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Castigo Máximo

De forma colocada, de paradinha, ou até mesmo à Panenka ou Cruijff, marcaremos aqui a actualidade leonina. Analiticamente ou com recurso ao humor, dentro ou fora da caixa, seremos SPORTING sempre.

De forma colocada, de paradinha, ou até mesmo à Panenka ou Cruijff, marcaremos aqui a actualidade leonina. Analiticamente ou com recurso ao humor, dentro ou fora da caixa, seremos SPORTING sempre.

Castigo Máximo

03
Abr23

Tudo ao molho e fé em Deus

Massacrar para depois poder procrastinar


Pedro Azevedo

Perante o último classificado da Liga e com um calendario denso por diante, o Sporting precisava de resolver rapidamente este confronto para depois poupar energias que poderão vir a revelar-se cruciais no futuro. Como tal, recomendava-se atacar em força desde o apito inicial. Nada melhor para isso do que chamar a cavalaria: na ala direita, Arthur, nome que nos remete para os míticos tempos da Távola Redonda e, também, da velha aliança anglo-portuguesa; na Ala dos Namorados (esquerda), Dom Nuno, o Santos Contestável (somente para a Selecção Nacional). Por dentro, um quadrado imaginário, com Pote e um dos interiores circunstancialmente por detrás do outro interior e de Paulinho. Na rectaguarda, 3 defesas com grande propensão atacante e um Ugarte, qual Padeira de Aljubarrota, que foi pau (e pão) para toda a obra.

 

Com uma entrada em jogo demolidora, não tardou que o Sporting ganhasse uma vantagem de dois golos - um cabeceamento certeiro de Paulinho no seguimento de um livre apontado por Pote e uma recuperação rápida de bola de Edwards com assistência para Trincão - , que poderia ter sido maior se uma bola não tivesse ido à barra (Inácio) e outra sido vitima de uma ruizada (Paulinho): três pontos para Gales, diriam alguns não necessariamente amantes do rugby após a bola ter sobrevoado a barra da baliza açoreana. E três pontos de facto foram, mas para o Sporting, uma vitória reforçada com um bonito golo de Edwards após recuperação de bola e passe de Paulinho. Triunfo garantido cedo, seguiu-se um longo espreguiçar, procrastinação a bem da noção de que a equipa precisa de se apresentar na máxima força nos próximos encontros com a Velha Senhora.

 

A sensação que fica é que o melhor Sporting chegou agora ao Campeonato. Com algumas faltas de atraso no cadastro, como se verifica pela subtração de pontos na caderneta classificativa. Ainda iremos a tempo de ter um aproveitamento mínimo? Adicionalmente, chegaremos a horas ao encontro com a nossa história europeia?


Hoje temos diversas soluções para a zona central da defesa, algo reforçado pela contratação de Diomande e a recuperação física de St Juste. Nas alas, a entrada de Arthur traz uma solução atacante diferente, especialmente interessante quando acompanhada por uma leitura do jogo defensivo que o faz fechar por dentro como em dois lances perigosos do Santa Clara. No ataque, a inclusão de Chermiti trouxe de volta o Paulinho trabalhador, ele que no passado recente chegou a aliar a má relação com a baliza com um compromisso com a equipa menos de acordo com o que nos havia habituado. Pelo que onde ainda não é nítida uma evolução é no meio campo. Não que Ugarte ou Morita não sejam bons jogadores, ou que Pote não disfarce em certos jogos, mas faz-nos falta mais um 8 (o Tanlongo é mais um 6) capaz de queimar linhas do adversário e que permita um reforço de competitividade no(s) jogo(s) quando os titulares começarem a dar sinais de cansaço. 

Tenor "Tudo ao molho...": Pote 

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01
Abr23

Haja chuva, vento ou lama…


Pedro Azevedo

Por que é que há jogadores a quem a bola obedece com reverência e outros com os quais parece ganhar vontade própria? Por que razão a relva escorregadia, de raiz frágil ou mal plantada não parece afectar a qualidade de recepção. passe e remate de uns e serve de justificação para a improdutividade de outros? Pedro Gonçalves é daqueles que faz a diferença em todas as condições. Haja chuva, vento e lama, como na Choupana no ano do nosso último título de campeão nacional, ou sol, brisa ligeira e um belo tapete verde, o nosso Pote afirma da mesma forma a sua categoria. Não o perca hoje, a partir das 20:30, quando o Sporting entrar em campo para defrontar o Santa Clara. 

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24
Mar23

Tudo ao molho e fé em Deus

Bob, o Construtor


Pedro Azevedo

O Liechtenstein é um país minúsculo, tão mínimo que, se e a sua população inteira comprasse uma gamebox no José Alvalade ainda sobrariam 11.000 lugares de lotação do estádio para venda ao público em geral. Se o número de habitantes do Liechtenstein é pequeno para Alvalade, Ronaldo ainda é suficientemente grande para caber no Onze de Portugal. Como ontem ficou amplamente demonstrado, marcando dois golos e falhando outros tantos onde ainda assim o seu domínio nas alturas ou recepção imaculada da bola se destacaram dos demais. Nada mau, aos 38 anos de idade, para este Lawrence das Arábias português que aproveitou a oportunidade para bater o recorde mundial de internacionalizações por selecções (197) e reforçar o já por si detido máximo de golos (agora 120, 830 em toda a carreira). Portugal estreava Roberto Martinez, e este inaugurava a linha de 3 defesas. Com Inácio a ter a sua primeira internacionalização a jogar (e bem, com muita personalidade!) nessa linha pela esquerda, os laterais Cancelo e Guerreiro foram mais extremos no primeiro tempo e mais interiores no segundo. João Palhinha foi o polvo que tudo compensou no meio, Félix e Bernardo partiam das alas, com o jogador do Chelsea a frequentemente procurar espaços entre-linhas mais interiores e assim transformando o nosso bem conhecido (dos Sportinguistas) 3-4-3 num 3-5-2. Bruno Fernandes procurava a ligação com os jogadores do ataque. Apesar de ter marcado cedo, num remate às 3 tabelas de Cancelo cuja última carambola envolveu Ronaldo, Portugal deparou-se com um Liechtenstein somente interessado em perder por poucos. Por isso continuou fechado lá atrás, procurando não deixar espaços para que Portugal ligasse por dentro, obrigando-nos a circular em "U". Mas isso aconteceu na primeira parte, porque após o reatamento viu-se o dedo do treinador, com Guerreiro e, principalmente, Cancelo a jogarem por dentro e Félix e Bernardo a dissuadirem pelas alas. Não tardaria assim que Portugal voltasse a marcar, com Ronaldo a dar nova vida à metáfora do ketchup (agora dos golos de livre directo). Foram 15 minutos de futebol avassalador, com 3 golos (1 de Bernardo e 2 de Cristiano), muitas oportunidades desperdiçadas e Cancelo (mas também Palhinha) frequentemente envolvido na construção. 

No final foram só quatro. Mas poderia ter sido uma dúzia, o que até viabilizaria um bom trocadilho - "va douze" - aplicado ao regresso dos jogadores do Liechtenstein à sua capital. Quanto a Roberto Martinez, Bob, para os ingleses, e Construtor de uma nova filosofia de jogo, para os portugueses, os primeiros sinais foram encorajadores, aproximando-o das opções do homem comum não-contaminado e assim escalonando de início o Inácio e o Palhinha, dois jogadores que pouca ou nenhuma atenção mereceram do pretérito (e mais galardoado de sempre) treinador nacional. Com Portugal entre a nobreza europeia, a um Principado seguir-se-á um Grão-Ducado (Luxemburgo), provavelmente já com Nuno Mendes no Onze. 

