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Castigo Máximo

De forma colocada, de paradinha, ou até mesmo à Panenka ou Cruijff, marcaremos aqui a actualidade leonina. Analiticamente ou com recurso ao humor, dentro ou fora da caixa, seremos SPORTING sempre.

De forma colocada, de paradinha, ou até mesmo à Panenka ou Cruijff, marcaremos aqui a actualidade leonina. Analiticamente ou com recurso ao humor, dentro ou fora da caixa, seremos SPORTING sempre.

Castigo Máximo

31
Jul19

Lateralidades


Pedro Azevedo

Com o devido respeito pelas opiniões dos outros, há temas de conversa que só mesmo no Sporting o são. O mais recente, o penteado do Thierry Correia. Homessa! Poder-se-ia falar de um francês de Dijon que me está a fazer chegar a mostarda ao nariz por ter vindo lesionado e custado uma pipa de massa, de um macedónio que ainda não entendeu na relação em campo com os demais intervenientes os ensinamentos do seu ancestral Alexandre sobre a magnanimidade, de um central adaptado frequentemente desligado da corrente, de um apresentado Gaspar que é mago de um incenso comum, mas o cabelo de Thierry, a quinta opção que por muito mérito próprio, desafiando todas as probabilidades, sobreviveu a diversas provas de fogo e passou a primeira, é que está na ordem do dia. Até já há teorias cinéticas sobre o insustentável peso da sua cabeleira nos dias de chuva e tratados sobre a aerodinâmica da sua melena, imagine-se... Eu estou a ver a desilusão de Sacchi e Berlusconi (no Milan) com um antigo holandês com raízes no Suriname, Bola de Ouro em 87, por causa da trunfa deste. E o ar de gozo do Dassaev antes daquela cabeçada que o sobrevoou na final do Euro-88. E rio-me. Muito. E tenho a impressão que o Sansão, se a Dalila não tem ido em frente com a traição, também se riria... 

30
Jul19

Em 3-5-2 para a Supertaça?


Pedro Azevedo

Trago este tema à colação por me parecer relevante e ainda não o ter visto discutido em blogues ou jornais desportivos. Em 3 de Fevereiro deste ano, aquando da recepção ao Benfica para o campeonato, o Sporting apresentou-se no tradicional 4-3-3 e deu-se mal. Os movimentos frontais de Felix, em aproximação a Seferovic, criaram uma igualdade numérica em redor da grande área leonina que aliada aos movimentos em diagonal de Rafa provocou uma grande desestabilização do último reduto leonino. A tentativa de Keizer de o compensar acabou por se revelar uma emenda pior que o soneto, na medida em que o recúo de Gudelj abriu uma auto-estrada no meio do campo por onde Samaris e Gabriel circularam à vontade. É certo que Mathieu não jogou (lesionado) e sim André Pinto, mas a verdade é que o treinador leonino não terá ficado convencido de que toda a superioridade benfiquista - gritante nesse jogo - adviria dessa contrariedade e no jogo da Taça de Portugal contra o nosso rival de Lisboa arriscou jogar com 3 centrais. 

 

Tendo em conta que correu bem, e independentemente desse sistema táctico não ter sido treinado na pré-época, não é de todo impossível na minha opinião que Marcel Keizer prepare essa surpresa para Domingo. Rafa e Seferovic continuam para os lados da Luz, Felix será rendido por Raul de Tomás, pelo que os "encarnados" não mudarão muito - dinâmicas à parte, pois o actual "colchonero" movimenta-se mais e tem outra criatividade - face à época passada. Nesse sentido, talvez não fosse mal pensado dar mais liberdade a Doumbia para ir à caça, colocando-o na mesma linha de Thierry Correia, Wendel e Acuña, com Bruno Fernandes um pouco mais à frente, Raphinha solto a partir do corredor direito (mas não preso aí) e Dost como ponta-de-lança. No fundo, mais do que um 3-5-3, um 3-4-1-2. Quanto aos 3 centrais, eles poderiam ser Coates, Neto e Mathieu, ou Coates, Mathieu ou Borja, ou até, para quem goste de sofrer, Ilori, Coates e Mathieu. 

 

Perante o arrazoado que aqui descrevi, peço aos Leitores a sua opinião, nomeadamente pretendendo saber se consideram razoável esta possibilidade, se a usariam mas com outros jogadores, ou se a afastam de todo.

30
Jul19

Os jogos da minha vida (II)


Pedro Azevedo

18.11.1984  Sporting - Sp. Braga 8-1

 

A nossa equipa: Vítor Damas; Carlos Xavier, Venâncio, Zezinho e Mário Jorge; Oceano, Virgílio, Litos (Oliveira, aos 34 min.) e Sousa (Eldon, aos 74 min.); Manuel Fernandes e Jordão.

 

Antiga estrela do Liverpool, John Toshack chega em 84 ao Sporting proveniente dos galeses do Swansea, clube onde iniciara a carreira de treinador. Para seu adjunto o Sporting convida Pedro Gomes, ex-jogador e capitão do clube, membro da equipa que venceu a Taça dos Vencedores das Taças em 1964, ainda hoje o único troféu internacional do futebol do Sporting. Damas regressa, após alguns anos no Santander, Guimarães e Portimonense, e Sousa e Jaime Pacheco chegam a Alvalade. Em sentido contrário sai Futre. Ainda hoje me pergunto o que poderia ter sido essa temporada caso o menino do Montijo não tivesse rumado ao Porto. Para além disso, a lesão prolongada de Jaime Pacheco também constituiu um importante revés.

 

Este jogo veio recentemente à baila a propósito da vitória (época passada) por igual resultado do Sporting na deslocação ao Jamor, casa emprestada da Belenenses SAD. Trinta e cinco anos antes, eu estive no estádio com um primo direito meu, na época um dos meus habituais compinchas de bancada. Absolutamente irredutíveis, nada nos demovia. Nem mesmo uma chuva de granizo de proporções bíblicas acompanhada por um dilúvio do arco-da-velha, aquando de uma recepção ao Recreio de Águeda marcada pela estreia de um tal Rodger Wilde (na época havia 2/3 reforços apenas, o que aumentava a curiosidade sobre eles), em que toda a gente se abrigou no interior do estádio, enquanto nós optámos por fazer face à intempérie a fim de não perdermos a entrada em campo do inglês (já não me recordo quem terá substituído).   

 

Voltando atrás, este jogo com o Braga foi referente à 10ª jornada do campeonato. O Sporting somara 7 vitórias, 1 empate e 1 derrota nos nove jogos anteriores. Dir-se-ia estar bem lançado, já com duas vitórias concludentes por 3-0 (Guimarães e Varzim, em casa), outra por 5-2 (Vizela, fora) e ainda uma por 6-2 (Salgueiros, fora). Como senão, uma inesperada derrota por 2-0 em Penafiel, além de um empate sem golos em Portimão. Logo de entrada, uma triangulação entre Mário Jorge e Manuel Fernandes permitiria ao açoriano inaugurar o marcador. Ainda antes do intervalo, António Oliveira ampliaria o resultado, com um tiro à entrada da área. Já no segundo tempo, o Braga reduziu através de uma penalidade polémica convertida por Zinho, um jogador que no futuro viria a representar o Sporting e a ficar na história como um dos que pisaram o relvado no memorável 7-1 ao Benfica. [Neste tesourinho da RAI italiana que encontrei na internet, é possível ver Michel Platini (na época, jogador da Juventus) em estúdio a comentar o castigo máximo e a dizer "non c`è tanto".]

