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Castigo Máximo

De forma colocada, de paradinha, ou até mesmo à Panenka ou Cruijff, marcaremos aqui a actualidade leonina. Analiticamente ou com recurso ao humor, dentro ou fora da caixa, seremos SPORTING sempre.

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Castigo Máximo

29
Nov22

Tudo ao molho e fé em Deus

The hair of God


Pedro Azevedo

Em 86, no México, Argentina e Inglaterra defrontavam-se nos quartos de final do Mundial. O palco era o Estádio Azteca e cerca de 115 000 almas dispunham-se nas bancadas sob um sol inclemente. Para apimentar ainda mais o ambiente, o jogo tinha um carácter extra-desportivo motivado pelas cicatrizes ainda abertas da Guerra das Malvinas, que havia oposto os 2 países uns anos antes. No fim, no campo, ganhou a Argentina, naquilo que poderia ser considerado a "revancha del Tango". Para isso muito contribuiu Diego Armando Maradona, o génio da lâmpada, que marcou um golo épico e outro ignóbil, cada um inesquecível à sua maneira, ambos porém produto da improvisação, expressividade, ginga, truque e carga dramática que caracterizam o tango. No fim, quando questionado pela imprensa inglesa sobre a legalidade do seu primeiro golo, El Pibe apelidou-o de "The hand of God", a mão de Deus. Quanto ao segundo, o "Golo do Século", Lineker afirmou ter sido a única vez na vida em que se sentiu compelido a aplaudir num relvado um golo do adversário.  

 

Pensei na "mão de Deus" ontem enquanto aplaudia o primeiro golo de Portugal contra o Uruguai. Não que tivesse havido algo de ignóbil no lance, aliás perfeitamente limpo, mas porque envolveu um outro deus do futebol mundial, o nosso Cristiano Ronaldo, que foi absolutamente decisivo no êxito da iniciativa conduzida por Bruno Fernandes. Logo se levantou a questão de Ronaldo ter ou não tocado na bola e as imagens televisivas pareceram concluir que não. Mas tendo o salto de Ronaldo sido fundamental para a inacção do guarda-redes uruguaio, que ficou na dúvida entre seguir a trajectória da bola ou precaver-se face a um hipotético desvio do avançado português, bem que o golo poderia ficar na história como "The hair of God", como se um fio de cabelo divino tivesse acrescido à cabeleira de Ronaldo e assim impelido a bola para as redes. ("Se no è vero, è ben trovato".)

 

O jogo para nós foi de uma forma geral sofrido, ou não fosse Portugal a equipa e Fernando Santos o seu treinador. Algumas debilidades em termos de intensidade defensiva do nosso meio-campo ficaram expressas num arranque de Bentancur no primeiro tempo ou na reacção uruguaia ao golo inaugural luso. Também ficou evidente que o nosso seleccionador atrasou demasiadamente as últimas substituições, especialmente as entradas de Palhinha e de Matheus Nunes (que classe!), submetendo a equipa desnecessariamente a uma forte pressão dos sul-americanos que o poste, a malha lateral e Diogo Costa impediram que se materializasse em golos. Antes assim, mas que não havia necessidade de sofrer tanto, lá isso também é verdade. Até porque um dia, nada se alterando, a história poderá acabar mal, que os deuses do futebol não estarão sempre connosco, como aliás já se provou em competições que sucederam à vitória no Euro-2016. (A maior vítima do caos organizado que caracteriza o nosso jogo desposicional, bem como da macieza dos médios, é o Bernardo Silva, que é obrigado a transpirar tanto que depois lhe falta oxigénio para inspirar... a equipa.) 

 

Com apenas 2 jogos disputados, Portugal já está nos oitavos de final do Mundial. E com grande possibilidade de terminar em primeiro lugar no seu grupo, evitando assim o Brasil, que com igual probabilidade deve finalizar no topo da sua poule. Para quem tem na Texas Instruments ou na Casio uns parceiros de uma vida, não deixa de ser reconfortante...

 

Viva Portugal!!! (A revolta do Fado.)

 

Tenor "Tudo ao molho...": Bruno Fernandes. Menção honrosa para Diogo Costa. Ronaldo esteve no golo e deu apoios no ataque, Pepe regressou a bom nível, Nuno Mendes foi o único a acelerar o jogo no primeiro tempo, Cancelo preocupou-se essencialmente em defender bem e teve um corte providencial e Bernardo lutou em todo o campo pela equipa.

 

PS: O Ruben Neves passou o jogo todo com mialgias a nível do rabo de cavalo...

 

PS2: A minha equipa para a Coreia: Diogo Costa (Rui Patrício); Dalot, Pepe, Rúben Dias e Cancelo; Palhinha, Matheus Nunes e Vitinha; João Mário, Ronaldo (André Silva) e Rafael Leão. Descansam o Bruno, o Bernardo e o Guerreiro (não temos outro). Os outros que jogaram com o Uruguai também, mas não são os melhores. 

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28
Nov22

Breve antevisão


Pedro Azevedo

Muito cuidado com a velocidade de Fede Valverde e Darwin Nuñez. E fé inabalável em Ronaldo, claro. Quanto ao Onze, o meu seria: Diogo Costa; Dalot. Pepe, Ruben Dias e Nuno Mendes (se estiver em condições); Palhinha, Matheus Nunes e Bruno Fernandes; Bernardo Silva. Ronaldo e Rafael Leão. O Onze de Fernando Santos ainda não foi divulgado, mas seja ele qual for o que interessa é a vitória. Vamos, Portugal!!!