 

Podium - Ouro: Cancelo; Prata: Palhinha; Bronze: Ronaldo.

 

P.S. Tenho algumas dúvidas sobre a eficácia da aposta de Danilo (mais tarde, também Palhinha) como central pela direita, afastando-o do centro do jogo, mais parecendo um peixe fora de água. Se por um lado a ideia parece ser não colidir o defesa com o espaço de intervenção do médio mais defensivo, dando a oportunidade de com bola e adversários fracos termos um duplo-pivô no meio, por outro seria mais natural que Danilo ocupasse um lugar central na defesa.  Mas, provavelmente, com a entrada de Pepe, tal questão não se colocará no futuro, jogando Martinez com Rúben e Inácio como complemento ao central portista.

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(O amarelo e o vermelho espanhóis presentes na indumentária de Bob)

17
Mar23

Tudo ao molho e fé em Deus

Contra os Canhões marchar, marchar


Pedro Azevedo

Desde que o Arsenal nos coube em sorteio que alguma coisa me dizia que iríamos passar. À primeira vista, tal pensamento seria puramente emocional, de um emocional nada confundível com o conceito de inteligência relacionado que Goleman, Boyatzis e McKee anunciaram ao mundo e, portanto, potencialmente néscio. Mas, à medida que ia descascando as camadas epidérmicas dessa emoção, ia descobrindo razões além da não-razão evidente, e assim acalentando o sonho. Que o Arsenal liderava (e lidera) o melhor campeonato do mundo era um facto conhecido de todos e razão suficiente para ponto final, parágrafo, a eliminação do Sporting estar entregue ao Criador. Mas depois havia o histórico favorável do Sporting contra equipas inglesas e a sensação de que tendo uma grande equipa - só uma máquina bem oleada poderia dominar uma Liga onde coexistem os gigantes do noroeste de Inglaterra (United, City e Liverpool) - e muito bons jogadores, não possuía aquele tipo de craques à escala planetária, ditos fora de série, capazes de só por si desequilibrarem um jogo renhido. Ou seja, via mais o Arsenal como uma equipa consistente do que de galácticos, e assim mais de Campeonato do que de Taça(s). Ainda assim, tudo teria de correr extraordinariamente bem para que tivessemos uma hipótese de discutir a eliminatória. E correu! Quer dizer, uma pessoa vive mais de 50 anos na esperança de que aquele chapéu do Pelé ao Viktor (Mundial de 70) finalmente entre na baliza checa e de repente vê o Pote de Ouro a fazê-lo com aquela inconsciência típica dos predestinados e fica sem fôlego. Aquilo foi o pináculo da perfeição, a Capela Sistina transposta para um campo de futebol, um traço de sagrado em algo que é iminentemente pagão. E, por isso, rimo-nos, esse sorriso reproduzindo uma faculdade só concedida entre todas as espécies aos humanos, quiçá também esse um rabisco de sagrado atribuído por Deus aos mortais e assim oferecido a nós, Sportinguistas, naquele preciso momento. A um golo que mais pareceu ter sido gerado no Céu teria de corresponder um Adán de nome bíblico e actuação imaculada, sem pecado original porque é de Redenção que aqui falamos. Dele e do Sporting, novamente a brilhar na Europa numa época em que domesticamente as coisas não têm estado a correr nada bem. Mas não foram só Pote e Adán a iluminar a noite londrina: St Juste, o nosso Flying Dutchman, tirou bilhete de primeiríssima classe e voou baixinho no Emirates, muitas vezes escapando aos radares ingleses; Diomande, qual veterano, fez soar os carrilhões de Mafra sobre os britânicos de cada vez que estes se abeiravam da nossa linha defensiva (a ele competiu o papel habitualmente desempenhado pelo capitão Coates) e Ugarte, bem, Ugarte foi o Atlas que transportou o mundo leonino às costas nos bons e maus momentos, organizando e procurando sempre jogar pelo chão, que não é por acaso que não há relva no Céu. Havendo justiça no futebol, o Sporting deveria ter ganho a eliminatória no tempo regulamentar. Mas tivemos de ir a prolongamento, onde a falta de profundidade e traquejo do nosso plantel se fez sentir um bocadinho. Sobrevivemos e fomos para penáltis. Aí ajudou bastante termos um guarda-redes que também é craque a jogar à moeda, primeiro escolhendo a baliza e depois a bola, pelo que seria perante os nossos adeptos que haveria de negar o golo a Martinelli, garantindo uma vitória entretanto alicerçada na destreza de 5 jogadores que apontaram certeiramente às redes. No fim, tudo acabou em bem. Foi um dia de glória para o Sporting e para a "leoninidade", neologismo à medida de um tempo em que é preciso agregar (o "aggiornamento") e empolgar a enorme maioria silenciosa de adeptos. Agora, há que aproveitar os ecos desta retumbante vitória e construir um edifício sólido europeu assente nesta primeira pedra. É essa a responsabilidade que herdamos, mostrando que a eliminação do Arsenal não foi um fogacho mas sim um meio para atingirmos um fim só por uma vez alcançado há 59 anos. Eu acredito!

 

Contra os Canhões (Gunners) marchar, marchar...

 

P.S. Enquanto não ganhamos a Liga Europa, vamos coleccionando candidatos ao Prémio Puskas. Depois de Nuno Santos e de Pote, no espaço de 4 dias, já só falta a FIFA escolher o terceiro golo a concurso. Fica então o hat-trick marcado para 2 de Abril, data em que receberemos o Santa Clara. 

 

Tenor "Tudo ao molho...": Antonio Adán

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16
Mar23

Crença


Pedro Azevedo

Por vezes o futebol desafia a lógica, e é para esses momentos que vivemos enquanto adeptos. A nossa história já foi de hegemonia, mas num dado momento perdemo-nos no caminho. Tivemos de aceitar a derrota e procurar vencer novamente, insistir e perseverar. Não tem sido fácil, mas após cada soco atordoante temo-nos conseguido levantar e procurar o golpe vitorioso. Já ganhámos aos pontos, como em 20/21, hoje necessitamos de um KO. Não resolverá todo o futuro, mas dar-nos-á um suplemento de alma e crença no que está para vir. Força, Sporting! 

13
Mar23

Tudo ao molho e fé em Deus

Quando o futebol é arte


Pedro Azevedo

Uma letra vale mais do que mil palavras...

 

Nos últimos anos surgiu uma corrente de pensadores universitários, logo seguida por um movimento de treinadores, que pretendeu afirmar o futebol como uma ciência. Quem não se lembra, por exemplo, do Mestre da Táctica e das suas jactantes elucubrações baseadas no denodado trabalho de investigação do Professor Manuel Sérgio? Mas é indubitavelmente como arte que o futebol se reconcilia com o espectador e este com o jogo. Porque mesmo numa era em que ao marketing é requerido que envelope a assistência a um jogo como uma experiência, ninguém que se desloque a um estádio está à espera que essa experiência envolva pipetas, tubos de ensaio ou o azul de tornassol. [Exceptuando o Luis Filipe Vieira, que acusou azul no papel tornassol quando exposto a condições básicas (Alverca) e depois mudou para vermelho (Benfica) e ficou com uma certa acidez.] E até os incendiários, que também os há infelizmente nos campos de futebol, optam pelo very-light ou petardo antes de se comoverem com a chamazinha que emana do Bico de Bunsen. 

