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Castigo Máximo

De forma colocada, de paradinha, ou até mesmo à Panenka ou Cruijff, marcaremos aqui a actualidade leonina. Analiticamente ou com recurso ao humor, dentro ou fora da caixa, seremos SPORTING sempre.

De forma colocada, de paradinha, ou até mesmo à Panenka ou Cruijff, marcaremos aqui a actualidade leonina. Analiticamente ou com recurso ao humor, dentro ou fora da caixa, seremos SPORTING sempre.

Castigo Máximo

29
Nov21

Tudo ao molho e fé em Deus

À margem do Lampionato Nacional


Pedro Azevedo

O Sporting fez mais um jogo para o seu campeonato. Por seu campeonato entenda-se um conjunto de jogos que se amontoam num determinado calendário a duas voltas onde todos os adversários se apresentam com 11 jogadores em campo. Bem sei, uma competição assim poderá ser considerada um pouco exótica para a maioria dos cidadãos deste país que torce por outro clube, mas é o que temos. Já o Benfica concorre numa prova à parte, o Lampionato Nacional. Diga-se de passagem que a coisa é bastante desigual, em forte prejuízo dos encarnados. Senão vejamos: se os doutores da bola afirmam convictamente que jogar contra 10 é mais difícil do que jogar contra 11, imaginem o que será jogar contra 9... E, depois, um a um, para aumentar ainda mais o grau de dificuldade, vão-se retirando jogadores de campo da equipa adversária até que fiquem reduzidos a 6 unidades, o que, como se sabe, torna impossível ao Benfica marcar mais golos e mostrar a sua superioridade. Tal é bastante injusto para os actuais pupilos de Jorge Jesus, mas ao mesmo tempo evoca na nossa memória colectiva as origens do futebol: haverá maior pureza do que uma competição que nos remete para as peladinhas da escola, onde havia guarda-redes avançado e tudo? Pois é, o Benfica pode estar 10 anos à frente da concorrência, mas o Lampionato é o seu contributo para o revivalismo do período da Idade da Pedra do futebol. Esbatendo diferenças e promovendo o equilíbrio, nem que para isso tenha de carregar o terrível "handicap" de começar os jogos com homens a mais em campo. Em nome da verdade desportiva, "what else"?

 

Ainda que participando numa competição diferente, o Sporting recebeu ao final de tarde de ontem o Tondela. Estranhamente, a Liga de Clubes não pugnou pelo adiamento do jogo em virtude dos tondelenses se apresentarem completos pelo que a partida realizou-se mesmo, o que com certeza não deixará de merecer parangonas pouco elogiosas nos principais periódicos internacionais. Até parece que já estou a ver um dos títulos: "Doze indomáveis patifes", estrelando os 11 beirões mais o presidente da Liga, com o Proença a fazer o personagem do Lee Marvin, mas com brilhantina e Restaurador Olex quanto baste (o futebol português, os seus "Restauradores" e os Amigos de Olex). Uma vergonha!

 

Esta coisa de ter 11 em campo complica a vida a qualquer equipa. É que há sempre homens a mais em campo, uns dispostos a tocar na bola de forma inadvertida, outros a não saber sair de cena na altura certa. Por isso vimos um tondelense isolar o Sarabia para o nosso primeiro golo e um outro a pôr em jogo o mesmo espanhol aquando do nosso segundo golo, no momento do passe de ruptura do Matheus Nunes (quão mais jogadores, maior a probabilidade de o adversário não estar em fora de jogo). O resto do jogo até foi entretido, com o antigo cérebro (Ayestaran) por detrás do Quique Flores a mostrar que sabe montar uma equipa de futebol. Mas ontem o Neto parecia ter asas e até o Murillo foi apanhar em excesso de velocidade, pelo que a coisa não passou da ameaça. Para piorar a vida aos beirões, o Paulinho marcou um golo - já não bastava aos tondelenses terem de jogar com onze, ainda levaram com um ponta de lança leonino a cumprir com o seu papel. Enfim, um "nonsense" completo... 

