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Castigo Máximo

De forma colocada, de paradinha, ou até mesmo à Panenka ou Cruijff, marcaremos aqui a actualidade leonina. Analiticamente ou com recurso ao humor, dentro ou fora da caixa, seremos SPORTING sempre.

De forma colocada, de paradinha, ou até mesmo à Panenka ou Cruijff, marcaremos aqui a actualidade leonina. Analiticamente ou com recurso ao humor, dentro ou fora da caixa, seremos SPORTING sempre.

Castigo Máximo

31
Jan21

O melhor do futebol


Pedro Azevedo

Foram 75 segundos ininterruptos de posse, 69 toques na bola, 33 passes e 10 jogadores envolvidos: assim aconteceu o terceiro golo do Liverpool, em Londres, contra o West Ham. Isto, sim, é o melhor que o futebol tem, nunca será suficiente relembrá-lo. (Ou como Klopp, conhecido pelo "Gengenpressen" e ataque rápido, mostra que também sabe o que é o Tiki-Taka.)

 

P.S. Já agora, os dois golos de Salah foram de classe pura.

(Vídeo extraído de imagens originais da SportTV)

31
Jan21

Ranking GAP


Pedro Azevedo

Nesta temporada de 2020/2021, o Sporting disputou até agora 23 jogos - 15 para o Campeonato Nacional, 2 para a Liga Europa, 3 para a Taça de Portugal e 3 para a Taça da Liga -, obtendo 18 vitórias (78,3%), 3 empates (13,0%) e 2 derrotas (8,7%), com 50 golos marcados (média de 2,17 golos/jogo) e 17 golos sofridos (0,74 golos/jogo).

 

 

Individualmente, Rúben Amorim entrou directamente para o Top 5 da exclusiva lista de treinadores do Sporting com maior percentagem de vitórias. Numa altura em que acabou de completar 34 jogos pelo clube em diversas competições, o equivalente a um campeonato nacional, Rúben destronou o histórico Randolph Galloway (três títulos consecutivos de campeão) com um registo de 70,6% de vitórias (24 em 34) em todos os jogos (o inglês deixou uma marca de 70,5% de triunfos), passando a figurar em 5º lugar nessa lista. O líder continua a ser o também inglês Robert Kelly (79,2%), seguido por Cândido de Oliveira (75,3%), pelos húngaros Alexander Peics (73, 1%) e József Szabó (72, 2%) e agora também por Amorim.

 

A nível individual, eis os resultados (estatísticas ofensivas):

 

1) Ranking GAP (medalheiro): Pedro Gonçalves (12,3,3), N. Santos (6,9,0), Jovane (6,2,0);

2) MVP: Pedro Gonçalves (45 pontos), Nuno Santos (36), Jovane e TT (22); 

3) Influência: Pedro Gonçalves (18 contribuições), N. Santos (15), Sporar (11);

4) Goleador: Pedro Gonçalves (12 golos), Jovane e N. Santos (6);

5) Assistências: Nuno Santos (9), Pote (3), Tabata, Porro, Vietto, Feddal, M. Nunes, J. Mário, Jovane, TT, Plata e Nuno Mendes (2).

 

Fazendo uma análise por sectores em termos de pontos MVP (golo=3; assistência=2; participação=1), teremos:

 

Pontas de Lança (total=55): TT (22), Sporar (20), Vietto (7), Pedro Marques (6)

(nota: TT também jogou como interior)

 

Interiores (total=115): Pote (45), Nuno Santos (36), Jovane (22), Tabata (12)

(nota: Jovane também jogou como ponta de lança)

 

Médios Centro (total=20): João Mário e Matheus Nunes (7), Palhinha e Bragança (3)

 

Laterais/Alas (total=33): Porro (19), Nuno Mendes (10), Plata (4)

 

Centrais (total=21): Coates (11), Feddal e Gonçalo Inácio (5)

 

Guarda-redes (total=2): Adán (2)

 

Conclusões:

  • A posição de Interior contribui em acções de golo mais do dobro da posição de Ponta de Lança;
  • A posição de Médio Centro tem menos preponderância nos nossos golos que todas as outras (excepto a de guarda-redes), o que pode indicar que RA vê-os mais como um factor de equilíbrio defensivo, sendo os desequilíbrios ofensivos mormente produto da circulação em "U";
  • Porro tem números ofensivos muito próximos dos pontas de lança TT e Sporar;
  • Ordem de importância no golo: Interiores, Ponta de Lança, Laterais/alas, Centrais, Médios Centro, Guarda-redes;
  • Um total de 19 jogadores já contribuiu para os golos leoninos. Dos utilizados, Max, Neto, Quaresma, Borja e Antunes ainda não tiveram preponderância nos golos marcados. 

 

 

Ranking GAP (Golos, Assistências, Participação decisiva em golo):

ranking gap 310121.png

30
Jan21

Não querer chocar de frente com a realidade


Pedro Azevedo

Diz-se por aí que Fábio Veríssimo alegou que os jogadores em disputa estavam de costas para si como justificação para o erro que o levou a mostrar o cartão amarelo a João Palhinha. Ora, sabendo-se que Veríssimo escreveu no relatório de jogo que avaliou a jogada em toda a sua extensão (significando não ter outros jogadores pela frente que lhe perturbassem a visibilidade), a pergunta que fica é por que não consultou o árbitro auxiliar, esse sim de frente para o lance (ângulo oposto ao seu, idêntico ao das imagens televisivas que após visionamento lhe permitiram alegadamente concluir não ter sido o ataque prometedor). Talvez porque, mal se apercebeu de que o jogador do Boavista caíra ao chão, logo tratou de meter o apito à boca e sacar o cartão do bolso, notando-se pelas imagens televisivas que, nesse transe ou afã, nem tempo teve para pedir a opinião do seu fiscal-de-linha que havia tido uma visão privilegiada da jogada. Se tiverem dúvidas, analisem as imagens e verão. Assim sendo, não vou alinhar em manobras de branqueamento de imagem sobre o actual estado da arbitragem em Portugal: há um culpado de Palhinha não poder defrontar o Benfica, e esse culpado chama-se Fábio Veríssimo. 

fábio veríssimo.jpg

27
Jan21

Tudo ao molho e fé em Deus

O Gozão de Higgs


Pedro Azevedo

Ontem, no Bessa, confirmou-se que este Sporting é muito forte na transição. Tão, tão forte que, tendo entrado no campeonato como "underdog", chegou ao tabuleiro axadrezado com indícios de cão-peão, uma importante evolução na cadeia alimentar. Ainda assim, não suficiente para se ver livre do bispo, que mexe-se de forma enviesada. E, se o cão late, o bispo ladra, o peão, que anda a direito, acaba sempre por ser comido. 