28
Nov22

O bi-bota


Pedro Azevedo

Falar de Fernando Gomes é invocar alguém que foi um campeão no futebol e na vida. Nos relvados fez parte da equipa do FC Porto que inverteu um ciclo negativo de 19 anos e finalmente venceu o campeonato nacional. Tomou-lhe o gosto e no ano seguinte voltou a ganhar o máximo título português. Era ainda o tempo de Américo de Sá como presidente. Pinto da Costa, no banco, era o director para o futebol. José Maria Pedroto, o sagaz Zé do Boné, a sua grande referência, o treinador. Com Pinto da Costa e Pedroto protagonizou a grande cisão, treinando à parte durante um verão quente que viria a culminar na vitória de Américo de Sá e no retorno dos jogadores ao clube (Oliveira foi para Penafiel, o capitão Rodolfo havia ficado desde o primeiro momento nas Antas). Mas o reencontro estava para breve. No entretanto,  Pedroto foi treinar para Guimarães, Pinto da Costa iniciou uma breve travessia no deserto e Gomes foi vendido ao Sporting de Gijón. Das Astúrias regressaria como trunfo eleitoral de Pinto da Costa (como Pedroto) quando este disputou e ganhou a presidência a Américo de Sá. Já capitão da equipa, iniciou aí um novo ciclo, com mais 3 campeonatos nacionais, duas Taças de Portugal e três Supertaças. Em Portugal, porque na Europa conquistou uma supertaça europeia e os títulos de campeão da Europa e do Mundo, individualmente ganhando ainda 6 Bolas de Prata e duas Botas de Ouro que consagraram o melhor marcador europeu. Por fim, após um desaguisado que envolveu Octávio, Gomes viu o seu contrato com o Porto terminar. Veio então para o Sporting, onde acabou a sua carreira de futebolista ainda num bom plano.   

 

Se no campo sempre se destacou pela inteligência com que antecipava os lances, na vida evidenciou-se pelo seu forte carácter. Tal foi, aliás, notório na sua passagem pelo Sporting, clube que honrou e respeitou com elevado profissionalismo, sempre elogiando e agradecendo o carinho dos seus adeptos, nunca deixando porém de salientar que o seu coração morava nas Antas, amor incondicional a um clube aí já caído em desuso para a maioria dos seus colegas de profissão. Terminada a sua carreira de futebolista, acreditou-se que um dia regressaria ao seu FC Porto como dirigente. Todavia, vitima do calculismo e da pequena política, esse retorno foi sendo sucessivamente adiado. Até que Pinto da Costa finalmente o chamou e Gomes pôde marcar o seu último golo, vendo uma equipa da formação do seu clube do coração sagrar-se campeã europeia. 

 

Homem com H grande, a sua voz de barítono cativava quando se fazia ouvir. Porem, seria através da gestão dos silêncios, na forma como soube sofrer em recato as injustiças da vida (incluindo as desportivas), que mais viria a tocar este adepto do Sporting. Foi um senhor. E como senhor que foi, aqui lhe deixo a minha mais sincera homenagem. Ganhou o céu um anjo, e como anjo certamente goleará por toda a eternidade. (Com a vantagem de se dizer que os anjos não têm costas, assim não podendo ser apunhalados por trás.)

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25
Nov22

Tudo ao molho e fé em Deus

Doha a quem doer


Pedro Azevedo

A FPF delegou numa empresa privada, a Femacosa, a gestão da sua principal equipa de futebol. O gerente dessa empresa é o simpático Engenheiro Santos (santinho!), que em dia de treino ou de jogo adquire a personalidade do seu maléfico altar-ego, o senhor Femacosa, à boa maneira de uma novela gótica com elementos de ficção científica e de terror. (Sendo a Selecção Nacional a "Equipa de todos nós", na expressão feliz de Ricardo Ornellas, doravante tratemos carinhosamente a empresa que a gere por "Femacosa Nostra".)

 

Ontem, a Femacosa Nostra foi a jogo. Os jogos da Femacosa Nostra são como os melões: tanto dá para empatar ou perder com as Ilhas Salomão como dá para empatar ou ganhar à França. Tudo na verdade obedece a uma aleatoriedade capaz de desafiar a epistemologia das coisas. Com a Femacosa Nostra ganha-se como se perde ou se empata: não desse o árbitro um penálti ou não escorregasse o Williams na hora de surpreender o Diogo Costa e estaríamos agora a lamentar um empate ou uma derrota num jogo em que tivemos tudo para golear. Mas não goleámos. Primeiro, porque demos uma parte do jogo de avanço, renunciando a provocar desequilíbrios que na mente do gerente da Femacosa Nostra nos desequilibrassem a nós. (A Louis Vuitton deveria deixar-se de Ronaldos e Messis e convidar o Engenheiro Santos para defrontar o senhor Femacosa no tabuleiro do xadrez.) Segundo, porque finalmente por cima do jogo, o senhor Femacosa decidiu aliviar a pressão no meio campo e fazer entrar um passeante, o William de Carvalho, permitindo-lhe assim fazer a digestão do almoço no relvado de Doha. Terceiro, porque ter Bernardo Silva e obrigá-lo a vir buscar a bola junto dos centrais desafia qualquer lógica de Jogo Posicional e desgasta desnecessariamente uma unidade que deveria ser resguardada para fazer a diferença na frente (e não atrás). Quarto, porque aos evidentes erros de casting do plantel, para uma competição com estas condicionantes de temperatura e humidade, seguiu-se as já habituais inações e atrasos nas decisões que viram Matheus não sair do banco ou Rafael Leão entrar já tarde no jogo, dois jogadores com aquilo que qualquer Selecção presente neste Mundial necessita para ter sucesso: explosão com bola. No entretanto, o Otávio e o Ruben Neves nunca pegaram no jogo, os laterais não arriscaram no 1x1 e os extremos fugiram das alas e assim afunilaram o nosso jogo. Defensivamente, os erros somaram-se, como é bom exemplo o primeiro golo ganês: a bola passou, primeiro, pela frente de Ruben Dias sem que este a interceptasse e, depois, por entre as pernas de Danilo. 

