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Castigo Máximo

De forma colocada, de paradinha, ou até mesmo à Panenka ou Cruijff, marcaremos aqui a actualidade leonina. Analiticamente ou com recurso ao humor, dentro ou fora da caixa, seremos SPORTING sempre.

De forma colocada, de paradinha, ou até mesmo à Panenka ou Cruijff, marcaremos aqui a actualidade leonina. Analiticamente ou com recurso ao humor, dentro ou fora da caixa, seremos SPORTING sempre.

Castigo Máximo

30
Out22

Tudo ao molho e fé em Deus

O Professor Pardal e o Lampadinha


Pedro Azevedo

Para algumas pessoas que seguem o futebol tudo se circunscreve a sorte ou a azar (ou ao árbitro). Por exemplo, jogamos com um ponta de lança que por acaso (claro!) é um extremo e por azar (obviamente!!) só tem 1,69m e não se chama Romário e queixamo-nos da falta de sorte na finalização, quando, se calhar, deveríamos pensar que se tivéssemos um ponta de lança que não fosse um extremo, não se chamasse Paulinho e tivesse 1,85m como o Rodrigo Ribeiro estaríamos mais perto de ter mais sorte nas finalizações. Mas isso sou eu que digo, que não sou treinador nem tive de passar por aqueles cursos complicadíssimos que fazem com que o senhor José Pereira dê prova da sua existência. (A ASAE deveria investigar o conteúdo desses cursos porque parece-me que o Amorim se estragou e está muito menos fresco desde que ficou com nível.) Porque esta coisa de correlacionar um ponta de lança com o golo deve estar errada desde o início. Porém, eu, que ainda sou do tempo do anúncio do Restaurador Olex - "Um preto de cabeleira loira ou um branco de carapinha não é natural" - , não me conformo e sou capaz de achar um bocadinho de invencionice as peças estarem fora do seu sítio natural, como se num Banco o Compliance andasse a fazer investimentos por conta dos clientes e a Gestão de Activos tratasse da contabilidade, ou num hospital o nefrologista operasse o coração e o estomatolista fosse para o refeitório descascar dentes de alho (olho por olho, dente por dente, se o Coates por ser alto é recomendável para ponta de lança...). Todavia, na vida encontramos sempre pessoas com um espírito revolucionário e ego suficiente para baralhar e dar de novo. Quando acertam, elevam-se a génios, se falham redondamente há sempre uma qualquer desculpa que justifique o insucesso. Simplesmente, não há desculpa que esconda a má percepção da realidade por parte de quem lidera. E a dificuldade consequente de aceitar a derrota e arrepiar caminho só cria atalhos para a invenção, com apostas cada vez mais altas e improváveis de obterem sucesso. Pensei maduramente nisso ao ver o nosso jogo em Arouca. E caro Leitor, há que dizê-lo com frontalidade: Rúben Amorim é o nosso Professor Pardal e o Rochinha ontem foi o seu Lampadinha, o protótipo de uma ideia de ponta de lança que traduz a negação da realidade.  

 

É também, realmente, um Azar dos Távoras ter no plantel um jogador irregular mas com uma obsessiva vocação para marcar golos decisivos como o Jovane. E ainda mais azar é dar-lhe uma grandíssima oportunidade e ele, em dois ou três minutos, não conseguir resolver a eliminatória da Taça com o Varzim. Lá está, o Rúben tinha razão, o cabo-verdiano é muito ansioso. Eu também, de cada vez que repetidamente o Trincão desperdiça os 90 minutos que regularmente o Rúben lhe concede. Vai daí, o Jovane continua a ver os jogos à flor da relva (banco de suplentes) e o Trincão continua a ver a relva através dos jogos (ainda se tirasse os olhos do chão...). 

 

Finalmente, no Sporting é comum que quando um treinador começa a sentir-se apertado aposte na Formação. Contudo, convém haver um critério. Por exemplo, eu até admito que o Mateus Fernandes se tenha cansado demasido devido aos 29 minutos que jogou em Londres e que o Essugo fosse mais indicado para um jogo que se antevia mais físico, mas já não entendo que na ausência de um placebo que nos dá a sensação de "wishful thinking" e custou uns módicos 16 M€ (por 70% do passe) não se convoque o tal ponta de lança proveniente da Formação que tinha servido à narrativa de que não era necessário ir ao mercado contratar alguém para marcar golos. Por isso, mais do que ansiar pela pausa do Campeonato do Mundo a fim de podermos recuperar alguns lesionados, eu suspiro por essa interrupção para que possamos recuperar o ... Rúben Amorim.

 

E agora é esperar que na terça-feira esta montanha russa de emoções continue e levemos de vencida o Frankfurt... (Caso contrário, depois da salsichada que foi este início de época, iremos ter de nos conformar com uns enlatados até ao fim.)

 

PS: Saudades de ver Palhinha a destruir tudo o que lhe aparecia pela frente e Matheus Nunes a quebrar sucessivamente as linhas do adversário. Se falharmos a Champions, não se esqueçam de debitar esse "custo" (quebra de Proveitos) aos valores dessas duas transferências.

 

Tenor "Tudo ao molho...": Pedro Porro 

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27
Out22

Tudo ao molho e fé em Deus

Nem sei o que vos Conte: Do tabuleiro de Xadrez para o ringue de Boxe


Pedro Azevedo

A propósito da apresentação do orçamento que levou à demissão da conservadora(?) Liz Truss, o The Economist congeminou uma capa onde sob o título "Welcome to Britaly" caricaturou a anterior primeira-ministra britânica, representando-a como a mítica Britânia, sim, porém com uma pizza com as cores da bandeira italiana a recriar o escudo e um garfo com esparguete a acompanhá-lo (em vez do tridente). Assim, satiricamente, ainda que recorrendo a estereótipos, a prestigiada publicação pretendeu demostrar que o orçamento despesista de Truss significava uma aculturação da Grã-Bretanha a Itália. Pensei nisto ontem à noite enquanto assistia à primeira parte do Tottenham-Sporting, ao ver Antonio Conte, ao leme de uma equipa inglesa, a especular com o jogo à maneira da melhor tradição italiana. Por isso a alvorada do encontro (antipasti) assemelhou-se a um jogo de xadrez, com as peças a serem movidas a um ritmo lento e muito pensado, como se ambas as equipas quisessem sobrepor a exploração do erro do adversário à vontade de mostrar cabalmente a sua superioridade, estratégia cuja responsabilidade maior recaiu, obviamente, sobre a equipa teoricamente mais forte, o Tottenham. Só que do lado do leão ainda sobrava um inglês não aculturado e capaz de trocar a elaborada pasta pelo pragmatismo do "fish&chips". Vai daí, fintou um e foi andando por ali abaixo sem que vivalma se lhe atravessasse pelo caminho até que se decidiu por disparar uma batata que Lloris não conseguiu deter. Tal deve ter custado muito a engolir a Conte, mas a peixeirada só viria mais tarde...

