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Castigo Máximo

De forma colocada, de paradinha, ou até mesmo à Panenka ou Cruijff, marcaremos aqui a actualidade leonina. Analiticamente ou com recurso ao humor, dentro ou fora da caixa, seremos SPORTING sempre.

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Castigo Máximo

03
Ago22

Matheus e os Lobos


Pedro Azevedo

A última vez que vimos Matheus Nunes em campo foi contra o clube a quem deu uma nega, o Wolverhampton. Não deixa de ser até irónico que o luso-brasileiro se tenha tão declaradamente demarcado dos Wolves, sabendo-se de antemão que em condições similares a esmagadora maioria dos seus colegas de profissão trocaria a pele de cordeiro pela de lobo e logo levantaria problemas a fim de forçar a saída. Ora, eu não vejo isto suficientemente valorizado pela opinião escrita de adeptos do Sporting, que preferem criticar um suposto apagamento de Matheus em campo. Como a meu ver o seu menor rendimento tem tudo a ver com um sistema táctico de apenas dois médios centrais que o condiciona e desgasta sobremaneira - não é uma critica a Rúben Amorim, mas se há jogador cujo tremendo potencial ofensivo se desenvolveria muito mais rapidamente num sistema de 3 médios centro é o Matheus, que no contexto actual mais parece um puro-sangue emparedado numa cabine telefónica - , eu sinto que devo devidamente apreciar o homem que, vindo de uma favela, tomou a opção consciente de continuar num clube com história e pergaminhos europeus e que disputa os títulos nacionais em detrimento de embarcar na alcateia de lobos de um novo-rico do meio da tabela com sede em solo da Velha Albion (contrastes...). Deixando de ganhar, devido a essa opção, a módica quantia de 8 milhões de euros anuais. Não sei se para os mais distraídos isto faz alguma diferença, mas eu, que me lembro de um tal de Renato (entre tantos outros que podia dar como exemplo...), proveniente do Salgueiros, chegar a Alvalade e logo debitar que via o nosso clube como um trampolim para o Inter de Milão, sinto-me recompensado no meu orgulho Sportinguista por tão nobre atitude. Adiantando que, neste enquadramento, saber esperar é uma virtude e um sinal de inteligência e de confiança nas suas capacidades. Sinal esse que deve ser premiado. Pelo que o Matheus merece tudo, seja o tudo o City ou... o Liverpool, este último um clube com história e com um futebol mais dentro daquilo que são as qualidades do nosso número 8.  

 

P.S. É verdade, no sistema de dois médios centro o Matheus fez um grande jogo na Luz, mas não só o Benfica também alinhou no mesmo sistema (o que na Europa raramente se vê) como Weigl e João Mário marcaram-no com os olhos. 

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08
Jul22

O apagão


Pedro Azevedo

Volta não volta um jogador de futebol enfrenta aquilo que se pode chamar de apagão, O fenómeno, difícil de explicar, geralmente é temporário, principalmente quando se trata de um craque, ressurgindo depois o jogador ao mais alto nivel. Mas há também casos onde o retorno já não é possível, e o estado transitório torna-se permanente. Geralmente associado a questões psicológicas, o apagão de um futebolista pode até acolher superstições diversas. Quem não se lembra do nosso antigo médio Marinho? Providencial na dobradinha de 82 com Allison, o ex-bracarense viria então a entrar num prolongado ocaso. Razão? Logo os adeptos apontaram o corte de cabelo, como se a ausência da sua outrora longa melena loura lhe tivesse, qual Sansão, retirado a energia. Outro futebolista que depois de um início forte se foi apagando foi o colombiano Fredy Montero. Mas para isso muito contribuíram os inúmeros golos mal anulados por árbitros auxiliares que assim interromperam uma série goleadora que parecia eterna. Outros jogadores tiveram a sua travessia no deserto, com particular destaque para o grande Rui Jordão, a quem um dia Big Mal se referiu como não estando bem da cabeça. Como resultado deixou-o na bancada num importante jogo contra o Porto para estupefacção geral, lançando no seu lugar um miúdo açoriano formado no clube (Mario Jorge), um fantasioso canhoto que aliás viria a marcar o único golo desse Clássico. A verdade é que Jordão regressaria em grande, ganhando Allison de uma assentada dois jogadores na caminhada para a conquista do título de campeão nacional. Um caso paradigmático de como há males que vêm por bem. Porque no fim do dia o mais importante é a equipa. Dúvidas? Tivesse o Sporting ganhado o campeonato na época transacta e ninguém falaria no notório abaixamento de forma de Pedro Gonçalves. Não vencendo, foi mais evidente a ausência do Pote de Ouro no final do arco-íris. Sim, porque os grandes jogadores podem pontualmente ajudar uma equipa, mas as grandes equipas são aquelas que conseguem mascarar o pontual menor fulgor dos seus craques, levando-os muitas vezes a crescer com o grupo, o que tende a ocorrer mais rapidamente por a pressão não ser tão grande devido às vitórias continuarem a acontecer. 

12
Jun22

O Mundial dos mundiais


Pedro Azevedo

Vem aí o Mundial do Qatar e Portugal estará presente numa fase final pela sexta vez consecutiva. Este facto, corriqueiro para as novas gerações, nunca fez sequer parte do imaginário de um jovem habituado a ver os outros em competição no maior certame do mundo de seleções. Nesse tempo o número de países presentes era bem menor (16) e os jogos ainda passavam na TV a preto e branco. Até que, já na minha adolescência, o Brasil me apareceu a sambar a cores na televisão. Por esse motivo, pela categoria e qualidade de jogo de muitas equipas presentes, nível superlativo de vários jogadores, drama, exotismo e magia de certos momentos, o Mundial de Espanha de 82, o primeiro com alargamento para 24 equipas, continua a ser para mim o melhor de sempre. Desde logo pela cor, mas também por ter juntado o génio de Zico, Sócrates, Platini, Rummenigge, Littbarski, Madjer, Conti, Boniek, Panenka, Kempes e Maradona, naquele que foi o último mundial dos jogadores, estes ainda razoavelmente libertos de pesados esquemas tácticos.  Foi também o mundial da raiva causada pela agressão bárbara de Schumacher a Battiston, do exotismo de um scheick do Kuwait ter retirado a sua equipa do campo ou da quebra de protocolo protagonizada pelo eufórico Sandro Pertini na tribuna de honra do Bernabéu. Nada disso, porém, ofuscou o nível altíssimo dos participantes. Como esquecer o último samba brasileiro protagonizado por Zico, Sócrates, Falcão, Leandro, Junior ou Eder? Ou o perfume africano dos surpreendentes Camarões de N'Kono e Roger Milla? Ou de uma Polónia que juntou numa mesma equipa craques como Boniek, Deyna, Lato ou Szarmach? E, claro, sem esquecer a França de Michel Hidalgo, com um meio campo de sonho onde um pequeno sósia de Asterix (Giresse) tocava em dueto com a gazela Tigana sob a batuta do maestro Platini. Mas houve mais, muito mais. Desde a cortina de ferro protagonizada por uma muito ucraniana União Soviética de Blokhine, Baltacha, Demianenko, Protasov ou Rats (e Dasaev), ou a Checoslováquia de Panenka e Nehoda, até à Áustria de Krankl, Prohaska, Pezzey e Schachner, passando pela Argélia de Madjer e Belloumi, a Escócia de Gemmill, Gray, Dalglish, Souness, Archibald ou Strachan, ou a campeã em título Argentina, de Kempes, Ardilles, Tarantini, Passarella e... Diego Armando Maradona. Todos ficando pelo caminho, que à final chegariam uma muito odiada Alemanha de serviços mínimos, apoiada no repentismo de Rummenigge e em dois laterais todo-o-terreno (Briegel e Kaltz), e a Squadra Azurra de Bearzot, o fleumático italiano sempre inseparável do seu cachimbo, qual Corto Maltese aventureiro que, contra tudo e contra todos, haveria de levar o barco a bom porto. Num Mundial que ficaria muito marcado pela elevadíssima qualidade de jogo da Canarinha, chega a ser injusto olvidar gente como Zoff, Scirea, Cabrini, Tardelli, Antognoni, Altobelli, Conti ou Rossi, os campeões. Este último, Paolo Rossi, ausente dos relvados durante dois anos após envolvimento no escândalo do Totonero, viria a ser a grande figura do Mundial. Uma história de sonho, de conto de fadas, ou não tivesse esse Mundial ficado na história pelos seus pózinhos mágicos. 