Foi já com Leão aberto na esquerda e Félix na direita que Bruno Fernandes encontrou espaço para si próprio no miolo do campo para endereçar dois passes açucarados para golo, com os africanos centrados na marcação a Ronaldo. Ronaldo que ganhou um penálti, viu um golo aparentemente limpo ser anulado pela precipitação do árbitro e ainda teve duas oportunidades negadas pela excelente acção do guarda-redes do Gana. Numa delas, sprintou em 30 metros, deixando um defesa colado aos blocos. Pelo meio, elevou-se e falou aos pássaros como só ele sabe. Nada mau para um ancião (dizem eles)... Ronaldo que deu sempre a sensação de ser o inimigo público número 1 para os géneses. Uma vez mais emocionou-se e emocionou o seu povo, pelo menos aquele povo que valoriza o mérito e não se revê na inveja e na perfídia. "Once Ronaldo, always Ronaldo" - os seus críticos ainda vão ter de "levar com ele" mais algum tempo. Entretanto, lá bateu mais um recorde, com golos em 5 fases finais de mundiais de futebol. Despedido por um clube à venda e injustiçado por uma narrativa de não haver quem o compre, Ronaldo simbolicamente ergueu-se sobre um Messi que o olhou embevecido. Não surpreendeu, porque os grandes sabem reconhecer-se entre eles. Força Femacosa, força Federação, uma entidade de utilidade pública. (Se fosse púbica, contratava-se o John Holmes e o problema estaria resolvido sem hesitações.)

 

Tenor "Tudo ao molho...": Ronaldo 

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24
Nov22

A ver o Mundial (II)

Kaput!!


Pedro Azevedo

A revolta da bola quadrada prossegue em bom estilo no Mundial do Qatar e ontem a vítima foi a Alemanha. Mais do que derrotados, os germânicos foram derretidos pelas constantes acelerações nipónicas. Muito mérito para Moriyasu, o treinador japonês, que, primeiro, fez entrar mais um central de forma a adiantar os laterais e, depois, lançou o irrequieto Asano (olho para este jogador e vejo a falta que potencialmente Vitinha, o do Braga, pode vir a fazer à nossa Selecção) para dinamitar os panzers alemães. A reviravolta foi concluída em lance onde foi evidente que o cansaço físico dos teutónicos teve consequência a nivel da rapidez de raciocínio, produzindo-se assim um erro básico que custaria a derrota aos alemães.

 

Surpreendente, ou talvez não (fez uma óptima campanha de qualificação), foi a prestação do Canadá face à Bélgica. Com um impressionante primeiro tempo, período em que os belgas raramente conseguiram passar o seu meio campo, os canadianos tiveram inúmeras oportunidades de sentenciar o jogo. Todavia, em termos de finalização foi um Canada Dry, o que associado a uma única desatenção defensiva (por parte do nosso bem conhecido Steven Vitória, que em tudo o mais foi irrepreensível) lhes viria a ser fatal. Registe-se, porém, a estatística de 21 tentativas de golo contra apenas 9 dos belgas, números que em condições normais teriam sido mais do que suficientes para garantir a vitória canadiana. Além do mais, os norte-americanos não tiveram sorte com o árbitro, zambiano por sinal, ficando duas grandes penalidades por marcar a seu favor. Para lá dos já bem conhecidos Alphonse Davis (Bayern, falhou em penalty), Jonathan David (Lille) e Eustáquio, nos canadianos igualmente destacou-se o ala Buchanan, uma dor de cabeça constante para os belgas. Estes acabaram salvos pelo desacerto na decisão por parte do Canadá e por mais uma grande exibição de Courtois, um polvo na baliza. 

 

Marrocos esteve também em bom plano, merecendo amplamente o empate contra a vice-campeã mundial Croácia. A falta de um ponta de lança um pouco melhor do que El Nesyri terá custado a vitória aos magrebinos, apesar das boas intenções de Ziyech de assistir para golo. Com dois laterais muito rápidos e empreendedores (Hakimi e Mazraoui), um médio de inesgotável energia e elevado sentido posicional (Amrabat) e outro de enorme qualidade técnica (a revelação Amallah), os marroquinos deixaram água na boca. Nos croatas, Modric destacou-se como quase sempre.

 

O Espanha-Costa Rica não teve história. Os centro-americanos são provavelmente a equipa mais fraca da competição, pelo que não surpreendeu que a Espanha não tivesse encontrado oposição. Todavia, tenho a expectativa de os ver contra o Japão, uma equipa capaz de produzir as acelerações que poderão desorganizar o jogo cerebral dos "nuestros hermanos". 