 

Até ao golo de Edwards a letargia da partida só havia sido abanada pela fúria espanhola de Porro, que ganhou a linha de fundo e centrou para o Paulinho aliviar para pontapé de baliza. (Dá sempre jeito a uma equipa ter um central que não faz cantos.) No entretanto, o Trincão abstinha-se de trincar a área, fugindo dela a sete pés de cada vez que a bola aí o conduzia. [Apesar de raramente tirar os olhos do chão, o Trincão vem equipado com o kit da última tecnologia de linha de grande área ("Penalty-Box Technology") que o adverte da sua iminente proximidade.] Só que Morita e Ugarte sobravam para as intenções inglesas e o intervalo chegou com o Sporting em vantagem, a qual poderia até ter sido mais dilatada não fora a infelicidade de o árbitro ter visto um Ronny perpetrado pelo Coates. (Foi você que pediu um Porto, perdão, João Ferreira? O melhor é só seguirmos os nossos próprios Paços, perdão, passos.)

Se durante o primeiro tempo Conte quis pôr o Tottenham a jogar à italiana, para a segunda parte conformou-se e devolveu a alma britânica à equipa. O efeito foi imediato. Assim, se primeiro houve xadrez, agora tínhamos boxe, com o Sporting remetido às cordas. A dado momento a coisa assemelhou-se ao Rumble in the Jungle, em alusão ao célebre combate disputado no antigo Zaire, em 30 de Outubro de 1974, onde Ali defrontou Foreman e passou quase todo o combate a levar pancada. Para o emular, não faltaram até as "patadas" de um argentino (Romero) que quase arrancava Paulinho pela raiz. Acontece que Ali só precisou de um soco para nocautear Foreman no oitavo assalto depois de o cansar ao fazê-lo correr permanentemente em sua direcção. O Ali ou aqui, foi o que quase ocorreu quando Nazinho teve não uma mas duas oportunidades de fazer KO aos ingleses, depois de magistrais jogadas de Arthur, um brasileiro com nome de cavaleiro britânico e a mesma utopia de uma távola redonda onde todos têm a mesma relevância e se sentam à mesma mesa. Só que a história nem sempre se repete, e na verdade tal nem seria justo porque após a saída de Nuno Santos o nosso lado esquerdo tornou-se um passe-vite por onde os ingleses foram triturando a nossa defesa. De forma que a conjugação dos provérbios "tantas vezes o cântaro vai à fonte até que parte" e "no melhor pano cai a nódoa" uniu-se e Adán negligentemente permitiu o golo do empate dos Spurs. (Já vimos isto tantas vezes na história do nosso clube que também já sabíamos de cor o que estava para vir.)

 

O golo inglês trouxe os habituais comentários entre Sportinguistas em que a Lei de Murphy é frequentemente invocada como razão das nossas maleitas. (Como podem os nossos jogadores sentirem-se confiantes no campo se os adeptos que os apoiam tremem como varas verdes ao primeiro contratempo? Não podem, na verdade, e essa é a nossa triste realidade.) E, para não variar, ao cair do pano o Citizen Kane marcou um golo e todos pensámos que já tínhamos ido de trenó para fora da Champions (ou, alternativamente, de Casio 850P na mão a calcular produtos de matrizes de modelos de regressão linear e outras cenas matemáticas que nos dariam uma ténue hipótese). Euforia em Londres, mas eis que as linhas com que se cose (coze?) o VAR detectaram uns pelos a mais no peito do avançado inglês e anularam o golo. O Conte voltou a ser italiano e foi expulso. O jogo terminou. 

 

Na última jornada tudo pode acontecer no nosso grupo, sendo que podemos ficar em primeiro ou segundo (qualificação para os oitavos da Liga dos Campeões), em terceiro (dezasseis-avos da Liga Europa) ou quarto lugar (faca na Liga), no fundo um final que é uma sinopse perfeita sobre a aleatoriedade de um clube, o nosso, do 8 e do 80, onde há anos uma linha (de VAR?) muito ténue separa o sorriso mais rasgado da lágrima mais pungente.

 

Tenor "Tudo ao molho...": Edwards. Menções honrosas para Ugarte e Coates.

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23
Out22

Tudo ao molho e fé em Deus

O triunfo do indeterminismo ontológico sobre a Lei de Murphy


Pedro Azevedo

Há momentos na vida em que parece que perdemos o controlo da situação por muito que trabalhemos para inverter o rumo das coisas. É como se houvesse uma transferência total daquilo que depende de nós para o domínio do divino e Deus nos estivesse a tentar ensinar uma qualquer lição que provavelmente só um dia na eventualidade de chegarmos à Sua presença haveremos de compreender na sua plenitude. Como não temos o telefone de Deus e não podemos esperar por respostas que só os anos nos trarão, precisamos de viver o presente pelo que resta-nos continuar a lutar. (Porquê, desconhece-se o propósito, desconfiando-se no entanto que o seu contrário não seja uma alternativa.) E porventura adicionar algo de novo, porque trabalhar muito nem sempre significa trabalhar bem e, ainda assim, "água mole em pedra dura tanto bate até que fura" (um adágio popular preenche satisfatoriamente o vazio gerado quando o indeterminismo ontológico começa a patinar e até já duvidamos da existência do livre-arbítrio). 

 

Pensei em tudo isto enquanto revia na TV a visita do Casa Pia ao nosso Estádio José Alvalade, porque confesso que as incidências do jogo em tempo real haviam-me apanhado em dois momentos distintos: entre umas migas de espargos com carne de alguidar e um copo de tinto para acamar, o primeiro tempo, e docemente desfrutando da cereja em cima do bolo (mais concretamente, da ameixa a derreter no topo da sericaia), a segunda parte. (Há muito tempo que não via um jogo do Sporting em diferido, mas o bom do Alentejo é que o tempo lá tem o seu próprio tempo de uma forma que, tal como o seu céu mais estrelado, nos permite ver melhor as coisas, mesmo aquelas que não são dos astros mas mexem com o nosso astral.) 

 

Pois é, caro Leitor, segundo incialmente ouvi e posteriormente vi com uma avidez mais própria de um São Tomé, o Sporting dominou superiormente o jogo do princípio ao fim. Mas iam sucedendo-se coisas incríveis, como o Edwards não acertar a baliza quando a um palmo do poste ou o ex-leão Ricardo Baptista emular um Sepp Maier de ébano uma mão cheia de vezes, pelo que que não surpreendeu que Alvalade voltasse a ser terreno fértil para a aplicação da Lei de Murphy: foram só duas as vezes que o Casa Pia se abeirou da nossa baliza, e se na primeira ameaçou na segunda marcou - Um a Zero para os gansos ao intervalo.