 

Recordo que o golo do Braga despertou um Sporting até aí um pouco adormecido, embalado por dois golos madrugadores. Nem deu tempo para nas bancadas se recrear aquela onda de pessimismo tão típicamente leonina ("we will never make it..."), porque o trio Manuel Fernandes, Oliveira e Jordão abriu o livro. Geralmente, um deles estando bem já era auspicioso. Se dois estivessem ao melhor nível, a vitória estava assegurada. Mas quando os três tenores afinavam a voz... era de qualquer um cair aos seus pés. Assim foi naquela tarde cinzenta de Novembro. Nos últimos 18 minutos, o Sporting marcou 6 golos, uma coisa do outro mundo. Primeiro foi o Manél, completando uma carambola na área bracarense. Depois, Oliveira, bisando no jogo com novo golo de fora da área. De seguida, calhou a vez a Manuel Fernandes de bisar. Na origem dos dois últimos golos, Rui Jordão (Platini, ainda mal recuperado do susto do Euro 84, farta-se de o elogiar). Cansado de assistir, Jordão, à meia-volta, põe o seu nome no marcador. Faltavam ainda 6 minutos para o fim do jogo e o ambiente nas bancadas era electrizante. Os adeptos reagiam entre a incredulidade e a euforia desmedida. Lembro-me de pensar que estava a ter um sonho. Eis então que o craque Fernandes da época faz o seu hat-trick. Mas Oliveira ainda tinha mais génio para soltar da sua lâmpada e inicia um ataque frontal concluído com uma primorosa assistência para o brasileiro Eldon completar o placard. E não foram mais porque a partida terminou aí. Ainda assim, finalizada a décima jornada, o Sporting já tinha marcado por 32 vezes.

 

Estes 18 minutos contra o Braga constituiram a maior demonstração do génio do trio da frente leonino. Outros momentos houve de puro fascínio, e conquistas até bem mais importantes foram por eles protagonizadas, com destaque para a dobradinha de 82, mas se tiver de destacar um momento em que o profano tocou o sagrado então este é o tal. Cortesia dos "deuses" Oliveira, Manuel Fernandes e Jordão.

29
Jul19

Tudo ao molho e fé em Deus - Violinos por Rabecas


Pedro Azevedo

Desloquei-me ao José Alvalade para ver o troféu que homenageia os 5 Violinos, mas em tempo de vacas magras tive de me contentar com 5 Rabecas, uma versão mais tosca e com menos padrão de qualidade que o Sporting de Jesus Correia, Vasques, Peyroteo, Travassos e Albano. O departamento de marketing do clube deveria fazer algo sobre isto, pois a presença em campo hoje de Borja, Vietto, Ilori, Diaby e Eduardo tem de ser vista como publicidade enganosa. Deste modo, terminámos este ciclo antes das competições oficiais sem vitórias, o que não sendo dramático nem me impedindo de sonhar em ganhar a Supertaça, transformou o antigo dirigente Carlos Barbosa num visionário. É que no seu tempo ele previu que Benfica e Porto deixariam de ser oposição para nós, passando o Real Madrid a sê-lo. Atendendo à pré-época de cada clube, dir-se-ia que o objectivo foi amplamente conseguido. Porém, não dramatizemos, o defeso é uma época de experiências e Keizer provou ser um cientista convicto disso mesmo, pelo que o importante é a equipa aparecer em campo sem equívocos no próximo Domingo.

 

Olhando para a prestação dos jogadores quando a equipa tem a bola, muitos Leitores não concordarão com o meu destaque pela negativa dado a Vietto e a Eduardo. Compreendo-o. O argentino, após uma primeira parte apagada, teve um belo passe de ruptura a isolar Raphinha na área e uma vistosa abertura a solicitar a esquerda do ataque leonino. Igualmente, o brasileiro foi capaz de transportar a bola com critério até às imediações da área valenciana nalgumas ocasiões. No entanto, a influência de ambos na dinâmica ofensiva da equipa está a anos-luz da observada pela dupla Bruno/Wendel quando joga nas suas posições naturais. E sem bola, tanto Vietto como Eduardo simplesmente não existem, e logo num sector nevrálgico do terreno onde é importante saber defender. Para além disso, como eu já previra num texto anterior, a passagem de Bruno Fernandes para a esquerda acabaria por ajudar os adversários a controlá-lo, bastando para isso não se exporem tanto no ataque quanto o Liverpool. Ora, atendendo a que a grande maioria das equipas da primeira liga praticamente só defende, circunscrever Bruno, o melhor jogador da Liga 2018/19, a uma banda é reduzir a criatividade do Sporting, auto-condicionando a nossa equipa. E para quê? Para tentar fazer caber um jogador que adivinho ser um nove e meio, mas que com 50% de certeza apenas sabemos ser um sete e meio... milhões de euros? Com tudo isto, só espero que esta passagem de Bruno pela ala não venha a ser um sinal de... ala que se faz tarde!

 

O Borja continua a fazer lembrar aquele caçador que chega ao couto e repara que se esqueceu da arma em casa, voltando para trás. Se a Assunção Esteves quisesse adaptar o (seu) "inconseguimento" ao futebol, a postura atacante do colombiano seria disso paradigmática, sendo o episódio da ida ao couto uma alegoria para o caminho até à grande-área adversária. Diz-se que é certinho defensivamente, mas até isso parece estar a mudar: se contra o Liverpool já tinha sido ultrapassado um sem número de vezes, hoje foi vencido em antecipação no lance de bola parada de que resultou o empate dos valencianos. O Ilori, atendendo ao padrão-Ilori, nem jogou mal, desconhecendo-se ainda a esta hora o que isso significa. Às tantas lá mandou uma biqueirada que supostamente pretendia ser um passe para Thierry Correia, uma paragem cerebral menor face aos AVCs a que estamos habituados. Quanto ao Diaby, mostrou a trapalhice que era suposto só muitos treinos ajudarem a desenvolver, sinal que a preparação está a correr bem e decorre a ritmo acelerado.

 

No meio de tanta experiência, os destaques pela positiva foram Doumbia, Thierry Correia e Renan. Foi tão estranho ver Renan defender um penálti quanto o foi o marfinense fazer esquecer Gudelj, ou o português não oferecer nenhum golo ao adversário e ainda salvar alguns. Ausência notada foi a de Jovane, mas a presença de Diaby está a cortar-lhe as pernas desde o primeiro dia, impedindo-o assim certamente de usar a canela da mesma forma que o maliano. Riscados parecem ter ficado definitivamente Matheus Pereira e Gelson Dala. O brasileiro presumivelmente devido à hiper-inflacção de alas, o angolano porque está bom de ver que o sistema de jogo de Keizer não contempla um avançado que saiba ligar o jogo com a restante equipa, razão pela qual, mais do que um CAN, teria precisado de um CAN-CAN para se mostrar aos olhos dos adeptos. 

 

Saúde-se o regresso de Dost aos golos (grande golo!), numa altura em que o Felipe das Consoantes ainda está a digerir o piano que comeu nas férias, o que a julgar pela sua movimentação em campo terá sido mais um Steinway do que um churrasquinho de porco. 

 

Para finalizar, uma palavra de louvor à aposta na Formação, consubstanciada na magnanimidade de todos uns cinco minutos que foram concedidos a Daniel Bragança, Eduardo Quaresma e Miguel Luís. Adicionalmente, Thierry parece ter agarrado o lugar, após ter sobrevivido a um teste de fogo, na lateral oposta, contra o campeão europeu.

 

Não se iludam os amigos benfiquistas. Todo esta pré-época leonina consiste num plano maquiavelicamente urdido e exemplarmente implementado para os enganar. Dia 4, no Algarve, é que vão ver como elas vos doem! Sporting!

 

P.S. 5 jogos, 0 vitórias, 2 derrotas e 3 empates, 10 golos sofridos (2 em cada jogo) e 8 golos marcados, com Bruno (4 golos, 3 assistências e 1 passe para Raphinha que deu o golo hoje) a estar em todos os golos obtidos pelos leões.

 

Tenor "Tudo ao molho...": Idrissa Doumbia

valência.jpg

28
Jul19

Os jogos da minha vida (I)


Pedro Azevedo

22.02.1976  Sporting - FC Porto 5-1

 

A nossa equipa: Vítor Damas (capitão); Tomé, Laranjeira, José Mendes e Inácio; Nélson, Fraguito e Baltasar; Marinho (Libânio, aos 87 min.), Manuel Fernandes e Chico (Vítor Gomes, aos 63 min.).