 

Revelação: Marrocos, Japão, Canadá

 

Confirmação: Espanha

 

Desilusão: Alemanha, Bélgica

 

A rever: Croácia

 

Mais fraco: Costa Rica

 

Desequilibradores: Asano (Japão), Buchanan (Canadá)

 

Homens-golo: Ferran Torres, Batshuayi 

 

Revelação jogador: Amellah (Marrocos)

 

Jogo a seguir hoje: Portugal-Gana

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23
Nov22

A ver o Mundial (primeiras impressões)

O triunfo da bola quadrada


Pedro Azevedo

Os primeiros dias do Qatar 2022 confirmaram o que eu havia antecipado aqui. Uma bola que passe a 1 cm do pé é uma bola perdida, e de um modo geral notam-se grandes dificuldades individuais na marcação e em receber no espaço. Adicionalmente, do ponto de vista colectivo, não se vê uma pressão efectiva no campo todo, pelo menos nada que minimamente se compare com o que estamos habituados nos principais campeonatos europeus. A equipa mais agressiva até agora foi a americana, mas rebentou no segundo tempo. A nível de jogadores, comprova-se que este Mundial favorece quem tem explosão com bola, pelo que Saka, Sterling, Rashford, Dembélé e Mbappé deram fortemente nas vistas. Nesse sentido, preocupa-me que Portugal, do meio campo para a frente, tenha apenas Matheus Nunes e Rafael Leão como jogadores capazes de quebrar linhas em velocidade de progressão. Sendo certo que a lesão de Jota foi uma infelicidade que se abateu sobre a nossa Selecção, já pouco compreensível foi não levar Gonçalo Guedes (substituto natural do auto-excluído Rafa) e Renato Sanches. A meu ver temos um lote indiscutível de grandes jogadores, porém muitos funcionam a diesel. Só que estamos no golfo, as condições de temperatura e de humidade são muitos especiais e, por isso, temo que este seja o Mundial dos motores de combustão, a gasolina. Assim sendo, não estou muito confiante na nossa prestação, mas oxalá esteja redondamente enganado. 

 

A grande surpresa até agora da competição foi a derrota da Argentina (estava há 36 jogos invicta) aos pés da Arábia Saudita, uma grande contrariedade para Messi no seu último Mundial e uma alegria esfusiante para uns sauditas que logo decretaram feriado nacional. O triunfo da bola quadrada, como diria o saudoso Carlos Pinhão. De destacar o grande golo de Al Dawsari, o melhor do certame até agora. Corajosos, os pupilos do aventureiro Renard, uma espécie de Corto Maltese do futebol mundial, mantiveram sempre as linhas muito juntas, reduzindo assim os espaços aos sul-americanos, ainda que para tal tivessem tido que correr o risco de dispor o bloco defensivo praticamente em cima do traço divisório do meio campo. Em bom plano esteve igualmente a Tunísia, que impôs um empate a uma das selecções que mais entusiasmara até aqui (qualificação para o Mundial e último Europeu), a Dinamarca, mostrando uma bela organização de jogo, frescura física e jogadores capazes de fazer a diferença, como Msakni (*), Jebali e Sliti, este último uma descoberta do português Rui Almeida quando treinou o parisiense Red Star. Na linha aliás do que já havia mostrado o Senegal, a quem apenas terá faltado Mané para dar sequência ao bom caudal de jogo dos africanos. 

 

Hoje ficou também a saber-se que Cristiano Ronaldo e o Manchester United terminaram a sua ligação. Ainda a propósito de CR7, e já que a competição se desenrola em terra onde o petróleo é rei, pode ser que aquele que alguns (não eu) já dão como fóssil venha a fazer uma gracinha. A sua explosão, ainda que já somente em espaços curtos, está lá, pelo que resta-nos aguardar. A ver vamos. (Continuo a pensar que este será o Mundial dos jogadores, aquele em que as acções individuais decisivas terão uma preponderância maior do que aquilo a que estamos habituados.)

 

Revelação: Arábia Saudita, Tunísia 

 

Confirmação: Inglaterra, França

 

Desilusão: Argentina 

 

Interessante: EUA, Dinamarca, México 

 

A rever: Equador, Senegal, Países Baixos, Polónia, Gales

 

Mais fracos: Qatar, Irão, Austrália 

 

Desequilibradores: Mbappé, Saka

 

Homens-golo: Taremi, Giroud

 

Jogo do dia: Marrocos-Croácia

 

(*) Como curiosidade, Msakni partilha o segundo lugar na lista de goleadores do campeonato do Qatar com o ex-portista Brahimi (5 golos). O melhor marcador é... Gelson Dala (8 golos em 7 jogos). 

 

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20
Nov22

A insustentável leveza do Ser português


Pedro Azevedo

A histeria colectiva sobre os direitos humanos a propósito da realização do Mundial de Futebol no Qatar é reveladora da hipocrisia da sociedade portuguesa, tão solícita a acompanhar a última moda mundial de Outono-Inverno da moral e dos princípios e tão pródiga no esquecimento das condições existentes no seu próprio país. Sim, focamo-nos no que se passa no médio oriente e olvidamos o que ocorre aqui ao pé de nós, no ultra ocidente (europeu), onde à boa maneira de Groucho Marx se traficam os princípios: "Estes são os meus princípios, se não gostarem deles eu tenho outros", que é como quem diz, "Ah, e tal, os estádios e assim... mas agora concentremo-nos no Campeonato do Mundo". E por que deveria ser diferente? Afinal, nós somos o país onde existem dezenas de inquéritos abertos por suspeitas de crimes relacionados com a exploração de imigrantes, tráfico de pessoas, em que cidadãos estrangeiros são espancados até à morte num aeroporto e mais de cinco centenas de agentes da autoridade disseminam o ódio e expressam simpatia por ideais de extrema direita na redes sociais. E somos também os mesmos que deixam isolados e desesperançados todos aqueles que não alinham na moscambilha, no conflito de interesses e tráfico de influências, na pequena corrupção. A quem vemos com maus olhos e a quem tomamos como tolos, quanto mais não seja porque assim expõem e mostram à saciedade a insustentável leveza do nosso Ser e a nossa ancestral hipocrasia disfarçada com umas alegadas moral e bons costumes que nunca passam do adro da igreja, ou não fossemos também o país onde um inquérito conduzido pela Fundação Francisco Manuel dos Santos, curiosamente apenas reproduzido pela TSF, mostra que a meritocracia pouco ou nada pesa na ascensão de um profissional nas empresas. E o que resta a quem não se revê no sistema? O abandono, à mercê do populismo primário de um Chega ou da inconsistência ideológica de uma IL, que ninguém quer saber até porque o problema é o Qatar. Sabem o que vos digo? Vão-se catar!