 

Para o segundo tempo o Amorim decidiu mudar alguma coisa. Não é que o Sporting estivesse a jogar mal, pelo contrário a equipa havia feito provavelmente a melhor primeira parte deste campeonato, mas, lá está, por vezes é preciso mudar alguma coisa só porque sim ou apenas porque a justiça divina caprichosamente assim o exigirá no seguimento dos apelos dos adeptos Sportinguistas terem chegado ao céu (esta premissa não se aplica obviamente a quem manda no futebol português, a quem dá jeito mudar alguma coisa para que tudo fique precisamente igual). E então entrou alguém da Formação, no caso o Chico Lamba, que até nem é titular das nossas equipas jovens. (Mas o que interessa isso quando o nosso único propósito é agradar a Deus, mudar a nossa sorte e fazê-lo mostrando um livre-arbítrio que não vá totalmente em desencontro com os misteriosos desígnios do Senhor? Nada, na verdade.) E depois avançou o Paulinho, que é o que temos de mais próximo de um ponta de lança quando o Coates está indisponível e logo empatou o jogo. (Enquanto o Rúben se deleita com os móveis, os 3 avançados móveis, os adeptos recorrem ao divã de um psicanalista, assistem aos jogos no sofá ou atracam-se terapeuticamente à escrivaninha a escrever textos do Castigo Máximo, o que também são 3 móveis) 

 

E depois? Bom, depois veio o Nuno "Coração de Leão" Santos e adiantou-nos no marcador com um remate geometricamente irrepreensível, após serviço de Porro. Não tardou até que uma das investidas com que secretamente o Messi se disfarça de Edwards redundasse em falta na área e do penalty consequente o Pedro Gonçalves encontrasse o Pote de Ouro. A noite era agora de festa, tal como o futebol sempre deveria ser, ganhando ou perdendo, e alguns "jovens" cabecilhas leoninos com os velhos pensamentos de sempre - eles estão sempre lá e isso eu respeito, mas é a tal história de trabalhar muito ou trabalhar bem, além de que continuar-se-ão a chamar a si próprios de jovens mesmo no dia em que visitem o estádio em andarilho - insistem em confundir com desordem e desrespeito pelo clube e pelas normas instituídas. [Eu sei, a rebeldia é própria dos jovens, mas é autofágica quando aplicada contra a nossa ca(u)sa.]

 

(Assim terminou um jogo em que o indeterminismo ontológico prevaleceu sobre a Lei de Murphy, com o Rúben a cumprir com a sua parte.)

 

P.S. Pensando bem, o problema do Trincão é capaz de ser o excesso de livre-arbítrio...

 

Tenor "Tudo ao molho...": Pedro Porro. Menções honrosas para Morita, que deixou o duplo-pivô e foi um "8" puro, Edwards e Nuno Santos. 

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19
Out22

As causas das coisas


Pedro Azevedo

Quando se fala do actual momento da equipa de futebol do Sporting é possível fazer uma súmula das principais críticas efectuadas por sócios e adeptos. Estas são: 1) A protecção que alegadamente Amorim dá a certos jogadores do plantel; 2) A ausência de um ponta de lança matador; 3) A falta de aposta na Formação; 4) A venda não devidamente compensada (desportivamente) de Matheus Nunes; 5) A menor qualidade dos reforços; 6) A imutabilidade do sistema táctico. 

 

A meu ver as críticas fazem sentido nos 4 primeiros pontos, são apenas em parte justificadas no ponto 5 e duvido que tenham nexo de causalidade no 6º ponto. Adicionalmente, creio haver um 7º ponto, que correlaciona com o 4º, não tão falado e que eventualmente estará a ter mais peso nos resultados e exibições que quaisquer dos outros comumente apontados por sócios e adeptos. 

 

Vou passar a explicar: é certo que a insistência em Esgaio e Paulinho parece carecer de meritocracia. O lateral/ala tem cometido arros sucessivos (Braga, Boavista, Santa Clara, Marselha cá e lá...) que na sua esmagadora maioria custaram pontos e o ponta de lança ainda só marcou 1 golo (ainda que importante, contra o Tottenham) desde o início da época. Se no caso de Esgaio tal mais realça o enigma do empréstimo do jovem Gonçalo Esteves ao Estoril (ainda mais sabendo-se do histórico de lesões musculares de Porro), no que concerne a Paulinho questiona-se a razão pela qual a ida ao mercado para buscar uma alternativa não foi equacionada. Poderia ter sido para dar oportunidades a Rodrigo Ribeiro, mas não, pelo que num e noutro caso emerge a falta de aposta na Formação: não só o jovem e promissor lateral/ala deixou o plantel como a única alternativa a Paulinho (Rodrigo Ribeiro) não tem tido possibilidade de jogar. Rúben alega que o momento não é o melhor para lançar jovens, mas sendo o momento de uma equipa uma situação imprevisível no mundo do futebol pergunta-se porque então foi entendido ser Rodrigo a única alternativa a Paulinho. É-se alternativa para nunca jogar? Claro, pode sempre invocar-se a opção pelo ataque móvel como justificação, mas no ponto 7 procurarei explicar que essa opção trouxe mais inconvenientes que vantagens à equipa do Sporting. Ainda no que respeita aos jovens, só à luz de pura propaganda se entende a aposta não continuada em Dario Essugo ocorrido na época passada. Já no que se refere a Mateus Fernandes é difícil de perceber o motivo de ainda não ter sido opção, dado o actual elenco de médios. (Uma nota: Rúben diz que o momento não é o melhor para lançar jovens, mas curiosamente a única oportunidade que concedeu a Rodrigo Ribeiro ocorreu quando o Sporting já perdia por 2 a 0, em casa, contra o Chaves.) Esta tergiversão no que respeita à Formação, bem como a insistência no mesmo ponta de lança e a protecção a jogadores "preferidos", tem tido impacto nos resultados desportivos. Mas, mais até do que nos resultados, tem tido repercussão no estado de espírito de sócios e adeptos, o que faz com que o que ontem seria impensável (haver já quem veja o treinador mais como um problema do que como uma solução) hoje esteja a ser equacionado. Do meu ponto-de-vista precipitadamente, até porque não trocaria um treinador que ainda recentemente nos deu um campeonato e mostrou consistência numa segunda época completa por outro (Abel Ferreira) que pode ter ganho duas Libertadores e vir a ser campeão brasileiro esta época mas não me dá a garantia de triunfos similares no Sporting. Além disso, se li bem o que se tem passado, o que está mais a constrangir a equipa nem é da responsabilidade directa de Rúben. Passo a explicar: para mim, a saída de Matheus Nunes, pelo que individualmente valia e pela compatibilidade com o jogo da equipa/características dos colegas, não foi devidamente colmatada e está na origem directa de um jogo ofensivamente arrastado e sem acelerações e de uma maior exposição dos nossos defesas. Não é que Morita não tenha imensa qualidade (e aqui entramos no tema dos reforços), mas embora partilhe com o luso-brasileiro a técnica apurada não tem o motor nem a presença física deste. Já o jovem grego (Alexandropoulos) tem apenas o transporte de bola em comum com Matheus, pois fica bastante aquém na capacidade técnica (passe, recepção, remate, drible), explosão no arrranque (Matheus era especialmente imprevisível quando recebia de costas para a baliza adversária, rodando com igual facilidade para a esquerda ou direita) e decisão (timing de largar a bola). St Juste é um central com técnica e velocidade, qualidades que lhe permitiriam facilmente ocupar a posição de lateral. Infelizmente, cada vez mais se assemelha a um homem de cristal (lembram-se do Jeffren?) e a gestão do seu estado físico aparenta ser pouco coerente. (Apressa-se o seu regresso para depois numa perspectiva conservadora jogar o mínimo de tempo possível e ser substituído, mas muitas vezes nem a perspectiva conservadora o salva e sai novamente lesionado.) Depois há o Edwards, que é claramente o malabarista desta equipa, um jogador com grandes recursos ofensivos mas com carências que explorarei no tal 7º ponto. O inglês destaca-se de Trincão por jogar de cabeça levantada, ter um drible mais imprevisível e uma melhor decisão. Com Edwards e Trincão na equipa, Fatawu parece redundante. E ainda chegou Arthur, que impressionou no pouco tempo que esteve em campo com o Tottenham e só voltou a jogar com o Santa Clara, desaparecendo depois. Quantos aos outros, o Marsá pode vir a fazer a diferença, o Israel nem tanto. Em resumo, não creio que globalmente os reforços sejam maus. Por exemplo, o Morita é um excelente jogador de futebol e o Edwards é um extraordinário jogador de bola (futebol de rua), a precisar de mais compromisso com a equipa e o jogo. O St Juste sem lesões será muito útil e o Marsá tem uma saída de bola que impressiona. Outros há que parecem não aquecer nem arrefecer, sendo de questionar se não haveria na Formação igual ou melhor. Já Trincão não tem justificado até agora o racional da sua contratação, seja em termos absolutos ou por via da comparação com Sarabia.   

