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Castigo Máximo

De forma colocada, de paradinha, ou até mesmo à Panenka ou Cruijff, marcaremos aqui a actualidade leonina. Analiticamente ou com recurso ao humor, dentro ou fora da caixa, seremos SPORTING sempre.

De forma colocada, de paradinha, ou até mesmo à Panenka ou Cruijff, marcaremos aqui a actualidade leonina. Analiticamente ou com recurso ao humor, dentro ou fora da caixa, seremos SPORTING sempre.

Castigo Máximo

29
Dez19

"Os Violinos" de 2019 para Castigo Máximo(3)


Pedro Azevedo

MODALIDADES (Nota: o atletismo teve um destaque à parte por ser a modalidade em que o Sporting é mais titulado, nacional e internacionalmente)

 

Modalidade do ano - Futsal: A conquista da Champions em futsal, modalidade que tem vindo a crescer exponencialmente em número de praticantes, foi um feito considerável. Há muitos anos que o Sporting vinha perseguindo este título, razão que associada à dimensão que a modalidade tem actualmente me leva a considerá-la a modalidade do ano de 2019 do clube.

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Secção do ano - Goalball/Desporto Adaptado: A equipa masculina revalidou o título europeu, a equipa feminina venceu-o pela primeira vez, proezas verdadeiramente notáveis para uma tão jovem modalidade. Duplamente titulada, a secção de Desporto Adaptado, onde está integrado o Goalball, está de parabéns. O clube tem neste momento 15 modalidades paralímpicas em acção.  

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Atleta do ano - Jorge Fonseca: Primeiro campeão mundial do judo português, Jorge Fonseca obteve o título (-100kg) na pátria da modalidade (Japão), o que certamente teve para si um significado especial. Como se tal já não fosse suficiente, sagrou-se (bi)campeão europeu de clubes ao serviço do Sporting. 

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Treinador do ano - Paulo Freitas: Apesar do hóquei em patins ter pouca expressão no mundo - para além da Península Ibérica, tem alguma divulgação em Itália e na América Latina (Argentina e Chile, principalmente) - , é uma modalidade que merece o carinho de todos os portugueses e dos sportinguistas em particular. Paulo Freitas falhou a revalidação do título nacional conquistado no ano anterior, mas em compensação venceu dois troféus internacionais muito importantes: a Liga Europeia (equivalente à Champions no futebol) e a Taça Continental (uma espécie de Supertaça Europeia com índice de dificuldade superior por disputada por 4 equipas). 

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Destaque especial - Andebol: Pela primeira vez atingidos os oitavos-de-final da Champions.

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Atleta do ano Andebol - Carlos Ruesga: A sua imensa classe pode ser atestada pelos destaques que a EHF deu dos golos espectaculares que obteve na Champions. A sua experiência foi fundamental para o Sporting ultrapassar a fase de grupos e o play-off de acesso aos oitavos-de-final, objectivo jamais atingido por qualquer outro clube português no actual formato da competição. 

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Destaque especial - Hóquei em Patins: Conquistas da Liga Europa e Taça Continental.

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Atleta do ano Hóquei em Patins -André Girão: Para além de ter vencido a Liga Europa e a Taça Continental, sagrou-se campeão do mundo por Portugal (competição disputada em Barcelona). Grande capitão de equipa e portador de uma mística praticamente incomparável, é hoje indiscutivelmente o melhor guarda-redes do mundo da modalidade. 

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Destaque especial - Judo: superiormente orientada por Pedro Soares, a equipa masculina de judo do Sporting revalidou o título europeu. Destaque ainda para a formação de atletas no clube, com natural destaque para o nóvel campeão do mundo Jorge Fonseca, um grande trabalho que tem vindo a ser coordenado também por Pedro Soares.

judo sporting.jpgAtleta do ano Judo: Jorge Fonseca

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Destaque especial - Natação: Octocampeão nacional de clubes, em nadadores masculinos, o Sporting é líder incontestado nesta modalidade. Mérito do excelente trabalho do Prof. Carlos Cruchinho e restante equipa.

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Atleta do ano Natação - Alexis Santos: Sete recordes nacionais durante o ano (4 em piscina de 50m e 3 em piscina de 25m) e um sétimo lugar na final dos Europeus de Piscina Curta (25m).

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Homenagem/Carreira: Madjer: sportinguista de alma e coração e atleta do clube, sagrou-se pela última vez campeão do mundo de futebol de praia, fechando assim com chave de ouro a sua carreira internacional.

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28
Dez19

O trauma de Alcochete e o futuro


Pedro Azevedo

Não quero de forma alguma desvalorizar as consequências morais, reputacionais e financeiras supervenientes ao infame ataque a Alcochete e entendo que o tribunal deverá apurar até ao limite todas as responsabilidades inerentes a esse dia negro que tantos prejuízos causou ao Sporting Clube de Portugal, mas é tempo de avançarmos, sob pena de, não o fazendo, Alcochete vir a servir ad aeternum como desculpa face ao eventual insucesso.

 

Uma das consequências de Alcochete foi o fim do encurtamento da distância que nos separava dos rivais. Nas quatro épocas compreendidas entre 2009/10 e 2012/13, o Sporting terminou o campeonato com uma diferença para o primeiro classificado que oscilou entre os 26 e os 36 pontos. Ora, nas cinco épocas seguintes, entre 2013/14 e 2017/18, o clube conseguiu atenuar bastante esse "gap", finalizando a prova de regularidade do calendário futebolístico nacional com uma diferença para o campeão que orlou entre os 2 e os 12 pontos (-7, -9, -2, -12, -10). Certamente que a perda de jogadores importantes como os internacionais Rui Patrício, William Carvalho ou Gelson Martins, que rescindiram contrato, não pode ser dissociada do desfecho do último campeonato, competição que finalizámos a 13 pontos do primeiro colocado. Mais difícil de explicar são os resultados desta época desportiva até ao momento, período em que o Sporting já dista os mesmos 13 pontos da liderança do campeonato quando apenas estão cumpridas 14 jornadas. E custa mais perceber porque os acordos celebrados com os jogadores que rescindiram permitiram encaixar algum dinheiro para reforço da equipa. Simplesmente, a opção por jogadores cujo pico de carreira ocorreu há uns anos atrás, ou jovens a precisar de desenvolvimento implicou consumo de tempo de forma a que esses atletas se pudessem integrar ou readquirir a confiança perdida no passado, e tempo é uma variável que o Sporting não tem quando um presidente afirma que a época será melhor que a anterior. Adicionalmente, vieram também para o clube alguns atletas maduros, na casa dos 25/26 anos, mas de qualidade duvidosa para um clube com os pergaminhos do Sporting e que acabaram por servir de travão à imposição de jovens da nossa Academia, o que constituiu um duplo custo para o clube por via de contratação, prémios e ordenado, por um lado, e custo de oportunidade do não desenvolvimento de jovens para futura venda com significativa mais-valia, por outro.