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14
Nov22

Tudo ao molho e fé em Deus

Mixórdia de temáticas


Pedro Azevedo

Caro Leitor, a semana começou com o sorteio da Liga Europa e eu conheci o nome do nosso oponente antes da cerimónia em si. Não, não foi em sonhos nem teve a ver com o "sortilégio" ou manha das bolas quentes e frias, embora o clube dinamarquês que nos calhou em sorte fosse o mais desejado. Acontece que há uns dias atrás eu havia tido uma consulta no meu oftalmologista. E o senhor doutor pôs-me a olhar para uma parede iluminada onde se projectava um amontoado de letras soltas. Às tantas, pediu-me para eu as soletrar, uma a uma: M I D T J Y L L A N D. Foi então que tive a epifania. Entretanto, se o meu diagnóstico foi 20/20, o nosso só pode ser a passagem aos oitavos. Mas como é conhecida a nossa miopia de cada vez que nos é pedido para ver mais longe, o melhor mesmo é continuarmos a olhar de perto, jogo a jogo, assim Deus nos livre da hipermetropia que nos acomete de cada vez que o Braga e o Porto estão mesmo ali ao dobrar da esquina.  

 

Ainda durante a semana foram anunciados quase todos os convocados do Sporting para as selecções que vão disputar o Mundial do Qatar. Assim, teremos o Coates e o Ugarte pelo Uruguai e presumivelmente o Fatawu pelo Gana, ambos do grupo de Portugal. E o Morita alinhará pelo Japão. Por Portugal é que nada, nem um dos nossos. O meu medo é que os futuros jogadores lusos do Sporting comecem logo a pensar naturalizar-se por outro país no acto da assinatura de contrato. Por exemplo, arranjando uma canária para poderem jogar por Espanha. Ou, crescendo para umas suiças, de forma a alinharem pelo país da banca e do chocolate. Como não se chamam Otávio ou Pepe, não correriam o risco de virem a ser chamados pelo Engenheiro. Sim, porque o Coates teria que nascer 100 vezes para tirar o lugar ao António Silva - "Ó Evaristo, tens cá disto?". (O Fernando Santos como cómico - apesar daqueles trejeitos de pescoço e da fantástica rábula do IRS - também teria de nascer 100 vezes para tirar o lugar ao António Silva.)

 

Ontem terminámos o nosso aquecimento para o campeonato nacional em Famalicão. Para não variar o Amorim fintou toda a gente e lá inventou uma equipa capaz de dar cabo do Placard ao apostador mais ousado. O Edwards e o Arthur, que haviam sido os melhores contra o Casa Pia, foram para o banco. E o St Juste fez os 90 minutos. O caso do neerlandês então é paradigmático: o homem andava a jogar a espaços, porque havia perdido a pré-época por lesão e alegadamente precisava da paragem para o campeonato do mundo para recuperar a melhor condição física. E o que aconteceu? Agora que a paragem está à porta, abrindo-lhe essa janela a possibilidade de poder ser totalmente recuperado sem risco de recidivas em competição, pela primeira vez jogou o tempo todo. (Ao Gabinete de Performance o que é do Gabinete de Performance, ou ainda alguém se lembra de convocar para aqui os laboratórios Azevedos.) Felizmente nada de mais aconteceu para além de um golo do Famalicão. Podia ter sido um tiro no pé, assim foi só um auto-golo. (Azares à parte, a defesa foi de longe o nosso melhor sector, com Inácio a salvar um golo certo, Coates imperial sobre a terra e sobre o ar e o Jeremias igualmente bem.)

 

O Morita ganhou uma bola que o Paulinho endereçou para a baliza deserta. Só que o Trincão intrometeu-se e sobre a linha sacou o golo ao nosso necessitado ponta de lança. Conclusão: eles até podem ter sido colegas em Braga, mas cá para mim o Trincão é um amigo de Peniche. Para o Paulinho, que não para o Pote que aproveitou um penalty saído dos pés do ex-culé. Depois, o Morita viria a marcar um golo. A coisa na televisão pareceu limpinho, limpinho. Até o Freitas Lobo, meio resignado, o confirmou. O Euclides, o Euler e o Gauss também. Mas depois veio o VAR. E comeu-o. E lá foram o Pai Natal e o palhaço no combóio ao circo. Enfim, (terão sido só) fantasias de Natal...

 

Tenor "Tudo ao molho...": Seba Coates

 

PS: Outra fantasia de Natal é haver árbitros portugueses no Qatar. O Lineker é que não conhece bem isto, se não saberia que em Portugal o futebol são onze contra onze e no fim ganha o amarelo (também onze, ontem em Famalicão). 

