A Liga
Pedro Azevedo
Começa um novo ano, e com tal efeméride lembramo-nos que em Portugal há uma competição denominada de Primeira Liga, o nosso campeonato nacional. Uma prova de regularidade em que a frequência de jogos nada tem de regular. Por exemplo, em Outubro quase não se jogou, em Novembro o campeonato parou 3 semanas e desde o dia 16 de Dezembro que não se joga. Curiosamente, desde que em Portugal foi declarada a trégua de Natal, em Inglaterra disputaram-se 4 jornadas da Premiership, o que tudo somado faz com que em terra de sua majestade a Raínha Isabel a principal competição já vá na 21ª jornada. Nós, por cá, vamos na 14ª... "Devagar, devagarinho se vai à Ribeira Grande", e não pode haver muitos jogos de seguida porque os treinadores portugueses começam logo a queixar-se da intensidade do calendário e que não têm tempo para treinar. É que treinar obriga a muito estudo. Por exemplo, não é fácil passar noites em claro à frente de um terminal da Carris a ver como os funcionários da empresa arrumam os autocarros, algo que 70% dos treinadores da 1ª Liga dedica-se a replicar num campo de futebol. Claro está que quando um dia regressar o campeonato as equipas perdedoras nessa efeméride queixar-se-ão de falta de ritmo de competição, o que também está bem. Afinal, se dar desculpas é o passatempo favorito dos portugueses, por que razão os nossos treinadores haveriam de ser diferentes?
Dizem que o futebol deixou de ser um espectáculo para ser um negócio? Só se for no estrangeiro, em Portugal um negócio é que não é. Até porque um negócio implica consumidores, e a vontade de dirigir o foco para estes não faria um campeonato nacional parar tantas vezes ao ponto de nos esquecermos que essa competição existe. Em países como a Alemanha existe a paragem de Inverno por as condições climatéricas serem muito adversas à prática do futebol; em Portugal, país abençoado com um clima temperado, fazemos a pausa de Inverno e a de Outono. E como no Verão o campeonato já acabou, basicamente só não se pára na Primavera. Na verdade, o nosso campeonato é como a Prima Vera, aquela prima distante que vemos poucas vezes ao longo do ano. E quando os nossos emigrantes nos visitam no Natal não há campeonato. Não, imediatamente antes da paragem, preferimos fazer uns joguitos a contar para a Faca na Liga, perdão, Taça da Liga, que é assim uma coisa capaz de criar um entusiasmo semelhante a observar o salto de uma pulga.
Os clubes, que aprovam regulamentos e elegem direcções da Liga, são os grandes culpados. Habitualmente há jogos onde nem 1000 espectadores estão presentes, não existe centralização na Liga dos direitos de TV, as assimetrias entre grandes e pequenos/médios são bárbaras devido à diferença de orçamentos, a intensidade dos jogos ressente-se disso, existe uma dependência notória dos clubes inferiores com tudo o que isso pode significar em termos de se desvirtuar o espírito da competição e a solução para tudo isto é o campeonato parar e não haver receitas. Uma e outra e outra vez. Um campeonato que, nos moldes actuais, também ele pouco sentido faz, com meia-dúzia de equipas que efectivamente joga para ganhar e todas as outras à procura de não perder.
Mas há quem defenda isto. Inclusivé, apontado ao bom desempenho luso este ano na UEFA. É como ver o topo de uma montanha e ignorar o resto, ou elogiar o fraque do cavalheiro sem cuidar que está de tanga e descalço. Aliás, se continuarmos neste ritmo super-intenso no campeonato nacional, estou convencido que um clube português vencerá a Liga Europa. Pudera, todos fresquinhos enquanto os outros se andam a desgastar por essa Europa fora... E com muito tempo para treinar... o encanar a perna à rã.
UM ÓPTIMO ANO DE 2020 A TODOS OS LEITORES DE CASTIGO MÁXIMO E, EM ESPECIAL, A TODOS OS SPORTINGUISTAS!!!