16
Fev22

Reflexão sobre o jogo de ontem


Pedro Azevedo

O Sporting tem inegavelmente bons executantes técnicos. Nesse sentido, jogadores como Porro, Gonçalo Inácio, Matheus Reis, Matheus Nunes, Pote, Paulinho e Sarabia não envergonham ninguém. O problema é quando essa qualidade técnica é testada numa outra dimensão galáctica onde o tempo e o espaço são bem menores. Aí, francamente, só Porro e Matheus Nunes conseguem conjugar a capacidade técnica com a protecção de bola e a velocidade de execução que é requerida. Isso ficou bem patente na recepção desta noite ao Manchester City, uma equipa de pirilampos que se acendem e se apagam (mas continuam lá, ainda que perigosamente não os vejam) de tal forma que convidam o adversário a uma espécie de caça aos gambuzinos. Adicionalmente, contra uma equipa como a treinada por Pep Guardiola, que se reagrupa e te cerca rapidamente, talvez faça pouco sentido apostar as fichas num ponta de lança que baixa demasiadamente no terreno para organizar jogo. Mais importante seria procurar explorar o espaço existente nas costas de uma defesa sempre muito subida, solução que aconselharia a lançar Islam Slimani. Tal incomodaria mais o City, que teria que se esticar mais como um harmónio e deixaria um espaço entre-linhas que de outro modo raramente se viu num jogo em que os do norte de Inglaterra pareceram sempre demasiado confortáveis no relvado. Também Bragança poderia ter ido a jogo como falso interior esquerdo, dando uma mãozinha a Palhinha e Matheus Nunes na contenção necessária a meio-campo e ajudando a controlar mais a posse de bola, adaptando este Sporting a uma realidade europeia onde as equipas têm o miolo central mais composto. A solução de Esgaio como ala esquerdo foi muito limitativa do ponto de vista ofensivo e provavelmente destinar-se-ia à utilização de um pé direito que desse um melhor acompanhamento aos movimentos interiores de um Cancelo que jogou... no flanco oposto. Por outro lado, à semelhança do já anteriormente visto contra o Ajax, a nossa pressão alta revelou-se ineficaz e expôs demasiadamente os dois jogadores centrais do meio-campo, deixando imenso espaço entre-linhas para o City explorar e os nossos médios preencher. E depois houve a questão dos erros individuais: no golo inaugural, Matheus Reis primeiro, Gonçalo Inácio depois põem em jogo o jogador do City com bola; no segundo golo, Matheus Reis desequilibra-se e dá espaço a Bernardo Silva; no terceiro, três jogadores na linha da bola (Esgaio, Matheus Reis e Coates) deixam-na passar num número semi-cómico que envolveu uma "cueca", uma escorregadela (será que um defesa como Matheus Reis joga com pitons de borracha?) e um ressalto infeliz; no quarto, Sterling foge no limite do fora de jogo, mas recebe um passe de Cancelo executado sem qualquer pressão de jogadores leoninos sobre a bola (erro colectivo); mesmo o excelente quinto golo nasce de um mau passe inicial de Adán. Assim, foi fácil para o City contruir uma goleada. Demasiado fácil. 

 

Rúben falou, e bem, da sua fé na evolução futura da equipa, mas a margem de progressão está limitada por um nível de competitividade do futebol português muito baixo. A intensidade dos jogos é pequena e o ritmo de jogo está constantemente a ser prejudicado por diversas paragens onde jogadores de diversas equipas (Sporting incluído) aproveitam para recriar a intensidade dramática das peças de Shakespeare, tudo isto concorrendo para que a nossa Liga seja apenas a 25ª europeia em tempo útil de jogo. Assim não temos hipóteses na Europa. O formato das nossas competições internas deveria ser urgentemente revisto e adaptado à nossa realidade e necessidades. Volto por isso a insistir num campeonato a 12, com play-off (6 primeiros) e play-out (6 últimos), jogado em "poule", que teria 32 jogos (apenas menos 2 que no formato actual) certamente bem mais interessantes e geradores de receitas. Mas nisso Amorim não tem qualquer culpa. Milagres já ele fez, como a conquista do campeonato na época transacta e os outros 3 troféus ganhos bem o demonstram. O que não quer dizer que esteja isento de erros, apenas indica, isso sim, que muito provavelmente cometerá menos erros que os seus colegas de ofício em Portugal. Nada porém que nos deva incomodar em demasia, desde logo porque sem erro não há crescimento, e Rúben, como homem inteligente que é, saberá evoluir para um outro patamar. Assim o Sporting continue a ter este tipo de experiências europeias, de preferência esbatendo cada vez mais a desproporção de forças dentro do terreno de jogo. (Já agora, sendo a competitividade do nosso campeonato baixa, talvez não fosse má ideia impôr que os nossos jogadores não relaxassem após uma vantagem de por exemplo dois golos e fossem à procura de mais, mentalidade bem patente em equipas como o Manchester City, Bayern, Liverpool ou Ajax, esta última pertencente a um campeonato que não se pode dizer que tenha jogos intensos ou tacticamente muito elaborados, mas onde a procura do golo por parte de qualquer equipa é incessante.)

01
Fev22

A ginga na cabine telefónica e o regresso do filho pródigo


Pedro Azevedo

Ao Sporting chegou ontem Marcus Edwards, futebolista inglês que actuava no Vitória Sport Clube. Com esta aquisição o Sporting ganha um jogador que desequilibra no 1x1, uma lacuna existente no plantel desde que Raphinha foi vendido aos franceses do Rennes. Bem sei, alguns poderão argumentar que Jovane, de quem eu muito gosto, agora cedido com cláusula de opção aos romanos da Lazio, era esse jogador, mas o cabo-verdiano reunia outras características, mais talvez próprias de um segundo ponta de lança (o Samuel Lino, do Gil Vicente, será o jogador que mais se lhe assemelha), sendo igualmente veloz e com golo mas não possuindo uma finta tão curta e desconcertante quanto a do ex-vimaranense (apesar de sempre ter tido o mérito de ousar ir para cima do seu defensor directo). Além disso, teve sucessivas lesões musculares, o que o impediu de ganhar o ritmo certo que lhe permitisse atingir o patamar que, na minha opinião, as suas qualidades pressagiavam.