 

O que sofre um Sportinguista não vem descrito na Bíblia. E depois ainda há o Sporar, suspeito de causar taquicardias a um monge tibetano. Por isso a melhor estratégia é fazermos como o Professor Cavaco e nunca assumirmos nada: ah e tal, vamos só ali à Figueira fazer a rodagem, e quando derem por nós estamos a sair de lá entronizados. Tal nunca foi possível com Jesus, que é sabido ter amaldiçoado a figueira (Mateus 21: 18-22), mas pode ser que aconteça com o Rúben. Até aposto que ele anda a ler a biografia de Aníbal e tudo. Se eu estiver certo, a sua rodagem será o "jogo a jogo". E, se no fim vencer, será menino para deixar de "trombas" o Conceição. Seria do car(t)ago! Quanto a JJ, ficaria com o triplo da azia.

 

Para tentar contrariar o 3-4-2-1 do Sporting, o Boavista dispôs-se num 5-3-2. A ideia de Jesualdo Ferreira era povoar o mais possível a defesa, precavendo a entrada desde trás dos interiores leoninos, não deixando porém de ter vantagem numérica no miolo do terreno. Só que Matheus e João Mário foram variando inteligentemente o centro do jogo e a postura defensiva dos do Bessa convidou Nuno Mendes e Porro a montarem um acampamento à entrada da área do Boavista. Não surpreendeu assim que, após um curto período de estudo mútuo, o Sporting desatasse a criar oportunidades de golo. E até marcou à primeira (Nuno Santos), embora depois tenha tido oportunidades de primeira que esbanjou por Sporar, Jovane e João Mário. Atrás a coisa esteve tranquila, tendo o lance mais perigoso criado pelos boavisteiros pertencido a Neto, jogador que continua a mostrar que faz bom balneário tanto fora como dentro do campo, desta vez altruisticamente permitindo a um enregelado Adán brilhar.  

 

O segundo tempo começou na mesma tónica. O Matheus roubou uma bola e com uma chicuelina tirou dois do caminho. De seguida, tocou no Nuno Mendes, que deu mais à frente no Nuno Santos. Bola para um lado, jogador a fugir pelo outro, num jeito nada católico para um axadrezado, o Santos apareceu solto na grande área. E deu de bandeja ao Sporar. O que a aconteceu a seguir é difícil de explicar, pese embora tenha vindo a ser objecto de estudo pormenorizado do "Tudo ao molho...", recorrendo-se à ciência - Princípio da Impenetrabilidade da Matéria - , ou até ao sobenatural - holograma de um ponta de lança morto como goleador - para o tentar compreender, continuando a ser um mistério a forma como a bola insiste em perpassar o esloveno como se do vazio se tratasse. Quer dizer, de vazio somos nós cientificamente quase 100% feitos, mas depois há um campo magnético que liberta uma partícula (dita "de Deus") que faz com que o nosso corpo se adere como uma tela esponjosa e ganhe uma massa. Ora, aparentemente, se o nosso corpo sim, o do Sporar não. O que faz com que o Sporar tenha sido a melhor contratação de sempre do Sporting, na medida do que o seu descobrimento significou para a ciência: é que o esloveno desafia a Teoria do Bosão de Higgs. Mais, diria até que Sporar é o Gozão de Higgs...

 

O jogo ia para o fim e esta coisa da vantagem mínima cria sempre alguma tremideira. Noutras épocas, esta esmerada arte de perdoar pagar-se-ia com língua de palmo, mas este Sporting de Rúben Amorim a tudo parece resistir. Vai daí, o Rúben quis dar mais solidez à equipa. Primeiro entrou o Bragança, depois o Palhinha e o TT. Com isto, o João Mário e o Matheus passaram de médios centro para interiores, procurando resguardar mais a equipa. Até que o Porro apanhou uma ressaca (de bola), tomou consciência da sua recepção e orientou-a para o nosso bem comum, transferindo assim as dores de cabeça que já se faziam sentir na sua e nas nossas cabeças. Ficava sentenciado aí o jogo. Depois, a coisa até deu para o Matheus dar dois ou três metros de avanço a um trio de boavisteiros e ainda ir apanhar a bola à frente mesmo que um deles estivesse fresquinho por acabado de entrar, que o xeque-mate no tabuleiro axadrezado já estava consumado.

 

Tenor "Tudo ao molho...": Hesitei muito na hora de atribuição desta menção. Na verdade, à hora que escrevo ainda estou hesitante, mas se calhar são nervos. Não será assim uma escolha totalmente convicta. Pela primeira parte a menção assentaria bem a Nuno Mendes (de referir que, na segunda parte, salvou um golo certo com um subtil desvio de cabeça). Nuno Santos não esteve assim tanto em jogo, mas fez um golo e quase uma assistência, também poderia ser uma opção. O Porro marcou um golo do outro mundo e fez a minha pulsação voltar a um semi-normal, poderia perfeitamente ser o escolhido. Contudo, acabei por optar pelo Matheus Nunes, que fez um jogo enorme em que alardeou técnica, leitura táctica e disponibilidade física. Assim, até porque tem habitualmente menos visibilidade que os restantes, escolhi-o para Melhor em Campo. 

 

P.S.1: Inacreditável o cartão amarelo a Palhinha que em princípio o retira do derby. Até a hipótese de falta seria difícil de promover, quanto mais a acção disciplinar.

P.S.2: Os meus sentimentos às famílias e amigos de Jozef Venglos (ex-treinador do Sporting) e de John Mortimore (ex-treinador do Benfica), antigos treinadores que faleceram ontem. O mínimo que se pode dizer é que nunca fizeram mal ao futebol. Venglos foi muito conceituado no futebol europeu e devidamente apreciado pela FIFA, Mortimore ganhou títulos em Portugal. RIP!

P.S.3: Após uma nota triste, uma nota alegre: Rúben Amorim completa hoje 36 anos. Parabéns, Mister! 

veríssimo.jpg

26
Jan21

Ranking GAP


Pedro Azevedo

Nesta temporada de 2020/2021, o Sporting disputou até agora 22 jogos - 14 para o Campeonato Nacional, 2 para a Liga Europa, 3 para a Taça de Portugal e 3 para a Taça da Liga -, obtendo 17 vitórias (77,3%), 3 empates (13,6%) e 2 derrotas (9,1%), com 48 golos marcados (média de 2,18 golos/jogo) e 17 golos sofridos (0,77 golos/jogo).