 

Na próxima jornada iremos à Luz. À hora que Vos escrevo ainda não sei se o jogo contará para o Campeonato, Lampionato Nacional, ou até se se disputará. É que tanto poderá cair lã dos céus a dar um toque de Natal como a convocatória da omicron alterar os planos a muita gente. Em todo o caso, a Liga deverá dizer qualquer coisa o quanto antes. Ou não, e continuar em isolamento profilático. É que há precauções higiénicas que devem tomar-se para evitar o contágio no futebol. 

 

Tenor "Tudo ao molho...": Luis Neto

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29
Nov21

O treinador mais impactante do milénio (resultado)


Pedro Azevedo

Terminada a votação dos Leitores de Castigo Máximo para apuramento de "O treinador mais impactante do milénio", os resultados foram:

 

1º José Mourinho (155 pontos)

 

2º Rúben Amorim (126 pontos)

 

3º Jorge Jesus (58 pontos)

 

4º André Villas-Boas (52 pontos)

 

5º Jaime Pacheco (48 pontos)

 

6º Bruno Lage (40 pontos)

 

José Mourinho é assim o vencedor deste inquérito, com Rúben Amorim a conseguir um auspicioso segundo lugar, ele que está ainda na primavera da sua carreira como treinador. De realçar que ambos terminaram a votação destacadíssimos dos restantes.

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28
Nov21

O dia em que o futebol morreu


Pedro Azevedo

O jogo que opôs ontem essa criatura malparida a quem se deu o nome de B SAD e o Benfica remeteu-nos para os bancos de escola e a figura patusca do guarda-redes avançado. Sem uniformidade de número de jogadores em campo, um nove contra onze que acabaria por redundar no seis contra onze que concluiria o tormento (para não dizer farsa) observado no relvado. Ontem, o futebol português morreu. E o palco escolhido para o féretro também não podia ter sido mais apropriado: o Estádio Nacional, ele também já, por outros motivos, tantas vezes apodado de Pântano do Jamor. Seguir-se-á o habitual sacudir de água do capote, desporto nacional de eleição de quem não tem um pingo de sentido de responsabilidade, vergonha e as mínimas condições de organização e liderança. Lá fora, as reações oscilam entre a estupefacção e o escárnio, algo que não deve deixar de indignar quem luta por um país melhor e quer ter orgulho da sua pátria, das suas gentes, e honrar a nossa história. Num país a sério não ficaria pedra sobre pedra no edifício a quem cabe organizar as competições profissionais de clubes e a acção da DGS seria minuciosamente escrutinada. Por cá, ficaremos à espera. Eventualmente serão criadas algumas Comissões, forma ideal de empurrar o assunto para as calendas gregas e o esquecimento. Porém, quem tem vergonha na cara e ama o futebol não poderá nunca esquecer o que ocorreu ontem, o dia em que o futebol português morreu. Mas ressuscitará, porventura, num outro dia, porque a bola, mesmo quando enlameada, não se suja. A bola. 

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26
Nov21

O treinador mais impactante do milénio


Pedro Azevedo

Hoje pergunto aos Leitores de Castigo Máximo o seguinte: quem foi, na Vossa opinião, o treinador mais impactante em Portugal neste milénio? A resposta deve levar em linha de conta as circunstâncias em que cada treinador pegou na sua respectiva equipa e as próprias idiossincrasias de cada clube, para lá da dimensão do êxito em si, obviamente. (Pedindo desde já para cada Leitor cadastrar o seu voto nos 6 treinadores por ordem decrescente, a pontuação será de 10 para o primeiro classificado, 6 para o segundo, 4 para o terceiro, 3 para o quarto, 2 para o quinto e 1 para o sexto - Segunda Feira será anunciado o vencedor.)