 

Edwards tem indiscutivelmente pormenores de craque, aliás bem patentes na forma como progride em velocidade com a bola "colada" ao pé. Adicionalmente, demonstra critério no timing de passe e sabe explorar e solicitar os espaços entre-linhas, seja neles penetrando através do drible ou de tabelinhas curtas com quem já lá esteja. Aliás, a sua ginga permite-lhe tirar com facilidade 1 ou 2 adversários da frente no espaço de uma cabine telefónica, o que se fortemente recomenda contra equipas que estacionem o autocarro. Estas características contrastam com a qualidade de passe (Sarabia), de entendimento do jogo (Paulinho) ou de remate (Pote) dos outros avançados do Sporting, sendo por isso de uma complementariedade indiscutível para o plantel. Deve, porém, melhorar o seu envolvimento defensivo, não sendo crível que Amorim venha a apostar muito nele se não o fizer, pelo que, não suprindo essa lacuna, estar-lhe-ão reservados os momentos finais de jogos já antecipadamente resolvidos a nosso favor ou que necessitem de que "toda a carne seja posta no assador". O bom é que terá tempo para se adaptar, havendo Pote, Sarabia, Nuno Santos e Tabata como opções para o combate ao título de 2021/22. Porém, caso suba os seus níveis de competitividade, quem sabe se o Sporting não terá aqui o joker para o ataque ao título...

 

Regresso festejado é o de Islam Slimani, que um dia se despediu em lágrimas do público de Alvalade após ter contribuído decisivamente para uma vitória num Clássico e agora volta ao nosso convívio para presumivelmente trazer-nos mais sorrisos nos lábios. Para já o Sporting ganha uma solução alternativa a Paulinho através de um jogador diferente, bastante melhor na grande área e igualmente com algum associativismo (como agora se diz em futebolês). Tecnicamente não é tão bom quanto Paulinho, porém também desce no terreno e dá apoios verticais. Todavia, dele não será provavelmente de esperar que arredonde tanto o jogo como Paulinho faz, mas sim que procure a profundidade. Enquanto Paulinho se destaca pela inteligente leitura de jogo e algumas características mais próprias de um armador, Slimani é um avançado móvel que desgasta os defesas com as suas correrias em toda a frente de ataque e depois consegue ainda estar na área no momento da finalização. Nesse detalhe é bem mais frio do que Paulinho, tem o tal "killer instinct" que lhe permite escolher o posicionamento perfeito e não treme na hora de rematar, destacando-se aqui o seu superior jogo de cabeça. Para terminar esta breve análise, estando Slimani em jogo, provavelmente Amorim pedirá a Pote para recuar e daí organizar o jogo, missão actualmente conferida a Paulinho, este último uma espécie de Firmino do Klopp no sistema de Rúben (ao Slimani estará reservado o papel de "moto").

 

Sejam bem-vindos ambos e que nos reiterem as alegrias vividas na época passada e também já nesta temporada (conquistas da Supertaça e da Taça da Liga)!

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28
Jan22

Bring on the dancing horses


Pedro Azevedo

Estava a ouvir o Disorder dos Joy Division e ocorreu-me pensar na entropia que vem bloqueando o jogo do Sporting que outrora parecia música tocado de ouvido, com as suas rotinas de pressão alta, recuperação de bola e imediata procura da profundidade (o espaço nas costas dos defesas opositores). Não sei se isso terá a ver com a inclusão de Paulinho no onze, o que é certo é que as suas descidas sucessivas no terreno tornaram o nosso jogo mais posicional, mais redondo, bonito até, mas porventura menos eficaz. Uma consequência directa disso foi Pedro Gonçalves ter reduzido o seu horário de trabalho de tempo integral para uma prestação de serviços num regime de "part-time" em zonas próximas da grande área dos adversários, deixando de procurar os espaços mais recuados por onde iniciava combinações rápidas e incisivas com os atacantes que invariavelmente terminavam com ele próprio, vindo de trás e assim iludindo as marcações, a finalizar no aproveitamento de tabelinhas ou segundas bolas. Também as intermitentes chamadas de Daniel Bragança à equipa parecem demonstrar as dúvidas de Mister Amorim sobre o melhor modelo de jogo. Este parece assim em transição, algures entre o "heavy metal" tão do garbo de um Klopp e a balada entorpecedora (do adversário) de um Guardiola. Só que esse meio-caminho precisa urgentemente de ser resolvido no sentido de ter um destino, até para que não fiquemos a meio-caminho de coisa nenhuma (numa encruzilhada). De preferência já na final da Taça da Liga. Cá para mim a coisa resolvia-se assim: Bring on the dancing horses (Matheus Nunes e Pedro Porro) para quebrarmos uma e outra vez as linhas do Benfica. Quem sabe no Sábado, dia de aniversário de quem articula estas linhas, o Amorim faz Echo (ou não) disto e me/nos oferece um belo presente... (Se tiver de arriscar um Homem do Jogo vou para o regressado Porro.)

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23
Jan22

Diagnóstico e soluções


Pedro Azevedo

Uma época não se define apenas por um ou outro pormenor, há um conjunto vasto de situações que pode levar ao sucesso ou ao fracasso. Por exemplo, desta época para a anterior resulta que houve um acréscimo de jogos. Bem sei, o plantel foi estrategicamente definido como curto para que os jovens pudessem aparecer (embora me pareça que não há qualidade semelhante à de Matheus, Inácio ou Nuno Mendes pronta para entrar, o que acaba por enfraquecer as opções da equipa principal), todavia foi precisamente num momento de densidade competitiva menor - a Champions só retornará em Fevereiro - que o Sporting começou a baquear. Será isso atribuível ao cansaço? Ou, tal não poderá estar relacionado com uma menor concentração da parte de alguns jogadores? A parecer justificar esta tese, os erros individuais de Esgaio e Inácio estiveram na origem das duas derrotas registadas já neste ano civil. Quem diz falta de concentração pode dizer nervosismo - é que o muito tempo passado em co-liderança com o Porto, sem nunca conseguirmos ficar isolados, também pode ter provocado alguma erosão psicológica. Outra questão que saltará à vista é a do ponta de lança. O Paulinho é, sem dúvida, um jogador que trabalha muito e ajuda a ligar o jogo da equipa, mas marca poucos golos. E a verdade é que, em jeito de balanço após 19 jornadas, o Sporting leva menos 4 golos marcados do que na época anterior. Ainda assim, dada a segurança defensiva, a equipa foi-se aguentando na frente, mas 7 golos consentidos nos últimos 4 jogos do campeonato acabaram por produzir os efeitos nefastos que estamos a observar. Como alternativas, Pedro Marques foi emprestado e não joga no Famalicão (que contratou um jogador cotado na Ligue 1, o Banza) e TT não parece contar para Amorim como ponta de lança, pelo menos a observar por não ter saído do banco nas duas derrotas observadas neste mês de Janeiro. Em vez disso, o treinador preferiu sempre deslocar o defesa Coates para o centro do ataque, partindo propositadamente os jogos em busca do golo milagreiro. Só que a estrelinha parece arredia nesta época e, havendo relação directa ou não, no final dois empates transformaram-se em duas derrotas. Depois, há também a situação de Porro, um jogador com uma garra incrível e que catapulta a equipa para a frente. Acontece que o espanhol tem estado de fora com uma prolongada lesão muscular, e a equipa sente muito a sua falta. É que uma coisa é o Esgaio tapar um ocasional buraco, outra é pedir-se-lhe que substitua com a mesma eficácia o Porro durante tantos jogos. Acresce que Coates está nitidamente limitado do ponto de vista físico, a contas com recorrentes problemas num joelho, e longe da melhor forma já exuberantemente mostrada em vários momentos nesta época. E Palhinha não regressou tão bem como no momento anterior à sua lesão, questionando-se a eventual titularidade que poderia ser atribuída ao competente Manuel Ugarte. Enfim, mais do que ninguém, Ruben Amorim estará consciente de tudo o que aqui elenquei. E, obviamente, continuará a merecer todo o crédito dos Sportinguistas (isso não se põe em causa), que muito lhe devem. Mas tenho a sensação de que o título nacional será muito difícil de obter esta temporada. É que não só há problemas de difícil resolução como as decisões dos árbitros (deixei para o fim porque me quis concentrar nos motivos internos) desfavorecem-nos relativamente aos nossos principais adversários. Deveremos por isso ser mais competentes em tudo o que dependa de nós. E, por isso e para isso, necessitamos de diagnosticar muito bem as razões que nos trouxeram aqui, o que procurei também eu fazer, ponto essencial de partida para que possamos ter soluções que devolvam as vitórias ao nosso grande clube.  