 

A alegada imutabilidade do sistema táctico muitas críticas tem valido a Rúben Amorim. Mas aqui estou com ele. Os sócios e adeptos dizem não haver um Plano B, mas a verdade é que já vi o Sporting terminar a jogar em 3-2-5, o célebre WM (exemplo: Gil Vicente, em casa, no ano do título). Além disso, várias nuances têm vindo a ser adicionadas ao nosso tradicional 3-4-3: Paulinho chegou a jogar a partir da esquerda com Slimani no meio, a lembrar o que Mourinho fez com Derlei e McCarthy  no Porto campeão europeu; Matheus passou para a meia-esquerda e Pote ficou a jogar de perfil com Palhinha; a dado momento da época passada houve uma clara intenção de dar mais dinâmica atacante à equipa, com Amorim a preterir Palhinha em detrimento de Ugarte. Em todas essas alterações notou-se a preocupação de Amorim em melhorar a equipa e/ou torná-la menos previsível, porém nem sempre resultaram. (Ainda hoje não sei se não teríamos ganho o campeonato, se o Matheus tem continuado a jogar a partir do centro e não derivado mais para a esquerda.) De notar que com o plantel actual o 4-3-3, o 3-5-2 ou mesmo o 4-4-2 seriam sistemas ainda mais desadequados a um único ponta de lança e com as características de Paulinho. Por fim, cumpre lembrar a todos os  que gostam de mudanças de sistema operadas durante os jogos que o nosso antigo treinador, Silas, mudava de sistema como quem substitui um jogador. Com os resultados conhecidos... (E é difícil alterar um sistema à terceira jornada de um campeonato e quando se trabalhou na pré-época a contar que Matheus ficasse e ajudasse a mitigar os possíveis desequilíbrios defensivos que jogadores entretanto adquiridos com menor propensão para pressionar na frente poderiam previsivelmente causar.)

 

Analisados os principais pomos de discórdia, entro agora no tal enigmático ponto 7 que imediatamente desvendarei: defensivamente a equipa comporta-se muito pior do que em 20/21 ou 21/22 por motivos muito concretos. Senão vejamos: o Sporting de 20/21 tinha Sporar como ponta de lança. Ofensivamente falhava golos incríveis, mas defensivamente trabalhava que nem um mouro. O Sporting pressionava muito à frente, no que também Tiago Tomás era bastante útil (e o raçudo Nuno Santos, que nessa era jogava lá na frente, como interior). Depois havia Palhinha, que era um polvo e disfarçava a menor intensidade de João Mário. Este acabava quase sempre substituído por Matheus Nunes, que trazia a força que começava a faltar ao meio-campo e ainda como "plus" marcava golos decisivos como contra o Benfica, em Alvalade (onde foi titular), ou ao Braga (cá e lá). Com a substituição de Sporar por Paulinho e o gradual apagamento de TT, o Sporting começou a ser mais permável defensivamente. Tal pode ser atestado pelo maior número de golos sofridos nessa segunda volta, mas também pelo desempenho na época seguinte. Ainda assim, os números eram perfeitamente razoáveis e dignos de um sério candidato ao título. Todavia, este ano tudo mudou. Para pior. E a meu ver há uma razão para isso. Com o ataque móvel passámos a ter dois dianteiros (Edwards e Tricão) que não defendem, a que acresce um Pote menos lutador que em anos anteriores. Isso poderia ter sido mitigado havendo Palhinha e Matheus Nunes. Ambos porém foram vendidos, o que justifica o mal-estar que Amorim não se coibiu de exibir publicamente. Aliás, em defesa do treinador é preciso dizer que estava bem consciente do desequilíbrio que a saída de Matheus poderia provocar, nomeadamente quando antes da sua saída afirmou preferir manter todos os jogadores a ir ao mercado. Ora, não estando em causa a valia de Ugarte ou de Morita, nenhum deles consegue impôr tanto o corpo, esticar o jogo, desgastar os adversários e regressar á posição inicial (como se estivesse ligado à equipa por um elástico) tantas vezes num jogo como o Matheus Nunes. E se o adversário tem fôlego e encontra menos oposição, então tem a sua vida facilitada, o que é inversamente proporcional à vida da nossa defesa. Acresce que o nosso jogo ofensivo também se tornou mais pastoso após a saída de Matheus, facto aliás reconhecido pelo olho certeiro de vários Leitores deste blogue. É que o Menino do Rio tirava rapidamente a bola da zona de pressão e em duas/três passadas já ameaçava a área contrária. Morita é um belíssimo jogador, mas é mais de passe e menos de transporte, o que significa que tem dificuldade em produzir jogo atacante se não tiver referências de passe, mas Matheus estava num patamar superior. Havia melhorado muito o passe frontal e o remate à baliza (aspectos da "decisão") e conciliava agilidade com técnica irrepreensível e velocidade de condução de bola. Sem ele, hoje em dia há uma inglória sobreutilização dos flancos e dos cruzamentos para um ponta de lança com características mais eufemisticamente ditas de associativas e menos de finalização nata, o qual fica a parecer pior do que é precisamente devido ao menor fluxo de jogo interior (a lentidão no transporte de bola leva ao reposicionamento do adversário e congestão da zona central, restando as alas para tentar criar o desequilíbrio). Por isso digo que a saída de Matheus desestabilizou treinador e equipa e dou mérito ao treinador por imediatamente ter percebido a falta que o Menino do Rio viria a fazer, não esquecendo que se não fosse Rúben o Matheus provavelmente ainda andaria a bater à porta da equipa A (ideia peregrina anunciada por Silas aquando da sua passagem pelo Sporting). 