 

Se é o futebol-arte que nos anima a alma, ninguém que tenha visto a recepção do Sporting ao Boavista pode ter dado o seu tempo como mal-empregue. E a razão principal tem um nome: Nuno Santos. O destaque dado ao Nuno é curioso, porque aqui e noutros fora tanto lhe tem sido gabado o empenho e concentração competitiva como reclamada a falta de criatividade. Mas uma coisa é a técnica, que o Nuno tem de sobra, outra a habilidade específica no 1x1 (o drible), que não é a especialidade do nosso jogador. Embora a base de um bom jogador seja a recepção, o passe e o remate, por vezes a revienga, o engano, salta mais à vista. Mas são mais olhos que barriga. A verdade é que a técnica também pode ser criativa, e o Nuno ontem provou-o abundantemente. Candidato ao Prémio Puskas, o seu remate de letra foi arte pura, pelo que de uma certa forma o jogo terminou aí, as suas restantes ocorrências, do mesmo modo que a hora ou o local onde foi disputado, apenas servindo para enquadrar esse glorioso momento que tanto prestigiou (justificou?) o futebol. E como a esmerada expressão artística é também uma sublime forma de inteligência, a execução do Nuno mostrou uma inteligência prática. Porque, se o futebol é tempo e espaço, o nosso ala esquerdo poupou o tempo que demoraria a puxar a bola para a sua canhota e aproveitou o pouco espaço disponível com aquele toque de magia. Depois de há uns tempos atrás já nos ter deliciado com uma assistência para golo executada com igual perícia. Inspirado, ainda lhe saiu uma trivela na direcção da baliza, mas os deuses devem ter achado que já era de mais - além do golo épico, adicione-se uma assistência para... autogolo - e fizeram subir ligeiramente a bola. 

 

Gostei bastante da atitude do Sporting durante todo o tempo. O resultado só não foi superior porque continuamos a falhar nos detalhes, especialmente na precisão dos cruzamentos e no timing de soltar a bola por parte dos médios, que por vezes engasgam desnecessariamente o jogo. Apesar de algumas limitações técnicas, estou convencido de que temos um grande ponta de lança em construção em Alvalade. O Chermiti dá apoios frontais, como no lance do primeiro golo, procura a profundidade, desloca-se lateralmente, pressiona alto, nunca está parado. E arrasa uma defesa com as suas movimentações, abrindo espaços para os colegas. O nosso jogo torna-se muito mais fluido, alegre e produtivo. Só lhe faltam mais golos para ser o "Cherminator". Ah, e o Paulinho marcou. Pelo terceiro jogo consecutivo, provando-se que a concorrência é um bem em qualquer actividade. E quem o serviu, quem foi? O Esgaio. Terá sido a revolta dos "patinhos feios"? Ainda vamos a tempo de os ver como cisnes? Que continuem, que por mim está bem assim!

 

Tal como o Herman, parodiando o Baptista Bastos a propósito do 25 de Abril, no futuro muitos Sportinguistas entre si perguntar-se-ão onde estavam no dia em que o Nuno Santos fez "aquela" obra de arte. 

 

Tenor "Tudo ao molho...": Nuno Santos. Who else? Edwards e Ugarte continuam em grande nível. Coates está a subir de forma. Diomande impressiona no passe e condução de bola. Israel revelou atenção entre os postes e bom jogo de pés. 

 

P.S. No dia da obra prima do Mestre, a prima do mestre-de-obras que é a "apitagem" portuguesa voltou a pintar... a manta. De negro. Penálti claro por marcar sobre Trincão. 

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09
Mar23

Tudo ao molho e fé em Deus

Canhões de pólvora seca


Pedro Azevedo

O Johan Cruijff, que sabia uma coisa ou outra sobre o jogo e não consta que tivesse uma doença oftalmológica, costumava dizer que nunca tinha visto um saco de dinheiro ganhar uma partida de futebol. Produto das escolas do Ajax, ele havia visto crescer uma equipa da formação do clube que para os obcecados do Transfermarket não teria qualquer hipótese na Europa. Porque o país não tinha história no futebol mundial, e assim a cotação dos miúdos era perto de zero. Até que a equipa se mostrou ao continente, marcando desportivamente a década de 70 e influenciando as décadas futuras. Ora, por falar em décadas, é "décadente" tanto se ouvir falar de orçamentos. Na antevisão do jogo, na televisão ou rádio, todo o papagaio falava que o plantel do Arsenal valia 3 ou 4 vezes mais do que o do Sporting. Evidentemente, isso não levava em linha de conta que no futebol inglês as cotações estão muito inflacionadas, daí a progressão geometrica que se verifica na cotação dos nossos quando se começa a falar em transferências para Inglaterra. Em todo o caso, o assunto era dado como encerrado: o Sporting estava condenado, faltando saber por quantos golos perderia. Custa a crer como nos demos ao trabalho de ir a jogo...  

 

Bom, mas isto aconteceu antes do jogo. Ou foi o pré-jogo, o jogo falado, aquele que precede o jogo propriamente dito e serve como barómetro da mentalidade do nosso clube e dos nossos adeptos. Porque, depois, olhos nos olhos e equipa adversária bem estudada, o Sporting teve tudo para ganhar. Bastaria para tal que o Paulinho tivesse marcado o terceiro e o Morita não fosse alvo de uma carambola provavelmente concebida nas trevas. Sim, esse minuto 62 marcou a transição entre a ilusão de tocar no céu e a ameaça de descida ao inferno. Ficámos então pelo purgatório, o que é um meio termo. Até à próxima quinta-feira, o que apesar de tudo é um prazo razoável para uma vida estar em suspenso. 

 

Quanto ao jogo jogado, o elevador de St Juste esteve sempre lá em cima, foi o melhor em campo. O meio campo aguentou-se como pôde, e se não pôde mais foi porque o plantel não tem jogadores que ofereçam garantias ao treinador nesse sector do campo para poderem entrar a substituir os titulares. Edwards impressionou enquanto teve pilhas, constando na ficha dos nossos dois golos, e o Trincão voltou à sua irrelevância. O Paulinho marcou um golo de oportunidade, mas falhou outro cantado, isolado perante o guarda-redes. Tive pena de não ver o Chermiti mais cedo em campo, mas, como o Transfermarket só lhe atribui 3 milhões de euros de valor, os nosso adeptos devem ter ficado aliviados por lhes terem poupado a humilhação de o mostrar muito tempo àqueles colossos bem-valorizados que o Arsenal aqui mostrou. Uma palavra para o Matheus Reis, que condicionou bem o Saka. E outra para o Inácio, com os cumprimentos ao Fernando Santos (parece que já o estou a ver a marcar por Portugal à Polónia...).

 

O Arteta não ponha o Odegaard e o Trossard, não, e vamos ver a  surpresa que a segunda mão lhe reservará. Enquanto houver vida, haverá esperança. E Transfermarket, respirem fundo os negacionistas (da história do clube) do costume. (Os nossos jogadores acreditam, e serão eles que irão a jogo.)