 

Os 6 treinadores sujeitos a votação são estes (por ordem cronológica dos seus êxitos):

 

1) Jaime Pacheco (único campeonato nacional da história do Boavista)

 

2) José Mourinho (campeão europeu e vencedor da Liga Europa pelo FC Porto)

 

3) Jorge Jesus (3 campeonatos pelo Benfica)

 

4) André Villas-Boas (vencedor da Liga Europa no FC Porto)

 

5) Bruno Lage (venceu um campeonato dado como perdido apenas cedendo 1 empate)

 

6) Rúben Amorim (herdou uma situação económico/financeira e desportiva trágica e em pouco mais de ano e meio de trabalho levou o Sporting ao tão ansiado título de campeão nacional e à qualificação para a fase a eliminar da Champions)

 

Aguardo a Vossa participação massiva!

25
Nov21

Tudo ao molho e fé em Deus

A alegria do povo


Pedro Azevedo

De Mané Garrincha se dizia ser a "Alegria do Povo". Com o estádio cheio e contra adversários difíceis, Garrincha jogava como se estivesse numa peladinha entre amigos. Nunca acusava a pressão, nem tão pouco temia o circunstancial opositor de um determinado dia. Todos para ele eram "Joões", fossem eles do Flamengo, Fluminense, Vasco, ou da Checoslováquia ou Suécia. Movia-se por puro instinto, e só isso. Todos conheciam a sua finta, mas ninguém o conseguia deter.

 

Penso em Garrincha quando olho para Pedro Gonçalves. Troco apenas o instinto e a arte da revienga de um pela inteligência e assertividade no remate do outro. Quanto ao semi-alheamento comum a ambos, o do Mané tinha mais a ver com a falta de noção enquanto o do Pedro parece propositado e visar melhor enganar o adversário. Partilham porém o facto de ambos serem "cool as a cucumber", imperturbáveis de uma forma quase arrogante, absolutamente confiantes e seguros do seu papel desequilibrador no campo. 

 

Durante meia-hora não se viu o nosso Pote de Ouro no relvado. Mas da primeira vez que se deu por ele foi golo. De uma forma prática, sem adornos desnecessários, a um só toque, sabendo encontrar o espaço ideal para melhor ferir o adversário. Como se de um duende, um leprechaun se tratasse, escondendo-se entre a vegetação (relva) para aparecer de repente, traquino e astuto. Com esse golo, Pedro Gonçalves incendiou um José Alvalade até aí inquieto, possuído pelas dúvidas. É que a forte pressão alemã a meio-campo conseguiu durante muito tempo ofuscar a entrada pressionante dos leões e chegou a temer-se o pior. Mas Coates e Inácio estiveram imperiais na defesa, Matheus e Palhinha correram muito para esbater a inferioridade numérica a meio-campo e o Sporting conseguiu aguentar-se no jogo. Até que apareceu o Pote, uma e outra vez. Da segunda vez a concluir uma brilhante jogada colectiva: Matheus Nunes avançou pela direita, Paulinho amorteceu e deixou para Matheus Reis, este visou a zona de penálti onde Matheus Nunes segurou de costas como um ponta de lança, Sarabia tocou suavemente para a entrada da área e Pote rematou colocado e com uma violência dir-se-ia impossível para um golpe desferido com a parte de dentro do seu pé direito. O Sporting ia para o intervalo com a vantagem ideal que lhe permitia a qualificação imediata para a fase seguinte da Champions. Faltavam, porém, 45 minutos para carimbar essa passagem.

 

Entrámos bem no segundo tempo e uma combinação entre Pote e Sarabia poderia ter dado o terceiro golo não fora o cansaço já evidente do espanhol. Mas acabariam por ser os alemães a cometer o hara-kiri quando Emre Can se fez expulsar por agressão a Porro. Em noite de Pedros, a importância de Porro não se ficaria por aqui, surgindo a recarregar com êxito um penálti desperdiçado por Pote e ganho por Paulinho.  Com o 3-0 e mais um homem no terreno veio uma descompressão que se poderia ter revelado fatal. O jovem Nazinho foi lançado às feras em jogo internacional, os alemães reduziram, a inexperiência nestas andanças veio ao de cima e durante alguns minutos os leões deixaram de trocar a bola com critério, pelo que a ansiedade tomou conta de todos, espectadores incluídos, até ao silvo final do árbitro. Seguiu-se a festa, bem merecida.