 

Uma crise como a resultante de Alcochete pode ser vista como uma ameaça ou como uma oportunidade. Tem muita a ver com a liderança do clube a forma como se reage a um acontecimento traumático como esse. À colação trago aqui a história do Manchester United. Em 6 de Fevereiro de 1958, após paragem em Munique para reabastecimento, o avião que transportava a emblemática equipa do norte de Inglaterra caiu. Vários passageiros morreram, entre os quais 8 jogadores do clube. Alguns, como Duncan Edwards ou Tommy Taylor, eram "só" os melhores, outros como Eddie Colman ou Mark Jones eram também muito importantes. O Man U havia vencido os campeonatos de 56 e 57 e era campeão em título aquando do drama. Para além dos óbitos, havia jogadores com lesões provocadas pelo acidente, alguns deles em internamento hospitalar. Este acontecimento tinha tudo para justificar a perda de influência do Manchester United no contexto do futebol inglês e mundial. Mas Sir Matt Busby, treinador e um dos sobreviventes do acidente, não estava pelos ajustes e à volta de Bobby Charlton (também sobrevivente) começou a desenhar o novo United. Aproveitou então as escolas de formação do clube, de onde viria a sair um craque descoberto na Irlanda do Norte do calibre de George Best, e contratou cirurgicamente o jovem Dennis Law (21 anos) aos italianos do Torino, curiosamente outro clube marcado trágicamente por um acidente áereo que dizimou a sua equipa de futebol (todos os jogadores que vieram a Portugal participar na festa de homenagem a Francisco Ferreira, incluindo o famoso Valentino Mazzola, pereceram quando na viagem de regresso a aeronave embateu na cúpula da Catedral de Superga). Juntamente com outros reforços provenientes da formação, organizava-se assim uma nova geração de "Busby Babes", a qual está imortalizada por uma estátua à entrada de Old Trafford com o nome de "United Trinity" que reune Charlton, Law e Best. E a verdade é que o United reagiu bem e terminou o primeiro campeonato (59) pós-tragédia no segundo lugar, posição que repetiria em 64, para em 65 finalmente voltar a vencer a competição, feito que repetiria em 67. Em 1968, a coroa de glória, uma vitória por 4-1 (a.p.) sobre o Benfica de Eusébio daria ao Manchester United a Taça dos clubes Campeões Europeus, uma pequena compensação para a fatalidade que se abatera sobre o clube. Que este exemplo de superação, em circunstâncias incomparáveis (independentemente do dia negro vivido em Alcochete), anime os nossos dirigentes mais na procura de soluções e menos no foco no problema, começando pela optimização dos recursos existentes na nossa casa e por um discurso claro e conciso, com metas intermédias partilhadas com sócios e adeptos, que indique objectivos, prazos para a sua execução e os recursos que serão alocados. Caso contrário, temo que daqui a 10 anos ainda estejamos a apontar Alcochete como causa próxima para o insucesso.

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28
Dez19

Bruno Fernandes e a Formação


Pedro Azevedo

Da entrevista de Bruno Fernandes ao Record retiro duas notas que reforçam aquilo que neste espaço venho perorando:

  1. Bruno Fernandes diz que gosta muito de Matheus Nunes, não só pela qualidade técnica mas também pela intensidade do seu jogo, adiantando ainda que lhe parece ser o sub-23 que a nível físico está mais próximo dos patamares requeridos na equipa principal;
  2. Bruno Fernandes fala de um central esquerdino dos juniores de quem também gosta muito. Refere-se a Gonçalo Inácio, e dele diz algo lapidar: se vier a treinar com o plantel principal, pode vir a aprender muito com Mathieu, pois apesar das dimensões diferentes têm um estilo de jogo muito idêntico. 

 

Mostrando estar atento à nossa Formação - não será por acaso que é frequente vê-lo em Alcochete a acompanhar os jogos das nossas camadas jovens - , Bruno Fernandes evidencia assim um pensamento estruturado sobre o que é necessário fazer transversalmente ao nosso futebol. Ele mostra-nos que as qualidades de passe, recepção e progressão com bola (cabeça sempre levantada) de Matheus Nunes, aliadas à sua envergadura física, não passam despercebidas aos mais velhos e já justificam uma oportunidade dado que os seus níveis de intensidade estão próximos dos do plantel principal (pergunto: valia a pena ter ido ao mercado reforçar a posição "8"?), ao mesmo tempo que esboça uma ideia que devia complementarmente estar presente aquando da contratação de um veterano como Mathieu: o poder, com a sua experiência, ajudar ao desenvolvimento de jogadores jovens, como se fosse um artesão da última estação de produção de uma fábrica. Algo que não foi aproveitado na moldagem de Demiral ou Domingos Duarte, mas que urge ser feito com Gonçalo Inácio (jogador que iniciou a época com óptimo rendimento nos sub-23 e depois, inexplicavelmente para quem está de fora, desceu aos juniores) ou Quaresma. O Benfica utilizou Luisão dessa forma nos últimos anos da sua carreira, e daí surgiram jovens como Lindelof ou Ruben Dias que muito beneficiaram com a experiência do central brasileiro. 

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28
Dez19

"Os Violinos" de 2019 para Castigo Máximo(2)


Pedro Azevedo

FUTEBOL

 

Jogador do ano - Bruno Fernandes: Começou o ano civil com a conquista da Taça da Liga. No final de Janeiro assumiu a braçadeira de capitão, reforçando uma liderança natural alicerçada no exemplo deixado no campo e nos incomuns dotes de comunicador mostrados fora dele. Bruno foi o Atlas que segurou sobre os ombros o futebol do clube, o farol que impediu o naufrágio, a revolta contra o habitual fado leonino e a nossa estranha forma de ser, qualidades que foram decisivas na reviravolta de uma eliminatória da Taça de Portugal contra o Benfica que parecia já perdida. Em Maio, juntaria a prova raínha do calendário nacional ao rol de títulos conquistados. Durante a época 18/19 marcou 32 golos e assistiu por 18 vezes. Reportando-nos só ao ano civil, pelo Sporting Bruno fez 31 golos e produziu 22 assistências, números que provam a sua regularidade num altíssimo nível. Por tudo isto, mais tudo aquilo que não pode ser traduzido por números - já dizia William Bruce Cameron que "nem tudo o que conta pode ser contado" - , Bruno Fernandes é, indiscutivelmente, o jogador do ano de 2019 para "Castigo Máximo".