 

P.S.1: O Diomande jogou com a mesma naturalidade com o Arsenal e o Portimonense, não se intimidou com nomes. Aí está o exemplo de alguém que não é puxa-saco (de dinheiro)...


P.S.2: O Maguire custou quase 100 milhões de euros ao Manchester United e eu não trocaria uma perna do Gonçalo Inácio por ele.  

Tenor "Tudo ao molho...": St Juste

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09
Mar23

Contra os Canhões, marchar, marchar


Pedro Azevedo

Hoje há jogo grande em Alvalade, um daqueles desafios que fazem justiça à história do nosso clube. O Sporting nasceu para isto, para os grandes palcos, os duelos de suster a respiração, o medir forças com os maiores da Europa. Não será fácil, obviamente, mas a ambição expressa no lema do nosso fundador tem de estar lá, razão pela qual nada devemos temer. 

 

Este Arsenal faz muito lembrar o nosso Sporting de 2020/21. Na Premier League é o "underdog", mas não se tem dado nada mal. Assim, lidera um campeonato onde tem como contendores os 2 gigantes do noroeste inglês, Manchester United e Liverpool, um dos principais novos-ricos do futebol mundial, o Manchester City, e os rivais londrinos, Chelsea e Tottenham. O segredo do seu sucesso está na sociedade das nações que se estabeleceu a meio campo entre o músculo de Partey, o cérebro de Xhaka e a criatividade de Odegaard, uma parceria em que o ganês faz com que todos à sua volta sejam melhores, o suiço traz intensidade e caixa de rirmos e o norueguês encontrou o habitat certo para quem é um mestre em descobrir espaço entre-linhas por onde solta o génio da sua lâmpada. Um caso paradigmático da máxima de que o todo é superior à soma das individualidades, três jogadores que estavam a ficar aquém do talento que cedo lhes apontaram mas ligaram instantaneamente nos "Gunners" (canhões). Não se pense, porém, que o Arsenal se fica por aí. Não, a equipa torna-se especialmente perigosa quando a bola chega aos pés de Saka, um ala imprevisível, veloz, habilidoso e com golo. Também as movimentações radiais de Trossard são temíveis, assim como o vai-vem constante de Martinelli no corredor. (Do meio campo para a frente, esta é a melhor equipa do Arsenal, mas com a luta na Premier ao rubro é possível que haja alguma gestão do plantel.)

 

Para vencer o Arsenal, o Sporting tem de ter bola. Apesar de fazer falta no ataque, a eventual inclusão de Pote no meio campo permitir-lhe-á estabelecer um dueto central de jogadores cerebrais com Morita, reforçando a inteligência do nosso jogo. A chave estará aí, na conjugação da leitura de jogo dos nossos médios com a fogosidade dos alas Nuno Santos e Bellerin. A forma como se conseguirem articular, com e sem bola, será determinante no desfecho da partida, num jogo onde os interiores terão necessariamente de fechar os flancos. Assim, não podendo deixar de contar com os desequilíbrios de Edwards, é possível que Rúben Amorim venha a incluir Arthur no Onze devido ao seu maior compromisso defensivo. E, num jogo onde teremos de estar permanentemente ligados à electricidade e dar tudo, a energia contagiante de Chermiti poderá ser determinante, pelo que talvez Amorim aposte na sua titularidade.

 

Força, Sporting!!!

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08
Mar23

Uma década sem João Rocha


Pedro Azevedo

Hoje cumprem-se 10 anos desde a morte de João Rocha, o meu Presidente, o visionário que encontrou no ecletismo a forma de o Sporting não perder relevância no panorama nacional. A ele devemos equipas magníficas em diversas modalidades colectivas, do andebol ao basquetebol, com especial destaque para o Cinco de Ouro do hóquei em patins português e mundial. Foi também com ele que o Sporting cresceu exponencialmente em número de sócios, facto umbilicalmente ligado às apostas na prática de ginástica e natação no clube. Sob a sua liderança, e com a ajuda do trabalho de ourives de Mário Moniz Pereira, o desporto nacional viu nascer duas gerações magníficas no atletismo, com especial destaque para o primeiro medalhado de ouro olímpico, Carlos Lopes, e para o recordista mundial, Fernando Mamede, sem esquecer os olímpicos Jose Carvalho, Domingos e Dionísio Castro, Ezequiel Canário e Aniceto Simoes, ou históricos muiti-campeões nacionais como Raposo Borges, Adilia Silvério ou Conceição Alves, entre muitos outros. Também com ele o Sporting esteve presente no mítico Tour de France, que infelizmente já não contou com Joaquim Agostinho como chefe de fila devido ao trágico acidente ocorrido nesse mesmo ano no Algarve.  A sua presidência coincide com o melhor período de diversas modalidades, mas também no futebol a sua presença foi relevante, tendo conquistado 3 campeonatos nacionais, 3 Taças de Portugal e 1 Supertaça, além de ter impulsionado a aposta na formação de novos talentos. Aliás, no futebol, o seu palmares só é superado por outro presidente, Ribeiro Ferreira, ele sim o mais titulado, de sempre, com 6 campeonatos nacionais, 2 Taças de Portugal e 2 então relevantes Campeonatos de Lisboa, tudo isto em apenas 7 anos (ainda não havia sido criada a Supertaça e a Taça nesse período não foi disputada em 2 anos). Aqui fica a minha eterna saudade. Do presidente e do homem muito à frente do seu tempo. Mas também do ambiente que se vivia em Alvalade e nas deslocações aos campos dos nossos adversários. Obrigado, João Rocha. E que falta faz a sua voz assertiva e informada, ele que até à data da sua morte foi um senador sempre avidamente escutado por todos os Sportinguistas nas poucas ocasiões em que tomou a decisão de interromper os seus prolongados silêncios. 

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07
Mar23

O Estado da Art&manha


Pedro Azevedo

O estado de crispação e de desesperança a que chegou a nossa sociedade é intolerável. E a responsabilidade é toda nossa, cada um contribuindo com o seu quinhão para esta triste realidade. Uns por vocação maniqueísta, outros por inacção e um silêncio tolhido de medo, alguns pela irresponsabilidade, muitos movidos pelo interesse. É por isso difícil nomear uma única razão que justifique o status-quo. Nas sociedades sempre conviveram situacionistas, reformistas e revolucionários. Se dependesemos dos primeiros, ainda viveríamos em ditadura. Mas se entregassemos o nosso destino aos terceiros, passaríamos o tempo a reconstruir, com todos os danos colaterais que a sociedade saída de Abril abundantemente ilustra. Pelo que o barómetro de um país se mede pela capacidade dos reformistas de alterar o sistema por dentro. E onde estão esses reformistas, presentemente? Provavelmente submersos por um aparelho judicial que não funciona bem e não protege devidamente as pessoas do bem, por oportunidades que são cirurgicamente entregues a yes-men que não se afastem de uma determinada linha condutora, por uma audiência que os ignora, privilegiando os soundbites inflamados para os telejornais, nos facebooks e demais redes sociais em detrimento da opinião razoável, moderada e construtiva. Isto que se aplica para o país, repassa também para o nosso Sporting.