 

O Sporting cometeu o feito de se apurar para os oitavos-de-final da Champions, algo que não acontecia desde 2008/09 com Paulo Bento, e o grande arquitecto de tudo isto é o Rúben Amorim. Depois de um início titubeante, quem diria que à quinta jornada já estaríamos apurados? Na vida estanos sempre a aprender, e o Amorim aprende muito depressa. Sagaz, inteligente e de comunicação assertiva, corajoso no lançamento de jovens e providencial na preparação do futuro, Rúben Amorim está na sua cadeira de sonho. Ou melhor, na nossa, porque enquanto ele por cá andar estaremos sempre bem sentados. Sonhando, e dormindo descansados.

 

Tenor "Tudo ao molho...": Pote

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19
Nov21

Tudo ao molho e fé em Deus

Pote 2 na Taça


Pedro Azevedo

O Sporting sentiu muitas dificuldades em contrariar a excelente exibição dos fungos (e, bate na madeira, térmitas) ontem em Alvalade, ao ponto de Jovane ter mesmo literalmente visto o chão a fugir-lhe debaixo dos pés. Dada esta condicionante, e não desvalorizando o Rúben Amorim como extraordinário treinador que é, para vencer em nossa casa talvez fosse mais aconselhável ter no banco a Nancy Botwin (Mary-Louise Parker) do Weeds, uma renomada especialista em erva. Fica a ideia, até porque sempre se poderia aproveitar a coisa para fins medicinais que não envolvessem propriamente entorses e cirurgias aos ligamentos dos joelhos...

 

Para além dos fungos, as fobias também dominaram o jogo. Por exemplo, a fobia de Paulinho em acudir ao primeiro poste, preferindo esconder-se ao segundo na esperança de que um "alien" amigo subitamente fizesse desaparecer toda a equipa da Póvoa da face da Terra e a bola sobrasse para ele. Só que o alienígena tem andado ocupado no outro lado da Segunda Circular a fazer desaparecer membros dos orgãos sociais do Vieira e faltou à chamada, e o Paulinho voltou a ficar a zeros. Aliás, nem se viu, o que me leva a intuir que, como muitos dizem, defendeu muito bem... o relvado. 


Mas nem só de fungos e de fobias foi feito o jogo, houve também tempo para destruir alguns mitos. O de Bragança como médio defensivo, ou o de Esgaio como potencial central pela direita, neste sistema de Amorim, por exemplo. Não admira assim que Palhinha e Inácio tenham sido ausentes omnipresentes, assim como o grande capitão Coates e o fio de prumo com que orienta a linha de fora de jogo. Também o Nuno Santos agitou muito durante todo o jogo, mas para não variar a classe do Sarabia é que fez a diferença em pouco tempo. 

No fim, valeu o Pedro Gonçalves, o que não é propriamente uma novidade, que marcou dois golos em apenas trinta e dois minutos. Pondo-nos assim no sorteio dos oitavos-de-final. Ainda que lá chegando no Pote 2 (o Pote 1 não foi suficiente). 

