O insustentável peso de Viviano
Pedro Azevedo
Não sei se no Sporting passamos a vida a falar em "atitude" ou se a atitude dos sportinguistas é passar a vida a falar. (sobre tudo e sobre coisa nenhuma, e sem chegar a conclusão alguma.) Mas afinal o que é essa coisa da "atitude"? Bom, para um senhor que vi no outro dia na televisão, atitude é ganhar em Tondela. Como, e de que forma isso se materializa, ele não disse. Não será certamente por um jogador disputar cada lance como se o mundo fosse acabar daí a cinco segundos, porque se assim fosse o mesmo senhor não teria também criticado individualmente o Acuña. Confesso que fiquei confuso e veio-me logo à ideia que, se achamos que a "atitude" é um meio para atingirmos a felicidade, talvez não fosse má ideia - sei lá - entendermo-nos sobre o que quer dizer essa palavra, de forma a que não esteja para o nosso léxico como a "máquina de fazer plim" estava para os Monty Python n`O Sentido da Vida. Por exemplo, para os meus amigos benfiquistas não existem dúvidas (e isso se calhar explica porque têm mais sucesso do que nós). Para eles, atitude chama-se Ruben Dias, Fejsa ou André Almeida (e antes, Luisão). Os portistas que conheço têm-no claro, igualmente. Tanto que poderiam estar à beira do abismo e ainda assim dariam um passo em frente na defesa do conceito. Para eles, já adivinharam, atitude tem o nome de João Pinto, o "número 2 de Pinto da Costa", de Paulinho Santos, de Jorge Costa ou, actualmente, de Felipe ou Maxi. A coisa é muito menos clara quando toca aos meus consócios. Enquanto os adeptos dos outros dois clubes já seguem o realismo (e criam eles próprios a percepção da "realidade"), nós continuamos a viver no romantismo. Por isso, qualquer jogador nosso que dispute os lances com um pouco mais de rispidez é logo malquisto e tomado de ponta. É o caso do Marcus Acuña, de quem o jornal "A Bola" de hoje indica que pode estar na porta de saída, mas também de Battaglia ou de Ristovski, elementos que têm no querer a sua maior qualidade. Ora, tal entra em contradição com o que acredito e com aquilo que psicólogos e sociólogos entenderam classificar como atitude. É que, do ponto-de-vista da sociologia, tal é o conjunto de valores e crenças que permitem ao indíviduo sentir e reagir perante certos estímulos, e na psicologia significa o comportamento que se mantém inimutável a circunstâncias diferentes (as adversas, incluidas). Assim sendo, se calhar um jogador que nunca se submete (ou resigna) num campo de futebol deveria ser para manter. A sua entrega inquestionável deveria servir de exemplo e ser canalizada por quem dirige para produzir o mimetismo necessário ao empolgamento do grupo. E deveria ser a primeira pedra da construção de um novo edifício leonino, num clube useiro e vezeiro em permitir que, por exemplo, novos jogadores se apresentem na pré-época com elevado excesso de peso, como foram os casos de Alan Ruiz ou Emiliano Viviano, este último trazido à colação em título como alegoria daquilo que não deve ser a atitude de um jogador de futebol. Como tal, quando me falam da possibilidade de Acuña sair, eu sou obrigado a recorrer ao conceito, agora filosófico, de atitude: não dou como garantido, exerço o pensamento crítico e repudio. Estamos entendidos?
P.S. O Sporting de Allison foi campeão nacional e venceu a Taça com os virtuosos Jordão, Oliveira, Meszaros e Manuel Fernandes e com a liderança do Ministro da Defesa Eurico Gomes, mas também com os "carregadores de piano" Marinho e Nogueira, que com a sua atitude e pulmão levavam a equipa para a frente, ou os indomáveis Bastos (ou Zezinho) e Barão. E com jovens como Xavier, Mário Jorge, Virgílio ou Ademar, cheios de ganas de mostrar ao treinador a sua valia.