 

A nível individual, eis os resultados (estatísticas ofensivas):

 

1) Ranking GAP (medalheiro): Pedro Gonçalves (12,3,3), Jovane (6,2,0), N. Santos (5,9,0);

2) MVP: Pedro Gonçalves (45 pontos), Nuno Santos (33), Jovane e TT (22); 

3) Influência: Pedro Gonçalves (18 contribuições), N. Santos (14), Sporar (11);

4) Goleador: Pedro Gonçalves (12 golos), Jovane (6), TT e Nuno Santos (5);

5) Assistências: Nuno Santos (9), Pote (3), Tabata, Porro, Vietto, Feddal, M. Nunes, J. Mário, Jovane, TT e Plata (2).

 

Fazendo uma análise por sectores em termos de pontos MVP (golo=3; assistência=2; participação=1), teremos:

 

Pontas de Lança (total=55): TT (22), Sporar (20), Vietto (7), Pedro Marques (6)

(nota: TT também jogou como interior)

 

Interiores (total=112): Pote (45), Nuno Santos (33), Jovane (22), Tabata (12)

(nota: Jovane também jogou como ponta de lança)

 

Médios Centro (total=20): João Mário e Matheus Nunes (7), Palhinha e Bragança (3)

 

Laterais/Alas (total=28): Porro (16), Nuno Mendes (8), Plata (4)

 

Centrais (total=21): Coates (11), Feddal e Gonçalo Inácio (5)

 

Guarda-redes (total=2): Adán (2)

 

Conclusões:

  • A posição de Interior contribui em acções de golo mais do dobro da posição de Ponta de Lança;
  • A posição de Médio Centro tem menos preponderância nos nossos golos que todas as outras (excepto a de guarda-redes), o que pode indicar que RA vê-os mais como um factor de equilíbrio defensivo, sendo os desequilíbrios ofensivos mormente produto da circulação em "U";
  • Ordem de importância no golo: Interiores, Ponta de Lança, Laterais/alas, Centrais, Médios Centro, Guarda-redes;
  • Um total de 19 jogadores já contribuiu para os golos leoninos. Dos utilizados, Max, Neto, Quaresma, Borja e Antunes ainda não tiveram preponderância nos golos marcados. 

 

 

Ranking GAP (Golos, Assistências, Participação decisiva em golo):

ranking gap 260121.png

26
Jan21

"Prozhaka"


Pedro Azevedo

Depois de mais uma depressão motivada por uma nova eliminação na Taça da Liga, competição que para os portistas evoluiu do desprezo total para a busca do Santo Graal, os pupilos de Sérgio Conceição pareceram encontrar algum conforto naquela rodinha que fizeram no fim do jogo. Ontem, perante um São Luis que mais parecia São Martinho, a coisa foi antecedida por castanha ao Loum e tudo. Depois, lá repetiram o seu "haka" à posteriori, que isto no Hemisfério Norte é tudo ao contrário do Sul. 

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25
Jan21

And now for something completely different...


Pedro Azevedo

Tom Brady, o popular quarterback que esta época surpreendentemente trocou os New England Patriots pelos Tampa Bay Buccaneers, irá disputar o seu décimo Superbowl. Aos 43 anos, já 6 vezes campeão da NFL e 4 vezes MVP da final, Brady parece não ter limites. Na final, os Buccaneers enfrentarão os Kansas City Chiefs, campeões em título e favoritos à partida. Todavia, o jogo decisivo terá Tampa Bay como palco, o que poderá nivelar mais um pouco as coisas. Quem gosta de Futebol Americano sabe que não pode perder este jogo. Se for o seu caso, agende já a noite de 7 de Fevereiro. 

tom brady.jpg

25
Jan21

Heróis na Sombra

Rob Rensenbrink, o Homem Serpente


Pedro Azevedo

Quando se fala nos grandes jogadores da década de 70 é comum mencionar-se Beckenbauer, Muller ou Cruijff. Há porém pelo menos um outro que mereceria idêntico reconhecimento. Falo-vos de Rob Rensenbrink, um esquerdino que era simultaneamente um mago do drible, um goleador e ainda possuía uma visão de jogo incomum que lhe permitia recuar e actuar como médio com o mesma eficácia. Durante anos na sombra de Cruijff, Rensenbrink nunca teve o destaque que a sua imensa categoria mereceria. Produto de um pequeno clube de Amesterdão, o DWS, cedo emigrou para a Bélgica, aí actuando primeiro no Club Brugge (dois anos) e depois no Anderlecht (1971-80). E foi no clube da capital belga (Bruxelas) que mais viria a brilhar, com duas Taça das Taças e duas Supertaça Europeia conquistadas. Mais extraordinário ainda, Rensenbrink contribuiu com golos e/ou assistências em cada uma dessas finais: contra o West Ham (1976) marcou dois golos e fez uma assistência na vitória belga sobre os ingleses por 4-2; face ao Áustria de Viena (1978), fez abanar as redes duas vezes no triunfo do Anderlecht por 4-0 que permitiu aos belgas arrecadarem a sua segunda Taça das Taças; na Supertaça de 76, disputada a duas mãos, destruiu o Bayern de Munique (campeão europeu), de Maier, Beckenbauer, Rummenigge e Muller, no segundo jogo (4-1, 5-3 no agregado), com dois golos e duas assistências; finalmente, em 78, voltou a conquistar a Supertaça, com um golo e uma assistência na vitória (3-1) sobre o colosso Liverpool (3-1, 4-3 no agregado).

 