18
Jan22

A Velha Aliança e a dor de cotovelo


Pedro Azevedo

A julgar pela opinião originalmente publicada nos jornais ingleses e reproduzida em Portugal, a culpa do insucesso do Manchester United deve-se aos jogadores portugueses, nomeadamente a Bruno Fernandes e Cristiano Ronaldo. Nessa narrativa, para a qual vêm contribuindo alguns ex-jogadores do Man U e outros comentadores em periódicos e televisão, olvida-se que os Red Devils não vencem a Premier League desde 2012/13, coincidindo esse último triunfo com a derradeira temporada em que Alex Ferguson esteve ao leme da equipa. Sir Alex reformou-se após 27 épocas consecutivas como treinador principal do United e depois disso a máquina foi devorando treinadores: David Moyes, Ryan Giggs, Louis van Gaal, José Mourinho, Ole Gunnar Solskjaer, Michael Carrick, todos acabaram afastados da liderança do clube mais titulado de Inglaterra (20, contra 19 do Liverpool e 13 do Arsenal). A verdade é que a herança de Ferguson tem sido demasiado pesada para cada novo treinador e a sua sucessão continua por realizar, algo relativamente comum a lideranças carismáticas e de grande longevidade noutros clubes e em outros sectores de actividade económica. Acresce que com a aposentadoria de Sir Alex, outras personalidades que não só os treinadores ganharam preponderância nas contratações do clube. A política desportiva perdeu coerência e os treinadores influência. Assim, o número de "flops" cresceu exponencialmente, com a agravante de estes serem cada vez mais dispendiosos. Exemplos? Pogba e Maguire, jogadores que juntos custaram quase 200M€ e têm estado bastante aquém de um rendimento minimamente exigível. Ou de Lindelof, Bally ou Bissaka, que simplesmente não parecem ter qualidade suficiente para o United. Aliás, toda a defesa do Man U merecia ser revista. A equipa defende mal como um todo e é globalmente pouco solidária e trabalhadora no campo, mas os erros individuais que podem ser assacados directamente aos defesas são muitos. Acrescente-se a falta evidente de rotinas, o que torna o jogo do United monocórdico, previsível e absolutamente dependente da inspiração individual de um ou outro jogador. Sendo que Bruno Fernandes e Cristiano Ronaldo até têm decidido vários jogos, razão pela qual as críticas de que têm sido alvo me parecem superficiais e apenas visarem encontrar bodes expiatórios para um problema muitíssimo mais amplo. 

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07
Jan22

O fim do oásis


Pedro Azevedo

A inflação homóloga nos EUA aproximou-se dos 7% no mês de Novembro e os juros das obrigações americanas a 10 anos estão apenas nos 1,75%, o que se traduz numa taxa de juro real de cerca de -5,25% para quem invista na dívida pública do "Tio Sam". Com a Reserva Federal americana (FED) a anunciar que restringirá a compra de obrigações, não tardarão a ser explícitos ou visíveis os efeitos colaterais à política keynesiana levada a cabo desde 2009. Os juros terão inevitavelmente de subir, e incrementarão mais acentuadamente se os bancos centrais demorarem a tirar o incentivo monetário. As hipotecas e os empréstimos bancários em geral passarão a ser muito mais onerosos para famílias e empresas, indexados que estão em geral à taxa variável. E as "bolhas" espalhadas pelo mercado accionista detonarão pela subida dos juros, o mesmo se podendo passar com o imobiliário. Perante isto, como deverá um clube de futebol reagir? Desde logo, procurando reduzir a dívida. É que os custos com o serviço da dívida irão subir, e eles já têm um peso significativo (entre 10% e 15% nos últimos anos, no caso do Sporting) no total dos custos de exploração. Serão também de evitar todo o tipo de défices de exploração, que gerarão inevitavelmente o recurso a endividamento, pelo que a aposta na Formação preconizada pelo Sporting terá de ser seguida por todos. E, claro, dado o baixo nível de receitas dos clubes portugueses (mesmo nos anos em que a colheita da Champions é favorável), o recurso anual à venda de pelo menos um activo, leia-se jogador de futebol,  será inevitável. Chegou assim o tempo de apertar o cinto e de enfrentar a realidade, período em que efectivamente se verá quem melhores omeletes fará com os poucos ovos disponíveis. Nisso, o Sporting parte à frente. É que o Chef Amorim já mostrou saber combinar na perfeição os ingredientes postos à sua disposição para que o produto final agrade ao consumidor, o que lhe tem merecido a justa aclamação.  

21
Dez21

Gonzalo Plata


Pedro Azevedo

Com um percurso fora do campo aparentemente atribulado, Gonzalo Plata está na iminência de ver o seu empréstimo ao Valladolid terminar antes do prazo antecipadamente previsto. Eu, que nunca fui um fã do equatoriano, apesar de tudo tenho pena que o jogador não tenha evoluido praticamente nada desde que chegou a Alvalade. Diga-se, porém, que a culpa é maioritariamente dele próprio, podendo assacar-se ao sistema preferido de Rúben Amorim alguma dificuldade adicional na imposição de Plata. Este, para mim, sempre me pareceu um brinca-na-areia, um jogador de revienga, de 1x1, rápido mas a meu ver com uma finta larga demais para desbloquear autocarros apertadamente estacionados. Além disso, sempre denotou grandes dificuldades em entender o jogo, em nele se envolver colectivamente. Por isso, Rúben Amorim procurou colocá-lo na lateral/ala, evitando zonas interiores do terreno onde essa limitação mais fosse visível. No meu entendimento, e provavelmente no de Amorim, o Plata seria mais útil como extremo aberto num declarado 4-3-3, mas como sabemos o Sporting não joga nesse sistema. Restaria então que se adaptasse ao que existe, e que na lateral/ala conseguisse conjugar o equilíbrio defensivo com o desequilíbrio ofensivo que provocaria no adversário. Umas vezes de pé trocado, a ver se despertava para o jogo interior e de entre-linhas, outras na esquerda (mais por fora). Todavia, tirando alguns fogachos, nunca pareceu consistente no seu desempenho. Apenas deu nas vistas em transições rápidas, de cada vez que encontrava um latifúndio para explorar. E ao fim de 3 anos continua a não desenvolver o potencial que os olheiros leoninos cedo lhe detectaram, pelo que ir-se-á perder caso não venha a revelar uma melhor aprendizagem. Em suma, é um caso que nos alerta para a prevalecência dos aspectos mental e táctico sobre a técnica e o físico num jogador de futebol. É que um jogo de futebol também se joga muito com o cérebro e quem tiver uma boa atitude e conhecer bem o jogo (veja-se o Neto, por exemplo) poderá alicerçar uma carreira melhor do que a sua qualidade técnica poderia antever. Já a Plata competirá provar que é muito mais do que um jogador de futebol de rua, de pelada. Afinal, não é à toa que os ingleses, seus inventores, denominam o futebol como "association", e associação aos movimentos colectivos é coisa em que o equatoriano não deslumbra. 