 

No Sporting actual, e quando digo actual refiro-me às últimas décadas, abundam os maniqueístas, gente que vê o mundo a preto e branco e não observa prioritariamente o que deveria ser o predominante verde. Há também os interesses que se movem de forma mais ou menos óbvia, desde o director do jornal que acredita que terá melhor fontes de informação que ajudem a vender se alinhar a sua opinião com a de quem dirige o clube até aos marginais infiltrados nas claques que não querem perder os seus negócios mais ou menos clandestinos. Depois, existem também os irresponsáveis, os pirómanos e fomentadores de ódio, cuja vaidade os faz despudoradamente procurar escaranfunchar a ferida em busca de uma maior audiência da opinião publicada. Finalmente, há uma enorme maioria silenciosa que se afastou do estádio e do clube, perdeu paixão e compromisso. São pessoas a quem a histeria agride, que têm a paz como um bem inalienável e a sua segurança como prioridade e movem-se pelo amor e não pelo ódio às coisas. Ninguém actualmente comunica para estas pessoas, e não há presentemente soluções para as suas necessidades. Porque se a comunicação não vem de dentro, do coração, não cria um eleo identificador entre os homens e as mulheres de boa-vontade. Se a comunicação apenas visa defender o poder, só um estranho alinhamento de estrelas faria com que tal fosse conjugável com o interesse colectivo, o superior interesse do Sporting. Que deveria ser também o dos Sportinguistas, mas infelizmente não é, desde logo por haver Sportinguistas a achar que o Sporting muito lhes deve e, por conseguinte, a sobreporem-se ao clube, ou a justapor o seu interesse pessoal e agenda mais ou menos oculta ao interesse colectivo. 

 

Como referi em cima, não há uma só razão que justifique termos chegado aqui, a esta encruzilhada. Assim, não tenho um diagnóstico preciso para a situação presente. Mas sei que se quisermos sair daqui só poderá haver uma solução. E essa solução será passarmos a mover-nos pelo amor às coisas, no caso o amor à causa, ao Sportinguismo, que crie uma cultura corporativa que isole comportamentos nocivos em sociedade e nos una em prol de um bem comum. Por isso, exorto o actual Conselho Directivo a preocupar-se com a próxima geração e não com a próxima eleição. Dando o exemplo e encorajando a enorme massa silenciosa a segui-lo. As pessoas precisam de bons exemplos, e necessitam de quem as lidere por esse caminho. Só assim teremos a nossa causa, só assim não perderemos a nossa relevância desportiva e social. 

05
Mar23

Tudo ao molho e fé em Deus

Distribuição menos chata


Pedro Azevedo

Já Vos tinha dito aqui que o futebol não é uma ciência exacta como a matemática. Ainda assim, a matemática pode ajudar-nos a explicar o futebol e, mais concretamente, o que aconteceu ontem ao fim da tarde em Portimão. Imaginem uma distribuição normal como uma função probabilística caracterizada por uma média e um desvio-padrão. Essa distribuição representa uma amostra, a qual é composta por n observações. Se tivermos muitas observações concentradas no mesmo valor, a média andará muito perto desse valor e as caudas da distribuição serão muito finas ou quase inexistentes. A esse achatamento da distribuição normal dá-se o nome de curtose platicúrtica. Agora peguemos no caso concreto de Paulinho. Antes desta jornada, para o campeonato, o Paulinho tinha apenas dois golos marcados, o que se traduzia matematicamente numa esmagadora quantidade de observações em branco. Assim, a probabilidade de marcar em Portimão era muito baixa, porque o desvio-padrão, a medida de dispersão de dados das observações face à média, era também muito baixo. Mesmo que em cada Sportinguista não exista um Pedro Nunes e que o conceito de distribuição normal possa não estar interiorizado por todos, há um senso comum nos seres humanos que deriva do conhecimento das suas experiências passadas. Ainda que superficial, esse pensamento tem o seu quê de probabilístico, logo matemático. Só que, como iniciei esta crónica, o futebol não é uma ciência exacta. E Portimão foi o cenário ideal para o provar. Com esmero, ou o nosso melhor goleador não tivesse falhado golos em barda e o seu recúo para o meio campo coincidido com o momento do nosso golo. Mais, esse golo - e que golo! - foi apontado por Paulinho. Ou seja, o Sporting ganhou com Pote no meio campo (e foi ele a assistir para o momento do jogo) e Paulinho a marcar um golo à ponta de lança na única oportunidade que teve para o fazer, tudo ao contrário das observações que os adeptos leoninos tinham em mente. Enfim, poder-se-á tão somente dizer que aconteceu futebol, sendo aqui futebol algo comparável à magia, a um sortilégio que nos transporta para lá da racionalidade e/ou compreensão. O que não quer dizer que no futuro não possa ser explicado matematicamente. Nesse sentido, o desafio de Paulinho será tornar a distribuição dos seus golos menos achatada em torno do zero de média e, por conseguinte, menos chata.  Para ele e para nós.

 

Tenor "Tudo ao molho...": Paulinho

 

P.S.1. Uma palavra para Rúben Amorim, que foi um senhor em todas as intervenções que teve depois do jogo, nunca procurando o revanchismo após as criticas de que foi alvo pela utilização recente de Pote no meio campo e de Paulinho como ponta de lança. Ele sabe que as razões do Sporting são mais importantes do que as suas pontuais razões. Chapeau!

 

P.S.2. O Chermiti traz ao jogo do Sporting uma capacidade de luta extraordinária. Ontem foi quase sempre mal servido, mas nunca desistiu de uma bola.

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28
Fev23

Tudo ao molho e fé em Deus

O dia em que o Trincão finalmente trincou


Pedro Azevedo

Em vésperas de uma recepção ao Arsenal, nada como começarmos a ambientar-nos ao ritmo dos ingleses com uma arbitragem digna de terras de Sua Majestade. Como protagonista, Manuel "Butcher" Mota, um talhante que paradoxalmente corta muito pouco, excepção feita a umas entremeadas de bola e jogador que aviou com demasiada frequência. 

 

Ontem em Alvalade fomos anfitriões do Estoril Praia, cuja equipa é uma espécie de misto remendado de antigas reservas do Benfica e do Sporting. Por isso equipa de amarelo, o que pelo sistema de cores de Maxwell resulta da combinação do vermelho com o verde. Na preparação do jogo, o Amorim tomou nota de que o Estoril é o clube da linha, logo sugerindo aos seus jogadores para que a atacar procurassem o jogo interior. Por isso encostou o Edwards e o Trincão às alas, como isco (ou dissuasão), mandando o Bellerin e o Nuno Santos para posições mais de dentro. E resultou, com o espanhol a imitar o compatriota Porro nos movimentos à bolina e a entrar obliquamente à area canarinha. Daí surgiu o nosso primeiro golo, o que para o GAP - Grupo de Amigos do Paulinho - pode ser descrito assim: aproveitando os magnos conhecimentos de geometria euclidiana e as lições de trigonometria apreendidas com mestres como Hisparco de Niceia e Ptolomeu, Paulinho fez inteligentemente a bola tabelar num defensor estorilista para que chegasse na medida certa aos pés de Bellerin. Mais uma prova de associativismo do nosso ponta de lança, ele que já antes, isolado, solicitado por Edwards, havia permitido que Dani Figueira também se associasse ao lance e defendesse. Há "casamentos" assim, e este de Rúben Amorim com o nosso ponta de lança faz lembrar aquela sentença de Oscar Wilde de que o casamento é o triunfo da imaginação sobre a inteligência... 