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Treinador do ano - Pedro Coelho (Formação/iniciados e juniores): Treinador do único (iniciados) dos 5 escalões competitivos do futebol do Sporting que foi campeão em 2019, Pedro Coelho voltou a mostrar a qualidade do seu trabalho (já havia ganho o título em 2017), algo que lhe viria a valer a promoção para os juniores na temporada de 19/20. Passo ante passo, Pedro vai cumprindo um caminho sustentável de progressão na carreira. Mais do que Paulo Bento ou Sá Pinto, renomados ex-internacionais do futebol português que cumpriram um curto trajecto nas camadas jovens leoninas antes de subirem ao futebol sénior, ele poderá um dia vir a ser o primeiro treinador do Sporting, na era moderna, verdadeiramente criado nos escalões de Formação. A continuar a acompanhar durante 2020.  

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27
Dez19

"Os Violinos" de 2019 para Castigo Máximo(1)


Pedro Azevedo

ATLETISMO ("Estrada&Vários 2019")

 

Atleta masculino do ano - Carlos Nascimento: Medalha de Ouro na prova dos 100m nos Jogos Europeus de 2019 (Minsk).

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Atleta feminina do ano - Evelise Veiga: Duas Medalhas de Prata nas Universíadas (Nápoles), nas disciplinas de Salto em Comprimento e Triplo Salto; excelente prestação individual na prova por equipas do programa de atletismo dos Jogos Europeus de 2019. 

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26
Dez19

Os jogos da minha vida (VI)


Pedro Azevedo

5.11.1986  Sporting - Barcelona 2-1

 

A nossa equipa: Vítor Damas; Virgílio (McDonald, aos 87 minutos), Venâncio, Duílio e Fernando Mendes; Oceano, Zinho, Negrete e Mário Jorge; Manuel Fernandes (Gabriel, aos 69 minutos) e Raphael Meade.

 

O Sporting ganhou o jogo, mas perdeu a eliminatória. Como tal, uma vitória à Pirro, "cortesia" de um golo tardio de Roberto, nome que ainda hoje me custa a pronunciar. A eliminação foi absolutamente injusta. A maior decepção (até aí) da minha vida desportiva, que combinada com o fim da idade da inocência me abriu os olhos e preparou para a resistência que seria necessário ter enquanto sócio e adepto do Sporting. 

 

A nossa equipa tinha uma das melhores alas esquerdas de que me recordo. O aniversariante Fernando Mendes, mais explosivo, e Mário Jorge, mais cerebral, formavam uma dupla de eméritos dribladores que punham a cabeça em água a qualquer adversário. Assim também ocorreu nessa noite de recepção aos catalães. Em particular Mendes, que endiabrado produziu as duas assistências para os golos do mexicano Negrete (1ª parte) e do inglês Meade (2º tempo). Por volta dos 70 minutos, o momento do jogo: o Sporting já vencia por dois golos sem resposta quando o lateral esquerdo leonino avançou por caminhos mais interiores até ser derrubado. Levantando-se antes que o árbitro pudesse apitar a falta, o jovem entrou na área isolado. A seu lado, sozinhos e em posição mais central, estavam Negrete e Meade, mas Mendes só teve olhos para a baliza, fitou Zubizarreta e tentou o chapéu. Os adeptos sustiveram a respiração enquanto a bola caía, caía, caía, mas não o suficiente para descer abaixo do travessão da baliza barcelonista, "optando" antes por se anichar, caprichosamente, no encordoamento exterior da malha superior. Ninguém presente no estádio o suporia, mas esse momento marcaria o canto do cisne dos leões. 

 

A 4 minutos do fim do encontro, a desilusão: o Sporting já dera a volta à eliminatória após uma derrota tangencial (1-0) em Barcelona e o jogo aproximava-se do seu termo. O resto foi o meu primeiro contacto com o fado leonino que vem moldando ao longo dos anos esta nossa estranha forma de ser. Dessa vez o agente do destino chamou-se Roberto. Poderia ter sido a estrela Lineker, o playmaker Marcos Alonso, ou o experiente internacional espanhol Júlio Alberto, mas, não, foi um Roberto, marionete de ocasião do Master Puppeteer que é o deus do futebol mundial. Erros próprios e má fortuna, a saga começava...

23
Dez19

Conto de um Natal a verde-e-branco


Pedro Azevedo

Era uma vez um clube. Mais do que um clube, uma nação. Uma nação com vários clãs. Clãs que divergiam em quase tudo: dos grupos etários à influência na sociedade, sem esquecer a doutrina ideológica social e política que incluía conservadores, renovadores moderados e extremistas revolucionários. Há anos que os clãs se vinham degladiando numa luta fratricida pelo poder. Por via disso mesmo e da má gestão do bem comum, a glória acumulada por anos pretéritos de conquistas foi mirrando. Mas os clãs continuavam a batalhar, por vezes conseguindo obter o ceptro para logo repetirem os erros dos seus antecessores. Já pouco mais havia para partilhar do que o orgulho. Bom, havia o afrodisíaco poder, e esse era fruto apetecível para motivar quem estava empossado e quem cobiçava o trono. Preservá-lo, de um lado, ou conquistá-lo, do outro, tornou-se o objectivo principal das facções em compita. Ambas dividindo, beneficiando do radicalismo, para mais facilmente poderem concretizar os seus propósitos. 