 

Costuma dizer-se que não há amor como o primeiro, e este é provavelmente o jogo da minha vida. A minha estreia ao vivo no José Alvalade foi um baptismo de fogo, com um desafio entre o meu Sporting e o FC Porto. Tudo era novo para mim: a multidão concentrada nas bancadas, as luzes, os sons, as movimentações dos jogadores lá em baixo no relvado. Ainda por cima os ânimos andavam exaltados, consequência da Revolução ainda presente no espírito de todos. Para apimentar um pouco mais a coisa, Joaquim Dinis, o "Brinca na Areia", havia trocado à revelia os leões pelos portistas, explorando uma brecha criada pela nova lei das transferências, processo que não caíra bem aos dirigentes leoninos. Se bem me lembro, ainda estava a habituar-me ao cenário que viria a ser a minha segunda casa quando o Porto abriu o activo. Marcou o peruano Cubillas, aquisição milionária dos portistas que havia sido o terceiro melhor marcador do Mundial de 1970 (México) com 5 golos, um número que viria a repetir no Mundial de 1978 (Argentina), onde foi o segundo mais concretizador. Não passou 1 minuto sem que Chico - mais tarde dito Chico Faria para destrinçar de Chico Gordo, seu futuro parceiro de ataque no Braga - igualasse o placard. O grito de golo, o abraço ao meu pai, os sorrisos das pessoas à minha volta, tudo isso coincidiu para a minha primeira comunhão de sportinguismo no templo do leão. À meia-hora de jogo, nova explosão de alegria, com o repetente Chico a colocar-nos em vantagem.  

 

Juca era o treinador leonino (Monteiro da Costa, o portista), e Manuel Fernandes cumpria a sua 1ª temporada de leão, proveniente da CUF, tendo a seu cargo a difícil tarefa de fazer esquecer Yazalde, o anjo com cara de índio que no seu tempo enlouquecera de alegria as bancadas de Alvalade. O Manél de Sarilhos, por volta da hora de jogo, sentenciaria o destino do Porto, marcando o quarto golo do Sporting, culminando uma portentosa exibição. Antes, logo após o recomeço, Fraguito dera uma maior tranquilidade aos leões, obtendo o terceiro. Até ao fim do jogo, o voluntarioso Baltasar, melena loira ao vento, ainda dilataria mais o resultado. E muitos outros ainda ficariam por marcar, tanto quanto a memória ainda me permite relembrar. 

 

Vitória épica do Sporting, contra um Porto recheado de grandes jogadores e em tirocínio para um título de campeão nacional que não lhe escaparia durante muito mais tempo. Dessa equipa recordo Tibi, Gabriel, Simões, Rolando, Alhinho, Murça, Rodolfo, Octávio, Oliveira, Ademir, Seninho, Gomes, Cubillas e Dinis (não jogou em Alvalade), um plantel de luxo. Mas o meu olhar estava fixado em 3 dos 4 ídolos da minha juventude que eu conhecia pela rádio (a minha primeira memória é de um Sporting-Benfica de 1974, ainda com Yazalde, pouco tempo antes do 25 de Abril). E a verdade é que a elegância de Damas, o futebol sambado de Fraguito e a forma como o Manél colava a bola ao pé não me deixaram desiludido e amplamente superaram a tristeza de já não ter visto o "Chirola" ao vivo.

 

Assim começava um grande amor...

 

PS: Os Leitores recordam este jogo? Fica aberto o convite aos mais e menos jovens para relatarem aqui a sua primeira experiência de Sporting no estádio. E começa uma nova rúbrica do "Castigo Máximo": os jogos da minha vida. 

27
Jul19

Não há insubstituíveis?


Pedro Azevedo

O Real Madrid prossegue no seu transtorno depressivo pós-Ronaldo, agora com uma humilhante derrota histórica (3-7) contra o rival Atlético de Madrid. Tal como já havia acontecido no passado, quando o Real deixou sair Di Stéfano (1963), também agora os merengues mostram não estar a saber lidar da melhor forma com o abandono do craque português. 

 

E voltamos à eterna dúvida: é (ou não) Ronaldo insubstituível na actual conjuntura do Real? Eu, que gosto de desconstruir chavões, e sei que quem já nos deixou não vive num cemitério mas sim nas nossas mentes, sinto que sim. Se cada pessoa é única na sua singularidade, por que raio seria assim tão fácil substituí-la? Então tendo sido marcante... A verdade é que o Madrid está uma lástima e não tem ninguém que inspire os outros jogadores, dê o exemplo, os contagie positivamente. E tal como a "seta rúbia", que ganhou a prova máxima da UEFA por cinco vezes, Ronaldo (4 Champions pelo Real) era aquele homem que só com a sua presença em campo já fazia os colegas sentirem-se mais confiantes.

 

Entre o render de guarda de "Don Alfredo" e a chegada à capital espanhola de Cristiano passaram cerca de 50 anos. Querem dizer-me que numa sociedade em que o futuro é hoje, isso não é uma eternidade? Espero que alguém em Alvalade ponha os olhos no que se está a passar com o Real. É que por cá ainda temos um Bruno Fernandes. Insubstituível, está bom de ver. 

27
Jul19

Omnipresente "ma non troppo"


Pedro Azevedo

Esta coisa de mudar Bruno Fernandes de posição, na esperança de acomodar com o mínimo de estragos o Vietto no "onze", faz-me muita confusão. Dirão alguns que resultou contra o Liverpool e não deixa de ser verdade, mas duvido que possa funcionar com equipas cuja principal preocupação seja condicionar o nosso jogo. Para estas, quão menos interior esteja Bruno, mais fácil se tornará controlá-lo, na medida em que o seu raio de acção estará diminuido.

 

Eu compreendo que Vietto não seja um ala, não entendo é que se contrate um jogador para uma posição (segundo avançado) que não existe no sistema táctico de Keizer (pelo menos no Plano A), e menos ainda atinjo que seja uma boa solução o deslocamento do melhor jogador da Liga 2018/19 para a esquerda. Bem sei que os laterais esquerdos leoninos (quaiquer que eles sejam) agradecerão não terem o argentino a "ajudar" (fechar na ala), mas por essa ordem de ideias ainda vamos ver Tiago Ilori a ponta de lança: pode não marcar golos, mas fica mais difícil oferecê-los aos adversários.

 

Bruno Fernandes é um médio ofensivo de grandes espaços. Dá ares de Zidane como criador de todo o jogo, lembra Platini na capacidade goleadora e definição na área, assemelha-se a Deco em solidariedade defensiva e compromisso com a equipa - Bruno é um 3 em 1. Nesse sentido, afastá-lo do centro das principais acções é um erro, como igualmente o seria retirar do nosso corpo os nociceptores (terminações nervosas que comunicam ao cérebro a dor) que dão o alerta de apendicite, em vez de simplesmente remover o apêndice. Não faria sentido, pois não? 

 

Bruno Fernandes parece sempre estar em todo o lado no relvado, nesse contexto ele é omnipresente. Mas também Deus o é (globalmente), e nem Ele consegue evitar muita desgraça que anda por aí... 

25
Jul19

Saudades de alguém ainda presente


Pedro Azevedo

Javier Marías, um grande vulto da literatura que nunca sentiu complexos em escrever sobre futebol e o seu Real Madrid, dizia que uma das piores coisas da vida era quase nunca se saber quando seria a última vez do que quer que seja. Não saber no momento próprio que aquele era o último romance de Bernhard, ou o último filme de Hitchcock, ou mesmo o último dia da nossa existência, pairando assim aquela sensação de que o que houve não chega, e de que não desfrutámos o que poderíamos se soubessemos que aquela seria a última vez.