Tenor "Tudo ao molho...": Pote 

jovanelesao2.jpg

17
Nov21

O futuro


Pedro Azevedo

O maior problema que vejo na Selecção portuguesa é a coexistência de vários jogadores que querem a bola no pé e a precariedade de futebolistas que procurem o espaço. É dos cânones do futebol, sem desmarcação não há passe. Aquilo que se oferece como básico não assiste à equipa de Portugal, não se estranhando assim que o nosso jogo se afigure como incaracterístico. Na verdade, Portugal está numa encruzilhada: não assume um jogo de transições nem opta claramente pelo ataque organizado. Se a opção fosse por estrategicamente entregar a bola ao adversário e procurar o contra-ataque, então uma equipa pressionante e com jogadores papa-léguas deveria ter Palhinha por detrás de uma dupla de médios constituída por Renato Sanches e Matheus Nunes. Podendo Bernardo Silva, ou Bruno Fernandes, ser o quarto homem do meio-campo, estabelecendo-se assim um losango. Na frente, Jota jogaria no limite da linha de fora de jogo, e Ronaldo seria o homem solto que apareceria no momento certo; mas se a ideia prevalecente fosse o ataque organizado, então o jogo posicional de Portugal exigiria quem se desse ao passe, se desmarcasse e garantisse também profundidade, um campo grande na hora de ter posse. Para isso teríamos de jogar com alas, colocando Jota na esquerda e Rafa na direita. Nessa ideia de jogo haveria 3 médios: Palhinha na contenção. Matheus ou Renato na transição, Bruno ou Bernardo na organização. Em qualquer ideia que vise o sucesso Palhinha tem de ser considerado, porque só ele actualmente garante que a nossa Selecção possa jogar 10 metros mais à frente, algo que Danilo não oferece (por defesa própria encosta-se aos centrais) e William, nesta altura da sua carreira, não faz com a intensidade necessária; alternativamente a esta última ideia, o 3-4-3 (e não o 3-5-2, por este expôr mais os laterais) poderia ser equacionado. Com Pepe, Rúben Dias e Inácio (Duarte ou Fonte) como centrais, Cancelo e Nuno Mendes (Guerreiro) dariam a profundidade nas alas. O meio campo contaria com Palhinha e Sanches ou Matheus, e a acompanhar Ronaldo poderiam aparecer dois mestres no jogo entre-linhas (Pote e Bruno Fernandes).

Parece-me portanto óbvio que Portugal neste momento ficou a meio caminho. Um meio caminho de coisa nenhuma, pai de todos os equívocos. E é sobre isso que cumpre reflectir. Quem? Esse trabalho só poderá caber ao selecionador nacional. Até porque os jogadores estarão concentrados e focados nos seus clubes e só a 21 de Março regressarão aos trabalhos d'A Equipa de Todos Nós. E uma firme ideia de jogo será um bom passo no sentido do sucesso futuro. Não se pode é pedir mais tempo para depois desperdiçá-lo ingloriamente. Isso não. Algo, por conseguinte, terá de mudar. 

PS: Sobre a análise do Portugal-Sérvia, excelente o título "A fé não calça botas", de Hugo Tavares da Silva no Tribuna Expresso (mas "A fé não calça chuteiras" seria melhor ainda). Aqui fica o meu humilde tributo ao autor. 

15
Nov21

Tudo ao molho e fé em Deus

“Primavera Marcelista” ou Revolução?


Pedro Azevedo

Portugal venceu o Euro 2016, ganhando somente um jogo nos 90 minutos. Quem viu o copo meio cheio atribuiu o título europeu à resiliência e crença de jogadores e equipa técnica, os outros creditaram-no ao animal sagrado da Índia (possível reminiscência imperialista por Goa, Damão ou Diu terem sido nossas). O que é certo é que essa conquista instaurou a ditadura dos resultados. Portugal ganhava, e pouco interessava que o seu jogo colectivo rivalizasse com o "poderoso"  Liechtenstein, sentimento que se acentuou com novo triunfo europeu, agora na Liga das Nações. E assim fomos andando, ao ponto de o endurecimento da ditadura (dos resultados) implicar que goleadas por 0-0 fossem bem aceites pela maioria. Até que chegaram os sérvios, tão criticados por históricamente não conseguirem formar uma equipa minimamente condizente com a valia individual dos seus jogadores, e mostraram que o "rei" ia nu. Seguir-se-á a "Primavera Marcelista" (em Março), na esperança de que o desanuviamento (das exibições) se alie aos resultados e o povo se alegre. Se não resultar, Abril será mês de revolução (aonde é que eu já vi isto?). 