 

Num jogo que foi de sentido único, com o Sporting sempre a atacar de uma forma equilibrada, com os seus jogadores bem posicionados para a perda da bola e não dando azo a que os estorilistas procurassem uma cava de casino, não se estranhou que os leões chegassem ao segundo golo. Insólito, sim, foi o seu marcador: Trincão. E que golo foi, com o ex-Barcelona a serpentear por entre vários pórticos, que nem um Stenmark ou Girardelli no esqui alpino, até pontapear para o fundo das redes. (A alusão à neve foi para refrescar da primeira visão que tive, que foi o Trincão, que nem fáquir, a caminhar em acelerado sobre as brasas até finalmente vencer o desafio.) Agora é acreditar que a sua forma não Tomba, porque de um Trincão consistente está o Sporting bem precisado. 

 

Uma palavra final para o Chermiti, com um agradecimento por nos mostrar a diferença que existe entre um ponta de lança e um avençado centro, salientando-se aqui que cada recibo verde do Paulinho está caro para burro. E ainda há que acrescentar o IVA, VAT catar!

 

Tenor "Tudo ao molho...": Trincão

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24
Fev23

Tudo ao molho e fé em Deus

Ser ou não ser, eis a questão


Pedro Azevedo

Os adoradores de Paulinho tiveram ontem um dia em cheio, ao vê-lo ser finalmente determinante na vitória do Sporting. Para tal bastou apenas um par de minutos, tempo suficiente para os pitões das suas chuteiras efectuarem dois apoios frontais sobre os joanetes de jogadores leoninos. Em consequência, voltou com classe as costas ao jogo. E desceu como nunca no terreno, nomeadamente quando se deparou com os degraus de acesso aos balneários, eram decorridos 38 minutos de jogo. Outro jogador em destaque foi o ponta de lança Coates, que voltou a marcar e assim justificou a titularidade absoluta conferida pelo treinador. Mas no primeiro tempo foi Gonçalo Inácio o melhor em campo, dobrando frequentemente Arthur, o jogador com nome de cavaleiro da távola redonda (Santos soaria a plebeu) que Amorim lançou para contrapor ao príncipe dos dinamarqueses (Isaksen). Como não se fazem Hamlets sem ovos, os nórdicos caíram no segundo tempo, momento ideal para emergir o goleador Pote. O que é natural é o Pote pisar terrenos perto da baliza dos nossos adversários, pelo que o restaurador Olex Amorim devolveu-o à posição de interior. E foi um sucesso, aliás atestado por mais dois golos de Art-Deco, em souplesse. Um craque! Todavia, o Pote e o Coates que se ponham a pau, porque Castigo Máximo soube que o Scouting dos leões ficou muito bem impressionado com o dinamarquês que apontou o nosso quarto golo, capaz de um remate com paradinha (cerebral) que deixou o guarda-redes sem reacção. 

Tenor "Tudo ao molho...": Pote

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21
Fev23

Tudo ao molho e fé em Deus

Um eufemismo em forma de ponta de lança


Pedro Azevedo

A última versão da cartilha leonina, que também a há por cá, é que o Paulinho é um excelente jogador que tem a pouca sorte, vejam só(!), não de não acertar numa baliza a 3 metros de distância mas sim de ser vítima do preconceito de que é um ponta de lança. Logo, seguindo a manada, como é do interesse de quem dirige e sinal de boa obediência, não se pode dizer que o Paulinho é um ponta de lança. Quer dizer, ocupa os terrenos comumente atribuídos a um ponta de lança, os colegas procuram servi-lo como a um ponta de lança, o seu preço de compra reflecte ser um ponta de lança, mas não se pode chamar-lhe tal. Assim sendo, Castigo Máximo vai doravante seguir também a cartilha. Não, o Paulinho não é um ponta de lança. Então, é o quê? - Perguntará legitimamente o Leitor. Bom, a conclusão a que cheguei é que o Paulinho é uma figura, mais concretamente uma figura de estilo. O Paulinho é um Paulinho, sendo "Paulinho" um eufemismo. Um eufemismo para penalty cavado e outras teatralidades, para golos falhados e também para injustiça, que o Chermiti bem poderia nascer 10 vezes e jogar bem, assistir ou marcar de novo a Braga, Rio Ave e Porto que ainda assim teria de ver a sua confiança abalada com um banho de banco. Menos mal, dentro das figuras de estilo, alguém porventura menos bem intencionado até poderia considerá-lo uma metáfora e, indo mais além, a metáfora mais literal de todas as metáforas, sendo o fora de jogo o paradigma da própria metáfora. E como com um presidente militar o balneário até se poderá chamar de caserna, a este arrazoado sobre o status-quo até poderíamos chamar de alegoria da caserna, ou não fosse a cegueira mais do que evidente. Com "s" de seca (de golos), e não "v" de vitória, senão até seria Platão. No fundo, nem podemos levar a mal o Paulinho. A nossa revolta com ele deve-se essencialmente a nos revermos indesejavelmente nele, no seu inconseguimento, na sua furiosa militância anti-corrupção que o faz bramir desaforos e esbracejar indignidades com a mesma espontaneidade ou convicção com que finge agressões ou simula penalidades. No fim do dia, ele é um português, tão somente isso. E, como tal, totalmente inconsequente. Na acção como nas palavras. 

 

Com Ugarte sozinho no miolo para todas as encomendas e Pote ingloriamente fora da posição em que é letal, não se estranhou que depois de uma boa entrada no jogo o Sporting tenha progressivamente abrandado o ritmo. Como a tendência natural do uruguaio perante as vagas constantes de adversários em seu redor é defender-se, encostando-se aos centrais, o nosso meio-campo transforma-se num queijo suiço, o que não ajuda nada o trabalho da nossa defesa. Surpreendidos? Não é preciso ser um Sherlock Holmes, para o compreender, não é verdade? Emmental, meu caro Watson! 

 

Assim andámos durante cerca de uma hora até que Amorim fez entrar o nosso Tsubasa e o Pote pôde finalmente recuperar o seu lugar no relvado. E o mínimo que se pode dizer é que foi tiro (de Pote) e queda (do guarda-redes do Chaves), adiantando-se novamente o Sporting no marcador. Depois veio o terceiro, às três tabelas, com Nuno Santos a fazer de Theriaga e a bola a carambolar uma última vez num flaviense antes de se anichar na rede. Tempo então para Amorim fazer entrar o Chermiti, confirmando a sua aposta na Formação. O valor desta aposta depende de questões contratuais: se um jogador tem um contrato para assinar, então o natural é que jogue 90 minutos; porém, pós-contrato assinado, a cotação da aposta baixa até ao ponto em que 10 minutos cheguem para fazer sobreviver a narrativa. Houve ainda oportunidade de se realizar a enésima substituição de centrais durante um jogo, subindo o elevador de St Juste e descendo o costa-marfinense Diomandé, produzindo-se mais um dos paradoxos deste Sporting versão 22/23. É que já sem o ex-Mafra em campo, estranhamente a equipa deixou correr o marfim. Concomitantemente, o Nuno Santos não fechou ao centro e um espanhol desabrido e em ruptura com a metafísica acerca de um ponta de lança, que ocupa terrenos de ponta de lança, é servido pelos colegas (no caso, o ex-Sportinguista Benny) como um ponta de lança mas não custou o preço habitual de um bom ponta de lança, reduziu para o Chaves. E soou o gongo, para alívio dos nossos. Quinta-feira há mais uma voltinha na montanha-russa. Na Dinamarca, mas pode ser que seja na Noruega (a atender ao que diz a SportTV). FIM