 

Este trecho veio-me à cabeça a propósito da angústia que venho sentindo nesta pré-época de cada vez que vejo jogar Bruno Fernandes. Tenho a sensação de que algo que me entusiasma se encaminha para o fim, e já não consigo desfrutar da mesma forma do prazer que é ver jogar esse enorme craque sem que o meu pensamento seja tolhido pela melancolia de que essa possa ser a última vez. A cada novo golo, assistência ou malabarismo, um peso vai invadindo a minha consciência.  No fundo, sinto-me nostálgico por ter saudades de alguém ainda presente, um estado de alma que o Leitor poderá considerar um paradoxo, mas que não deixa de ser real. Nesse transe, como poderei eu festejar entusiasticamente como outrora cada lance de génio do Bruno, já sentindo tanto a sua (futura) ausência? Apre, que este mercado mais parece o purgatório do mundo sportinguista! 

 

PS: Se Bruno sempre foi o pensador, o homem que escreveu as páginas mais belas do Sporting destes últimos dois anos, Wendel é puro instinto. Ele é samba, ele é ritmo, ele é música. Uma lástima Jorge Jesus não ter compreendido que a música, ao contrário da letra, não precisa de tradução para mandarim...  

25
Jul19

Tudo ao molho e fé em Deus - Os deuses devem estar loucos


Pedro Azevedo

O Sporting via nesta digressão aos "states" uma oportunidade de divulgar a marca. Mas começou logo por não divulgar a sua marcha, já que depois do "Star-Spangled Banner" (hino nacional americano) e do "You will never walk alone" terem tocado na instalação sonora, o CD com a canção da Maria José Valério não saiu da gaveta. Nem mesmo o mais recente hino entoou no estádio... Enfim, ficámos a perceber que o mundo não sabe que... (Por falar em oportunidades, costuma dizer-se que não há uma 2ª oportunidade para causar uma 1ª boa impressão. Tal é verdadeiro, a não ser que se chame Vietto. Nesse caso haverá uma terceira, quarta...)

 

Os leões entraram em campo com um equipamento alternativo, o que é sempre uma boa forma de mostrar ao mundo a sua marca, ou melhor, a sua Macron. O guarda-redes do Liverpool também quis deixar a sua marca e serviu um frango que nos soube a Fillet Mignolet. Tanta desconversa sobre o nosso Renan (o Salvador) e afinal, depois de Karius, o campeão da europa volta a mostrar não ter ninguém minimamente à altura de substituir o bom do Alisson, também ele brasileiro por acaso. O Sporting assim adiantava-se no marcador, golo de Bruno Fernandes (who else?).

 

Na tentativa desesperada de encaixar Vietto na equipa, Keizer mandou Bruno Fernandes para a esquerda, provavelmente a fim de evitar ter de ceder também Borja ao Moreirense. Renan provava porque é o titular das balizas, defendendo tudo menos uma recarga de Origi, o único sobrevivente da linha avançada ma-fi-o-sa (Mané, Firmino e Salah ainda não regressaram) do Liverpool. Entretanto, Bruno Fernandes voltava a assustar os de merseyside: primeiro, serviu Luíz Phellype, mas o peso das consoantes do brasileiro evitou que recepcionasse a bola à frente do guarda-redes; depois, um alívio de um cruzamento seu encontrou Wendel e o poste; finalmente, ofereceu um golo cantado a Ilori, mas este mostrou ter mau ouvido (o menor dos seus problemas). Diga-se de passagem que os laterais leoninos estavam a ser os piores em campo, com Borja permanentemente ultrapassado na esquerda e Ilori a solicitar demasiadas vezes o apoio dos bombeiros voluntários do socorro, tendo Bruno, numa das ocasiões, acorrido como 112 (só lhe falta substituir Renan). Até que, num minuto, algumas coisas que aqui vamos perorando se materializaram: Vietto, por duas vezes, mostrou não ser um finalizador; Ilori teve mais um AVC, e os "reds" adiantavam-se no marcador em cima do intervalo.

 

Na reatamento, Thierry Correia substituiu Borja na esquerda. Apesar de não ser a sua posição natural, a verdade é que o lateral leonino logo se destacou com um vistoso passe de trivela (para disfarçar não ter pé esquerdo) a isolar Wendel na esquerda. Logo de seguida, de um outro passe seu para Wendel se iniciou uma triangulação que também envolveu Bruno Fernandes, seguida de uma devolução do maiato ao brasileiro da qual resultaria o golo do empate (e que golo, lindo!). E ainda foi arrancar posteriormente um cruzamento venenoso para a área! O Sporting trocava bem a bola, com mudanças de posição entre jogadores e Doumbia muito atento sempre a compensar perdas de bola e a dobrar os defesas em caso de necessidade. Mas com o tempo, o jogo acabou por ir perdendo qualidade, essencialmente porque não foi possível acompanhar o ritmo elevado a que se jogou a primeira parte e, também, devido à quebra do ritmo de jogo provocada pelas inúmeras substituições operadas por ambos os treinadores. Mas ainda houve oportunidade para Thierry voltar a brilhar em missão defensiva, agora à direita, e para os miúdos Nuno Mendes e Quaresma confirmarem que têm nervo e qualidade. 

 

Ao quarto jogo da pré-época, o Sporting realizou a sua melhor exibição. A equipa continua a crescer, com Renan a oferecer segurança, Mathieu (sempre no sítio certo) a confirmar-se como patrão e Wendel (muito bom jogo) e Bruno Fernandes a serem indispensáveis à manobra colectiva. Estes 4 têm sido a espinha dorsal da equipa, a qual bem se deveria poupar a sustos provocados por equívocos como a colocação de Ilori à direita (ou em qualquer lugar fora da bancada), ou a tentativa de fazer de Vietto um organizador de jogo, seja a partir da ala ou do meio, ele que é um segundo avançado. (Ou como um sonho de Varandas ameaça dar pesadelos a Keizer.)

 

O Sporting continua a sofrer golos aos pares. Dois de cada vez, oito em 4 jogos. Em sentido contrário, já marcámos em sete ocasiões, tendo Bruno Fernandes feito 4 golos e eferecido outros 3. Mais palavras para quê? Mais do que hiper-inflacção de alas, o nosso mal é a hiper-dependência do maiato. Os reforços (desde Janeiro) pouco se vão vendo, com excepção de Doumbia, que confirmou as boas indicações do ano passado. O marfinense, tal como Luíz Phellype (este ainda a precisar de mais treinos), dada a sua massa corporal é um jogador que precisa de estar muito bem fisicamente para ter rendimento.

 

No Sporting, pensamos sempre que estamos a ser injustos com as primeiras impressões que alguns reforços nos deixam. A prudência leva-nos a contemporizar, transigir, condescender, 90 minutos após 90 minutos, até ao dia em que a realidade choca de frente connosco e temos de nos ver livres deles. Mas como a natureza tem horror ao vazio, e a bilis precisa de actuar, sentimo-nos no direito de ser taxativos com a nossa Formação. Com eles, decretamos: não prestam. Nem que para isso nos bastem 10 minutos de observação. E parece que toda a gente queda satisfeita assim, ficando amplamente justificado o investimento em quem vem do exterior. (Ainda me lembro das caixas de comentários quando eu escrevia que o Alan Ruiz jogava de saltos altos.) Claro que quando os nossos jogadores vão lá para fora, percebemos que outros povos pensam de uma outra forma. Por isso, os Renato Sanches e os João Mário jogam menos tempo, pois o que interessa é o rendimento demonstrado em campo. Também é certo que quando olhamos para as nossas contas sentimos que algo está errado... Como não gosto da nossa abordagem, e penso que deve existir, isso sim, uma maior exigência com quem vem de fora (porque tem um custo de aquisição e tem de provar ser melhor do que os que formamos), considero da mais elementar justiça destacar aqui a exibição de Thierry Correia, que teve um duplo lançamento de fogo, contra o campeão europeu e a jogar a maior parte do tempo fora da sua posição, e mesmo assim deu boa conta do recado, deixando muito boa gente a pensar no racional do investimento de 7,5 milhões de euros (€5 milhões+ Mama Baldé) em Rosier. (Para não falar no dinheiro investido noutros jogadores, numa altura em que continuamos a não colocar os excedentários que pesam mais na conta de exploração e todos os recursos deveriam ter sido canalizados para tentar segurar Bruno Fernandes e, se possível, na aquisição de um ponta de lança com maior mobilidade fora da área que os actuais e igual eficácia dentro dela.) 