P.S.1. É impressão minha ou, após tanto debate à volta da melhor forma de encaixar as condições climatéricas do local onde vai ser jogado o próximo campeonato do mundo no calendário, o Qatar ficou subitamente muito mais frio?  

P.S.2. Algo terá de estar substancialmente errado quando um lateral com o balanço ofensivo e a categoria de João Cancelo passa um jogo inteiro sem ultrapassar a linha do meio campo. 

P.S.3. Clubite à parte, a opção inicial por Danilo em detrimento de Palhinha (para jogar em 4-3-3 e não em 5-3-2, que mesmo mais tarde o 3-5-2 nunca apareceu em campo) parece-me muito pouco defensável. 

14
Nov21

À procura do Qatar


Pedro Azevedo

A viagem à Irlanda para pouco mais serviu do que cumprir calendário, um sem-propósito que consistiu em contrariar a lenda e visitar os leprecons sem buscar o Pote de Ouro. Até porque, sabia-se antecipadamente, o Pote já era nosso, ficara em Alcochete, e em Alcochete permanecerá à hora em que defrontarmos a Sérvia, que podendo golear-se por 0-0 não vale a pena desperdiçar trunfos com quem faz do golo uma arte ao alcance de muito poucos. Agora os papéis invertem-se, mas com uma nuance: os sérvios vêm a Portugal, sim, mas deliberadamente à procura do pote de ouro. Pelo menos a julgar pelas declarações do presidente desta república balcânica, o senhor Alexandar Vucic, que prometeu dividir 1 milhão de euros pelos seus jogadores caso estes consigam a qualificação directa para o Qatar 2022. Ainda assim, para Portugal não será o tudo ou nada, até porque o empate garantirá o passaporte rumo ao próximo campeonato do mundo. Habituados que estamos a fazer contas até ao fim, isso poderá constituir uma vantagem para nós. É que podemos não ganhar muitos certames internacionais de selecções - ainda assim, os troféus do Campeonato da Europa de 2016 e da Liga das Nações de 2019, nossas únicas conquistas no escalão sénior, terão obrigatoriamente de ser creditados a Fernando Santos - , mas nas "olímpiadas da matemática" ninguém nos segura. Que Portugal siga em frente! (Em Ronaldo "we trust", e na desinspiração do Tadic, também.)

 

P.S. Alexandre Herculano já não é sede da Federação, mas com a Selecção há sempre espaço para lendas e narrativas. Do Pote de Ouro às goleadas por 0-0, a história vai-se fazendo. Ainda assim, longe vai o tempo das vitórias morais. Eu prefiro este tempo das vitórias amorais, no relvado.

12
Nov21

Tudo ao molho e fé em Deus

Nacionalismo-santinho


Pedro Azevedo

Caro Leitor, se os adeptos do Sporting viveram com Silas um período que denominei como de marxismo-leoninismo, ontem os fãs da nossa Selecção depararam-se com o nacionalismo-santinho (saúde!), um movimento entre a democracia cristã - patente na autonomia conferida a cada jogador (ao ponto de às tantas aquilo parecer que é cada um por si) e na solidariedade (no caso) para com os concidadãos de etnia celta que se nos depararam - e uma extrema-direita onde até quem está à sua esquerda (Dalot) é um conservador empedernido (e destro). Com uma equipa sub-virada à direita, não tardou que a nau portuguesa adernasse e se expusesse às vagas de ataque irlandesas. Matheus Nunes ainda procurou fazer contra-peso à esquerda, mas o seu esforço foi totalmente em vão por falta de quem o acompanhasse: por essa altura, Ronaldo, Bruno e André Silva mantinham-se no centro e Guedes e Sem Medo a estibordo da embarcação. A esquerda, dizimada pela Geringonça, desapareceu sem deixar rasto (e lastro).