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11
Nov22

Os nossos convocados


Pedro Azevedo

Ao ver a convocatória do Engenheiro Fernando Santos para o Mundial alguma apreensão me assalta. Em primeiro lugar verifico não haver nenhum central esquerdino. Gonçalo Inácio poderia ter sido opção para essa posição, sendo a sua comprovada polivalência uma mais-valia numa prova tão curta. Relembro que durante a sua formação, e mesmo na equipa B, o Gonçalo foi utilizado muitas vezes como lateral esquerdo. Ora, atendendo ao histórico de lesões de Raphael Guerreiro e aos frequentes problemas musculares de Nuno Mendes, seria prudente ter um jogador que numa emergência pudesse fazer a posição. Mas o Gonçalo nem na época de ouro do Sporting (20/21), em que assumiu a indiscutível titularidade na defesa leonina, foi opção para o Engenheiro, o que nos deveria fazer pensar no que queremos para o cargo de seleccionador, que isto da mulher de César não lhe basta ser e o que parece é que lá para Carnide uma bem medida dúzia de jogos basta para ascender qualquer alma à equipa de todos os nós (não confundir com a Equipa de Todos Nós, brilhante epíteto que em boa fé o jornalista Ricardo Ornellas um dia criou para designar a nossa Selecção). 

 

Depois, no meio campo escasseiam jogadores que consigam imprimir uma mudança de velocidade, um pormenor que pode fazer toda a diferença numa competição que vai ser disputada em condições climatéricas muito exigentes e onde se antevê um grande desgaste dos jogadores. A maioria dos convocados são jogadores a diesel, com João Mário e William como expoentes máximos dessa realidade. De combustão apenas o Matheus Nunes, sem esquecer a intensidade sobre a bola do Palhinha e a rotatividade de Otávio, de Vitinha e de Bruno Fernandes. Parece-me que um jogador com as características de Renato Sanches daria um outro tipo de soluções, na medida em que abanaria com o jogo dada a sua explosão. Na frente, o Bernardo Silva deve ser deslocado para a ala direita, presumivelmente sendo alocado o lado esquerdo ao Rafael Leão, o único jogador equipado com uma caixa de ritmos, ficando Ronaldo como ponta de lança. Nesse sentido, estou em crer que a perda de Jota reflectir-se-á numa menor espontaneidade na hora de atacar a baliza adversária, o que não deixará de se lamentar. Pedro Gonçalves é uma ausência notada, ele que mesmo quando em super forma durante todo o ano só à última da hora foi chamado à Selecção para depois ser olimpicamente abandonado no banco de suplentes durante o último Europeu. Aliás, eu penso que o seu menor momento de forma tem muito a ver com a condicionante psicológica, sendo que o constante ignorar das suas boas prestações por parte do seleccionador nacional não terá contribuído em nada para lhe elevar o moral. De qualquer forma, não há muitos jogadores com a inteligência de Pote, a sua leitura do que é necessário fazer no espaço entre-linhas e a facilidade em acertar na caixa de baliza, pormenores que evidentemente foram marginalizados na escolha de Fernando Santos. Também penso que nos falta um outro tipo de ponta de lança para quando a opção for colocar Ronaldo a partir da ala. Surpreendentemente, o Seleccionador nunca deu uma oportunidade a Beto, actual quarto melhor marcador de uma campeonato do Big 5 (Serie A) a par de craques como "Kvaradona" (Nápoles), Immobile (Lazio) ou Vlahovic (Juventus). O que Beto tem, e outros não têm, é velocidade na condução de bola em transição e óptimo jogo de cabeça, características díspares que se adaptariam a diferentes contextos dos jogos. Vitinha, do Braga, é outro jogador que nem testado foi, o que não se compreende. A sua energia inesgotável poderia vir a ser muito útil no Qatar, ele que é assim como um panzer, um jogador à alemã e que erode as defesas. Tivemos em tempos um médio com características muito próprias dos teutónicos (Maniche) e não parece que esse contraste nos tenha feito nada mal. É incrível como este Seleccionador foi capaz de chamar quase uma equipa inteira do Wolverhampton e nunca deu uma oportunidade a Beto ou Vitinha no espaço da Selecção. Curiosamente, riscou agora o Gonçalo Guedes, recentemente adquirido pelos Wolves, que seria o jogador mais semelhante ao indisponível Rafa e um daqueles capazes de pôr velocidade no jogo. Opções, certamente, de quem tem muito tempo para pensar, quando a sua atenção não está focada em elisão fiscal (chamemos-lhe assim), claro, o que não é assim muito católico atendendo ao nosso modelo e condicionantes sociais.

 

PS: Entretanto, Coates e Ugarte foram confirmados nos 26 do Uruguai e Morita foi seleccionado pelo Japão. Adicionalmente, Fatawu é forte possibilidade no Ghana. Não descurando ainda a remota probabilidade de Porro vir a ser chamado por Espanha, eles são os nossos convocados para o Mundial do Qatar. 