Com uma carreira quase desconhecida na Holanda, pensou-se que Rensenbrink não teria grandes hipóteses de actuar no Mundial de 74. Até porque a Laranja Mecânica, superiormente conduzida por Rinus Michels, tinha o seu núcleo duro formado por jogadores dos dois grandes clubes holandeses da época: Feijenoord (campeão europeu em 70) e Ajax (tri-campeão europeu entre 71 e 73). Além disso, o seu estilo de vagabundear pelo terreno colidia com o de Cruijff, a estrela da selecção do país das túlipas ("Oranje"). Ainda assim, Michels, impressionado com a sua qualidade, deu-lhe a titularidade. Para isso, engenhosamente encostou-o sobre a esquerda, o que viria a custar o lugar a Piet Keizer (tio de Marcel Keizer), até aí titularíssimo. Keizer não aceitou bem a situação e chegou a tomar-se de razões com Michels, mas a verdade é que Rensenbrink apenas falhou um jogo, despedindo-se desse mundial com um golo marcado (Alemanha Oriental, RDA) e o amargo de uma dura derrota na final contra um país anfitrião (Alemanha Ocidental, RFA) com quem os holandeses mantinham ainda alguma animosidade devido à II Guerra Mundial (van Hanegem, um dos craques da selecção, era um dos mais ressentidos, pois havia perdido o pai, a irmã e dois irmãos durante o conflito). Ainda sob a batuta de Cruijff, Rensenbrink disputou o Euro de 1976, competição em que os holandeses terminaram em 3º lugar (a Checoslováquia, com o célebre golo de Panenka, sagrou-se campeã). Porém, em 78, Rensenbrink conseguiu finalmente libertar-se da sombra de Cruijff, alargando assim a sua influência no jogo através de uma posição mais central no terreno. El Flaco recusara-se a ir à Argentina e Rensenbrink passou a ser o novo maestro da Oranje, agora treinada pelo austríaco Ernst Happel, uma velha raposa do futebol mundial. E não desiludiu. Com 5 golos marcados e 3 assistências na competição, esteve a uma unha-negra de simultaneamente ser coroado campeão do mundo, melhor jogador e melhor marcador da competição. Tal acabaria por esbarrar no poste da baliza defendida pelo argentino Fillol, no último minuto do tempo regulamentar de um jogo que, terminando empatado, foi para prolongamento. Os argentinos venceriam (3-1) e sagrar-se-iam campeões e Rensenbrink nunca viria a ter um reconhecimento à altura do seu imenso talento. Ainda assim, a nível individual foi eleito Bola de Prata (76) e Bola de Bronze (78) pela France Football e integrou o "All Star Team" dos mundiais de 74 e 78, honra pequena para este canhoto que colava a bola no seu pé esquerdo e partia a serpentear por entre quem ousasse lhe fazer frente.

 

Rensenbrink, um dos mais completos jogadores da gloriosa história do futebol mundial! 

24
Jan21

Tudo ao molho e fé em Deus

Campeões de Inverno


Pedro Azevedo

Bem sei, estamos em tempo de pandemia. Ainda assim, estes dois jogos em Leiria fizeram-me lembrar um outro tempo, aquele em que uma visita do Sporting à Cidade do Liz servia também para ir com os amigos "matar o bicho" ao Tromba Rija, o que por si só pressupunha que esse bicho, embora não contagioso, ocupasse para aí umas quatro assoalhadas do intestino delgado de cada um de nós. Por vezes a coisa até acabava em azia, sem que tal se devesse propriamente ao epicurismo treinado à mesa. Como naquela ocasião (2000) em que no último minuto o Schmeichel pôs banha a mais nas luvas, a bola escorregou-lhe e saímos do antigo Municipal a lamentar a (má) sorte e a pensar (erradamente) que ainda não seria dessa vez que o Sporting interromperia o seu hiato de títulos no campeonato nacional.

Nada disto viria a acontecer ontem. 

 

Gostei muito do jogo e do comportamento das duas equipas. Num campo com um lago no meio, Sporting e Braga bateram-se galhardamente. Havendo um lago, armei-me em Julius Reisinger, e qual coreógrafo da bola pensei logo em cisnes e no Jovane a bailar sobre os defesas como chave para desbloquear o jogo. O Tiago Martins é que não me pareceu sincronizado com a melodia do Tchaikovsky, nomeadamente quando a meio do primeira parte achou por bem mostrar um amarelo ao Jovane depois de este ter sofrido um toque por trás do Castro e um pisão do Horta, coisa que uns senhores da SportTV validaram enquanto faziam de conta que todo o seu auditório tinha fechado os olhos nesse preciso instante. Pondo-nos a duvidar do que os nossos próprios olhos viam, não fosse vir-nos à memória o velho adágio de que pior cego é quem não quer ver. [Tanto assim é que no fim do jogo ainda tiveram o topete de sugerir demoradamente que o Jovane deveria ter sido admoestado com o segundo(!) amarelo quando à meia-hora se tentou interpor entre o Matheus, um defesa braguista e a bola e tocou ligeiramente no guarda-redes.]

 

Na sequência deste último lance, o Carvalhal e o Amorim foram expulsos, um daqueles insólitos à portuguesa que ocorrem quando o árbitro quer tomar o protagonismo a jogadores e treinadores e, qual pavão, abre o leque (dos disparates). Não me impressionei por aí além, afinal desde pequeno que lido com coisas destas no Jardim da Estrela enquanto alternativa a dar milho aos pombos. Logo de seguida, uma nova rábula: Tiago Tomás disputava a bola ombro-a-ombro com Fransérgio quando levou uma cotovelada que o atingiu na face e o deixou a sangrar nessa zona, obrigando-o a ser assistido fora do campo. Perante o cenário que se lhe deparava, com aquela altivez típica dos ignorantes, Tiago Martins apitou falta contra o Sporting, involuntariamente fazendo de TT o trouxa que enfiou a touca (literal e metaforicamente). Azar do nosso jovem jogador, que por essa altura já tinha desenvolvido guelras, tantas foram as vezes que Sequeira, à margem das leis, o fez mergulhar no lago. Tudo sem que o árbitro visse razão plausível para amarelo, claro, que o miúdo ainda respirava e por isso mantinha boa cor. Estávamos nós nisto, faltas e faltinhas para aqui, habitual não observância da lei da vantagem para ali, critério disciplinar com as arbitrariedades do costume do futebol jogado em Portugal, quando o Elmusrati quis molhar a sopa por um(a) Palhinha, num dois-em-um ainda no nosso meio-campo em que primeiro tocou na bola e depois em quem lhe apareceu pela frente. Foi o tempo dos putos darem o Grito de Ipiranga: o Inácio bateu o livre para as costas do Galeno, o TT fez que ia mas não foi (e assim atraiu o Sequeira, que ficou nas covas) e o Porro teve uma auto-estrada com via verde para o golo. Ainda antes do intervalo, o Pote foi por ali fora qual Moisés abrindo o mar vermelho e quase aumentava o marcador. Uma jogada de grande inspiração (e transpiração) individual. 