 

Para finalizar, há que dar o mérito ao plano de jogo de Keizer, pela forma como fomos conseguindo tirar a bola da zona de pressão, evitando assim as cargas inglesas, e mudando de flanco para os desorganizar. É que não é todos os dias que nos batemos de igual para igual com um campeão europeu, pese embora o luxo que é ter um Bruno Fernandes. Lamento, no entanto, que o treinador holandês seja sempre tão renitente em dar oportunidades reais aos jovens da nossa Academia, como hoje mais uma vez se provou com a teimosia de aposta em Ilori para lateral direito. Já chega de justificar uma contratação. Não correu bem, ponto. Final. (Espero que Vietto ainda venha a provar a sua utilidade, pois não estou a ver Keizer tirá-lo da equipa.)

 

Tenor "Tudo ao molho...": Bruno Fernandes

liverpool.jpg

24
Jul19

Uma força tremenda


Pedro Azevedo

Oito a dez mil emigrantes portugueses esperados logo à noite no Yankee Stadium para ver o Sporting contra o Liverpool. Sendo este o estádio onde actuam os NY Yankees, equipa de basebol da MLB, diria que os leões só por este facto já fizeram um "home run". É também nestes momentos que se vê que o Sporting tem uma força tremenda. Agora, há que não desperdiçar a oportunidade e divulgar da melhor maneira a marca, num mercado tão poderoso e onde temos tanto para aprender com os melhores exemplos dos "franchises" desportivos americanos. (Espero que se tenha levado material de merchandising suficiente para satisfazer os pedidos dos nossos emigrantes e a curiosidade dos locais.)

24
Jul19

Leões em destaque


Pedro Azevedo

Os andebolistas Luis Frade (pivô) e Gonçalo Vieira (lateral esquerdo), ambos do Sporting, estiveram hoje em destaque (6 golos cada) na vitória histórica de Portugal sobre a Alemanha no Mundial de Sub-21 que se está a disputar em Espanha. Com este triunfo (37-36, após prolongamento), a selecção nacional qualificou-se para os quartos de final do certame, onde defrontará a Eslovénia. A melhor classificação de sempre de Portugal num mundial desta categoria foi obtida na Argentina, em 1995, tendo a equipa lusa aí terminado em 3º lugar. Para além de Frade e Vieira, os leões estão também representados pelo guarda-redes Manuel Gaspar. 

24
Jul19

Algumas ideias para o Sporting


Pedro Azevedo

Quando falamos em cultura corporativa, referimo-nos a um conjunto de princípios, atitudes e comportamentos existentes numa Organização que criam um elo identificador entre sócios e/ou accionistas, administração e colaboradores. Quando a cultura é forte, todas as pessoas directa ou indirectamente relacionadas adoptam uma postura diferente daquela que têm lá fora, absorvendo assim os valores da Organização. Quando a cultura é fraca, tudo o que de negativo vem de fora é trazido para o dia-a-dia da Organização.

 

Os acontecimentos recentes demonstram que é urgente produzir um reforço da nossa cultura corporativa. O que é ser do Sporting e o que é hoje um Ser do Sporting? Na procura desse padrão de identidade único, a pior coisa que se pode fazer é multiplicar essa identidade. Os “sportingados”, os “croquettes”, os "melancias", os “verdadeiros sportinguistas”, "os brunistas" significam, no caso concreto, uma dispersão de conceitos perfeitamente evitável e que, para além de causar confusão na mente das pessoas, não apela à união. O marketing criou em tempos o “Feito de Sporting”, o que me pareceu bem, mas depois falta uma narrativa por detrás da expressão, algo que arregimente à volta do clube. O mesmo com o "Até ao fim", que até dá area apocalípticos e presta-se a zombaria, ou com o "Vem de dentro", que me parece pouco conseguido. Mais do que “o que” fazemos ou “como" fazemos, o que cria laços com as pessoas é o “porquê”. Vejam os exemplos da Apple, de Martin Luther King e dos irmãos Wright. A Apple não vende um produto, cria um novo conceito, um nova modo de utilização, revolucionando paralelamente o mundo dos computadores, da música, dos telemóveis, etc. O Dr King teve muito mais sucesso que os pregadores do seu tempo. Enquanto outros bebiam do ódio racial, Martin disse “I have a dream”, sonhando que brancos e pretos um dia seriam iguais. Os irmãos Wright tinham uma pequena loja de bicicletas e uma paixão genuína por voar. Paralelamente, Samuel Pierpont Langley era rico, tinha um financiamento de 50.000 usd (na época) do departamento de Guerra americano e acompanhamento do NY Times. A verdade é que os irmãos Wright foram os primeiros a voar. Langley desistiu por não ter sido o primeiro. A sua motivação não era voar, mas sim a vaidade, o reconhecimento de ter sido o primeiro, uma motivação errada. Não somos o “glorioso”, nem temos a "causa do Norte" e da descentralização, pelo que temos de descobrir a nossa própria cultura, o que é “Ser Sporting”, a razão de aqui estarmos. E depois, partilhar o nosso sonho com o nosso mercado-alvo. William Bruce Cameron um dia disse que “nem tudo o que pode ser contado conta, nem tudo o que conta pode ser contado”. Atendendo a que somos um clube com menos títulos que os outros dois, mas que sempre (espero que o processo Cashball não tenha delapidado essa noção) pugnou por um comportamento desportivo exemplar, julgo que estas frases se aplicariam como uma luva à nossa narrativa. Para além de que deveríamos reflectir na razão pela qual ganhando muito pouco (no futebol) conseguimos manter, passando sportinguismo de geração em geração, um número de simpatizantes que representa cerca de 3,5 milhões de portugueses.

 

Nesse sentido, urge encontrar factores de diferenciação face à concorrência. Oiço, recorrentemente, críticas à aposta nas modalidades e fico atónito. Na verdade, uma constante narrativa pós-moderna, emanada do início do milénio, produziu em sócios e adeptos a ideia que as modalidades impediam a canalização de maior investimento para o futebol. Nada mais errado, o desinvestimento que fizemos nesses tempos nas modalidades acabou foi por retirar identidade ao clube, o qual sempre se afirmou pelo ecletismo. O efeito prático disto foi o fecho de uma série de modalidades, seguido de enormes gastos na construção de um novo estádio, o qual teve um orçamento que resvalou em dezenas de milhões de euros e, ainda por cima, apresentou durante anos um relvado que mais parecia um batatal. É o que se chama confundir cultura com agricultura... Convém não nos esquecermos que a história do Sporting é feita do Professor Mário Moniz Pereira, de Carlos Lopes - primeiro campeão olímpico português -, de Fernando Mamede - antigo recordista do mundo dos 10.000 metros -, de Joaquim Agostinho, 3 vezes seguidas vencedor da Volta a Portugal (2 pódios na Volta a França, 1 pódio na Volta à Espanha) e melhor ciclista português de todos os tempos e de Chana e Livramento, os melhores hóquistas que o mundo viu.

 

O Sporting deve afirmar-se como um clube do Renascimento, com uma capacidade criadora, reformadora, de mudança de paradigma (o status-quo) e que valorize os seus sócios e as suas opiniões (não podemos querer discutir tudo externamente e internamente reduzir a discussão), com respeito pela integridade das competições, o objectivo de promover um desporto melhor, mais justo, equilibrado e íntegro, tudo assente numa cultura de excelência, compromisso e superação. Nunca, em circunstância alguma, deveremos importar modelos que funcionem com outros, mas que não respeitem a nossa idiossincrasia e/ou os nossos valores e que criem um choque com o que são os valores tradicionais sportinguistas. A cultura de uma organização não pode estar nos antípodas do que é a personalidade e o carácter dos seus colaboradores e accionistas/sócios.