 

Estavamos neste impasse quando no Natal se produziu o sortilégio. Ele não surgiu de uma trégua entre os chefes dos clãs, tão assoberbados se encontravam com os seus próprios egos, nem por iniciativa do povo adepto. Não, como que para nos recordar a origem de tudo, o melhor exemplo veio dos artistas contratados pela nação Sportinguista, os jogadores de futebol. Logo eles que haviam sofrido recentemente um choque, que tantas vezes no presente e passado tinham servido de escudo perante a opinião pública para tapar a incompetência de dirigentes, haveriam em Portimão de nos dar uma lição e finalmente deslocar a nossa atenção daquilo que nos divide para aquilo que nos aproxima, nos une, é denominador comum. E assim, contra todas as probabilidades, em inferioridade numérica, em desvantagem no marcador, perante uma arbitragem que objectivamente (n)os prejudicou, conseguir dar a volta por cima e ousar vencer, metaforicamente relembrando a todos nós a razão de ainda cá estarmos, o antes quebrar que torcer, o nosso paradigma comum, a fonte da nossa "leoninidade": a resiliência. Nunca desistiremos! 

Feliz Natal para todos os Leitores de Castigo Máximo! 

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22
Dez19

Tudo ao molho e fé em Deus - Against all odds


Pedro Azevedo

Dezasseis de Outubro de mil novecentos e oitenta e cinco: Portugal precisava de ganhar na Alemanha e esperar que a Suécia perdesse na Checoslováquia para se qualificar para o Mundial de 1986. As nossas hipóteses eram encaradas por quase todos como meramente académicas. Mas um homem acreditava. Chamava-se José Torres e queria levar a carta a Garcia(*), nem que para isso tivesse de usar a anilha de um dos seus pombos. Na antevisão dessa jornada largara um romântico "deixem-me sonhar", ao jeito de quem ia alimentando a quimera. 

 

Vinte e um de Dezembro de dois mil e dezanove: o Sporting precisava de ganhar em Portimão e esperar que o Rio Ave, que recebia um Gil Vicente já sem aspirações, não vencesse a fim de se qualificar para a "final four" da Taça da Liga. As nossas hipóteses era encaradas por todos como meramente académicas. Desta feita não se sabe se o próprio Silas acreditava. Apenas queria vencer o seu jogo e depois "logo se via", assim como quem primeiro quer terminar o 12º ano e a seguir ver se tem média para a admissão à universidade. 

 

Trinta e quatro anos intercalaram estes 2 acontecimentos, mas a mesma conjugação cósmica sorriu a Portugal (em 1985) e ao Sporting (em 2019). Curiosamente, ou não, ambos os acontecimentos foram marcados por temporais. Em 1985, as tempestades Elena e Gloria; em 2019, as tempestades Elsa, Fabien e... Pinheiro. 

 

Se o Elsa e Fabien causaram a mesma depressão nos nossos adversários que o Elena e Gloria haviam causado nos contendores de Portugal, e como tal deverão ser considerados como benignos em relação às nossas pretensões, a ocorrência da Tempestade Pinheiro foi uma verdadeira ameaça às intenções do Sporting em prosseguir na Taça da Liga. Tudo terá começado numa onda tropical que entrou em Portimão através da África Central, mais concretamente via Congo. Enquanto a onda se ia movendo para noroeste, altas pressões fizeram descer o ar frio sobre o relvado do Portimonense, interagindo com o sistema de forma a se formarem nuvens muito negras que atingiram o seu ponto máximo por volta dos 45 minutos de jogo.   

 

Tendo conseguido reduzir a desvantagem de dois golos que chegou a ter por volta da meia-hora de jogo, a expulsão de Bolasie em cima do intervalo aparentemente comprometia as nossas hipóteses para a etapa complementar. Mas um Sportinguista está sempre preparado para o inesperado, o que só pode ser considerado um paradoxo para quem não vive a nossa saga dos últimos 35 anos. Na verdade, o inesperado e o aleatório estão de tal maneira inculcados na nossa história recente e na nossa memória que, conjugados, desafiam sempre a lógica e o cálculo das probabilidades. Por isso somos uns desmancha-prazeres para os jogadores dos vários sites on-line de apostas. Imagino o fluxo de palpites a favor do Portimonense durante o intervalo do jogo e a decepção que isso deve ter criado a muito boa gente... Ainda por cima com pormenores de malvadez. Não se faz! Então não é que os até aqui obscuros Camacho e Plata desataram a marcar? Ou que o Felipe das Consoantes trocou a gastroenterite que deixou no banco pelo corrimento de golos que vem marcando? No meio desta imprevisibilidade, somos também nós um ciclone. Em certos dias não há Pinheiro que resista, noutros perdemos a força e dissipamo-nos.

 

Vem aí o Mercado de Inverno. Eu gosto muito de mercados. Vou com frequência ao da Ribeira ou ao de Campo de Ourique. Paga-se um valor razoável e geralmente ficamos bem servidos. Já em relação ao Mercado de Inverno fico sempre desconfiado. Tem uma publicidade muito negativa por geralmente se pagar caro por uns refugados. Por isso, os críticos não o recomendam. Não figura em nenhum Guia Michelin e não augura um GoodYear. E para "encher pneus" já temos em casa "alimento" suficiente. Mas isso sou eu, que com tanto pneumático até perco a vontade de ser fleumático.

 

Tenor "Tudo ao molho...": Bruno Fernandes (duas assistências para golos em momentos fundamentais do jogo). Vietto, 1 golo e uma assistência, Plata (o golo da reviravolta), Luiz Phellype (1 golo) e Camacho (grande golo, mas cometeu a penalidade que abriu o marcador) também se destacaram. Destaque ainda para mais uns minutos concedidos a Battaglia e para a Max, que paulatinamente vai consolidando a titularidade na nossa baliza.

 

(*) Carta a Garcia: durante a insurreição cubana contra os espanhóis, o presidente americano McKinley entregou uma missiva dirigida a Garcia, o líder dos rebeldes cubanos. Com essa missiva pretendia manifestar o apoio do seu país à sublevação contra os espanhóis. Para tal, chamou um mensageiro que assim ficou com a missão de entregar a carta a Garcia, daí para a frente aplicado como expressão que pretende determinar o cumprimento de um objectivo. . 

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20
Dez19

Quarteto Brega contra a Quadriga Mafiosa


Pedro Azevedo

Amanhã, pelas 17h30, em Doha, no Qatar, Flamengo e Liverpool defrontar-se-ão para apurar o campeão mundial de clubes. Jesus confia na sua principal arma, o quarteto formado por Bruno Henrique, Evandro Ribeiro, Gabigol e Arrascaeta; Klopp aposta nos puro-sangue da frente do ataque: Mané, Firmino, Origi (suplente que faz muitos golos) e Salah. Quarteto BR-E-G-A contra Quadriga MA-FI-O-SA, no fim quem será mais intratável (ou mostrará piores "maneiras")?  