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06
Dez21

Como o Sporting venceu o Benfica


Pedro Azevedo

Táctica, técnica, física e estrategicamente o Sporting dominou o Benfica na Luz. Optando por entregar a posse ao adversário (estratégia), o Sporting pôde exercer a pressão alta de que tanto gosta a fim de recuperar a bola e rapidamente explorar os espaços deixados em aberto pelo Benfica. Por via disso, a zona do terreno mais massacrada pelos leões foi a compreendida entre Lázaro e André Almeida, por onde aliás Sarabia emergiu para marcar o primeiro golo. Pouco depois, uma combinação entre Matheus e Sarabia voltou a expôr o lado direito da defesa encarnada, valendo ao Benfica a anormal má finalização de Pote. As águias nunca conseguiram durante o jogo estabilizar o seu flanco direito defensivo, nem mesmo após Cebolinha ter rendido Lázaro. Apesar de ter explorado prioritariamente as transições ofensivas, o golo inaugural do Sporting surgiu em ataque organizado, com Matheus Nunes a receber um lançamento lateral de Matheus Reis e a fugir à pressão que Weigl e João Mário lhe teceram. A bola chegou depois a Pote, que baixou linhas e combinou com Porro. O passe do espanhol tirou 3 jogadores benfiquistas da jogada e permitiu a Pote receber sem marcação mais à frente. Este, com duas opções de passe (Paulinho e Sarabia), serviu com êxito o ex-PSG porque Lázaro não acompanhou a sua movimentação. Do trio PSP (Pote, Sarabia e Paulinho) houve sempre um jogador a baixar linhas para pegar na bola e desmontar marcações. Isso criou inúmeros desequilíbrios ao Benfica, o qual apostara em marcações praticamente individuais ao longo do campo. Com o passar do tempo, o jogo partiu-se, cenário ideal para o Sporting, em duas transições rápidas, decidir a partida. Mérito para Matheus Nunes, que então dinamitou um meio campo do Benfica absolutamente impotente para o travar. Aliás, o meio campo do Sporting ofuscou todo o jogo o do Benfica. Foi como se tratasse de um confronto de estilos musicais: de um lado, os metaleiros Matheus e Ugarte, do outro os baladeiros João Mário e Weigl. No fim, o heavy-metal superou os "slows", deixando Jorge Jesus à beira de ter de ir cantar de galo para outra freguesia. 

P.S. (Jorge) Jesus virou-se para Lázaro e disse-lhe "levanta-te e anda" mas o Lázaro deixou-se ficar pelo chão, algo mais tarde replicado pelo André Almeida  quando Matheus "escreveu" o seu capítulo nesta história. É verdade, para o Benfica as incidências do jogo ganharam proporções bíblicas...

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14
Out21

Bragança e o modelo


Pedro Azevedo

Olho para Daniel Bragança e vejo um jogador que assentaria que nem uma luva numa equipa treinada por Pep Guardiola, onde o passe-repasse (o célebre tiki-taka) é a ideia por detrás do sistema. Pep foi treinado por Cruijff e dele absorveu os princípios da escola holandesa de jogo posicional (espaço e tempo como lógicas primordiais, pré-definição da distância ideal entre jogadores e linhas, forma de orientação da pressão alta, desdobramento atacante, defesa em campo pequeno e ataque em campo grande, etc...) criados por Jany van der Veen nas escolinhas do Ajax, que combinados com o método Coerver (Will Coerver, antigo treinador do Feijenoord) dos 10.000 toques na bola diários forneceram a base técnico-táctica para o que Reynolds e Michels viriam a apresentar na equipa principal dos lanceiros. Porém, Guardiola imprimiu o seu toque pessoal, o qual, não deixando de se ter mostrado eficaz, retirou espectacularidade ao conceito de Futebol Total originário dos neerlandeses. Isso está bem patente aquando da recuperação de bola, com as equipas de Pep a procurarem a organização em detrimento da transição rápida, algo que acabou por se tornar enfadonho para parte dos adeptos. [O próprio treinador veio mais tarde a alterar alguns dos seus conceitos de forma a ajustar algumas características individuais de jogadores (elementos rápidos como Sterling, por exemplo) ao modelo.]

 

Entretanto, uma nova ideia de futebol surgiu associada a Jurgen Klopp. Este, que partilha com Pep a ousadia na aposta em jovens, desenvolveu o Gegenpressing, onde pressionar o portador da bola na tentativa de a recuperar em 5 segundos é a palavra de ordem, seguindo-se a recomposição da organização defensiva caso a bola não tenha sido ganha, uma ideia de jogo assente numa transição defensiva muito agressiva (e não na cultura de posse de bola) que visa explorar o espaço nas costas para contra-atacar o adversário através de motos de alta cilindrada que Klopp habitualmente escolhe para a linha avançada (Salah, Mané, Jota), deixando ao critério de um falso avançado centro (Firmino) a gestão do momento de descer no terreno ou de procurar a profundidade, dois movimentos antagónicos, um que visa atrair defesas para libertar os restantes avançados, outro que procura esticar o jogo e o adversário de forma a que surja o espaço livre entre sectores para atacar a segunda bola. (No Sporting, Paulinho é mais forte a descer, mas Tiago Tomás supera-o na exploração mais eficiente da profundidade, pelo que não temos o jogador ideal que reúna exemplarmente essas duas características independentes da capacidade goleadora.)

 

Ora, a meu ver  a ideia de jogo de Rúben Amorim, independentemente do sistema de 3-4-3 (ou, mais concretamente, de 3-4-2-1) preconizado, aproxima-se mais da de Klopp do que da de Guardiola, razão pela qual a música que é pedida aos médios é mais do tipo heavy-metal do que do género balada. Assim, Matheus Nunes e Palhinha são imprescindíveis. Não se trata por isso de não reconhecer que Bragança é um grande jogador, o problema é encaixá-lo e potenciá-lo dentro da ideia de jogo do nosso treinador. Admito, por isso, que Bragança só venha a sair da sombra em jogos mais exigentes e que exijam outro povoamento no meio-campo, contra os outros 2 grandes ou na Champions. Seja como for, quem não gostaria de ter uma arma que a qualquer momento possa ser utilizada para alterar a nossa forma de jogar? É que o Daniel dá essa variabilidade ao nosso jogo que mais ninguém lhe pode dar (com a possível excepção do camaleónico Pote). 