 

Há algumas coisas que me fazem alguma confusão quando olho para a nossa secção de futebol profissional. Os jogadores de futebol não são prestadores de serviços, mas sim quadros do clube. No futebol, a cultura corporativa é designada por mística (um jargão do mundo do ludopédio) e refere-se à união de todo um grupo de trabalho, de forma a que o todo se sobreponha sempre à soma das partes. Uma equipa de futebol não pode ser uma ilha e ela necessita dos sócios, adeptos e simpatizantes para que se possa sentir defendida, acarinhada e apoiada. Por isso, urge retirá-la um pouco do isolamento de Alcochete e aproximá-la do coração do clube (Alvalade), dos seus adeptos (não confundir com hooligans) e de atletas de outras modalidades, numa convivência de leoninidade que se pretende salutar.  Marcar-se um treino matinal semanal em Alvalade (às quartas-feiras?) seguido de um "day-out", à tarde, com os sócios e atletas das modalidades, seja através de actividades de team-building, seja através de apoio ao merchandising (com sessões de autógrafos) na Loja Verde, seja através de seminários organizados pelo Sporting que visem acautelar o futuro profissional dos jogadores (criando aquele factor diferenciador que os jogadores reconhecerão), pós cessação da sua carreira desportiva, em matérias como gestão de empresas, liderança, literacia financeira, etc.

 

 Em traços mais gerais, e visando todo o clube, criaria um Comité de Inovação, forum onde todo o tipo de colaboradores do clube estaria representado. O clube podia promover um concurso de ideias para funcionários/sócios, oferecendo um prémio simbólico como forma de motivar as pessoas a apresentarem-nas. Lembro-me sempre daquele episódio académico, salvo erro na Colgate, onde foi aberto um concurso interno em que se pediam ideias a todos os funcionários sobre como aumentar as vendas. O vencedor foi o motorista da empresa, que preconizou que se aumentasse o bocal das bisnagas de dentífrico...

 

Emparedado em Lisboa pelo Benfica e no Norte pelo Porto, o Sporting necessita de ser um “first mover”. Como tal, tem de ser inovador, ter uma orientação para o crescimento e estar disposto a correr alguns riscos. 

 

Em resumo, e de forma a afirmarmos a cultura Sporting, temos de perseguir os seguintes factores de diferenciação (isso sim justificará a expressão "somos diferentes"):

  • Boas práticas de gestão
  • Respeito pela integridade de todas as competições
  • Ausência de conflito de interesses
  • Transparência
  • Limitação dos mandatos de um presidente (2 mandatos)
  • Compliance
  • Clube renascentista, com ideias e sempre virado para os seus sócios
  • Inovação constante
  • Research&Development: scouting de jovens valores/desenvolvimento na Formação
  • Sustentabilidade assente na Formação
  • Dois Bolas-de-Ouro e 1 Bola-de-Prata formados no nosso clube
  • Sustentabilidade assente em défice de exploração ZERO
  • Gerador das grandes transformações do futebol português
  • Orgulho no nosso ecletismo
  • Clube do primeiro campeão olímpico português
  • 29 Títulos europeus em Atletismo, Andebol, Hóquei em Patins, Futebol e Goalball
  • Excelência, compromisso e superação

 

O futebol, pese a sua idiossincrasia, do ponto-de-vista da gestão tem semelhanças com outros negócios, outras indústrias. Veja-se o caso da indústria farmacêutica: a maioria dos recursos são alocados a R&D (pesquisa e desenvolvimento). Ora, o modelo de sustentabilidade que preconizo para o Sporting, que assenta na Formação, pressupõe o necessário investimento nesses vectores de crescimento como forma de obtenção de rendimento desportivo e, simultaneamente, resultados financeiros. Pesquisa é encontrar desde cedo um conjunto de jogadores muito jovens com algo de distintivo, um dom diferenciador, que possam integrar as nossas escolinhas/escalão de infantis. Para isso, precisaremos de um técnicos com especiais características de detecção de talento. César Nascimento ou Osvaldo Silva eram homens com uma sensibilidade especial para isso e, literalmente, fizeram escola. Adicionalmente, tem de se criar uma base alargada de contactos, de forma a que se possa chegar primeiro. Nesse processo, uma boa rede de olheiros é necessária. A utilização de antigos jogadores que vivam nos diversos distritos do país, o aproveitamento do conhecimento no terreno dos núcleos regionais e a informação proveniente das várias escolinhas (franchisadas) do clube é essencial. Detectado o talento, segue-se o contacto com o jovem e seus pais. É necessário convencer os progenitores de que o Sporting é a melhor opção para o futuro do seu filho. Não é de ânimo leve que um pai entrega um filho a um clube, principalmente quando o agregado familiar vive muito longe de Alcochete. Há a questão dos estudos, a dor do afastamento para quem vive longe, a questão da mobilidade para quem está mais próximo, a escolha do melhor clube. O Senhor Aurélio Pereira sempre se destacou pelas garantias que oferecia aos pais, capacidade de persuasão e sentido de responsabilidade, para além das suas capacidades organizativas e dons de prospecção de talento. Certamente tem feito escola, mas o Sporting tem vindo a atrasar-se face à concorrência essecialmente devido à escassez de recursos alocados aos olheiros e rede de prospecção, mas também devido ao isolamento de Alcochete face à rede de transportes. Enquanto o Seixal está a 15 minutos de barco de Lisboa, o acesso a Alcochete é bem mais complicado. 

Bem sei que a primeira lei económica enuncia que os recursos são escassos, mas é exactamente por isso que se devem estabelecer estratégias de gestão desses recursos. Se há investimento que possa ter elevado retorno é o efectuado na Formação. Temos de investir para podermos detectar primeiro. Por outro lado, há que pensar noutras opções para além de Alcochete. Este é um local físico (os terrenos, inclusivé, ter-se-ão valorizado com a perspectiva do aeroporto e procura imobiliária geral), importante é a propriedade intelectual que temos nos nossos quadros, pelo que me agradaria uma solução alternativa eficiente do ponto-de-vista de transportes e escolas, que não roubasse tanto tempo aos jovens e suas famílias.

Adicionalmente, cumprida a fase da pesquisa, entramos no Desenvolvimento. O Sporting tem de ter um conjunto de técnicos com capacidade formadora, tanto a nível futebolistico como humano. A Cultura Sporting começa aqui. Nas atitudes, nos comportamentos, na divulgação do que é o Sporting, a sua história, os seus heróis, os valores do clube. O rendimento escolar também deve ser monitorizado regularmente. Entrando na questão desportiva, é fundamental que haja um plano de desenvolvimento por jogador. Que passe pela componente física (uma previsão de crescimento pode dar dicas sobre a posição a ocupar futuramente no terreno), táctica e técnica. Nesta última vertente, verificamos que poucos jovens chegam a idade adulta com boa técnica de remate, com o pé ou de cabeça. É mais vulgar vermos aparecer jogadores com velocidade e capacidade de finta, com recepção orientada e passe, mas bons rematadores escasseiam. Haverá, certamente, trabalho a desenvolver nessa área. Mais uma vez, é curial dotar recursos. Precisamos dos melhores técnicos, dos melhores formadores e temos de reforçar essa equipa e não estar permanentemente a perder referências para o nosso rival de Lisboa. E, principalmente, é importante reflectir que os investimentos devem traduzir-se em retorno, o que no caso corrente significa que não faz sentido não dar oportunidade aos nossos jovens na equipa principal. 