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(Montagem: alma-lusa.blogs.sapo.pt)

20
Dez19

Acuña Matata!


Pedro Azevedo

Marcos Acuña, argentino de 28 anos, é um daqueles jogadores que todas as equipas que ambicionam ser campeãs necessitam de ter na devida proporção no seu plantel. Aliás, se algo temos a lamentar não é o facto de termos um Acuña, mas sim o não haver mais uns quantos assim (Bruno Fernandes, que alia classe e raça, excluído). Bem sei, por vezes excede-se e há adeptos que não lhe perdoam tanta impetuosidade. Esquecem-se que geralmente as nossas maiores virtudes estão muito perto de serem os nossos maiores defeitos. Mudar o argentino, na esperança de que passasse a ser um menino do coro em termos disciplinares, iria provavelmente inibir as suas melhores qualidades: a raça e entrega ao jogo que coloca em cada movimento no relvado, como se a sua vida estivesse dependente do desenlace de cada lance que disputa. Essas características exercem um mimetismo em todos aqueles saudosos do Sporting dos nossos egrégios avós. Ele estimula-nos a memória e faz-nos recuar aos tempos de glória e amor à camisola. Nada como recorrer ao poeta Régio para transmitir a sensação que tenho quando Acuña está em campo: com ele, o Sporting é "um vendaval que se soltou, uma onda que se alevantou, um átomo a mais que se animou". Ecce homo: Marcos Acuña, "Acuña" Matata, o Rei Leão!

 

P.S. Embora sem a técnica do argentino, o macedónio Ristovski é outro jogador que me encanta pela disponibilidade posta em campo.

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19
Dez19

Helinaldo!


Pedro Azevedo

Dadá Maravilha, grande goleador brasileiro dos anos 60 e 70, dizia que só havia 3 coisas que pairavam no ar: helicóptero, beija-flôr e... Dadá Maravilha. Este temível avançado, um dos únicos 5 jogadores do Brasil a ultrapassar a mítica barreira dos 1000 golos (amistosos incluídos) - conjuntamente com Pelé, Arthur Friedenreich, Túlio e Romário - , não esperava era um dia ter de acrescentar Cristiano Ronaldo à lista de levitadores, algo incontornável após o golo do craque luso à Sampdoria. Ronaldo ou Helinaldo?

 

#airronaldo

#ronaldoairlines

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(Foto: Armada portuguesa; Vídeo: YouTube)

18
Dez19

Melhorar a Organização Ofensiva


Pedro Azevedo

Olhando para o Sporting da era Silas, e independentemente dos múltiplos sistemas tácticos utilizados, nota-se um predomínio de oportunidades de golo criadas a partir da transição defensiva e até de bola parada. Foi aliás de uma recuperação de bola de Bruno Fernandes, seguida de um passe de Acuña, que Vietto se isolou pela esquerda e proporcionou a Luiz Phellype o golo inaugural nos Açores. De forma semelhante desbloqueou o Sporting o jogo contra o Vitória de Guimarães. Adicionalmente, os cantos de Bruno Fernandes têm proporcionado recentemente golos, contra o PSV ou Santa Clara. Na organização ofensiva a equipa encontra mais dificuldades, recorrendo mais a cruzamentos provenientes da ala do que a envolvimentos a partir de apoios frontais, sendo que Mathieu substitui muitas vezes Wendel e Doumbia no passe de ruptura a solicitar as alas, tal como foi evidenciado na abertura para Borja da qual resultou um golo anulado contra o Moreirense, ou no passe de 50 metros de onde surgiu o segundo golo dos leões na deslocação a São Miguel. Foi também dos pés do gaulês, mas nesse caso num estilo mais de jogo directo, que se materializou o único golo do Sporting na recepção à equipa de Moreira de Cónegos. O jogo interior é mais incipiente, não recorrendo tanto a equipa a Luiz Phellype, muitas vezes deslocando-se Vietto para o centro a fim de dar o apoio frontal. O risco é de a equipa de desposicionar aquando da transição ofensiva, com os alas por dentro e os laterais muito subidos, algo que por exemplo proporcionou uma grande oportunidade de golo ao Moreirense no final da primeira parte do jogo em Alvalade. Creio que a solução para que o Sporting seja mais forte nesse importante momento de jogo da organização ofensiva passa por uma melhor utilização do pivô atacante (Luiz Phellype) e pelas aproximações dos médios a essa referência. É que a tabela com LP arrastará marcações adversárias que assim abrirão espaço para o último passe de qualidade (essencialmente de Bruno Fernandes) a solicitar as diagonais interiores de Bolasie e Vietto, não desposicionando tão prematuramente a nossa equipa e não estereotipando tanto o ataque, criando assim maior incerteza no adversário. 

 

P.S. Luiz Phellype não é uma fera na área como o eram Dost ou Jardel nem tem o rácio de concretização destes à frente da baliza, mas possui outras características importantes para a equipa, nomeadamente, fruto de uma técnica razoável, a capacidade de segurar a bola em zonas próximas da área. Pode e deve, na minha opinião, ser melhor rendibilizado com vantagens para toda a equipa, seja por via de um melhor posicionamento global dos jogadores aquando da perda de bola, ou por uma maior imprevisibilidade dos movimentos ofensivos.  

16
Dez19

Tudo ao molho e fé em Deus - Póquer nos Açores


Pedro Azevedo

Apesar de ter visitado São Miguel para jogar com (o) Santa Clara não foi preciso rezar a todos os santinhos para o Sporting sair dos Açores com uma vitória. É que independentemente do estado da relva, frio, chuva, neve ou calor, vento e humidade relativa, trocas e baldrocas tácticas, o futebol é um jogo fácil, fácil em que habitualmente ganha quem tem os melhores jogadores. Basta não complicar, colocando os ingredientes certos em campo. Com Ristovski em detrimento de Rosier, Mathieu em vez de Ilori, Acuña no lugar de Borja e Wendel a substituir um (até agora) holograma proveniente de um clube que também é um holograma de um outro que ainda é um grande em palmarés do futebol português (ufa!!!), os leões foram buscar aquele gostinho de Savora que, já se sabe, toda a comida melhora. E, ao contrário da pedagogia da comunidade médica, sem que com o recurso às especiarias o batimento cardíaco do adepto leonino saísse dos níveis de normalidade. Aliás, pelo contrário, já não tinha uma pulsação tão baixa e via um jogo do Sporting por puro entretenimento desde a penúltima vez que visitámos o Jamor.