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15
Set21

A minha dúvida para hoje


Pedro Azevedo

Já que ninguém fala nisto, aqui ficam os meus cinquenta cêntimos para a discussão: irá Ruben Amorim manter a estrutura base do seu onze, optando por Jovane ou Sarabia na posição de interior direito, ou, alternativamente, mudará o sistema do 3-4-3 para um 3-5-2 e incluirá Daniel Bragança na equipa titular (libertando mais Matheus Nunes para as suas cavalgadas com bola)? 

11
Set21

Para Rúben Amorim


Pedro Azevedo

Escrevo propositadamente antes do jogo para vincar que a minha opinião não está dependente do nosso resultado contra o Porto. E faço-o para mostrar o meu apoio incondicional a Ruben Amorim e à forma como encara a constituição de um plantel. Bem sei que nós, adeptos, queremos sempre os cromos todos, o plano de contingência face à lesão simultânea de A e B, o mítico avançado cuja produtividade se expressa em golos, mais um defesa central, etc. Acontece que ao longo dos anos a tentativa de suprir todas as lacunas, associada ao despautério de aquisições sem nível para o Sporting, nos conduziu até a um buraco negro, de onde só se vislumbra sairmos se continuarmos a acreditar e a apoiar a política de Amorim. Este não inventou a roda - há anos que o Ajax trabalha assim -, mas soube conciliar a racionalidade dos custos com um projecto de aposta na Formação, perspectivando-se assim uma sustentabilidade futura. Por isso, os planteis são pouco profundos, a fim de se poder recorrer à Formação em caso de necessidade. Por que diabo havíamos de gastar dinheiro em jogadores das equipas B e Sub-23 para depois lhes fecharmos a porta de entrada na A?  Obviamente, havendo oscilações na qualidade entre gerações, nem sempre teremos uma substituição óbvia. Por exemplo, tenho dúvidas se Chico Lamba ou Skoglund algum dia poderão ser reais opções para as posições de central e de ponta de lança, razão pela qual Amorim poderá em certos momentos ser obrigado a promover adaptações e explorar a versatilidade de alguns elementos do actual plantel. Mas esses são os riscos inerentes a um projecto que não pode ser alimentado de gorduras que quando saturadas no banco ou na bancada provocam complicações no coração do clube/SAD (conta de exploração). Por isso, mesmo tendo eu algumas legítimas dúvidas sobre a eficácia de Paulinho ou o racional da dispensa de Pedro Marques (coisas de treinador de bancada), gostaria de aqui mandar um forte abraço ao treinador Ruben Amorim (sim, eu discordei dos valores envolvidos na sua contratação) e agradecer-lhe esta certeza que hoje tenho: enquanto estiver em Alvalade poderemos semore perder o próximo jogo , mas nunca perdemos (hipotecaremos) o futuro. Obrigado. 

03
Set21

O carteiro Pablo Sarabia


Pedro Azevedo

Formado nas escolas do Real Madrid e com passagens pelo também madrileno Getafe, Sevilha e Paris Saint-Germain, Pablo Sarabia é um virtuoso que usa a canhota como uma espada com que inteligentemente esgrime a diferença, estocada a estocada aproximando-se do âmago do adversário. Com uma recepção sempre orientada e a preocupação de rapidamente se posicionar de frente para a baliza adversária, Sarabia evidencia-se pela sua visão de jogo e velocidade com bola, qualidades que lhe possibiitam inúmeras assistências e golos. Nada egoísta, em terrenos perto da baliza procura sempre entregar a carta a Garcia, escolhendo com critério a solução com melhor probabilidade de golo, não se coibindo até de usar o seu pé direito, se essa for conjunturalmente a melhor solução de passe/remate. Em suma, não desprezando nunca o importante papel de Nuno Santos e de Jovane nas conquistas de Campeonato, Taça da Liga e Supertaça, estamos na presença de um jogador de grande classe, que certamente deliciará os nossos adeptos com pormenores de categoria. Se resistir ao vedetismo, respeitar as legítimas aspirações dos concorrentes ao seu lugar e se integrar no bom ambiente de balneário existente em Alvalade, então poderemos estar na presença de um caso muito sério, um candidato natural a melhor jogador da Liga. Médio de ataque ou extremo no sistema de 4x3x3, no esquema de Rúben Amorim deverá ocupar a posição de interior direito, passando Pote a ocupar uma franja de relvado compreendida entre a esquerda e o centro.

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18
Ago21

Flavia aurum, o ouro de Chaves


Pedro Azevedo

De entre os vários tesourinhos que o Sporting extraiu na mina de diamantes sita em Alcochete destacam-se Gonçalo Inácio, Nuno Mendes, Matheus Nunes (lapidado na última estação de produção da linha de montagem) e Jovane Cabral. Adicionalmente, Tiago Tomás e Daniel Bragança - o sistema de Rúben só o favorece quando o 3-4-3 transmuta num 3-5-2 - também vêm mostrando brilho, estando ainda em avaliação para apurar se são diamantes ou zircónia. Porém, é de um não formado em Alcochete que mais se fala entre os adeptos leoninos. Refiro-me a Pedro Gonçalves, ou simplesmente Pote, o Pote de Ouro do actual Sporting. O Pedro é um jogador extraordinário. Tão extraordinário que se pertencesse ao clube do outro lado da Segunda Circular já teria merecido inúmeras parangonas nos jornais envolvendo o interesse milionário de todos os gigantes deste mundo e do outro. Além da excelência que exprime em campo, o Pote é um jogador intrigante que deveria suscitar na crítica o interesse pela descodificação do seu ADN futebolístico. Afinal, estamos a falar de um avançado que pensa como um médio ou de um médio que age como um avançado? Eu diria que ambas as premissas são verdadeiras. Pote é essencialmente um mutante que remata como quem passa à baliza ou organiza o jogo desde trás, mas também serve apoios frontais ao portador da bola como se de um ponta de lança se tratasse e revela inteligência muito acima da média na leitura do espaço entre-linhas por onde melhor pode desequilibrar o adversário (típico de um categorizado "nove e meio"). Sim, se tivesse que destacar uma qualidade no Pote seria a sua inteligência superlativa. Os apoios frontais que oferece à continuidade das jogadas (vidé a sua primeira intervenção no segundo golo na Pedreira) ou a forma como estrategicamente desaparece do jogo para logo revelar a sua letalidade ao saber apresentar-se no momento certo assim o mostram à saciedade. 

 

Melhor marcador do último campeonato nacional, primeiro colocado na corrida pela Bola de Prata deste ano e já decisivo na conquista leonina da Supertaça, o que precisa mais Pote de fazer para ser unanimamente reconhecido como o jogador de referência do futebol jogado em Portugal? Na verdade nada, pois tudo o que depende dele merece a nota mais alta. Já o que depende de terceiros é outra conversa. Fernando Santos que o diga. E assim o Pote arrisca-se a ser visto como um engraçado jogador de um tempo em que um Rafa cai mais facilmente em graça...

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04
Ago21

Abre los ojos


Pedro Azevedo

Tenho apreço pelo jornalista Rui Dias e extraio dos seus textos uma qualidade que na minha modesta opinião o enquadra na esteira de um Pinhão, Miranda ou Vitor Santos. Todavia, creio ter ficado entre o laudatório e o envergonhado na análise que fez ao futebol de Matheus Nunes, iniciando a sua crónica, que extraí com a devida vénia do blogue Leoninamente, com um arrazoado de conclusões que o corpo do seu texto em boa parte até desmente.  