 

Tenor "Tudo ao molho...": Pedro Gonçalves

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19
Fev23

Sobre a relevância de Matheus


Pedro Azevedo

Há quem ainda tenha dúvidas sobre a forte correlação entre a venda de Matheus Nunes e o desenrolar desta época desportiva. Entre estes seguidores de São Tomé, destaca-se a narrativa de que, com Matheus, o Sporting não foi campeão, que em 20/21 quem jogava era o Palhinha e o João Mário. Procurei entrar no espírito desse "story telling" e fui então ver para crer, consultando as estatísticas. E deparei-me com o seguinte: na temporada de 20/21 o Matheus esteve em 39 jogos, contra os 38 de Palhinha e os 34 de João Mário. Só para o campeonato, o Matheus fez 31 jogos, apenas superado pelo Palhinha (32). O João Mário actuou em 28 jogos. É certo que foi titular menos vezes do que o jogador actualmente em destaque no Benfica, mas a sua entrada recorrente em campo significou sempre um incremento de qualidade para a equipa, ajudando a resolver vários jogos cujo desfecho esteve incerto quase até ao fim. E para o campeonato marcou 3 golos, quase todos decisivos (único golo ao Benfica, que deu a nossa vitória no derby; golo em Braga decisivo, num jogo em que jogámos quase todo o tempo com menos um; segundo golo ao Braga, em Alvalade, que consolidou a nossa vitória), contra 2 do João Mário (ambos de penalty) e 1 do Palhinha. E é isto, sem esquecer que em 21/22 o Matheus foi absoluto titular e fizemos os mesmos 86 pontos do campeonato anterior. 

17
Fev23

Tudo ao molho e fé em Deus

Ornatos de Ponta de Lança


Pedro Azevedo

"Ouvi dizer que o nosso amor acabouPois eu não tive a noção do seu fimPelo que eu já tenteiEu não vou vê-lo em mimSe eu não tive a noção de ver nascer um homem (Chermiti) (...)

 

(...) (Agora a parte em que entra o Espadinha, desconhece-se se à estalada)

O estádio está desertoE alguém ecoa o teu nome (Paulinho) em toda a parteNas casas, nos carros, no (Leonel) Pontes, nas ruasEm todo o lado essa palavraRepetida ao expoente da loucuraOra amarga, ora docePra nos lembrar que o amor é uma doençaQuando nele julgamos ver a nossa cura" - adaptação livre de "Ouvi Dizer", dos Ornatos Violeta

 

Desde a "Antiguidade Clássica" de Rúben Amorim no Sporting que a nossa equipa se vê grega em inferioridade numérica no meio campo. Primeiro com Matheus e Wendel, depois (época do título) com Palhinha e João Mário (34 jogos) e Matheus (39 jogos) sempre pronto a entrar quando o diesel do agora benfiquista chegava ao fim (o que não acontece agora quando Morita "dá o berro"), na temporada passada com Palhinha e Matheus (e Ugarte como opção). Mas havia Palhinha e/ou Matheus, dois super-heróis com poderes especiais que valiam por três jogadores, pelo que a aritmética desfavorável só era absolutamente nítida quando enfrentávamos outros super-poderes na Europa. Havia risco, sim, mas controlado. Só que agora não há Palhinha. Nem Matheus. Há Ugarte e Morita, que são bons mas humanos, não caíram no caldeirão da poção mágica em pequeninos como o Obelix nem foram banhados no rio sagrado como o Aquiles. Sem Morita, Amorim decidiu desafiar ainda mais os deuses e as probabilidades e deixou o uruguaio sozinho no centro do campo. Muitos vê-lo-ão como uma imprudência, eu tomo-o como uma tentativa de homicídio. Passo a explicar: a esforçar-se desta maneira, se não morrer entretanto, o Ugarte acabará a carreira como um ancião aos 25 anos. E, até lá, não haverá uma companhia de seguros disposta a vender-lhe sequer uma apólice de saúde, quanto mais de vida.   

Vem a "Antiguidade Clássica" de Amorim no Sporting a propósito do seguinte silogismo aristotélico: Rúben afirma frequentemente que o futebol é o momento. Ora, em grande momento estava o Chermiti, com golos, assistências e arrastamentos para golo. Assim sendo, o Chermiti deveria ontem ter sido titular. Mas não, em vez do silogismo triunfou o associativismo. E o Paulinho é que foi a campo. É o amor de perdição de Amorim, o Camilo até já escreveu sobre isto. Restará saber se em prol do associativismo não os veremos em simultâneo a deixar Alvalade. Com o Esgaio e o Trincão a transportarem as malas à saída. Talvez então o Rúben se liberte da escuridão e não mais renegue a realidade como ela é, embora quem despreze Aristóteles também possa nada aprender com um  seu mentor (Platão, aluno de Sócrates e autor da Alegoria da Caverna).

 

Outra coisa que me intriga é o início de construção da nossa equipa. Há quem lhe chame saída de bola, mas no nosso caso é mais "saída de barra". É que as chuteiras do Adán devem ter sido feitas na Lisnave, ali bem perto de onde o rio desagua no mar...(Temos aqui um caso paradigmático de construção naval, tanta é a água que se mete no processo, razão pela qual esta temporada vamos permanecer em doca seca... de títulos.)

 

Andamos quase todos aqui às voltas com a vontade de recuperar o melhor Amorim (esse pelo menos fez-nos campeões, que garantias nos darão os que se seguirão?) que até nos esquecemos das responsabilidades de Frederico Varandas. É que bom presidente não é o que passa a perna ao treinador ao vender-lhe o Matheus, bom presidente, sim, é o que estende a mão ao treinador e despacha o Paulinho para longe, para as arábias ou assim, onde se poderá associar com os camelos de duas e uma bossa (dromedários) e assim aprender como armazenar energia, conhecimento que lhe poderá ser muito útil na hora de rematar à baliza. [Em tirocínio, ontem até me pareceu vê-lo a transportar qualquer coisa (seria a bola?) nas costas.] Com a ajuda do super-empresário Mendes, pois claro, que vender seca (de golos) no deserto não deve ser tão fácil quanto "enganar ingleses" com o Bruno e o Matheus, ao melhor estilo do Zezé Camarinha. 

 

Tenor "Tudo ao molho...": Manuel Ugarte, qual Atlas a levar às costas o mundo do leão. 