 

Adicionalmente, é para mim importante que o Sporting seja visto como um clube que aplica boas práticas e transparente, pelo que gostaria de erradicar todo o ruído históricamente existente à volta das transferências de jogadores - ouvir o presidente dizer que ninguém do actual elenco directivo irá receber "comissões", como se isso fosse digno de elogio (sinal dos tempos), é algo penoso, pois a honestidade/integridade é o mínimo que se espera de quem exerça funções no Sporting, a sua ausência é que deveria merecer veemente repúdio -  e credibilidade de entidades que se relacionem com o clube. Assim, constituiria um Comité de Compliance, independente, composto por personalidades com provas dadas, que pudesse analisar "in loco" todas essas questões (que só chegam ao Conselho Fiscal e Disciplinar mais tarde), emitir o seu parecer e as suas recomendações e inclusivé ter o poder de veto em determinadas negociações. Para além disso, caberia a esse Comité rever todo o tipo de procedimentos existentes no clube, códigos de conduta (colaboradores, sócios, claques) e propor medidas que ajudem à transformação do futebol português (código de ética do agente desportivo...), algo que abordarei em maior detalhe mais tarde.

 

Penso que a visão para o clube e para a SAD deve ser comum. Por isso, entende que o presidente do clube deve, também, ser o presidente da SAD. Com a criação de orgãos que vão reforçar a transparência da(s) instituição(ões), julgo que ficam asseguradas as condições para que tudo corra pela normalidade. Adicionalmente, proporia em Assembleia Geral uma limitação de mandatos do presidente do clube a 2 mandatos. Com isso pretenderia evitar o sempre problemático apego ao poder e estimularia o trabalho em equipa. 

 

O Sporting precisa de maiores proveitos e entendo como importante a dinamização dos núcleos nesse sentido. Estes são um bom canal de vendas (para além da bilhética) e potenciadores de negócios para o clube. Estão nas regiões e devem estar ligados ao tecido económico das mesmas. Poderão servir para aumentar o número de associados, incrementar as vendas de produtos e serviços do clube e como polo aglutinador de patrocinadores para o clube através do conhecimento das forças vivas da região e suas necessidades de promoção das marcas. Deveriam ter Promotores comerciais, pagos à comissão, na venda de produtos/serviços, num modelo que poderia atribuir um "fee" maior ao núcleo, ficando estes responsáveis pelo pagamento dos comerciais, ou um "fee" menor, assumindo o Sporting os compromissos com esses comerciais. Gostaria que um dia nos fosse mostrada uma discriminação dos proveitos obtidos na Loja Verde, Rua Augusta, "on-line sales" e outros canais, de forma a perceber de que forma se podem melhorar as vendas nos diversos canais de distribuição. Nos escrutínios eleitorais, os núcleos deveriam poder participar através do voto electrónico, observadas as necessárias garantias de fiabilidade e integridade do sistema. 

 

Gostaria que o Conselho Directivo do clube tivesse um pelouro da Juventude. Para quem não pratica desporto federado no clube e é jovem, a oferta é pouco mais do que umas idas ao estádio ou pavilhão para apoiar as equipas do clube. A juventude não são só as claques (muitos deles já avôs) e temos de estimulá-los. Olhando para as novas tendências e para a emergência dos desportos radicais, o Sporting poderia abrir as portas para quem se quisesse iniciar em modalidades como o surf (entretanto criado), kite-surf, escalada, paraquedismo, et caetera, actividades pagas e com um custo mais baixo para novos associados, iniciativa que creio iria contribuir para chegarmos a mais sócios e mais cedo. Adicionalmente, e em conjunto com a Fundação Sporting, estimularia programas de voluntariado para jovens, em acções de responsabilidade social.

 

Em relação à relação do clube com os seus sócios, proporia o seguinte:

  •  CRM Sporting: os sócios têm diferentes competências, trabalham em diferentes sectores de actividade, têm skills que podem ser úteis ao clube e à sua Direcção. A partir do momento em que é extinto o Conselho Leonino, ainda mais importante é explorar o conhecimento que estes sócios têm sobre matérias específicas, podendo e devendo a Direcção pedir-lhes apoio na implementação de certos projectos ou, simplesmente, via algum conselho que possa ser dado, sempre em complemento das equipas de colaboradores do Sporting. Para que a Direcção possa conhecer melhor os seus sócios tem de promover um novo cadastramento dos mesmos (os dados preenchidos aquando da adesão são insuficientes). Proponho que se olhe para as melhores práticas da banca, a qual tem hoje em dia um formulário obrigatório denominado Know Your Customer (KYC), que inclui dados complementares (profissionais e áreas de interesse). Depois é adaptá-lo à relação entre um clube e seus sócios (os dados patrimoniais já seriam talvez intrusivos) e lançá-los numa plataforma CRM. No passado, criei uma de raíz através do Microsoft Dynamics, a custo muito baixo. Outro aspecto relevante é esta ferramenta também permitir fazer uma segmentação dos sócios, por "bucket" etário, geografia, profissão, interesses, etc, adaptando a nossa oferta de produtos/serviços a cada segmento. Preocupação que tenho nesta matéria: Protecção de dados. Associado ao CRM, geralmente existem diferentes níveis de prioridade de acesso aos dados do cliente/sócio. Alguns dados deveriam permanecer confidenciais para todos os colaboradores e só poderiam ser acedidos pelo Conselho Directivo/Conselho de Administração e pelo Director de Marketing. Tenho um exemplo muito desagradável no passado, com outra Direcção, quando, através de um Contact Center, uma determinada companhia de seguros começou a ligar-me diariamente e às horas mais impróprias (durante reuniões e/ou à hora do jantar) no sentido de que lhes comprasse um  determinado produto. Isto durou meses - todos os dias ligavam-me pessoas diferentes - apesar de, desde o início, ter referido não estar interessado. Quando lhes perguntei como tinham obtido os meus dados referiram-me que o Sporting lhes tinha vendido a base de dados dos seus sócios. Fiquei indignado é só não tomei uma providência por ser o meu clube do coração (já não me recordo - sou sócio há 39 anos - se aquando da filiação havia algum campo que permitisse a transmissão de dados, mas sendo eu menor na altura duvido que isso fosse legalmente permitido). 
  •  Provedor do sócio/Secretário Geral: não sei se existe; no site, em lugar de destaque, não consta. Como podem os sócios encaminhar sugestões para o clube? Ou queixas sobre um determinado abuso por parte do clube? Seria importante, em ambiente fechado ou aberto a outros sócios, os sócios terem um espaço onde pudessem apresentar sugestões de melhoria de determinados serviços ou ideias, visões, para o futuro do clube. O tipo de conteúdo é diferente de uma Linha de Apoio, pelo que deveria haver um canal próprio criado para o efeito. Já agora, gostaria de deixar aqui uma nota à atenção de alguém responsável porque, tendo acontecido comigo, dela tenho conhecimento. No início do ano passado, o banco que uso para débito em conta, das quotas dos meus 3 filhos, após uma integração, mudou os IBANs dos seus clientes. O resultado disso foi que os antigos IBANs deixaram de estar disponíveis e os pagamentos não foram efectuados (teria de me ter deslocado a Alvalade e dado os novos IBANs). São 3 quotas que estão a meu cargo, dois dos meus filhos já são maiores de idade e já não sou eu que recebo as mensagens para pagamento, e o Sporting deixou de ter assegurado o pagamento das quotas por débito directo, passando para a situação mais precária (e ao cuidado da memória de cada um) de ter de ser o sócio a fazer a transferência por multibanco ou home-banking, tudo isto, dizia, sem me fazer um único telefonema. Ora, é ou não de todo o interesse do clube que os sócios não tenham as quotas em atraso?  
  • Sócios - iniciativa Glória do mês: iniciativa que visaria homenagear mensalmente um atleta que pelo seu palmarés e comportamento social tenha sido uma referência dos valores que apregoamos. Do futebol ao atletismo, do hóquei ao basquetebol, do andebol ao futsal e restantes modalidades seria prestada homenagem a essas figuras, o que permitiria aos mais jovens tomar consciência de quem foram essas pessoas e aos mais antigos recordá-las com saudade. Armando Marques (tiro), vice-campeão olímpico (quem conhece?), Chana (hóquei, campeão do mundo, para mim, ainda melhor que Livramento, quem conhece?), Rita Villas-Boas (trampolins, vários títulos, quem conhece?). Isso permitiria às pessoas, durante esse mês, tomar contacto com a história desse atleta e da sua modalidade, com peças na SportingTV, jornal do Sporting, Site do clube e iniciativas próprias no estádio de Alvalade e no Pavilhão João Rocha antes dos jogos das nossas equipas, reforçando o orgulho de ser Sporting e o "awareness" sobre uma modalidade específica.  
  • Stock-out Loja Verde: mensalmente, haveria um dia com preços bastante mais baixos, com colecções "retro" de outras épocas, vendidas a preço muito acessível. 
  • Dia de Sporting: trabalho de pré-época, de conjugação dos calendários dos jogos no Pavilhão com os jogos no Estádio, permitindo maior afluência de público, envolvendo famílias. Criação do Pack Dia do Sporting, de bilhete único para utilizar no estádio e pavilhão, no mesmo dia. 
  • Sócio do mês: em todos os jogos em Alvalade, o Conselho Directivo (por mérito ou por sorteio, critério a definir) escolheria alguns sócios, os quais teriam direito a assistir aos jogos em Alvalade com a sua família (4 pessoas, p.e.), entrar em campo com as equipas, dar um pontapé de saída simbólico, receber uma bola autografada por todos os jogadores e treinadores, efectuar uma visita guiada a Academia e Museu, participar nas homenagens ao atleta do mês (Glória), entrevistas a SportingTV e Jornal do clube dando conta da sua experiência de envolvimento com o clube. Nota: poucos sócios reunem condições para terem a familia com eles nos jogos durante toda a época. Só aqui em casa somos cinco, pelo que se torna incomportavel caso não queiramos naturalmente descriminar qualquer dos filhos. 
  • Colecção de cromos GLÓRIAS do SPORTING: (ideia que me foi trazida pelo Leitor JHC e posteriormente desenvolvida) uma colecção de cromos digital (com um chip que possa ser lido em aplicativo) com os craques de todos os tempos do nosso clube e vendida na Loja Verde;
  • Site do Sporting: carece de urgente reformulação. Não só é muito pouco sofisticado técnicamente, com consequências a nível de navegação, como é paupérrimo em termos de conteúdos e da sua actualização (procurar as equipas de Formação é um exercício surrealista, os jogadores são sempre os do ano anterior), mesmo a nível do calendário de jogos da nossa equipa principal de futebol. É muito pobre, tem muito poucas referências à nossa história e à dos nossos atletas e é pouco funcional e interactivo (a não ser para pagamentos de quotas ou gamebox). Aqui há tempos, o Nosso comentador JHC deu conta de um site brasileiro, "Esquadrão Imortal", que faz mais jus à carreira de Peyroteo e dos 5 Violinos do que qualquer publicação leonina (exceptuando os livros de Fernando Correia). No mês dedicado a um atleta, poderiam ser incluídos no site peças diárias sobre todos os relevantes atletas dessa modalidade onde o homenageado se destacou. 