 

Começa o Rui por dizer que Matheus "não tem preocupações estéticas, não é o melhor em coisa alguma nem deslumbra pelo brilhantismo de execução". Estou em desacordo. Não vejo em Portugal ninguém que receba a bola de costas e seja capaz de se virar para qualquer um dos lados e simultaneamente tirar os adversários do caminho com a facilidade com que o médio brasileiro o faz. Acto contínuo, no início da construção esconde a bola com o mesmo enlevo que uma mãe galinha protege o seu ovo, obrigando os seus oponentes à infracção. A sua técnica é refinadíssima e envolve recepção, passe e progressão vertical vertiginosa com a bola em perfeito controlo. A técnica é muitas vezes confundida em Portugal com a habilidade, remetendo para aqueles alas pródigos no 1x1, mas o Matheus usa a ginga inerente à finta com o critério de quem sabe não poder perder a bola em zonas que facilitem a transição adversária. Todavia, quando Rúben Amorim o coloca como interior, o seu poder de drible logo se evidencia. Basta analisar a recepção leonina ao Braga (Liga 2020/21) para se compreender isso, lembrando-me eu nomeadamente de um lance em que no espaço de uma cabine telefónica ultrapassou o cerco de 3 braguistas. E com o Braga, desta vez a contar para a Supertaça, voltou a brilhar, com dois passes açucarados que estiveram na origem de duas flagrantes oportunidades de golo. Falo-vos de uma bola que isolou Nuno Mendes na esquerda para este poder centrar com à-vontade para Pote e de uma assistência para este último que veio a dar a nossa vitória. Sendo o futebol essencialmente tempo e espaço, a recepção, visão periférica e velocidade com bola de Matheus estão perfeitamente enquadradas com essa realidade. 

 

Há, no entanto, aspectos a melhorar no futebol de Matheus. Desde logo no posicionamento defensivo, pormenor em que também não estou de acordo com o Rui. Não creio que o ex-Ericeirense seja um portento tacticamente, embora lhe reconheça uma enorme progressão desde que é comandado por Rúben Amorim. Mas não é incomum ser apanhado fora de posição ou chegar tarde aos lances, situações em que muito tem de melhorar. E com Palhinha ali por perto, difícil será não aprender devidamente. Também mentalmente há trabalho a fazer: um jogador com a sua capacidade de explosão, capaz de invadir o espaço entrelinhas e criar superioridade numérica e desequilíbrios, precisa de ter mais golo. E para ter mais golo, deve rematar mais vezes à baliza. Como tal, tem de afirmar-se mais, desafiar os seus limites. A técnica está lá, o físico idém, desenvolvendo-se táctica e mentalmente tornar-se-á um super jogador, um craque de eleição. Nisso estou totalmente de acordo com o Rui Dias: o Matheus é um projecto ainda em desenvolvimento. O que não impede que seja um dos nossos jogadores que desperta mais atenção lá fora, pensando eu que encaixaria que nem uma luva no futebol inglês ou alemão, latitudes onde técnica e habilidade não se confundem aos olhos dos observadores. Só espero é que o Sporting o consiga segurar por mais uns tempos. É que um jogador com estes predicados e uma montra da Champions pela frente pode valer muitos milhões no futuro e garantir uma rendibilidade semelhante à de Slimani, o argelino que também chegou ao Sporting sem escola e rapidamente se licenciou summa cum laude.  

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05
Jul21

Não há estrelas no céu da Dinamarca, mas...


Pedro Azevedo

Dizem alguns que à Dinamarca falta uma estrela. Contraponho que em 92 o Michael Laudrup amuou com o seleccionador da altura (Richard Moller Nielsen) e não foi à Suécia, o que não impediu os veraneantes dinamarqueses de chegarem à final e aí baterem sem espinhas a todo-poderosa Alemanha. É certo porém que o génio Laudrup ou o furacão Elkjaer Larsen dariam outro "élan" aos nórdicos. Quem não se recorda do amasso que deram ao Uruguai de Francescoli no Mundial de 86? E o Elkjaer até fumava muito, não prescindindo do seu cigarrito no intervalo e final dos jogos como o demonstrou um dos filmes desse Mundial disputado no México. Ao todo eram dois maços por dia, diz a lenda, intoxicação que não se notava no campo tal era o vigor aí patenteado. Era um colosso. Tanto que ao lado de um outro colosso (Briegel) fez do modesto Verona campeão de Itália (85), um feito que pede meças a Maradona e ao seu sucesso em Nápoles. O homem era um ciclone: recebia de costas, virava-se vertiginosamente e lá ia ele imparável, sempre escolhendo o caminho mais curto na direcção da baliza. Grande equipa essa, montada por Sepp Piontek, que também contava com o Soren Lerby, o Frank Arnesen e o Morten Olsen (capitão), entre outros (dava-se ao luxo de ter Allan Simonsen no banco) que levaram os críticos a dar-lhe apodos como "Dinamáquina" ou "Danish Dynamite". Todavia, essa selecção nada ganhou, demonstrando uma grande ingenuidade e perdendo de forma inglória face à Espanha de Butragueño já na fase a eliminar. Ora, o que me faz acreditar na Dinamarca de 2021 é o facto de ser uma equipa muito mais preparada para todos os momentos do jogo, contando nomeadamente com uma solidez defensiva assente no guarda-redes Kasper Schmeichel e num experiente trio de defesas liderado por Kjaer. Onde antes havia rock&roll e um romantismo provavelmente herdado dos movimentos beatnick e hippie dos anos 60 e 70, cabelos compridos e um purismo focado no golo que levou o dinamite a explodir-lhes nas mãos, agora subsiste uma ideia de futebol positivo mas assente numa organização táctica muito superior que os leva a procurar desequilíbrios apenas em zonas do terreno específicas que não comprometam a transição defensiva. E se a estrela Eriksen caiu no primeiro embate, felizmente sem as consequências que se chegaram a antevir para a sua vida, a mudança de sistema táctico de um 3-4-1-2 para um 3-4-2-1 veio até a beneficiar a Dinamarca, uma equipa que quando solta o vendaval lá na frente é muito difícil de parar tal o número de jogadores que consegue colocar em zona de finalização. Mérito do engenho do seu treinador, Kasper Hjulmand, um homem que também se mostra sagaz nas adaptações que vai promovendo durante os jogos. Quarta-feira há mais. O palco será de luxo (Wembley), veremos se os Vikings conseguirão tomar a Inglaterra.