 

O Sporting dominou o jogo de princípio ao fim, chegando ao intervalo a dever alguns golos à sua exibição após falhanços de Luiz Phellype e Bolasie. Bruno Fernandes e o surpreendente Ristovski destacavam-se na criação de oportunidades, mas seria o argentino Vietto, já a primeira parte caminhava para o seu termo, a proporcionar ao Felipe das Consoantes inaugurar o marcador. A marcar começaríamos também o segundo tempo quando Mathieu mostrou aos médios defensivos como sair a jogar e com um passe de 50 metros rasgou a defesa açoriana e isolou Ristovski no flanco oposto. O macedónio aproveitou e assistiu LP para o segundo da noite. De seguida, Bruno executou um canto e Bolasie, de cabeça, fez o terceiro. Inspirado pelo golo, o congolês teve o momento Messi do jogo, driblando quem lhe apareceu pela frente até ser derrubado já dentro da área. Na conversão, o inevitável Bruno Fernandes fechou o activo. Estava jogada uma hora de jogo e ainda havia mais meia-hora para disputar. Tempo então para Silas (bem) dar minutos a Batman, o vigilante hoje reaparecido em Ponta Delgada City, super-herói da intensidade defensiva a quem o "Tudo ao molho..." deseja as maiores felicidades.

 

Tenor "Tudo ao molho...": Stefan Ristovski. Boas exibições igualmente de Bolasie, Bruno Fernandes, Luiz Phellype, Vietto (falta-lhe golo e consistência para acompanhar a qualidade técnica que evidencia), Acuña e Mathieu. Os restantes titulares estiveram num plano aceitável.

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16
Dez19

Alcochete nunca, Sporting sempre!


Pedro Azevedo

O Sportinguismo está doente. A última evidência surgiu nos Açores, onde a comitiva do Sporting foi recebida com gritos de "Alcochete sempre!". De facto, algo vai muito mal no reino do leão quando um grupo de manifestantes se reune para fazer a apologia de um ataque às instalações do clube e seus atletas, um crime que provocou danos morais, reputacionais e financeiros ao clube de José Alvalade. Este tipo de acontecimentos, que deve ser repudiado convictamente por todas as sensibilidades existentes no Sporting, é reflexo de uma sociedade em perda acentuada de valores, mas também é sintomático do estado da Cultura Sporting (e sua identidade), incapaz de filtrar tudo aquilo que vem de fora. Todos, mas rigorosamente todos, precisamos de parar para pensar, sob pena de, não o fazendo, se instalar a mais completa anarquia e o clube se tornar irrecuperável. (A propósito, o que fez a Polícia perante palavras de ordem que incitam à violência física?)

 

O clube está à deriva e falta um faról que evite o naufrágio que se pressente iminente. O presidente, que deveria ser a referência para todos os sócios e adeptos, também tem contribuído para um clima belicista ao dirigir-se a sócios moderados que o contestam com epítetos como "esqueletos", "patetas", "papagaios" ou "idiotas úteis", falhando assim até em unir à sua volta aqueles (onde está a reacção dos mais recentes candidatos a eleições no Sporting?) que mais facilmente repudiariam actos como os vistos esta noite em São Miguel. Mesmo aquando dessas infelizes declarações recebeu palmas da audiência presente na entrega dos prémios Rugido de Leão, algo similar ao experenciado quando Bruno Carvalho nomeou os "sportingados", o que mostra bem como os proselitismos muitas vezes se sobrepõem ao Sporting e, simultaneamente, o estado de desnorte da nação leonina.

 

O erro de Varandas tem sido atirar-se a quem o critica justificadamente, procurando colá-los ao extremismo para melhor surfar a onda da vitimização tão comum à pequena política. O núcleo duro do Sportinguismo é formado por sócios moderados, que são um "swinging vote" e decidem eleições. Atacá-los por motivos estratégicos e oportunistas de curto-prazo acabará por esvaziar de todo a capacidade de reacção que seria necessária para conter com eficácia quem não respeita princípios elementares de vivência em sociedade.

 

O Sporting está hoje perdido num mar de equívocos. Existem radicalismos associados a proselitismos de diversa ordem que geram maniqueísmo e sente-se uma incapacidade total de avançar própria do niilismo que se apoderou do clube. O presidente tem uma dificuldade flagrante de comunicação e isso torna-se ainda mais gritante perante a situação em que o Sporting actualmente vive, a qual recomendaria uma liderança forte e congregadora, educativa, doutrinária e que fosse portadora de uma visão capaz de inspirar e apontar a porto seguro. Mais do que preservar o seu mandato, o Sporting precisa que Varandas preserve o Sporting e o Sportinguismo, o que aliás deverá ser a missão de cada sócio. E isso não pode ser feito atacando todos ao mesmo tempo, misturando opinião critica com arruaça, inquietação legítima com transgressão, convivendo mal com a democracia e assim afastando indiscriminadamente as pessoas do clube, sob pena de na hora "H" ficar sozinho perante o próprio radicalismo que ajudou a fomentar (que não a criar). 

 

O momento do futebol também não pode ser dissociado do actual clima. Pedem-se menos erros e arrogância, mais acerto e boas práticas. A soberba precede a ruína, assim como a altivez precede a queda, diz a Bíblia. Palavras sábias que Varandas não deverá ignorar. É que o exemplo vem sempre de cima, e só com humildade, alma, amor à causa e respeito entre todos se reerguerá o grande Sporting. 

 

P.S. Há muito tempo que venho aqui perorando sobre a Cultura Sporting. Espero que finalmente todos compreendam a razão pela qual a considero um pilar fundamental, tal como a as questões da sustentabilidade e dos princípios de governação, num Sporting de sucesso. 

14
Dez19

O reforço


Pedro Azevedo

Os nossos rivais perderam alguns dos seus melhores jogadores e nós reforçámos o plantel, disse a nossa Direcção. Confuso, tive o cuidado de ir consultar o Dicionário Priberam. E não é que vem lá dito que reforçar é tornar mais forte ou resistente, mais intenso, mais numeroso? Atente-se ao pormenor de "numeroso". Na verdade a Direcção não nos enganou. Isto é, pode precisar de internamento urgente numa ala de oftalmologia, mas 9 derrotas em 23 jogos depois não nos podemos queixar de números baixos. Além disso, não podemos olvidar que desde Janeiro contratámos 14 jogadores, o que é um número significativo. Intenso também é um termo apropriado. Eu, por exemplo, fico sempre "in" tenso quando vejo Ilori, Rosier, Borja, Eduardo ou Jesé em campo. E quanto a resistente nem há dúvidas: não há plantel como este, sempre resiliente face aos erros constantes de sócios e adeptos. O Bruno, Acuña, Mathieu e Coates é que parece destoarem bastante, razão mais do que suficiente para os tentarmos rifar o mais breve possível.

