Tudo ao molho e fé em Deus - Geometria de Murphy
Pedro Azevedo
O Porto campeão europeu de Mourinho jogava com 3 médios de perfil e ganhou tudo. O Sporting da primeira época de Keizer jogava com 3 médios de perfil e ganhou duas taças. Na segunda época, com a integração de Vietto, o holandês começou a recorrer à geometria. Primeiro pediu a Wendel que fechasse mais na interior esquerda, o que na prática motivou um triângulo a meio-campo de cariz defensivo. Insistindo no argentino - dado que a experiência anterior não correu bem na pré-época - , Keizer montou a Táctica do Quadrado, com Wendel e Doumbia em linha atrás e Bruno e Vietto em linha à frente, o que na prática se revelou tão mortífero para si quanto um suicídio assistido. Ex-treinador do Ajax despedido, chegou Leonel Pontes. E ao segundo jogo implementou o losango. Três derrotas consecutivas depois, os gregos que me desculpem, mas estou farto de geometria. Axiomático como Euclides, Leonel utilizou o método de exaustão de Arquimedes para desesperar os adeptos leoninos, o que não terá desagradado aos espíritos de Sófocles, Eurípedes ou Ésquilo esta noite presentes nas bancadas de Alvalade, que certamente terão recolhido bom material para uma tragédia grega. (Ou quando o andar a brincar à geometria se associa à Lei de Murphy e cria o caos.)
O Sporting tem um plantel desequilibrado e escassos jogadores que façam a diferença. Apesar disso, tinha algumas rotinas no 4-3-3. Com pouquíssimo tempo de trabalho, Leonel ousou mudar isso. Correu-lhe muito mal. Curiosamente, em contraciclo com a hiper-inflação de alas que resultou de um Mercado de Verão perfeitamente caótico para o leão, responsabilidade primeira que tem de ser assacada a Frederico Varandas e à famosa Estrutura. De betão armado (em parvo, quer-me parecer).
O Sporting perde na mesma época em casa duas vezes contra o "mighty" Rio Ave. Depois de também ter sido batido em Alvalade por outro "gigante" (o recém-promovido Famalicão), em jogo onde foi humilhado no segundo tempo tal como na Supertaça. Leonel diz que não pode fazer milagres, mas a própria sequência de resultados em si é miraculosa. Para os nossos adversários, obviamente.
Já fora da luta pelo campeonato, com o habitual brilharete na Taça da Liga comprometido e à beira do quinto treinador em apenas 1 ano (é obra!), Frederico Varandas tem sido um factor de instabilidade para a equipa de futebol do clube. Ao ponto de neste momento ter um prazo curto para realizar uma tarefa: desatar os nós que ele próprio criou. Tarefa essa que não se afigura fácil quando o mercado está fechado, Daniel Bragança, Francisco Geraldes e Matheus Pereira emprestados e Domingos Duarte vendido; em contrapartida, existe um claro excesso de alas, insuficiência de pontas de lança, jogadores longe do pico de carreira, equipa em défice de condição física alarmante e falta de qualidade geral (14 contratações e 40 milhões de euros investidos depois). Salvam-se Bruno Fernandes, Acuña, Mathieu, os de sempre. E pouco mais.
Esta noite, com uma equipa mista de titulares e de segundas linhas, o Sporting perdeu com as reservas do Rio Ave. Jogadores a chocar no campo uns com os outros, erros defensivos de principiante de Ilori e Rosier, "inconseguimento" total de compreensão do que é o jogo por parte de Borja, abaixamento de forma de Wendel, recidiva de lesão de um jogador recém-regressado de paragem prolongadíssima (Battaglia) que é obrigado a fazer dois jogos no espaço de 3 dias perante a complacência da "Unidade de Performance" são tudo motivos de preocupação. Some-se o ar de desespero de Bruno Fernandes, o homem que carrega o nosso céu nos ombros há tempo de mais, o qual se encontra visivelmente à beira de um esgotamento ou ataque de nervos, e será caso para declarar o estado de emergência na nação leonina. Digo eu, pois Varandas não sei se já estará preocupado. Até porque, ao fim de duas vitórias, dois empates e cinco derrotas em nove jogos, é certo que irá continuar a ouvir elogios e sentir pancadinhas nas costas dos dirigentes de clubes nossos rivais...
Sem resultados desportivos, aposta na Formação ou tesouraria, "quo vadis" Sporting?
Venha o Tiririca, pior que 'tá, não fica!
Tenor "Tudo ao molho...": os poucos adeptos (uns heróis!) que, acorrendo a Alvalade, se concentraram exclusivamente em apoiar a equipa de futebol do Sporting Clube de Portugal.
P.S. Independentemente dos resultados obtidos na equipa principal, espero sinceramente que se reunam as condições (e a motivação do próprio) para que Leonel Pontes possa continuar o bom e importante trabalho que estava a desenvolver nos Sub-23, o que não pode ser considerado menosprezante. O Sporting não pode continuar de costas voltadas para os escalões de formação e Leonel parece ser um homem talhado para artífice dessa última linha de produção da "Mina de Diamantes" de Alcochete.