 

Olhando para todos os aspectos aqui considerados e pensando eu que a serenidade voltará à acção e ao discurso de Rúben, não tenho dúvidas de que apesar da sua quota de responsabilidade na nossa actual crise ainda é o treinador que nos dá mais garantias no presente. E para o futuro, caso retorne a interrompida aposta na Formação. Creio é que os sócios e adeptos estão fartos de assistir a este jogo de espelhos, de fontes luminosas, novas ou pereira de melo citadas por jornais, por onde Direcção e treinador vêm vendendo as suas razões. Entendam-se! (É que os jogadores também assistem a estas coisas e a autoridade de quem os lidera não se pode perder.) 

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17
Out22

Tudo ao molho e fé em Deus

A (des)culpa


Pedro Azevedo

Este fim de semana foi por mim vivido por entre paradoxos vários: ainda mal-refeito de assistir a uma abençoadíssima cerimónia de casamento católico realizada em Meca (freguesia) que se prolongou pelo Sábado adentro, acabei o Domingo a ver o nosso ponta de lança a dar razão a quem defende ser mais um armador de jogo e a assistir para golo... do adversário. No entretanto, li que o responsável pela venda do Matheus Nunes considera que não há sucesso financeiro sem sucesso desportivo, o que me deixou muito mais aliviado. E ouvi o Rúben Amorim dizer que lá para o fim do ano vamos voltar a cantar as janeiras, pré-anunciando a boa-nova da retoma da aposta na Formação (aquela que ao ler o jornal do regime eu julgava já estar a acontecer, com tantos novos "colchoneros" a aparecerem devido aos belos relvados e outra propaganda assim).

 

A minha presença na igreja não deixou de ser aproveitada para reflectir sobre a culpa, essa reminiscência da educação judaico-cristã (e da ética, para quem a pratique mais do que a apregoe) com que crescemos. Por isso, não deixei de achar curioso que na conclusão do fim-de-semana o Rúben Amorim tenha dito que a culpa não vai morrer solteira. Ora, sabendo eu que o Rúben está casado com o Sporting, vi isto como estranho, logo questionando-me sobre o regime de convenção nupcial: terá sido este de comunhão total de bens, de comunhão de adquiridos ou de separação total? É que me parece que no tal jornal do regime anda para aí uma campanha que é capaz de estar a desgastar e desenfocar um bocadinho o treinador, ao ponto de a coisa poder acabar em divórcio. 

 

Por entre o mal-estar causado após o duelo com um clube do terceiro escalão realizado em campo neutro, sobrou uma boa notícia: é que o Paulinho vai ser poupado nos jogos da Taça de Portugal até ao final da época. Entretanto, o presidente falou. E veio dar razão aos que teriam preferido que não tivesse falado. É que sempre que Frederico Varandas fala, algo acontece que imediatamente desactualiza aquilo que deixou expresso, como o facto de não ter dúvidas de irmos lutar até ao fim pela vitória em todas as competições, nós que acabámos de ser eliminados ao "primeiro round" da prova-rainha do futebol português. Por isso, Varandas fala pouco, para não ter de falar ao quadrado ou ao cubo - afinal, o Sporting é uma potência, não é verdade? - para rectificar as afirmações anteriores, o que só demonstra a sua clarividência e a da equipa que o assessoria (as pessoas podem não querer entender, mas é mesmo assim...). 

 

Dizem que o karma é tramado e lembrei-me dessa expressão aquando do golo e especialmente depois do Jovane ter entrado em campo. Principalmente aquando da marcação de um livre directo a nosso favor, nos últimos instantes da partida. Aí o Rúben Amorim levantou-se e disse, alto e a bom som: "Marca o Jovane, o Jovane...". Com a câmara a apanhá-lo nesse flagrante, foi como se a tão proclamada ansiedade do nosso patinho feio se tivesse transferido para a face do nosso treinador e este, ironia do destino, estivesse a apostar todas as fichas no nosso cabo-verdiano, uma espécie de redenção amorinesca em forma de justiça poética. Mas o Jovane não marcou, que esta coisa de arma secreta não resulta tão bem quando já não é secreta, a pólvora está ocasionalmente seca ou o tempo escasseia, e se calhar o melhor é lançá-lo mesmo de início para ver se se põe fim a este tricô-traque que implode mais do que explode com os adversários. 

 

Segundo o que ouvi no final, agora é levantar a cabeça. Espero que o Trincão também tenha ouvido... (Não sei bem porquê, mas desconfio que talvez de cabeça levantada possa observar melhor onde andam os companheiros no campo.)

 

Tenor "Tudo ao molho...": Nuno Santos

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13
Out22

Tudo ao molho e fé em Deus

Atração pelo abismo


Pedro Azevedo

A noite de ontem trouxe-me à memória um velho hábito dos mineiros que consistia em preventivamente transportarem consigo para as minas um canário numa gaiola. Se o pássaro morresse, então tal seria encarado como um sinal cabal de ar rarefeito e recomendaria que se evacuasse imediatamente o local. Na vida também há momentos em que parece que nos falta o oxigénio, mas tal deve-se muitas vezes apenas a termo-nos esquecido de respirar. Como tal, a solução afigura-se simples, só que nem sempre é assim tão fácil. Na minha modesta opinião, Rúben Amorim precisa de respirar, de ganhar afastamento dos problemas e assim mais facilmente encontrar as soluções. Nesses momentos, um bom amigo (o "canário"), um daqueles que nos dizem sempre a verdade nua e crua na cara, pode ajudar. Porque só querem o nosso bem e nos dizem muitas vezes aquilo que não queremos ouvir, o que a carapaça que erguemos como defesa não permite enxergar. Essa carapaça tem a vantagem de reforçar a nossa resistência ou resiliência e o inconveniente de obrigar a sublimar as nossas convicções de uma forma em que ocasionalmente os malfadados orgulho e ego se irão sobrepor à virtuosa auto-estima. Ora, é aí que os verdadeiros amigos nos podem ser muito úteis, porque nos querem bem e nos trazem a perspectiva de quem observa de longe, e portanto de forma não contaminada pelo "ruído", e por isso capta um espectro muito mais alargado do que quem está tão tão de perto, que vê tudo desfocado. 