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16
Fev23

Antevisão da Liga Europa


Pedro Azevedo

O Sporting recebe hoje à noite o Midtjylland, em jogo a contar para os dezasseis-avos de final da Liga Europa. Aqui ficam algumas notas sobre os dinamarqueses: o Midtjylland joga num sistema de 4-3-3. Defensivamente, a equipa é bastante permeável. A presença dos interiores bem por dentro e próximo do seu ponta de lança deverá garantir aos leões a vitória, atraindo o Midtjylland para o centro e libertando os alas (ou o ponta de lança, se o nosso médio mais ofensivo chegar em condução às imediações da área dinamarquesa) para entrarem e finalizarem no espaço compreendido entre os centrais e os laterais. São vários os exemplos de sucesso deste tipo de estratégia usada pelos adversários do Midtjylland. Outra situação que os leões poderão aproveitar é a deficiente cobertura defensiva dos dinamarqueses nos cruzamentos. Não só deixam-se frequentemente antecipar ao primeiro poste como o segundo poste fica quase sempre desguarnecido. (Aspecto que poderá também jogar a nossa favor são as bolas de ressaca, pois os dinamarqueses geralmente não deixam ninguém na cobertura à entrada da área, antes se amontoando à frente do seu guarda-redes de uma forma muitas vezes ineficiente.) Recomendar-se-á, assim, largura nas alas e a aproximação dos interiores à pequena área na altura dos cruzamentos (desejavelmente efectuados pelos alas). Como nota positiva nos nórdicos, o seu guarda-redes, Jonas Lossl, é muito experiente, com passagens pelos campeonatos francês e inglês, e tem excelentes reflexos. Ofensivamente, o Midtjylland tem o seu ponto forte. É uma equipa muito perigosa quando faz chegar a bola ao seu melhor jogador, Gustav Isaksen (número 11), de apenas 21 anos, um esquerdino que parte do lado direito, tanto fintando por fora e para dentro como procurando encontrar um colega no segundo poste. Outro jogador interessante é o uruguaio Emiliano Martinez (número 5), que conduz bem em posse e tem um bom remate de fora da área. De destacar também a presença do central e capitão, Sviatchenko, nas bolas paradas ofensivas, com bom aproveitamento. Ultimamente, a equipa perdeu algum do seu poder de fogo com as vendas de Dreyer, o seu goleador, para o Anderlecht, do médio ofensivo, Evander, que saiu para a MLS (Portland), e do guineense Kaba (Cardiff), sendo uma relativa incógnita quem acompanhará Isaksen no trio da frente, embora o zambiano Chilufya seja uma opçao a ter em conta.

 

Em resumo, temos aqui um adversário perfeitamente ao nosso alcance, assim a nossa equipa consiga explorar os seus pontos mais fracos e não permita grandes veleidades ao extremo Isaksen. Mas, certamente, Ruben Amorim já viu isto tudo que aqui descrevi, e muito mais,  

15
Fev23

Torre Jenga


Pedro Azevedo

O Record diz que a eventual não ida à Champions traduzir-se-á para o Sporting numa redução de 40M€ de proveitos, ou seja, cálculos meus, mais ou menos a receita líquida da venda de Matheus Nunes. Assim, a confirmar-se o não apuramento para a Champions, a venda de Matheus, além de resultados desportivos desastrosos, produzirá um resultado financeiro nulo. Em consequência, o mesmo jornal, sempre bem informado do que se passa no reino do leão, previne que mais vendas estarão a caminho (mesmo após a de Porro) para tapar o "buraco". Conclusão: como no jogo de madeira Jenga, a subtração de uma só peça pode fazer desabar uma torre inteira. Gestão de topo? (Talvez mais de Topo... Gigio, que também adormecia criancinhas e meninos.)

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14
Fev23

O momento do Sporting


Pedro Azevedo

A equipa profissional de futebol do Sporting registou a sua décima primeira derrota na actual época desportiva. Num momento destes o normal é disparar-se em todas as direcções: presidente, treinador, jogadores e adeptos. Mas os adeptos não jogam, os jogadores fazem o que podem (e, se não podem mais, é porque não sabem e isso não é culpa deles), o treinador até já foi campeão e o presidente não acrescenta mas calado pelo menos tem marcado poucos auto-golos. Por isso, sendo certo que para cada problema deverá haver uma solução, o diagnóstico do problema não é assim tão claro que perspective encontrar-se facilmente o caminho que nos liberte das trevas, ou não há um grande e incontornável problema que esteja à vista de todos. Porque, desde logo, o que me parece é existirem vários pequenos problemas que, todos juntos, vêm contribuindo para colocar areia na engrenagem e estão na origem do resultado desapontante desta temporada. Desde logo, a falta de golos, o que pode ser atribuído à insistência do treinador com Paulinho. Mas também a profusão de golos encaixados, o que terá a ver com as características dos nossos jogadores de meio campo, menos intensos que os seus predecessores, e com a opção (da Direcção) de vender Matheus já depois de também ter alienado o passe de Palhinha. A venda de Matheus, e o timing em que ocorreu, conduziu Amorim no caminho da experimentação. As contratações menos conseguidas, também. Ora, dificilmente experimentação se coaduna com a alta competição, e isso tem um custo. É certo que o mês de Dezembro e a Taça da Liga chegaram a parecer o tempo ideal para se encontrarem as soluções alternativas mais correctas. Mas, em vez de convicções mais profundas, no novo ano multiplicaram-se as dúvidas, num constante entra e sai de jogadores que dificilmente contribui para a estabilidade de uma equipa. O que me leva a perguntar a mim próprio se algo de positivo se pode tirar de uma época assaz negativa. Na minha opinião, há. Desde logo é preciso que quem tenha mais responsabilidades reflicta sobre o processo. A falta de humildade (Amorim a não querer ver o óbvio) e a soberba (o presidente a chamar patetas a todos os que correlacionaram a saída de Matheus com o desenlace da época) conduziram-nos aqui, pelo que ou muda a atitude de quem dirige ou entraremos num caminho sem saída. Dentro disto, os jogadores serão os que terão menos responsabilidades, eles que até têm procurado adaptar-se às por vezes excêntricas opções do treinador: Inácio tem feito épocas quase inteiras a jogar de pé trocado na defesa, o lateral Matheus Reis fez-se central, Nuno Santos destacou-se a percorrer todo o corredor, Morita encontrou uma chegada à área até aí desconhecida no seu percurso, Arthur tanto joga a interior como a ala, Pote sobe e desce no terreno consoante as necessidades e humores do seu treinador. Como estar a pôr a culpa nos adeptos seria no mínimo tolo e qualquer estratégia de os usar para desviar as atenções seria quase criminosa (sim, há arruaceiros semi-profissionais, com os quais não há diálogo possível, mas não tomemos a nuvem por Juno), é a estas pistas que nos deveremos agarrar, reflectindo para o futuro. E é preciso a massa adepta sentir que essa reflexão está em curso, a começar no seu presidente, que deve interromper o seu silêncio e aparecer num momento destes para mostrar que tem consciência do momento que se vive e do resultado das opções tomadas. Falando para aqueles que serve, porque no dia em que não tiver ninguém a quem servir a sua função deixará de ter expressão. É esse aliás o grande perigo que emerge desta época: a desagregação. E o caminho de apontar baterias para sócios e adeptos, tantas vezes falaciosamente percorrido, não pode ser um caminho a seguir, a não ser que se pretenda deparar com o abismo. Claro que a resiliência de sócios e adeptos é importante numa hora difícil, mas então que isso seja pedido conjuntamente com uma reflexão consciente sobre o que nos trouxe aqui e sinais claros de mudança. Porque um Homem sem sonho não é nada, e um clube sem emoção à sua volta nada é. 

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