 

No reatamento, o Amorim, que já tem uns anitos disto, anteviu o que todos estávamos a prever. Vai daí, antes evitar um xeque-mate que um (ballet de) Tchaikovsky, substituiu o Jovane pelo Nuno Santos. A ideia foi meritória, porém acabou por resultar numa troca entre a quase certeza de virmos a ter menos 1 homem em campo e a realidade de termos ficado em inferioridade numérica mesmo com os mesmos jogadores que o adversário, na medida em que o ex-vilacondense nunca se conseguiu adaptar às condições do terreno(?) de jogo. Ainda assim, até meio do segundo tempo as melhores oportunidades foram nossas, com Pote a testar o Matheus do Braga. Mais à frente, o recém entrado Matheus Nunes protogonizou a melhor oportunidade da etapa complementar, oferecendo a Sporar, outro substituto, um golo cantado. A bola perder-se-ia ingloriamente nas mãos do guarda-redes bracarense. Todavia, essa ocasião surgiu já em contra-ciclo face ao melhor período do Braga. Com a entrada do nosso velho conhecido Iuri Medeiros, os pupilos de Carvalhal carregaram então em cima de nós, mas uma actuação estóica de todo o sector recuado superiormente liderado pelo Ministro da Defesa (Sebastián Coates) e coadjuvado pelos secretários de estado Feddal e Inácio com o apoio dos assessores Porro e Mendes evitou o pior. O que já ninguém conseguiu evitar foi que Pote fosse expulso após dois bizarros amarelos em apenas dois minutos. Foi a forma encontrada por Tiago Martins de encerrar de forma invernal, perdão, infernal, uma actuação que o devia remeter imediatamente para a jarra. Com a água disponível em Leiria, podia ser que aí arrebitasse para se mostrar viçoso em futuras ocasiões. 

 

Já havíamos por duas vezes nos últimos 3 anos sido campeões de Inverno em sequeiro. Ontem fomo-lo também em regadio (o que pode ter parecido precipitação, afinal foi aspersão). Aliás, comme il faut! E se o Inverno voltou a ser o Inverno (do nosso contentamento), por que não o Sporting voltar a ser campeão? Por acaso, campeão até rima com Verão... (Foi absolutamente exemplar a entrevista que Rúben Amorim concedeu à SportTV pouco tempo após o fim do jogo.)

 

Parabéns a todos os Sportinguistas!

 

Tenor "Tudo ao molho...": Coates

 

P.S. Dedico esta modesta crónica assente numa belíssima vitória à leoa Joana Cruz, excepcional radialista e mulher dotada de uma ironia fina que muito me agrada, nela exortando todas as senhoras que se deparam com o cancro da mama, não deixando também de me associar ao alerta para a necessidade de diagnóstico precoce que a motivou corajosamente a expôr a sua situação. Certíssimo de que a Joana, que não conheço pessoalmente, com o espírito, força e determinação que emanam do que lhe vou ouvindo, lendo e vendo, não dará quaisquer hipóteses à doença, daqui lhe envio os meus votos de rápido restabelecimento. 

campeãodeinverno.jpg

23
Jan21

Final da Taça da Liga


Pedro Azevedo

Hoje, frente-a-frente, vão estar dois treinadores que já venceram a Taça da Liga - Carvalhal, pelo Vitória de Setúbal, na primeira edição da prova; Amorim, pelo Sporting de Braga, na última edição - e os dois mais recentes Campeões de Inverno (Braga em 2020, Sporting em 2019 e 2018). Estarão também em compita dois campeões em título: o Braga enquanto equipa, Amorim como treinador. Em termos mais latos, de um lado teremos o histórico Sporting, do outro o eterno pretendente Braga. Tudo isto serão ingredientes mais do que suficientes para dar sal e apimentar a final de logo à noite, que espero ver concluir-se com uma vitória do nosso Sporting. Força leões!!!

amorimcarvalhal.jpg

21
Jan21

Ao minuto


Pedro Azevedo

Golos por minuto de utilização.png

 

Legenda: 1º Quadro: minutos necessários para fazer 1 golo; 2º Quadro: minutos necessários para ter influência (golo, assistência, participação importante) em 1 golo; 3º Quadro: minutos necessários para ADG (acção directa para golo=golo ou assistência). 

PS: A estatística junta todos os avançados: pontas de lança e interiores. Os indicadores respeitantes a Pedro Marques não podem ser considerados estatisticamente relevantes dado a amostra possuir um número demasiado reduzido de observações (na realidade, apenas uma). 

21
Jan21

Ranking GAP


Pedro Azevedo

Nesta temporada de 2020/2021, o Sporting disputou até agora 21 jogos - 14 para o Campeonato Nacional, 2 para a Liga Europa, 3 para a Taça de Portugal e 2 para a Taça da Liga -, obtendo 16 vitórias (76,2%), 3 empates (14,3%) e 2 derrotas (9,5%), com 47 golos marcados (média de 2,24 golos/jogo) e 17 golos sofridos (0,81 golos/jogo).

 

A nível individual, eis os resultados (estatísticas ofensivas):

 

1) Ranking GAP (medalheiro): Pedro Gonçalves (12,3,3), Jovane (6,2,0), N. Santos (5,9,0);

2) MVP: Pedro Gonçalves (45 pontos), Nuno Santos (33), Jovane (22); 

3) Influência: Pedro Gonçalves (18 contribuições), N. Santos (14), Sporar (11);

4) Goleador: Pedro Gonçalves (12 golos), Jovane (6), TT e Nuno Santos (5);

5) Assistências: Nuno Santos (9), Pote (3), Tabata, Porro, Vietto, Feddal, M. Nunes, J. Mário, Jovane, TT e Plata (2).

 

Fazendo uma análise por sectores em termos de pontos MVP (golo=3; assistência=2; participação=1), teremos:

 

Pontas de Lança (total=54): TT (21), Sporar (20), Vietto (7), Pedro Marques (6)

(nota: TT também jogou como interior)

 

Interiores (total=112): Pote (45), Nuno Santos (33), Jovane (22), Tabata (12)

(nota: Jovane também jogou como ponta de lança)

 

Médios Centro (total=20): João Mário e Matheus Nunes (7), Palhinha e Bragança (3)

 

Laterais/Alas (total=25): Porro (13), Nuno Mendes (8), Plata (4)

 

Centrais (total=19): Coates (11), Feddal (5), Gonçalo Inácio (3)

 

Guarda-redes (total=2): Adán (2)

 

Conclusões:

  • A posição de Interior contribui em acções de golo mais do dobro da posição de Ponta de Lança;
  • Os nossos Médios Centro têm menos preponderância nos golos que os Laterais/Alas e pouco mais que os Defesas Centrais, o que pode indicar que RA vê-os mais como um factor de equilíbrio defensivo, sendo os desequilíbrios ofensivos mormente produto da circulação em "U";
  • Ordem de importância no golo: Interiores, Ponta de Lança, Laterais/alas, Médios Centro, Centrais, Guarda-redes;
  • Um total de 19 jogadores já contribuiu para os golos leoninos. Dos utilizados, Max, Neto, Quaresma, Borja e Antunes ainda não tiveram preponderância nos golos marcados. 