10
Nov22

Vem aí o Mundial


Pedro Azevedo

Vem aí o tão controverso quanto incontornável Mundial do Qatar. Independentemente de todos os aspectos negativos que rodeiam esta competição desde que ficou conhecido que a FIFA atribuiu a sua organização a este país do médio-oriente, um mundial de futebol é sempre o nirvana dos adeptos do desporto-rei. Por isso, é com expectativa que estes aguardam o início da prova. Haverá novidades importantes do ponto de vista táctico? Que países surpreenderão? Terá chegado o tempo das seleções africanas? À partida, atendendo às condições climatéricas, este mundial poderá ser um hino aos craques da bola. Pelo menos levando em linha de conta o que ocorreu em Espanha (82) e especialmente no México (86), competições onde os jogos foram disputados sob um calor tórrido, condicionante atmosférica que impediu marcações tão cerradas como seriam aquelas que se poderiam encontrar noutras latitudes. Privilegiando assim a emergência do génio de um Diego Armando Maradona, mas também o futebol sambado de Zico e de Sócrates ou o perfume que Platini deixava quando deslizava suavemente pelo terreno. Se aconteceu antes, bem pode ocorrer de novo. Pelo que não deixo de fora a possibilidade de este ainda vir a ser o Mundial de Messi, Neymar ou, até mesmo, Cristiano Ronaldo, os velhos guerreiros que querem deixar uma última impressão antes do render da guarda. Mas também poderá ser o Mundial dos jovens lobos, que potencialmente imortalizará Mbappé, Havertz, Foden, Mount ou Pedri, entre outros. De Portugal aguardo com entusiasmo a forma como o futebol de Bruno Fernandes e de Bernardo Silva se adaptará às condições existentes. E penso que haver quem queime linhas como Matheus (mais) ou Sanches (menos) pode vir a ser um factor determinante. Por isso, pese embora duvide muito que o Engenheiro Santos alguma vez venha a optar por esse caminho, eu não abdicaria nunca do duo Palhinha/Matheus no centro do campo, deixando depois espaço para que os criativos em zonas mais avançadas do terreno façam o resto. De entre estes, a grande incógnita para mim é o Rafael Leão. Irá ele ao encontro do patamar que o seu enorme talento há muito augura ou passará sem glória por uma competição cujas condições parecem ter sido criadas para favorecer jogadores como ele? Dentro de algumas semanas teremos a resposta. (Assim tenha ele cabeça, que é coisa que no passado recente lhe falhou flagrantemente.)

03
Nov22

O exemplo que vem dos maratonistas


Pedro Azevedo

Quando o conjunto de objectivos por onde globalmente se mede o sucesso ou insucesso de uma temporada desportiva vai mostrando um progressivo grau de incumprimento, o normal é dizer-se que a época está perdida, que já não resta nada para ganhar. Na minha opinião, tal não é correcto. Vou passar a explicar o meu ponto-de-vista: mesmo que eventualmente nada mais haja a ganhar, há ainda muito a perder. Desde logo perda de prestígio, prejuízo e degradação da imagem da instituição, redução de valor dos futuros contratos de patrocínio ou publicidade, menores assistências aos jogos e desagregação de sócios e adeptos, caso a inexistência de objectivos crie o vazio. É, por isso, necessário que se promova um reaggiornamento, que se preencha esse vazio e se evite o limbo. Para tal, é necessário que o balneário dê sinais de reacção à adversidade, de que é possível dar a volta à situação e terminar a época de uma forma auspiciosa. Mas como motivar uma equipa que vem apresentando resultados tão deprimentes? Bom, aqui socorro-me do exemplo dos maratonistas: por volta dos 30-35 km estes são usualmente acometidos de "dor de burro", um efeito provocado pela deficiente oxigenação (mas há também quem a sinta logo no início da corrida, geralmente devido a um mau aquecimento, como será metaforicamente o caso presente). Ora, nesses momentos o maratonista deixa de se fixar na meta (objectivo) e começa a estabelecer metinhas intercalares (objectivos intermédios), do tipo Km a Km, que são como pequenas vitórias, superações, que lhe vão dando o moral para chegar ao destino final. Eu penso que é isso que Rúben e os jogadores deverão fazer, desligando todo o pensamento na classificação final do campeonato e das provas a eliminar que ainda subsistem e focar toda a atenção e dirigir todos os esforços para o próximo jogo. E depois, o seguinte. Reeditando assim o slogan do "jogo-a-jogo", jogando cada partida como se fosse uma final e assim prestigiando o símbolo do leão rampante que cada um transporta na camisola. Se isto for bem feito, o efeito carambola de motivação pode até vir a trazer-nos uma agradável surpresa no final da época. E, se ainda assim não chegar, pelo menos não se perderá mais nada do que aquilo que já ficou pelo caminho. 

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02
Nov22

Tudo ao molho e fé em Deus

O Trio de Performance e a compensação pelo Matheus


Pedro Azevedo

Caro Leitor, ontem foi o dia em que se ficou a conhecer que o contrato de venda do Matheus Nunes aos Wolves afinal tinha uns pozinhos extra não divulgados à Comissão de Valores. Bem sei, geralmente os contratos têm adendas às cláusulas que prevêm que se um jogador fizer um determinado número de jogos ou atingir um certo objectivo no novo clube, então o clube de origem terá direito a uma compensação adicional. O invulgar aqui é que esse "contrato", a que só o Castigo Máximo teve acesso, indica que se o Matheus Nunes não fizer um determinado número de jogos pelo Sporting esta temporada, então o clube verá substraídos no mínimo cerca de 10 M€ (não passagem aos "oitavos"), valor que ascenderá até aos 49 M€ (estimativa face ao Proveito da Champions em 21/22) na próxima época caso não acedamos à Champions, razão pela qual, feitas aqui umas contas à pressa, a venda de Matheus Nunes (45 M€ brutos) terá rendido ao Sporting qualquer coisa como -14 M€, ou seja, ainda termos de pagar 14 M€ pela sua saída (acrescido de comissões de intermediação ao agente Mendes). Um grande negócio(€)!