 

Com 6 jogadores à bica, Fernando Santos esteve quase a tomar um Irish Coffee (ou "coffin", que a coisa esteve mesmo para correr muito mal) com doses de cafeína e whiskey suficientes para que os seus tiques de pescoço se manifestassem da forma hilariante que se conhece. Mas nem precisou, tal a enebriante declaração final que bem poderia ter sido produzida à saída do Temple Bar. Ficámos então todos a saber que para o engenheiro ter goleado por 5-0 ou por 0-0 era igual. O que vale é que só falta mais um jogo até ao Qatar. Depois, "vão-se catar", que a prioridade por uma vez serão os clubes, afinal quem paga isto tudo (mas em terras de Leprecons e sem Pote de Ouro até não parece).

08
Nov21

Tudo ao molho e fé em Deus

Existência vs essência


Pedro Azevedo

Os jogos do Sporting são férteis em confrontos ontológicos entre leões. De um lado temos os adeptos de Sartre, que afirmam a existência preceder a essência do indivíduo. De outro, emergem os defensores de Platão, convencidos do seu contrário. Tudo acaba por resvalar para o campo da metafísica: o que é afinal a realidade? Bom, eu posso conceber que o Paulinho exista sem que a sua essência goleadora esteja definida. Ou, simplesmente, posso determinar que, sendo um ponta de lança, sem uma essência goleadora ele não exista. Aqui estou mais com Sartre, ele existe e ponto, aliás 3 pontos. E assim o Sporting ganha. Quanto à essência do Paulinho... Bom, ela ainda está por definir e pode vir a ser mutante. O não ser goleador no presente não determina em Absolut (NA: a manutenção desta dúvida obriga a uma razoável predisposição etílica disfarçada sob a forma de um pretenso neologismo inteligente) que não venha a sê-lo no futuro, e o reconhecimento dessa competência específica variará consoante a sua produtividade. Recorra-se então à epistemologia e ao método da dialética hegeliana como forma de compreensão do mundo leonino, fragmentando-a em 3 momentos: tese, antítese e síntese. No nosso exemplo, consideremos como tese a contratação de Rúben Amorim. A antítese foi o terror subsequente - técnico sem suficientes provas dadas, muito oneroso para os nossos já debilitados cofres, etc... -  , contudo a síntese disto tudo consistiu em 3 troféus ganhos (campeonato nacional incluído) e numa aposta na Formação que dá garantias em termos de sustentabilidade do projecto desportivo, ou seja, de existência. Porque existindo podemos sempre alterar a nossa essência. Ou descobrir que, afinal, a nossa essência até é relevante para um todo.  Como a do Paulinho...

 

Das essências goleadoras de Coates e Pote é que ninguém duvida. E se o uruguaio desta vez não marcou (mas assistiu para o primeiro golo), o interior facturou como sempre, com um passe à baliza, premissa de um silogismo aristotélico inspirado nas fontes de  Vidago, em que cada vez que o cântaro lá vai é golo (ou gole), logo cada passe à baliza acaba no fundo das redes. Por conseguinte, golos que deviam também contar como assistências, como passes. O que nos leva ao seguinte debate filosófico: o Pote marca como assiste, ou assiste como marca? O que precede o quê? Por falar em preceder, Porto e Sporting precedem o Benfica na classificação geral, cumprido que está um terço do campeonato. Mesmo sabendo que a classificação final são contas de outro rosário (que aliás é composto por três terços), para já a nossa existência (em primeiro) sobrepõe-se à essência (de JJ). Por muito que a goleada ao Braga tenha eventualmente contribuído para uma relação platónica deste com os benfiquistas. Bom, mas agora vêm aí as selecções, um tempo para pôr de lado a filosofia e ir buscar o terço. Acreditando que Deus dita a nossa essência, claro. O Sartre que me desculpe, é a fé. E o Fernando Santos convoca-a. Ai se convoca...(À fé, não ao Pote.)