 

 

Ranking GAP (Golos, Assistências, Participação decisiva em golo):

ranking gap 210121.png

21
Jan21

Jovane, para seu pesar (*)


Pedro Azevedo

Há jogadores que caem no goto do adepto, outros são como patinhos feios sem que exista propriamente uma razão forte para tal. Geralmente, a coisa começa com um preconceito, algo a que Einstein, conhecido por não ser totalmente desprovido de intelecto, se referia como sendo mais difícil de desintegrar do que um átomo. 

 

No caso de Jovane Cabral, o facto de ter ajudado a resolver jogos partindo do banco criou a ideia pré-concebida (por falta de oportunidades de provar ter valor para ser um dos indiscutíveis da equipa) de ser uma "arma secreta", alguém que traria mais rendimento à equipa se utilizado mais tarde, uma espécie de Juary do Sporting. Entretanto, o cabo-verdiano lá foi provando a sua utilidade como titular na recepção aos turcos do Besaksehir e na visita a Famalicão. Até que chegou a deslocação a Guimarães e Jovane pintou a manta. 

 

Sejamos francos, o Sporting não tem nenhum jogador com a coragem de enfrentar o adversário nos olhos e partir para cima dele como Jovane. Ele traz velocidade, imprevisibilidade e golo ao jogo dos leões, algo que qualquer equipa grande não pode desprezar. Acresce que, cada vez que o campeonato retoma, Jovane apresenta-se num nível superlativo, uns bons furos acima dos colegas. Sinal de que se cuida e trabalha bem, com profissionalismo, e assim potencia as evidentes qualidades físicas que possui. 

 

Autofagia para mim é isto: tivesse Jovane nascido Jovanic, Jovanek ou Jovanowski e haveria toda uma outra tolerância consigo. De treinadores e adeptos. Não esquecer também o pouco destaque que vem merecendo da imprensa. Só isso, aliás, pode explicar que num jogo onde esteve a um nível altíssimo, diria até a léguas de todos os outros jogadores, não tenha obtido a unanimidade aquando do julgamento do melhor em campo. Não sei mesmo o que será preciso um jogador fazer a mais num campo de futebol, na medida em que uma assistência, três passes claros para golo - que culpa tem ele que Vietto, por duas vezes, e Sporar tenham falhado golos cantados? - , duas fintas de cabine telefónica, uma expulsão cavada, várias movimentações de ruptura e uma velocidade a mais que qualquer outro dos presentes não foram argumentos suficientes para o destacar dos restantes. Ah, falhou também ele um golo! (Pecado mortal entre tantos "matadores", ainda que tenha sido o único que, falhando, enquadrou o remate com a baliza.)

 

Cabe agora a Jovane provar, a cada nova oportunidade, a razão pela qual deve ser titular deste Sporting. Mas não deveria ser assim, poderia haver uma margem de erro que lhe transmitisse outra confiança. A verdade é que no passado um mau jogo foi suficiente para voltar a relegá-lo para o banco de suplentes, para gáudio de todos os Velhos do Restelo, que também os há em Alvalade, que nestas coisas estão sempre à espreita da oportunidade de provar um ponto, mesmo que olhando para as estatísticas não se compreenda como apenas 6 jogos a titular esta época permitiram sentenciar de forma tão definitiva que o jogador não merece alinhar de início. Outros jogadores há que nem de início nem no fim, mas isso já são contas de outro rosário. Afinal, o muro de lamentações mais à mão é sempre o da Formação. E o Jovane já tem 21 anos, o que pelo nosso calendário, pouco gregoriano, faz dele quase um veterano...

 

P.S. "Filomeno, para meu pesar", inspiração para o título do Post, é um grande romance de Gonzalo Torrente Ballester, autor também de "Don Juan" e do excelente "Crónica do Rei Pasmado". 

 

(*) Republicação. Texto originalmente apresentado neste blogue em 8 de Junho de 2020 (aquando da retoma do pretérito campeonato).

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20
Jan21

Tudo ao molho e fé em Deus

Com Jovanotti a música foi outra


Pedro Azevedo

Esta janela de transferências de Janeiro tem habitualmente o seu quê de "silly season" antecipada, servindo essencialmente para que os clubes que não fizeram bem o trabalho de casa no Verão possam retocar os plantéis e para que os empresários de futebol retoquem também um pouco mais a sua conta bancária. Por isso, as primeiras páginas dos jornais enchem-se de putativas compras de alegados craques. Este ano o panorama não tem sido diferente, registando-se um notório acréscimo do número de notícias relacionadas à medida que o mercado se encaminha para o seu fecho. Em conformidade, o grande destaque da semana foi o Unilabs. Porém, consultadas as minhas fontes - até à hora do fecho desta edição as alcoviteiras do Mais Tabasco não estiveram disponíveis, pelo que fui beber inspiração ao Aqueduto das Águas Livres - , estas, apesar de confirmarem a sua certificação de qualidade para a nossa Liga, apontam-lhe alguma inconstância nas acções, pelo que a sua eventual contratação poder-se-á revelar falsamente positiva.

 

Com o mercado a dominar as atenções de toda a gente, quase não se deu conta que Sporting e Porto defrontavam-se para a Taça da Liga. Acabadinho de empatar o Benfica na gloriosa final da Champions League disputada na pretérita Sexta-feira, o Porto de Sérgio Conceição era o grande favorito para a maioria dos analistas. A coisa era de tal modo um pró-forma que seria uma mera questão de tempo. Quer dizer, uma mera questão de tempo até ao Jovane entrar e deixar o Conceição com um positivo para a azia laboratorialmente confirmado. Nesse sentido, o Rúben Amorim foi particularmente cínico, escondendo o jogo e dando a ilusão ao técnico portista de que eram já favas contadas. Como tal, pôs o Inácio de pé trocado (grande personalidade do miúdo), deixou o João Mário 69 minutos a fazer de holograma e só meteu o Jovane a 12 minutos do fim. Atentem bem neste último dado porque ele é particularmente interessante e advoga bem no sentido da sagacidade do nosso treinador. Eu passo a explicar: é que o Jovane tem esta época uma média de 1 golo a cada 78 minutos, o que estatísticamente lhe teria dado uma probabilidade interessante de fazer 1 golo caso tivesse jogado de início e ainda estivesse em campo por essa altura. O Sérgio Conceição sabia disso. O que ninguém suporia, para além do Mister Amorim, é que, tendo passado esse período no banco, ao entrar não só marcaria 1 como também 2 golos. É que para o Rúben onde vai um, vão todos, e o Jovane, assegurado o primeiro, fez logo questão de partir para o segundo. A sorte do Conceição foi que o jogo terminou logo ali, caso contrário a coisa ainda acabava numa quarentena (de golos) ou assim. E que golos marcou o Jovane! Assim, para celebrar o seu (re)descobrimento, o inaugural foi de embandeirar em arco, como os navios quando anunciam festa. Um golo algumas vezes visto em Figo, num misto de técnica e força. E, como muitos Sportinguistas o tratam como um patinho feio, o que encerrou a contagem foi de bico, à Romário. 