 

Amorim perde-se em sucessivos erros de casting. Pior, isso cada vez mais repercute-se na deriva da sua comunicação, outrora uma das suas competências mais fortes e aglutinadoras usada com maestria para passar mensagens quer de dentro para fora quer de fora para dentro. Senão vejamos: a propósito da sucessiva insistência em Esgaio, o treinador vem falar-nos de uma massa de adeptos que tem um suposto preconceito contra jogadores provenientes do Braga. Ora, eu já ando neste mundo há tempo suficiente para saber que coisas como essa existem, simplesmente tal não reflecte o sentimento da maioria. E, se não reflecte o sentimento da maioria, não é importante, não deve ser assumido, desde logo porque, se assumido, tomará a nuvem por Juno e terá um efeito Boomerang na tal maioria de adeptos que não têm esse preconceito, logo a mensagem torna-se mais desagregadora que agregadora, ou seja, não deve ser dita ou repetida por não trazer nada de positivo para a união. O que verdadeiramente preocupa os sócios e adeptos não é os jogadores virem do Braga, mas sim o não serem suficientemente bons para o nível do Sporting ou serem demasiado caros face ao seu desempenho no campo e a nossa realidade económico/financeira (a mesma que nos é vendida como justificação para a alienação dos passes de Matheus Nunes ou Palhinha). Além disso, Rúben Amorim comete um erro básico de comunicação quando nos diz que esses jogadores são sua aposta. Porque num plantel de cerca de 25 jogadores todos devem ser sua aposta, e não apenas estes dois. O que leva à legítima interrogação da razão pela qual é tão fácil para o treinador deixar cair um Vinagre ou um Jovane e não um Esgaio ou um Paulinho. Não deveriam ser todos iguais e estar a sua menor ou maior utilização dependente dos méritos demonstrados em campo? E não mereceriam todos por igual a possibilidade de redenção, caso tivessem uma exibição menos conseguida? Porque é que um Jovane, providencial na primeira meia-época de Amorim e instrumental na conquista do seu primeiro título no Sporting (Taça da Liga) e na Supertaça, tem tão poucas oportunidades? Não está o cabo-verdiano liberado pelo departamento médico há mais de 1 semana? Então, porque razão nem para o banco vai, com Amorim simultaneamente a perorar ardilosamente sobre a sua ansiedade, enquanto o mal-recuperado Porro aí tem lugar ainda que sabendo o treinador que só pode fazer 25 minutos? Eu poderia até juntar aqui as recidivas constantes de St Juste ou de Coates e pôr em causa a gestão de esforço e a forma como certos atletas são lançados em competição após lesões, mas volto a focar-me na comunicação: não se concebe que na véspera de uma deslocação a Marselha o treinador reagite a bandeira de um Sporting Europeu para depois conceder o jogo ao fim de 30 minutos. E menos ainda se entende que após admitir, em conferência de imprensa de antevisão do jogo de retorno, que a saída prematura de Edwards em Marselha foi um erro venha um dia depois a repetir a dose. O que nos faz aqui cruzar os erros comunicacionais com os erros tácticos, o terceiro problema. Para além de o nosso jogador mais criativo estar sempre a ser sacrificado e dessa punição nada resultar de bom para a equipa (vidé dois jogos com o Marselha e o jogo com o Santa Clara), também não se entende a razão pela qual Morita saiu precocemente neste último jogo para 13 minutos depois entrar o bem menos competente e experiente Alexandropoulos, uma demonstração de que o treinador se equivocou inicialmente quando operou a primeira substituição. Resistindo sempre a alterar a linha defensiva para 4, o treinador pura e simplesmente entregou os pontos, voltando mais tarde a mexer com a recorrente e incompreensível entrada de Nazinho, como se a bandeira da tardia aposta na Formação o salvasse do disparate ululante para as massas. Nem está em causa o Nazinho, mas não foi o próprio treinador que anunciou que os jovens devem ser lançados com critério? É um bom critério lançar um jovem para a fogueira? E o que se passa com os mais promissores Mateus Fernandes, Essugo ou Rodrigo Ribeiro? Será que o Mister vai continuar a invocar (Amorim dixit) o quão difícil se tornou em dois anos entrar na equipa? Realmente, dado o "altíssimo" rendimento observado a Esgaio ou Paulinho (mas poderia também aqui falar de Pote, a quem parece faltar um banho de humildade no banco ou na bancada), os nossos jovens vão ter de nascer 100 vezes para terem uma oportunidade... (Súbita e inesperadamente, as parecenças com o Mestre da Táctica realçam-se.)

 

Amorim está numa encruzilhada, mas ainda tem o crédito do campeonato nacional que deu aos Sportinguistas. Estes são na sua maioria gratos e não esquecem quem lhes deu alegrias. Mas é importante que o nosso treinador redescubra o caminho. O seu, o nosso, o do Sporting. Por isso, dirijo-me directamente ao treinador para lhe enviar um voto de confiança e uma recomendação: reflicta, procure dialogar com os mais próximos e os que gostam de si e arrepie caminho enquanto é tempo. Ninguém o vai crucificar por erros pontuais, mas por favor não repita erros básicos reiteradamente, é preciso cabeça fria e a noção de que o todo é sempre mais importante que o nosso umbigo. O seu melhor, o melhor de Rúben Amorim foi a melhor coisa que aconteceu ao Sporting nos últimos 20 anos. Esse Rúben dava-nos o presente e o futuro. Reencontre-o dentro de si e faça-nos ( e  a si) felizes de novo. Eu acredito!

 

Tenor "Tudo ao molho...": Manuel Ugarte (um leão!!!)

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10
Out22

Matemática do título


Pedro Azevedo

À sétima jornada tínhamos um combinado de 26 pontos de atraso em relação a Benfica (11), Braga (9) e Porto (6). Duas jornadas depois, a nossa diferença para este trio diminuiu para 18 pontos, o que é um ritmo encorajador, à custa de 2 pontos ganhos ao Benfica e 6 ao Braga. Não se iluda porém o Leitor, é que a matemática encerra as suas próprias manhosidades. Neste caso, porque agregadamente podemos recuperar todos estes pontos e mais alguns e ainda assim tal não ser o suficiente para ganharmos o campeonato. Basta, por exemplo, que os pontos recuperados em relação a um ou dois dos contendores seja grande. Se o(s) outro(s) contendor(es) não ceder(em) a totalidade dos pontos que leva(m) de dianteira, o título nacional não será possível. 