 

Foi também um dia para se perceber que uma unidade de Performance é pouco. Talvez duas ainda sejam insuficientes, pelo que o melhor será não olharmos a custos e por via das dúvidas estabelecermos três, um trio. Como os trios aliás são do nosso agrado e estão na moda, seja na defesa, no ataque e na própria estrutura (Varandas, Viana, Amorim), cria-se já aqui o Trio de Performance, alinhando assim espiritualmente a mente (placebo), o corpo e a alma (que os Sportinguistas desde cedo ouviram dizer ser o segredo do negócio). Assim talvez possamos resolver o problema do inusitado número de lesões até ver nesta época, a saber: Guarda-redes: Adán; Defesas: St Juste, Coates e Neto; Laterais/Alas: Porro e Nuno Santos; Médios: Ugarte, Bragança e Morita; Interiores: Jovane: Ponta de Lança: Paulinho. Uma equipa inteira, um 3-5-2 que poderia ser adaptado ao 3-4-3 com a passagem do Daniel para interno (do hospital/enfermaria). Um Onze de Lesionados, muitos deles de uma forma crónica (cómica?). É obra! [Mas duvido que passe proximamente na Sporting TV ou em acções de propaganda (médica).]

 

Continuando nos trios, há alguns famosos que nos poderiam servir de inspiração, como por exemplo "Os 3 Mosqueteiros" de Dumas ou o Luke Skywalker, a Princesa Leia e o Han Solo da saga da Guerra das Estrelas. Temo, porém, que ainda acabemos a cantar o "Anel de Noivado" - A igreja estava toda iluminada... - d'O Trio Odemira e a lamentarmos que o nosso outrora amado (Amorim) venha a casar com outro. É que, se virmos bem, substituição por substituição nunca produziu bem algum. Principalmente após lideranças estrategicamente pensadas e instituídas (e não de transição, como as originadas pelas trocas de Rodrigues Dias por Fernando Mendes ou de Materazzi por Inácio), como aliás a actual, do Rúben (embora cinco treinadores numa época se pudessem considerar uma transição rápida, acredita-se que a coisa se circunscreve melhor no domínio da Twilight Zone, que já se sabe tinha muito suspense, fantasia e uma moral no fim), personificadas à época por Mário Lino, Malcolm Allison e Lazlo Boloni. E se após Lino "só" ficámos 6 anos sem ver o Caneco, depois do inglês e do romeno houve uma seca de 18 e 19 anos, respectivamente. Assim, mal por mal, é melhor deixar ficar como está, até porque sabemos que o "como está" já "esteve muito bem" e se calhar só precisa de descanso, momento que está a chegar com a pausa para o campeonato do mundo. 

 

O que já ninguém me tira é o stress causado pela troca do "jogo-a-jogo" pelo "já estamos a preparar a próxima época". (Seria bom que o descanso e o afastamento necessários trouxessem algo de novamente esperançoso na rentrée.) É que se os 3 meses do defeso passado originaram prematuramente a burrada que se conhece, imagine-se o parto que uma gestação de 9 meses não pode vir a produzir... E como serão utilizados esses 9 meses? Para nos reafirmarem não ser necessário um ponta de lança? Para continuarmos a procurar Minimeus ou Leprechauns no mercado? Não sei, mas eu desconfio que estes Leprechauns nos esconderam o Pote de Ouro. E, sem Pote de Ouro, não há golo, kaput! (Eintracht/Champions.)

 

Tenor "Tudo ao molho...": o Rei Arthur

 

P.S. Perdemos este jogo com um penalty ridículo e um golo sofrido de forma demasiadamente fácil. O resto foram 90 minutos de luta, com o mínimo dos mínimos de discernimento.

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01
Nov22

Sem saco para a conversa do dinheiro e com a noção do porquê do Sporting


Pedro Azevedo

Hoje não é o dia para relembrarmos o início de época menos conseguido, muito menos para antecipadamente prepararmos uma desculpa para um eventual insucesso com base no nosso histórico na Champions, hoje é, sim, o dia para nos levantarmos uma e outra vez até que os cordeiros voltem a ser leões e se cumpra o desígnio, o lema enunciado por José Alvalade: "Tão grandes como os maiores da Europa". Porque, como um certo dia afirmou um senhor que percebia alguma coisa de futebol (Cruijff), eu nunca vi um saco de dinheiro a ganhar um jogo. Então, tenhamos consciência e orgulho do nosso passado, confiança no presente e a ousadia para não falharmos o encontro com o nosso profetizado futuro. Assim, logo à noite, exibamos a nossa força, ou, como diria o imortal António Silva (the one and only, o nosso): "Aí, Leões!!!". Spoooooorting!!!

 

PS: Nós somos o clube de Peyroteo, o melhor goleador da história do futebol mundial, dos 5 Violinos, de Figo e de Ronaldo, do Livramento e do Chana, de Agostinho e do campeoníssimo Carlos Lopes. É, por conseguinte, mais do que o tempo de abandonarmos o discurso sistematicamente miserabilísta e exortarmos e procurarmos emular o melhor de quem nos serviu ao longo da nossa história gloriosa. Sim, porque o Sporting não nasceu com Varandas ou Bruno, nem  mesmo com João Rocha ou Ribeiro Ferreira (o presidente que venceu mais campeonatos de futebol), e o nosso ADN sempre foi ganhar (a Formação é uma via, um meio para a sustentabilidade, nunca o ADN do clube como tantas vezes vejo escrito erradamente por aí). E a nossa alma não é o "segredo do negócio", mas sim o segredo da perseverança dos nossos adeptos, da sua resiliência, do seu amor ao clube. Amor esse que, como qualquer amor que se preze, não é negociável, não se vende, não se hipoteca a outros valores(€). Haja noção!!!

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