 

No final do jogo estava à espera de ver e ouvir os protagonistas: o Jovane, o Amorim e assim. Imaginei a coisa como se fosse na TV inglesa, com o Lineker em estúdio a tecer loas ao nosso "Jovanotti" e tudo e os Sportinguistas a comunharem a emoção do momento. Mas não, quem apareceu foi o presidente Varandas. Para dizer que hoje estaria na tropa. Um, dois, esquerdo, direito, meia-volta volver, agradeci a informação, encaminhei-me para o quarto e dormi muito mais descansado. Eu sei, tudo isto fez parte de uma grande mise-en-scène de desvalorização da vitória. É que o Benfica A e o B estavam de olhos postos em nós e agora ficaram a saber que nós é mais faca na Liga. Assim, confiantes, diria até falsamente positivos para o que se seguirá, irão até Sábado. E nós, como quem não quer a coisa, dando avanço com o Matheus e o Jovane no banco, no fim cantaremos de galo, que é como quem diz, rugiremos como um leão. 

 

Tenor "Tudo ao molho...": "The one and only" Jovane Cabral 

 

#ondevaiumvaodoisgolosdejovane

jovane2.jpg

Que dupla!

19
Jan21

Ranking GAP


Pedro Azevedo

Nesta temporada de 2020/2021, o Sporting disputou até agora 20 jogos - 14 para o Campeonato Nacional, 2 para a Liga Europa, 3 para a Taça de Portugal e 1 para a Taça da Liga -, obtendo 15 vitórias (75%), 3 empates (15%) e 2 derrotas (10%), com 45 golos marcados (média de 2,25 golos/jogo) e 16 golos sofridos (0,8 golos/jogo).

 

A nível individual, eis os resultados (estatísticas ofensivas):

 

1) Ranking GAP (medalheiro): Pedro Gonçalves (12,2,3), N. Santos (5,9,0), TT (5,2,2);

2) MVP: Pedro Gonçalves (43 pontos), Nuno Santos (33), TT (21); 

3) Influência: Pedro Gonçalves (17 contribuições), N. Santos (14), Sporar (11);

4) Goleador: Pedro Gonçalves (12 golos), TT e Nuno Santos (5);

5) Assistências: Nuno Santos (9), Tabata, Porro, Vietto, Feddal, M. Nunes, J. Mário, Jovane, Pote, TT e Plata (2).

 

Fazendo uma análise por sectores em termos de pontos MVP (golo=3; assistência=2; participação=1), teremos:

 

Pontas de Lança (total=54): TT (21), Sporar (20), Vietto (7), Pedro Marques (6)

(nota: TT também jogou como interior)

 

Interiores (total=104): Pote (43), Nuno Santos (33), Jovane (16), Tabata (12)

(nota: Jovane também jogou como ponta de lança)

 

Médios Centro (total=20): João Mário e Matheus Nunes (7), Palhinha e Bragança (3)

 

Laterais/Alas (total=25): Porro (13), Nuno Mendes (8), Plata (4)

 

Centrais (total=18): Coates (10), Feddal (5), Gonçalo Inácio (3)

 

Guarda-redes (total=2): Adán (2)

 

Conclusões:

  • A posição de Interior contribui em acções de golo praticamente o dobro da posição de Ponta de Lança;
  • Os nossos Médios Centro têm menos preponderância nos golos que os Laterais/Alas e pouco mais que os Defesas Centrais, o que pode indicar que RA vê-os mais como um factor de equilíbrio defensivo, sendo os desequilíbrios ofensivos mormente produto da circulação em "U";
  • Ordem de importância no golo: Interiores, Ponta de Lança, Laterais/alas, Médios Centro, Centrais, Guarda-redes;
  • Um total de 19 jogadores já contribuiu para os golos leoninos. Dos utilizados, Max, Neto, Quaresma, Borja e Antunes ainda não tiveram preponderância nos golos marcados. 

 

 

Ranking GAP (Golos, Assistências, Participação decisiva em golo):

ranking gap 180121.png

18
Jan21

Tudo, assim-assim ou nada?


Pedro Azevedo

Vivemos até hoje na assumpção de que o importante no futebol era a bola, os jogadores e o público. Entretanto, o público desapareceu dos estádios e o tribunal onde se aprovava ou chumbava o desempenho de um jogador passou das bancadas para as enfermarias dos estádios, substituindo-se o aplauso ou assobio à posteriori pela zaragatoa ab initio. É perante este novo-normal de múltiplos condicionalismos que Sporting e FC Porto se apresentarão amanhã em Leiria na primeira semi-final da Taça da Liga, competição sui-generis e com um formato competitivo absurdo que visa apurar por todos os meios legítimos possíveis as teoricamente 4 melhores equipas nacionais para a sua Final Four. Na outra meia-final, um Benfica que parece ter saído do Dragão como vencedor da Champions (apesar do empate) defrontará o actual detentor do troféu, o Sporting de Braga, "Campeão de Inverno" em 2020 com Rúben Amorim ao leme. 

 

Havendo um troféu em disputa ainda que de notoriedade reduzida, a pergunta que hoje formulo aos Leitores é se, por um lado e atendendo à sua grandeza enquanto clube, ambição inata e pergaminhos históricos, deve o Sporting apostar forte no certame ou, por outro, se seria preferível guardar energias para o que resta do campeonato nacional, competição onde à 14º jornada leva 4 pontos de avanço sobre o duo Benfica/Porto e nove pontos à maior sobre o Sporting de Braga. Ainda que esteja por provar que o desgaste de uma Taça da Liga possa provocar assim tantos danos no que resta do campeonato, mais a mais sabendo-se que, eliminados que estamos da Liga Europa e Taça de Portugal, teremos um calendário mais desanuviado que os rivais a partir do mês de Fevereiro, gostaria de auscultar a Vossa opinião. Fico então à espera de saber da Vossa justiça...

taça da liga.jpg

18
Jan21

Foi assim que aconteceu...


Pedro Azevedo

26.01.2019   FC Porto - Sporting 1-1 (1-3 G.P.)

 

Crónica "Tudo ao molho...": O Inverno do nosso contentamento

 

Confesso que não estava especialmente confiante antes do jogo. Vendo e ouvindo a antevisão televisiva, nos vários canais, pior fiquei: a média das probabilidades a nós atribuídas era a alegria dos cemitérios de um sportinguista.