 

Tenor "Tudo ao molho...": Matheus Reis

paulinho7.jpg

04
Nov21

Tudo ao molho e fé em Deus

Teatro de Todos os Sonhos


Pedro Azevedo

"Chamem a Polícia" - cantavam os Trabalhadores do Comércio, uma banda onde chegaram a coexistir dois maduros com pinta de diletantes e um puto de 7 anos (não se sabe se com contrato de formação ou mera exploração infantil), uma mescla altamente improvável mas que produziu bons resultados (se ignorarmos que os requintados versos de "Ou estas quietinho, ou levas no focinho" parecem ter sido escritos pela criança enquanto fazia os trabalhos de casa de Estudo do Meio sob a tutoria dos dois marmanjos). Lembrei-me dessa música porque ontem o Sporting requisitou os serviços da PSP (Pote, Sarabia e Paulinho) e deu-se muito bem com isso. Adicionalmente, apresentou alguns jovens jogadores oriundos da sua Formação (Inácio, Palhinha, Matheus Nunes, Jovane, Rúben Vinagre, Esgaio e Daniel Bragança), que mesclados com alguns trintões (Adán, Coates e Feddal) igualmente produziram muito bons resultados. 

 

Old Trafford recebeu um dia de Bobby Charlton o feliz apodo de "Teatro dos Sonhos". Charlton, que está imortalizado conjuntamente com Best e Law (holy trinity/santíssima trindade) numa estátua colocada à entrada do mítico estádio do Manchester United, não terá boas recordações do Estádio José de Alvalade pois aí teve de vergar-se (5-0!) aos pés de Osvaldo Silva & Cia na caminhada triunfante dos leões rumo à final de Antuérpia e consequente conquista da Taça dos Vencedores das Taças. Cito Charlton porque ontem Alvalade foi o Teatro dos Sonhos, diria até de Todos os Sonhos, na medida em que não só a nossa exibição fez sonhar os adeptos como a derrota do Dortmund em casa com o Ajax abriu as portas a todas as ilusões de passagem do Sporting à fase a eliminar da Champions. Nada mau para um clube que há apenas 2 anos tinha uma imensidão de trabalhadores, perdão, inválidos do comércio ao seu serviço...

 

Com Rúben Amorim como encenador e Sarabia como assistente para todo o serviço, Pote voltou a ser o protagonista do Teatro dos Sonhos e Paulinho destacou-se mais uma vez nas acções longe da boca de cena. Matheus Nunes continua a crescer como actor - a sua viragem súbita já mereceu direitos de autor - e o outro Matheus, o Reis, tem-se revelado uma boa surpresa. Coates desta vez levou com um guião que o obrigou a uma inusitada contenção. No fim, o público aplaudiu esfusiantemente. Tempo então de chegar a casa, "Time to sleep, per chance to dream" (Shakespeare). Ou, como diria o Torres, "Deixem-me sonhar". Deu-se bem...

Tony award (já que falamos de teatro...) "Tudo ao molho...": Pedro Gonçalves

PGoncalves65.jpg

03
Nov21

Oktoberfest em Novembro


Pedro Azevedo

- O Maite era bom para jogar na Austrália: "Hi Meite (mate), Bye Meite" (à medida que os adversários o iam ultrapassando). 
- O Grimaldo ficou em estado de coma(n). 
- Jesus, "factualmente", preferiu sacrificar os cordeiros, e assumiu-o.
- O Pizzi deve ser o mais requisitado após os jantares do plantel do Benfica: nunca será apanhado em excesso de velocidade. 

01
Nov21

Máquina de sonhos e de alguns pesadelos


Pedro Azevedo

Fernando Mamede perfaz hoje 70 anos. Atleta com condições físicas ímpares, pecou sempre pela impreparação psicológica nas grandes competições internacionais. Ainda assim, ninguém esquece aquele dia em Estocolmo. Na cidade sueca onde um dia morreu a "razão" (Descartes), renasceu a emoção de ser português. Graças e ele, Mamede, Fernando Mamede, recordista do mundo dos 10000 metros. Uma máquina(!), e um dos melhores atletas que um dia vestiram a camisola do nosso Sporting. Imaginem o que poderia ter sido se a mente tem sempre acompanhado o corpo...

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