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04
Jul21

Com bons ovos se fazem Hamlets


Pedro Azevedo

A Dinamarca está a fazer história no Euro 2020. Tal como a própria competição, também os nórdicos chegaram tarde. Os seus dois primeiros jogos resultaram em outras tantas derrotas e ninguém dava uma coroa pelo seu futuro na prova. Todavia, uma leitura mais próxima da realidade permitiria antecipar que circunstâncias especiais haviam provocado essa falsa partida: o desfalecimento em campo de Christian Eriksen afectou muito a equipa no jogo com a Finlândia e só a pouca fortuna obstou a que terminassem a primeira parte do jogo contra a Bélgica com uma vantagem muito mais robusta no marcador. Pelo que não foi propriamente surpreendente a reacção dinamarquesa face aos russos, jogo onde os pupilos de Kasper Hjulmand confirmaram todo o seu valor. Na verdade, os Vikings possuem uma coluna vertebral sólida e destacam-se pela condição física que lhes permite constantes desmarcações que dão ao portador da bola diferentes opções de passe. Se cá atrás, o filho do nosso bem conhecido Schmeichel é garantia de defesas de grande aparato, a tripla de centrais formada por Christensen, Kjaer e Vestergaard dá segurança às acções defensivas e permite aos laterais/alas Larsen e Maehle, especialmente este último (revelação deste Euro, jogando de pé trocado), aventurarem-se no ataque. No centro do meio-campo, Hojberg (jogador do Tottenham) e Delaney (Borussia Dortmund) providenciam o equilíbrio entre as acções ofensivas e defensivas, deixando para os três da frente (Damsgaard, Dolberg e Braithwaite) o carrossel na direcção à baliza. Nesse trio, Damsgaard é o elemento que se destaca pela sua qualidade, sendo Dolberg um matador frio e com boa associação com a restante equipa. Para Braithwaite está reservado o papel de espalha-brasas: não tem grande qualidade de definição, mas corre muito e assim desgasta bastante os adversários e abre espaços por onde Dolberg geralmente penetra. Depois, ainda há Poulsen, um avançado muito rápido, Cornelius, ponta de lança possante e de boa técnica, com uma carreira interessante em Itália, o lateral Wass ou o médio Norgaard, tudo jogadores que mantém as rotações altas. Uma palavra ainda para Hjulmand, que no jogo com a República Checa mostrou sagacidade na forma como mexeu na equipa e evitou um czech-mate que a reacção no início do segundo tempo da equipa onde pontefica Schick (igualado com Ronaldo no topo da lista dos melhores marcadores) chegou a alimentar nos espectadores. 

 

Há que contar com estes dinamarqueses. Não escondo que torço por eles e pela sua ideia de jogo. Dez golos nos últimos 3 jogos são um excelente cartão de visita, pelo que aguardo com expectativa o embate face aos pupilos de Southgate. E creio que terão de ser os ingleses a a procurarem adaptar-se aos Vikings. Caso contrário, tal como no Século IX, eles arrombarão e tomarão de assalto a Inglaterra. 

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28
Jun21

Tudo ao molho e fé no Euro21 (ou 20)

Sorte e Hazard...


Pedro Azevedo

A sorte e o azar fazem parte do jogo, mas quando a preparação encontra a oportunidade certa estamos mais perto de ser felizes. Há 5 anos atrás, no prolongamento do jogo dos oitavos-de-final contra a Croácia, Rui Patrício viu a bola beijar o poste direito da sua baliza. No contra-ataque que lhe sucedeu, Ricardo Quaresma marcou o golo que nos qualificou para o mata-mata seguinte. Ninguém acentuou a tónica na sorte lusa ou no azar croata, a imprensa essencialmente assinalou que Portugal ia em crescendo, sendo que a aposta de Fernando Santos em Adrien (secou Modric) para acompanhar William e João Mário - criando-se assim uma coluna vertebral com centro nevrálgico no Sporting - foi dada como determinante para a difícil vitória obtida. A mesma sensação de progressão de Portugal como equipa, já sentida anteriormente aquando do jogo com a França, ficou bem patente ontem em Sevilha. É por isso duro aceitar que tenhamos ficado pelo caminho nestas circunstâncias. Todavia, olhando mais friamente para o processo, é seguro dizer-se que ficámos a meio caminho de uma renovação que nos poderia ter levado ao triunfo. Não deixando de realçar aqui e dar crédito ao facto de a nível do meio-campo ter havido um atempado ajuste - nenhum dos 3 jogadores ontem titulares havia entrado de início nos dois primeiros jogos deste Europeu - , parece-me que a insistência de Fernando Santos num Bernardo Silva em má forma em detrimento de Pote (melhor marcador do nosso campeonato e jogador com passe, golo e inteligência na exploração do espaço entrelinhas) ou mesmo André Silva (circustância em que Ronaldo partiria marcadamente a partir de uma ala, o que defensivamente nos colocaria adicionais problemas perante uma selecção com alas todo-o-terreno) tirou acutilância ao nosso ataque e nem sequer deu uma protecção defensiva adicional à nossa Selecção (Bernardo chegou visivelmente atrasado ao encontro com Thorgan Hazard aquando do golo belga). Assim, não se pode dizer que a vitória belga tenha acontecido por acaso. Pelo contrário, se um jogo é feito de pequenos erros, o atraso de Bernardo na abordagem ao lance provocou o desequilíbrio que na sua origem vir-se-ia a revelar fatal para as nossas aspirações. Não se trata de crucificar Bernardo, até porque a abordagem de Patrício ao lance foi defeituosa (teria bastado um passo em frente ou para a sua esquerda para defender uma bola que entrou sensivelmente a meio da baliza), mas vistas à lupa as coisas são como são. 

 

O principal problema das fases finais das grandes competições mundiais de selecções é o cansaço acumulado que se verifica por saturação de jogos nos melhores jogadores. Por isso, o histórico destes campeonatos é marcado pelo aparecimento de revelações e não tanto pela afirmação dos grandes craques. A frescura torna-se um elemento essencial e não será despeciendo pensar que um dos últimos grandes jogadores que brilharam numa fase final de uma grande competição, Van Basten, beneficiou de ter vindo de uma lesão que lhe poupou grande parte do desgaste da época no AC Milan. Como tal, torna-se fundamental aproveitar o momento de forma de cada jogador e não valorizar excessivamente o seu estatuto. Nesse sentido, Fernando Santos foi procurando adaptar-se progressivamente a esse contexto, mas fica a sensação de que poderia ter feito mais alguma coisa. Ainda assim, a Equipa de Todos Nós perde um jogo que poderia facilmente ter ganho, assim a eficácia tivesse sido razoável. Diogo Jota, por duas vezes, Raphael Guerreiro, Rúben Dias ou André Silva desperdiçaram 5 boas oportunidades e Courtois negou-nos o golo em 3 ocasiões, pelo que Portugal sai do Euro deixando uma boa imagem. Simplesmente, ontem Nª Senhora de Fátima meteu folga. Concomitantemente, Ronaldo, que até fez um muito bom Europeu, não teve oportunidades para marcar, as bolas para golo caíram nos pés e cabeça de outrém, sendo que esse até foi provavelmente o nosso grande azar. Ou Hazard, se quiserem.

 

Tenor "Tudo ao molho...": Renato Sanches. Criou a primeira grande oportunidade do jogo logo aos 6 minutos, após arrancada perpendicular aos centrais belgas que permitiu a Jota uma situação privilegiada para alvejar a baliza de Courtois. Noutra ocasião, passou De Bruyne e Witsel num misto de força e velocidade e abriu exemplarmente na direita, criando um desequilíbrio a que faltou a continuidade dos outros jogadores. No segundo tempo voltaria a levar Portugal para a frente. Já muito cansado, acabaria rendido a pouco mais de 10 minutos do fim. Deu tudo o que tinha.

 

P.S. Optei por um "Tudo ao molho..." mais analítico. O meu sentido de humor ainda não se reencontrou após as "moules" com batata frita que me custaram a engolir ontem.

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