 

Temos, por isso, que dizer que a Direcção fez um bom trabalho no que diz respeito ao reforço do plantel. Estou em crer até que apenas 7.5 biliões de habitantes do planeta Terra seriam capazes de fazer melhor. Ah!, e também uma sequoia centenária que há aqui em Santos e que já viu muita coisa a passar-se à flor da relva. Fora isso, mais ninguém. Como tal, os meus parabéns à Estrutura do futebol, ao finíssimo Scouting responsável pelo fim dos "olheiros" e das (nossas) olheiras e ao Alto (enorme?) Rendimento. E, já sabem, se algo porventura correr ligeiramente abaixo das altíssimas expectativas criadas no início da temporada - afinal, o que são dois digitos de diferença quando pouco mais de um terço do campeonato está disputado? - , tal dever-se-á à Formação, esses malandros que andam há anos a sugar-nos o porquinho mealheiro e a inibir-nos de contratar cirurgicamente. 

 

P.S. Na segunda-feira, se tudo correr como o esperado, estaremos num magnífico terceiro lugar. Tomem lá(!), seus criticos...

12
Dez19

Tudo ao molho e fé em Deus - A Valsa dos Milhões


Pedro Azevedo

O Sporting jogou esta tarde em Linz. Ali, mesmo ao lado, na antiga Checoslováquia, Milan Kundera editara A Valsa do Adeus, a sua última obra escrita na terra natal. O livro é um romance onde os personagens abordam questões graves com uma inusitada leveza, fazendo-nos entender que o mundo contemporâneo nos roubou o sentido do trágico. (Não sei se isso Vos faz relembrar algo.)

 

Eliminado da Taça de Portugal, com a Taça da Liga comprometida e a 9 pontos da qualificação para a pré-eliminatória da prova raínha da UEFA, Silas decidiu não dar prioridade a um jogo europeu onde, em caso de sucesso total ou relativo (o empate servia), evitaríamos os tubarões provenientes da Champions nos dezasseis-avos-de-final. Nota-se que o Sporting actual não tem noção do ridículo quando uma partida nos Açores contra o Santa Clara assume prioridade sobre a presença europeia e obriga a poupar quase uma equipa inteira. Mas enfim, já nada nos surpreende, deve ser a isso que se chama valorização da marca. 

 

O Sporting entrou em campo ao som d`A Valsa dos Milhões, género musical ternário cultivado por Varandas, Viana e Beto, os melómanos que levaram os dlim-dlins do mercado aos salões austríacos. Disponíveis para a dançar estiveram Rosier, Ilori, Borja, Eduardo, Camacho e Jesé. Mais tarde, apareceriam ainda Doumbia e Luíz Phellype a dar um pezinho e a mostrarem-nos a todos por onde escoou o dinheiro disponível para transferências. 

 

O Linz marcou cedo, num canto que foi simultaneamente o canto do cisne: Ilori saltou como nunca e falhou como sempre, Rodrigo e Rosier não tiraram os pés do chão e Trauner inaugurou o marcador para os austríacos. De seguida, Rosier não apareceu no enquadramento e Renan não ousou sair da pequena área e meteu um presente no sapatinho do "Santa" Klauss. Reagindo tarde, acabou expulso enquanto via o Lask ampliar o marcador.

 

Com menos 1, o segundo tempo foi penoso para o Sporting. Em tempo natalício, Coates e Max evitaram que saíssemos da Áustria com um cabaz. O uruguaio  limpou tudo o que pôde, inclusivé usando o calcanhar para parar um atraso suicida de Ilori, e Maximiano salvou o resto. Ainda assim, já nos descontos, o Linz marcaria o terceiro.

 

No fim do jogo Silas trouxe a habitual musiquinha. Apelou tanto ao coração que, por momentos, julguei mesmo ter ouvido o coro dos pequenos cantores da família Von Trapp. Em resumo, a culpa foi do risco inerente à aposta na Formação e os adeptos não se podem queixar. Mesmo que Rodrigo tenha saído logo aos 35 minutos, o que é uma estranha forma de encarar a promoção de jovens, ou que Max tenha sido um dos poucos heróis leoninos esta noite na Áustria, ou ainda que das insistências de Pedro Mendes tenham resultado as únicas duas oportunidades de golo do Sporting em 90 minutos. Já quanto à prestação das contratações cirúrgicas dos dois mercados da era Varandas, Silas não emitiu uma palavra. Fiquei elucidado!   

 

Levámos um banho de bola...

 

P.S. O que estragou os planos foi não termos vendido Bruno Fernandes? Haja paciência!

 

Tenor "Tudo ao molho...": Coates. Notas positivas ainda para Max e Pedro Mendes.

lask linz sporting.jpg

11
Dez19

Ranking GAP(3)


Pedro Azevedo

Nesta temporada de 2019/2020, o Sporting disputou até agora 22 jogos - 13 para o Campeonato Nacional, 1 para a Supertaça, 2 para a Taça da Liga, 1 para a Taça de Portugal e 5 para a Liga Europa -, obtendo 12 vitórias (54,5%), 2 empates (9,1%) e 8 derrotas (36,4%), com 34 golos marcados (média de 1,56 golos/jogo) e 28 golos sofridos (1,27 golos/jogo).

 

A nível individual, eis os resultados (estatísticas ofensivas):

 

1) Ranking GAP: Bruno Fernandes (12,10,1), Luiz Phellype (6,2,0), Vietto (4,3,3);

Vencedor - 2018/19: Bruno Fernandes (32,18,17); 

2) MVP: Bruno Fernandes (57 pontos), Luiz Phellype (22), Vietto (21);

Vencedor - 2018/19: Bruno Fernandes (149); 

3) Influência: Bruno Fernandes (23 contribuições), Vietto (10), Luiz Phellype (8);

Vencedor - 2018/19: Bruno Fernandes (67); 

4) Goleador: Bruno Fernandes (12 golos), Luiz Phellype (6), Vietto (4);

Vencedor - 2018/19: Bruno Fernandes (32);

5) Assistências: Bruno Fernandes (10), Vietto (3), Luiz Phellype (2);

Vencedor - 2018/19: Bruno Fernandes (18).