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09
Out22

Tudo ao molho e fé em Deus

Elegia a Nuno Santos num dia em que Adán deu o que Adán tirou


Pedro Azevedo

Caro Leitor, eu quero reparar aqui a injustiça que tenho cometido com um jogador, iniquidade essa produto de uma mente orientada para valorizar em excesso o génio em detrimento do trabalho. Esta falha, de que me penetencio, teve na sua origem o meu conceito de equipa grande, que sempre associei a jogadores que façam a diferença. E foi aqui que errei, porque não é só a genialidade que faz a diferença, o compromisso com a equipa e a não aceitação da derrota também têm de ser características diferenciadores em quem vista a camisola verde-e-branca. Por isso, hoje venho aqui em modo de elegia a um jogador. Não, não se trata de Adán, de quem nunca duvidei das qualidades (bem como dos defeitos), que ontem foi o melhor em campo e o garante dos 3 pontos que trouxemos dos Açores. Não, o jogador de que Vos quero falar, de quem já Vos devia ter falado há muito tempo e justamente enaltecido aqui é o Nuno Santos. Mas hoje vou reparar este meu descuido. A verdade é que se estivessemos em guerra e eu alistado numa qualquer fileira em prol da lusa pátria e me entregassem uma missão quase suicidária e de baixa probabilidade de sobrevivência para a qual teria de nomear um combatente para me ajudar eu escolheria o Nuno Santos. E escolheria bem, porque sei que ele daria tudo para vencer, nunca se resignaria à sua sorte. Como pude subvalorizar isto ao longo destes últimos 2 anos e meio é que não sei, ou melhor, até sei e já o expressei em cima. Por isso é que desde cedo admirei o Matheus Nunes - até chegar ao Liverpool, um desperdício imenso de talento neste purgatório que constitui os Wolves (qualquer dúvida, recomendo visionamento de um lance ocorrido aos 20 minutos da partida de ontem em Stanford Bridge), ele que tanto nos poderia ter ajudado até ao Mercado de Inverno - e o Pote, como hoje valorizo o Edwards ou o Morita, tudo jogadores de uma classe à parte. Mas depois há o Nuno Santos, que é sólido, fiável e competente. Eu sei, pode não ter a estética de um bólide italiano, mas é seguro como um familiar alemão. Falando de teutónicos, diria até que não há um jogador tão germano como ele no futebol português desde os tempos de Maniche. Senão atente-se: ele recebe bem, passa bem (até de letra), chuta bem e tem uma mentalidade vencedora. Ok, não é inventivo nos dribles, não deslumbra no 1x1, não se perde em rodriguinhos para a bancada e para quem confunda habilidade com técnica até pode passar despercebido. Mas numa equipa onde muitos se acham melhores do que verdadeiramente o são, dá sempre jeito ter alguém que é muito melhor do que o olho mal treinado pode observar. E isso é tão válido para o Sporting como para a nossa Selecção, que talvez precise de gente pouco aburguesada e ainda com muita fome de ganhar. Porque uma equipa campeã também se faz desta massa que lhe dá consistência. Por isso, será bom não esquecer que por detrás de cada Pirlo há um Gattuso, por cada Figo ou Zidane um Makelele, por cada Ronaldo um Casemiro. E essa é tanto a essência do futebol como da própria vida.  

 

Ontem ficámos a dever a vitória a Adán, mas também a Nuno Santos. Porque apesar de o espanhol ter sido um gigante entre os postes, foi a inquietação contra a moleza ou molenguice de um jogador que nos garantiu um segundo golo providencial. Sim, foi de moleza ou molenguice que se viveu no segundo tempo, e não pode haver campeões com esse espírito. Por isso a nossa chama foi ficando cada vez mais pequenina, quase se apagando quando Morita e Edwards foram mal substituídos, valendo-nos na parte final o Bico de Bunsen do Nuno Santos, um homem que parece sempre estar preparado para uma semana de campo a dormir numa tenda, a comer ração e beber de um cantil e a rastejar em cantos lodacentos por baixo do arame farpado. E como de arame farpado vamos estar sempre rodeados, que o diga mais uma exibição para esquecer do melhor árbitro internacional não reconhecido pela FIFA para os seus certames quadrienais, o Nuno Santos altamente recomenda-se. Tenho dito.

 

Tenor "Tudo ao molho...": Antonio Adán

 

P.S. Gostei muito do St Juste (que até mostrou dotes de poder ser um bom substituto para o Porro), mas ainda anseio pelo dia em que o verei fazer os 90 minutos...

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07
Out22

Obviamente admito-o!


Pedro Azevedo

Nos Açores o titular nas balizas deverá ser o Adán. Por uma simples razão: se a narrativa oficial é a de que a prioridade é o Campeonato, então o espanhol, pese embora o desastre da sua actuação em Marselha e as limitações inerentes ao seu jogo de pés, ainda é o guarda-redes que oferece mais garantias. Logo, deve jogar de início, até porque os sinais deixados por Israel no sul de França estiveram longe de ser animadores. [Aliás, se André Paulo mereceu a confiança de ser contratado e Diego Callai está na forja para vir a ser o guarda-redes de futuro, pouco se entende, na lógica de uma gestão eficiente dos recursos humanos e financeiros, a opção de mercado por um jogador igualmente inexperiente (apesar de já ter 22 anos) e que veio tapar os que já cá estavam.]

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06
Out22

Irritações


Pedro Azevedo

Irrita-me que:

 

1) o Edwards seja sempre o primeiro avançado a sair;

 

2) durante os jogos andemos sistematicamente a trocar de centrais (posição nevrálgica);

 

3) não tenhamos alternativas de qualidade idêntica nas laterais, no meio campo e na posição de guarda-redes;

 

4) tenhamos um ponta de lança que não marca golos e não seja dada uma oportunidade decente a outro que marca (na Youth);

 

5) a equipa não seja consistente e mais solidária no campo como em 20/21 ou 21/22;

 

6) muitas vezes os laterais sejam adaptados a centrais;

 

7) Rúben Amorim cometa alguns erros absolutamente dispensáveis (todavia, para que não fiquem dúvidas sobre a minha posição, continua a ser de longe a melhor coisa que nos aconteceu nas últimas duas décadas);

 

8) a saída de Matheus Nunes ocorrida no início de um ciclo infernal de jogos não tenha sido devidamente colmatada a fim de não se alterarem as rotinas da forma de jogar dos nossos médios/equipa;

 

9) não havendo dois jogadores de valor idêntico para a mesma posição, o suplente não seja um jovem da Formação (e quando é, não é utilizado: ponta de lança);

 

10) haja vacas-sagradas no plantel (e não estamos na Índia);

 

11) não se assuma institucionalmente que nesta época a prioridade foi a área financeira e não a desportiva;

 

12) a atestar pela quantidade anormal de lesões em treinos ou jogos-treino (Bragança, Jovane, St Juste, Adán, Paulinho, Porro), não se jogue sistematicamente de forma tão intensa como aparentemente se treina.

