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Castigo Máximo

De forma colocada, de paradinha, ou até mesmo à Panenka ou Cruijff, marcaremos aqui a actualidade leonina. Analiticamente ou com recurso ao humor, dentro ou fora da caixa, seremos SPORTING sempre.

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Castigo Máximo

09
Jan20

A estabilidade


Pedro Azevedo

Sendo a saúde um estado transitório que não augura nada de bom, a morte será uma forma definitiva de estabilidade. O problema é que temos de esperar por morrer para saber se essa estabilidade é boa ou má, algo que para efeito deste exercício eu e os Leitores não estaremos disposto a antecipar em nome do conhecimento de causa, pelo que tudo o que se possa dizer sobre o assunto agora é apenas uma expressão de fé (ou de ausência dela). O que se pode dizer com toda a certeza é que a Terra gira sobre si própria, a Lua roda sobre a Terra, a vida das pessoas e das instituições é feita de mudança. A ausência de mudança traz estagnação, e a estagnação conduz à extinção. Por isso, as empresas líderes a nível mundial mudam muito. Refiro-me às suas estratégias, não necessariamente às pessoas, embora os resultados (ou falta deles) impactem muito nas pessoas, líderes incluídos. Mais do que estabilidade, o equilíbrio na gestão é que cria harmonia e sustentabilidade. Já a prosperidade advém da qualidade do investimento efectuado e de não se gastar mais do que aquilo que se produz. 

 

Quem pede estabilidade, pede tempo. O tempo é uma "commodity" muito valiosa com um termo incerto. As únicas duas coisas que são certas é que um dia esse tempo esgotar-se-á e amanhã já terei menos tempo do que hoje. Daí o adágio popular de não deixar para amanhã o que pode ser feito hoje. Assim, a estabilidade não pode ser vista como um fim em si. Ela é um meio. Para além disso, a estabilidade que peço para mim deve ter equidade com a estabilidade que preconizo para os outros. Deste modo, é complicado em nome da estabilidade eu pedir tempo para mim quando num ano tive 4 treinadores a quem não dei estabilidade e já vou no quinto, o que denota haver aqui uma ausência de convicção ou pensamento estratégico. A esses treinadores não foi dada estabilidade nem tempo. Mas a pelo menos um deles foi dada uma missão. Uma missão suicida, veio-se a perceber ao fim de duas semanas, que foi interrompida em nome do fim da estabilidade: no caso, dos péssimos resultados. 

 

O actual presidente do Sporting tem também uma missão. Desse modo, cumpre-lhe traduzir na prática as promessas que fez em sede de campanha eleitoral. Tal como acontece com qualquer gestor, será da percepção que se vai formando junto dos sócios em relação às suas reais condições de atingir o sucesso que dependerá a sua continuidade. E na ausência de resultados substanciais de curto-prazo tem de procurar comprar tempo. Daí o aparecimento da narrativa da estabilidade. Acontece que não basta pedir tempo, é preciso saber-se o que fazer com esse tempo e se esse tempo não servirá para perder mais tempo, tempo esse que se não tem. É que nós não vivemos numa dimensão diferente da dos nossos rivais e o nosso atraso para eles intensificou-se nesta última época. Assim, de futuro não bastará acompanhar a pedalada deles, pelo contrário teremos de dar ao pedal com uma rotação por minuto superior. E, nesse processo, não ter furos, quedas ou desfalecimentos, que no futebol estão associados, respectivamente, a tempo que se perde a enquadrar jogadores que deveriam pegar de estaca, investimentos ruinosos em atletas sem a qualidade necessária e suficiente para vestirem de verde-e-branco e falta de consistência exibicional. Ora, precisando de acelerar o tempo (ou, se quiserem, encurtar distâncias), o Sporting deve mitigar o mais possível o erro. Logo, mais do que pedir estabilidade, Frederico Varandas deve concentrar-se em convencer os sócios do Sporting de que não voltará a cometer erros como os do passado, o que se pode tornar mais difícil se um dia atribuir à falsa expectativa de saída de Bruno Fernandes o mau planeamento da época (imagine-se!!!) e noutro dia se orgulhar de tudo ter feito para manter o nosso brioso capitão. Não, o que Varandas deve garantir aos sportinguistas é que não voltará a investir 40 milhões de euros da forma que se viu nos dois últimos mercados. Para além disso é importante que tenha a coragem de admitir que é preciso fazer mais com menos e que o Sporting ainda gasta anualmente em salários bastante mais do que o que devia. Começando por cortar em "gorduras saturadas" desnecessárias quando em Alcochete se produz um azeite virgem da melhor qualidade que acompanha bem à mesa qualquer bom pescado. Mostrando assim estar no caminho da sustentabilidade. Esse sim é um valor importante, não a estabilidade nos moldes em que nos é servida. (E fico-me por aqui, pois se tivesse de falar da Cultura Sporting e dos princípios de governação teria aqui arenga para vários dias.)  

 

P.S. Defendo qualquer iniciativa estruturada e estruturante contra qualquer forma de violência no desporto. Um problema do futebol, mas essencialmente um transtorno da sociedade. Que urge atacar, e perante o qual o governo não pode lavar as mãos como Pilatos e deixar os clubes sozinhos. Mas a Cultura Sporting não se restaurará automaticamente assim que esse problema se resolva e Frederico sabe disso. Varandas está no clube há muitos anos e se calhar está a faltar-lhe o distanciamento suficiente para não cair no erro ou tentação de do seu discurso resultar uma imagem de miserabilismo à volta de um clube que "nenhum treinador quer treinar" (mas já teve 5) ou que é de "malucos". Não será com esse discurso defensivo que conquistará a maioria dos sportinguistas ou, pelo menos, lhes devolverá a esperança. Também não o será com promessas vãs como as feitas no último defeso, que se provaram irrealistas e revelaram imaturidade associada a uma exuberância proveniente das taças conquistadas na época transacta em circunstâncias difíceis e especiais. Tal como os bons exemplos, que devem sempre vir de cima, a gestão de expectativas é uma ferramenta essencial a um gestor e o "aggiornamento" que se pretende depende muito disso, o que só é possível com equilíbrio. Equilíbrio, algo que só na mecânica se pode confundir com estabilidade.  

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