de um jogador com determinadas características, o Director Técnico deve primeiro procurar se elas existem na Academia, ou se é possível desenvolvê-las em tempo útil. Caso tal não seja possível, então, sim, dever-se-á recorrer ao mercado. (Se tivermos um miúdo nos escalões jovens que precisa de mais 1 ano para amadurecer, mais vale ir buscar um veterano tipo Mathieu que me faça uma temporada do que investir bastante dinheiro na compra de um jovem promissor que depois vai tapar o lugar ao produto da nossa Academia.) Como profundo conhecedor que será das necessidades da equipa principal, o Director Técnico deverá sempre ter a última palavra, ficando numa posição hierarquicamente superior ao chefe do Scouting, de forma a que sejam limitados ao máximo os erros de "casting". Bom, também defendo que as transferências devem ser acompanhadas por um Comité de Compliance, mas isso é conversa para um outro dia. 

 

P.S.1:  Alguns Directores-Técnicos possíveis que já trabalharam em Portugal: Lazlo Boloni, Luis Castro, Jesualdo Ferreira. Nota: a estes, ou quaisquer outros (verdadeira escola Ajax ou Barcelona agradam-me) ser-lhes-ia previamente informado que em nenhuma circunstância assumiriam a função de treinador.

P.S. 2: Para quem associa a meu ver excessivamente a qualidade ou abundância dos relvados da Academia com o rendimento, e para alguns que zombaram do facto de em tempos, quando apresentei uma estratégia global para o Sporting, ter falado (a propósito do capítulo "Sustentabilidade da Política Desportiva") na necessidade de (também) recriar as condições do futebol de rua em Alcochete, aqui fica para reflexão: https://maisfutebol.iol.pt/historia/internacional/o-ajax-esta-a-mandar-os-miudos-para-a-rua-literalmente

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