Com esta carga em cima, sentei-me à frente do televisor. Sintonizei a SportTV. Os comentários iniciais foram no mesmo sentido, como se o jogo já tivesse terminado antes mesmo de ter começado e o que nos fosse dado a assistir daí para a frente, uma mera formalidade.  

 

Passado um curtíssimo ímpeto inicial portista, o Sporting pegou no jogo. Incrédulo com o que via no relvado, o comentador tardou a dar o braço a torcer. Pelo menos muito mais tempo do que André Pinto ou Petrovic demoraram a dar o nariz a partir. A verdade é que as melhores oportunidades no primeiro tempo foram dos leões. Com a excepção de uma cabeçada de André Pereira, todos os lances de perigo foram nossos, destacando-se dois remates desenquadrados de Nani, uma carambola em Raphinha que quase tomava o rumo da baliza e um livre de Bruno Fernandes a tirar tinta ao poste, em jogada precedida de um cartão amarelo-alaranjado atrbuído a Felipe. Perante isto, o senhor da SportTV disse que o Sporting tinha conseguido equilibrar o jogo. (Não tenho a certeza, mas talvez não fosse má ideia entregar a decisão das partidas ao senhor comentador da SportTV. Assim, ambos nos poupávamos ao incómodo: nós, de ver os jogos; ele, de ter de se interrogar porque é que tudo correu ao contrário da sua lógica das coisas.)

Entretanto, o árbitro mostrava total desprezo pela "lei da vantagem" e dava cartões conforme a vontade das bancadas, para o efeito transformadas num circo romano de polegares para cima e para baixo consoante a vontade da maioria ruidosa. Em consequência, Acuña viu um amarelo incompreensível e Keizer, assustado, no reatamento decidiu colocar Jefferson no lugar do argentino. 

 

A troca dos laterais esquerdos abria uma perspectiva tenebrosa para o segundo tempo e a expectativa não saiu gorada: entre ajoelhamentos defensivos e perdas de bola no ataque, o brasileiro contribuiu da forma habitual para a (hiper)tensão deste adepto. O que isto foi de dar de fumar à dor (até à exaustão)...Para piorar o cenário, o "soundbyte Abel(ico)" de que o futebol não é basquetebol produziu efeitos e André Pinto caiu por terra - sangrando abundantemente do nariz - após uma cotovelada de Marega, tudo sem qualquer admoestação de João Pinheiro. Sem centrais no banco entrou Petrovic, o qual pouco tempo depois também se magoou na mesma zona. O jogo voltou a ficar interrompido, o sérvio esteve fora do campo a ser assistido (Miguel Luís chegou a estar de prevenção para entrar, de forma a que Gudelj pudesse recuar para a defesa), e as várias adaptações em tão curto espaço de tempo criaram alguma desestabilização (e mesmo pontual desorientação) na equipa leonina. O Porto, liderado por Brahimi, aproveitou, embora sem criar grande perigo, excepção feita a nova cabeçada de André Pereira, desta vez para defesa de Renan Ribeiro. Até que, num lance onde Gudelj estava muito metido na área e Wendel demorou um pouco a fechar, Herrera rematou praticamente sem oposição. O tiro não saiu colocado, mas Renan calculou mal a trajectória e deixou a bola ressaltar para a frente, proporcionando a recarga vitoriosa do recém-entrado Fernando. 

 

A perder a 10 minutos (mais descontos) do fim, Keizer arriscou o que pôde - já só tinha uma substituição possível - e trocou Gudelj por Diaby, recuando Nani para organizar o jogo com Bruno Fernandes. Sob a batuta dos capitães, o Sporting tomou as rédeas da partida e começou a ameaçar as redes de Vanã. Eis então que, num lance insólito, Diaby antecipa-se na área a Oliver e é carregado por este, em jogada sem perigo iminente. João Pinheiro não viu, mas o BiVAR (é verdade!!) chamou-lhe a atenção. Após visionamento das imagens, assinalou "penalty". Bas Dost converteu, igualando o marcador. O Sporting podia ter decidido o jogo ainda no tempo regulamentar, mas Vanã salvou miraculosamente o Porto ao defender um remate de Raphinha que concluiu uma assistência soberba de Bruno Fernandes. 

 

Seguimos para "penáltis" e o Sporting voltou a falhar primeiro. Após novo golo de Dost, Coates repetiu o falhanço da semi-final. Mas Renan tornava a baliza pequena e Militão escolheu (acertar no painel d`) a Super Bock. Bruno marcou com a classe do costume, e quando Hernâni partiu para a bola comentei para o lado que iríamos ganhar. Estatisticamente, os canhotos geralmente cruzam a bola nos penáltis e Renan também assim o pensou e defendeu. A conversão de Nani deixou-nos muito perto da vitória. Ficámos com duas hipóteses em aberto para ganhar o jogo: se o Porto falhasse a penalidade seguinte, ou Raphinha convertesse a última, o Sporting ganharia. Para sossego do meu coração, Felipe acertou no travessão e começou a festa. Abracei todos os que estavam à minha volta e já não ouvi os comentadores, mas admito que tenham tido uma noite longa a explicar como o Porto perdeu um jogo antecipadamente ganho. Deve ter sido coisa para um certo monólogo shakespeariano que envolve a constatação de que a consciência tem um milhão de diferentes vozes...

 

Na Pedreira, o Sporting levou a Taça e Keizer ganhou o seu primeiro título como treinador. Foi a segunda vitória consecutiva dos leões na competição, com a curiosidade dos 4 jogos da Final Four terem sido ganhos por penáltis. Já se sabe, connosco é sempre a sofrer até ao fim. Destaque-se também que ganhámos os últimos 8 jogos (!!) de mata-mata disputados contra o FC Porto (ninguém diria, pois o tratamento dispensado pela CS foi sempre de "underdog"), o que nos torna já numa espécie de São Jorge (proponho-o para padroeiro do clube) para os dragões, mesmo que neste caso tenhamos tido menos um dia de descanso e a erosão psicológica adicional de uma (prolongada) série de grandes penalidades. 

 

E assim, ao contrário das primeiras linhas de Ricardo III - "(Este é) o Inverno do nosso descontentamento" - , ou do livro homónimo de John Steinbeck, somos os CAMPEÕES DE INVERNO!!!

 

Tenor "Tudo ao molho...": Bruno Fernandes (mas "Renan é grande", como disse Dost). Num segundo plano, Petrovic, Coates e Nani (quando passou para o meio) estiveram acima dos restantes. Destaque ainda para Diaby, providencial ao ganhar a grande penalidade.

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