05
Out22

Tudo ao molho e fé em Deus

A Lei da Atra(i)ção


Pedro Azevedo

A Lei da Atração enuncia que os pensamentos das pessoas, conscientes ou inconscientes, ditam a realidade das suas vidas. A actual equipa do Sporting poderia ser uma base científica para a demonstração dessa teoria. Senão vejamos: o Rúben Amorim quer que a bola saia desde trás, de forma a atrair os adversários e criar espaço mais à frente. No seu pensamento, esta experiência será recompensadora e a base de sucesso da sua equipa. Todavia, se um jogador dela duvida, tudo poderá ir pelo cano abaixo. É o caso da Adán. O espanhol tem a sua melhor qualidade na excelência das "manchas" que executa. Porém, jogar com os pés é o seu ponto fraco, a sua grande limitação. Se lhe é pedido algo que em tese seria bom para a equipa, mas que não é adequado às suas características, então o pior poderá acontecer. Ocasionalmente, em catarse, como ontem ocorreu no Vélodrome, de uma forma em que quem quis atrair acabou emboscado nessa mesma atração. No fundo, tal faz sentido com a  nossa história dos últimos 60 anos e poderia ser definido como a Lei da Atração... pelo abismo. Ontem, à beira dele, o Adán deu o passo em frente, como anteriormente o Costinha em Salzburgo, o Dani em Viena, Cintra quando despediu o Robson ou o Carlos Queiroz ao tirar o Paulo Torres no intervalo dos 3-6 em Alvalade. Poderia ter sido diferente? Sim, mas não seria a mesma coisa, ou, pelo menos, o mesmo Sporting, a mesmíssima sina. 

 

Depois, também há outras coisas que não ajudam. Como, por exemplo, existindo até já um precedente no clube, não haver um (ontem) capitão a tirar uma licença sem vencimento. O homem até poderia concorrer a uma Junta (Médica? Aos pés?), ou mesmo à Câmara (da Nazaré), dentro do campo é que, pese a sua boa-vontade, amor ao clube e indiscutível profissionalismo, actualmente constitui um passivo, tão passivo que o pré-reformado Alexis Sanchéz ao pé dele parecia ir de mota. Ora, na vida não devemos ser reféns das nossas escolhas. O que também se aplica ao Paulinho. Principalmente quando acertamos muito mais do que falhamos, o que indubitavelmente é o caso de Rúben Amorim. Por isso talvez fosse melhor reconhecer o erro de emprestar o Gonçalo Esteves ao Estoril e começar a dar minutos a sério ao miúdo Rodrigo Ribeiro (5 golos em 3 jogos na Youth League), apostar efectivamente na Formação. 

 

Também não gostei que tivéssemos desistido do jogo antes dele acabar. Foi o que me ocorreu quando vi o único jogador capaz de segurar a bola e atormentar o adversário ser sacrificado. Com a saída prematura de Edwards, a que se pode adicionar a substituição ao intervalo de Pote, o Sporting abdicou de ousar vencer. E não, ao contrário do que vou lendo por aí, o Buscapoulos não jogou nada (inúmeras perdas de bola), o Nazinho praticamente nem se viu e o Paulinho só se enxergou... no chão. Já o Marsá não me pareceu em nada inferior ao Elevador de St Juste, o qual passa mais tempo em manutenção do que em acção. E depois há um tal francês e de Israel que por acaso até é uruguaio e saiu a um cruzamento com os olhos tão fechados que parecia estar a rezar no Muro das Lamentações. Ora, para lamentações já bastam os últimos 60 anos... Por isso, levantem-se, uma e outra vez, até que os cordeiros (de Deus) voltem a ser Leões!!! [Caso contrário continuaremos a chegar atrasados (sim, não será só o autocarro) ao encontro com a nossa história.]

 

Tenor "Tudo ao molho...": Marcus Edwards

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01
Out22

Tudo ao molho e fé em Deus

A arte do Samurai


Pedro Azevedo

A bola cai perpendicularmente como que orientada por um fio-de-prumo. Espera-se um violento ressalto no solo, mas eis que encontra um pé que a aconchega como uma luva, a afaga com carícia e envolve num ninho que a protege de qualquer tipo de intrusão. Se este movimento encontra eco nas expressões de espanto na bancada, aguarde pelo que imediatamente se lhe seguirá: desse ninho provisório, a bola evade-se com um subtil toque de calcanhar por entre as pernas do predador que a cobiça - "taco" e "cano" em simultâneo - e encontra Pedro Gonçalves que lhe dá conforto e propósito e a anicha definitivamente entre as redes sob vigilância de um galo muito pouco madrugador. Já sabíamos que tínhamos entre nós o Pote de Ouro, mas ontem tivemos a epifania da existência da Galinha dos Ovos (Golos) de Ouro. Haverá melhor definição para a arte de Morita expressa em golos perante os Galos? Acreditam agora que Hidemasa é o super-herói, o Olivier Tsubasa desta manga ilustrada por Mestre Amorim? Só Vos digo o seguinte: por breves segundos tive a ideia de ver Sócrates, o filósofo da Democracia Corinthiana, e o Brasil de 82 em campo. E tudo graças a dois momentos seguidos de sortilégio protagonizados por Mr Hide, a que se poderia juntar um outro instante de génio (toque de calcanhar a pôr a bola jogável a 15 metros) que fez levantar as bancadas de Alvalade. Para além do seu golo, claro.

 

Depois de uma catarse destas que varreu o Gil do campo, é natural que o resto do jogo a pouco mais tenha obedecido do que ao cumprimento de uma mera formalidade. Ainda assim, destaque-se o inglório desperdício de inúmeras oportunidades de golo por parte dos nossos, num jogo que nos deu o vislumbre do que é um ponta de lança. Infelizmente, residiu no outro lado do campo... Quem esteve sempre do meu lado, bem juntinho a mim e animada com a arte que via a desenrolar-se no relvado, foi a minha filha mais nova, que assim fez a sua estreia em Alvalade. Um baptismo feliz, que é o que mais se pode desejar a uma criança neste longo culto de passagem de testemunho entre pai e filhos, que foi também um ritual de ligação entre a ficção technicolor dos desenhos animados do Oliver e Benji e a realidade ao vivo e a cores no solo sagrado de Alvalade (e não se notou a diferença). 

 

Tenor "Tudo ao molho...": Hidemasa Morita. Destacaram-se ainda acima da mediania os seguintes jogadores: Nuno Santos e Ugarte. De nota ainda a exibição positiva de Marsá, em estreia absoluta no Campeonato, e novos indicadores animadores de Buscapoulos, um dínamo no meio campo leonino. 

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