 

Algumas notas complementares:

  • Nesta época, Bruno Fernandes foi até agora influente em 67,6% dos golos do Sporting;
  • Influência de Bruno Fernandes no total dos golos do Sporting - 2018/19: 59,3%; 2017/18: 49,1%;
  • À semelhança de 2018/19, Bruno Fernandes lidera todos os parâmetros de análise (GAP, MVP, Influência, Goleador, Assistências);
  • Atacantes como Jovane Cabral, Rafael Camacho, Gonzalo Plata ou Fernando (não utilizado) ainda não contribuíram para qualquer golo. Jesé tem apenas 1 golo e nenhuma assistência;
  • 14 jogadores contribuíram para os 34 golos obtidos esta época, sendo que 5 deles são defesas. De destacar Coates, com 3 golos marcados, o 4º melhor goleador da equipa (também 4º classificado na lista de MVP). Acuña (defesa) está em 5º lugar como MVP das estatísticas ofensivas.

 

Ranking GAP (Golos, Assistências, Participação decisiva em golo):

 

  G A P Pontos
Bruno Fernandes 12 10 1 57
Luíz Phellype 6 2 0 22
Vietto 4 3 3 21
Coates 3 0 0 9
Raphinha 2 0 1 7
Wendel 2 0 0 6
Acuña 1 1 3 8
Bolasie 1 1 3 8
Mathieu 1 1 0 5
Pedro Mendes 1 0 0 3
Jesé 1 0 0 3
Doumbia 0 1 0 2
Neto 0 1 0 2
Thierry 0 0 1 1

 

10
Dez19

Para mais tarde recordar(*)


Pedro Azevedo

Numa cadeira situada no A24, um homem contempla, ao fim da tarde, a silhueta dos seus consócios dispostos pela bancada poente oposta. 

Dada a hora, no relvado já se reflecte a sua sombra.

Muitos dos consócios, sentados em frente de si, brevemente irão partir. Ao amanhecer fartar-se-ão do maniqueísmo, do niilismo, das bravatas e da guerra e não voltarão. E a sombra, sua companheira de viagem, também irá com eles e com eles desaparecerá.

Mas ainda é fim da tarde. O homem busca um pedaço de papel e nele desenha o contorno da sombra.

Esses traços não irão partir.

Não festejarão em uníssono, e ele sabe-o. Mas não irão partir. 

 

(*) Adaptação livre do conto "A arte de desenhar-te", de Eduardo Galeano

08
Dez19

Tudo ao molho e fé em Deus - Ter ou não ter um ponta de lança


Pedro Azevedo

O fim de semana tinha começado bem. Com efeito, no andebol, o Sporting havia vencido confortavelmente um Benfica que quase 30 anos depois ainda não mostra sinais de ter recuperado do trauma da perda do angolano Vata, o mais marcante andebolista da sua história. Desta forma, terminaram o jogo com um(a) grande Carol(a). O Domingo também abriu da melhor maneira, com o triunfo do basquetebol no Dragão Caixa, 24 anos após o último clássico que a nossa equipa da bola ao cesto aí havia disputado, numa partida em que se produziu um oxímoro. É que quem acelerou mais o marcador foi um... Travante! (E Williams, como na F1...)

 

Embalados pelos êxitos das modalidades, os leões foram a jogo no futebol contra o Moreirense. O momento da equipa não era o melhor. Adicionalmente, em tempos dominados pelos "padres" uma visita de cónegos constitui sempre alguma apreensão. Ainda assim, atendendo à cotação do adversario, o meu prognóstico na antecâmara do jogo era moderadamente optimista. A coisa piorou quando vi que na frente do ataque estava um "avençado centro" (emprestado) com um estilo à "pintas" de lança. Susti a respiração. A inspiração parece ter contagiado Borja, o qual hoje conseguiu ir mais vezes à linha do que em toda a sua carreira por cá. E logo da primeira vez deu golo! Golo esse que viria a ser anulado por 14 cm, uma grande medida para um vídeo-árbitro, um mero detalhe para o John Holmes. Já se sabe que à menor adversidade a equipa desconjunta-se e assim voltou a acontecer. Bolasie e Jesé (por duas vezes) ainda visaram a baliza moreirense, mas seriam os cónegos a ter a melhor oportunidade da primeira parte quando Luther apareceu isolado mas não conseguiu desfeitear o Super Max da nossa Formação, em lance onde, parabolicamente falando, de uma costela de  Neto os deuses do futebol fizeram um Coates.

 

Na etapa complementar a toada morna mantinha-se. Aqui e ali entrecortada pela classe individual dos nossos melhores jogadores, como quando Mathieu fez estrelar a bola no poste da baliza de Pasinato na conversão de um livre directo. Borja procurava centrar para a área, simplesmente a inferioridade numérica sportinguista na área do Moreirense era da razão de 1 para 5 pelo que as jogadas acabavam por não dar nada de relevante. Os minhotos ameaçaram, mas Max desviou com a luva para canto. Eis então que Silas decide jogar futebol com um ponta de lança a sério. E, se 14 cm fizeram toda a diferença, 6 minutos ainda o fizeram mais. Esse foi pelo menos o tempo que Luíz Phellype demorou a marcar, respondendo com uma forte e colocadíssima cabeçada (até parecia o Jardel...) a um cruzamento de Mathieu, um sub-37 que é uma das maiores promessas em Alvalade. Até ao fim o Sporting conseguiu controlar o jogo, com Bolasie muito dinâmico a arrancar a expulsão de Iago e a colocar assim o Sporting em vantagem também no número de jogadores em campo pese embora a entrada de Camacho. 

 

Tenor "Tudo ao molho...": Jeremy Mathieu. Destaques pela positiva para Max, Bolasie e Luíz Phellype. Borja fez o seu melhor jogo de leão ao peito, mas peca por muitas vezes nos cruzamentos a bola ficar no primeiro homem da defesa contrária. Bruno, sempre esforçado, esteve abaixo do normal, Ristovski substituiu Rosier com vantagem para a equipa. Coates, que entrou para o lugar de Neto, não comprometeu. Os outros estiveram num plano inferior aos citados. Azar para Neto, com uma costela partida e perfuração do tórax. Rápidas melhoras para ele!

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