 

Há muita a fazer a nível de merchandising do clube. O merchandising é um elemento essencial na afirmação de uma marca. Na minha opinião, não faz sentido o Sporting abrir uma loja na Rua Augusta, de dimensão bem mais reduzida do que a que o Benfica tem na mesma rua, apenas dois quarteirões abaixo. Aquilo que deveria ser considerado como muito positivo – abertura de uma loja numa zona com enorme circulação de pessoas, muitas delas de cidadania estrangeira, aspecto importante na internacionalização da marca – acaba por ficar indelevelmente marcado pela comparação pela negativa face a um rival, algo facilmente percepcionado por qualquer transeunte e que põe em causa a imagem do Sporting como a maior potência desportiva nacional. Se queriam competir na mesma zona não poderiam ter arranjado um espaço pelo menos de dimensões idênticas às do rival? Estas coisas têm de estar integradas com a estratégia de afirmação do clube e serem transversais a todos os pelouros atribuídos no CD/CA. Outro aspecto que tem vindo a ser negligenciado: os estágios de pré-época na Suiça não têm sido aproveitados para divulgar a nossa marca internacionalmente, nem para satisfazer a procura dos emigrantes portugueses. Por incrível que pareça, o Sporting não tem transportado nenhum material de merchandising consigo nestas viagens onde foi visível a presença de vários emigrantes com camisolas desactualizadas. Dado que a equipa actuou em diversas cidades suíças, porque é que o Sporting não fez deslocar um camião itinerante da Loja Verde? O mesmo se aplica aos nossos jogos fora de casa, em Portugal, que também não costumam ter a presença de qualquer merchandising do clube, algo que acaba por ser um sonho para a contrafacção.

 

PS: Tudo o que se encontra plasmado neste Post e que continua por fazer foi anteriormente publicado em Julho de 2018 no "És a nossa Fé". Algumas outras ideias vi aplicadas, mas certamente não por as terem lido ou ter havido interactividade no passado, vidé a forma como ainda recentemente um dos administradores da SAD se referiu depreciativamente às "redes sociais". Para além da falta de humildade, há toda uma cultura vigente, que já vem de trás, em que as ideias dos sócios não são de todo valorizadas, exceptuando em época de eleições, período em que de repente os sócios passam a ser verdadeiramente o centro das atenções. Tenho muito mais ideias em "pipeline", mas pergunto-me se há interesse nisso, pois o mais certo é ir incomodar alguém. No fim do dia, o que parece importar é se a bola entra ou bate na trave. E contra isso...

22
Jul19

Treinador bom vs treinador adequado


Pedro Azevedo

O Sporting é um clube que para ser sustentável tem de apostar na Formação. Ao contrário do nosso rival Benfica, a quem o negócio de compra/venda de jogadores parece assentar bem e ser muito glamoroso, a experiência do Sporting no mercado tem sido quase calamitosa. E digo quase, porque o clube não se tem dado mal recentemente num segmento um pouco mais elevado, tendo conseguido contratar jogadores como Coates, Mathieu, Wendel, Acuña, Dost ou, o nosso Rei Leão, Bruno Fernandes. É certo que também veio um tal de Alan Ruiz, mas quando comparamos com a saga dos Carlos Miguel, Kmet ou Gimenez de outro tempo, há que dizer que houve uma clara melhoria nesse aspecto. Infelizmente, é o conjunto de aquisições no chamado "middle market" que vai deixando as nossas finanças depauperadas, essencialmente pela quantidade de apostas mal sucedidas que temos protagonizado. Jogadores como Viviano, André Pinto, Petrovic, Misic, Bruno Gaspar ou Jefferson, a que se poderiam adicionar várias dezenas de outros só na última década, têm reduzido mercado e elevado ordenado, constituindo uma enorme dor de cabeça para quem gere as finanças do clube. 

 

Tomando a aposta na Formação como um factor crítico de sucesso, mais do que avaliar se o treinador a contratar é bom ou mau, importante é saber se é adequado à nossa política. E creio ser aqui que tem residido o busílis da questão. Por exemplo, Leonardo Jardim foi um treinador adequado para o Sporting, numa altura em que se reduziram os custos com pessoal na SAD de €42 milhões para €25 milhões. Este corte nos custos só se tornou possível pela aposta na Formação. Nesse sentido, William, um jogador que se encontrava desterrado na Bélgica (Cercle Brugge), foi chamado à primeira equipa, destronando um jogador bem querido de parte da massa associativa (Rinaudo). Um sinal de uma nova política que englobou também Adrien, Cedric, Wilson Eduardo, André Martins, Carlos Mané ou Eric Dier (para além de um já bem instalado Rui Patrício). Já Jorge Jesus, independentemente das suas competências, não terá sido o treinador adequado para o Sporting, na medida em que fez estagnar toda uma geração de jovens (hoje entre os 23 e os 25 anos), "obrigando" o clube a recorrer constantemente ao mercado, inclusivé na procura de uma quantidade de jogadores redundantes, visto apresentarem uma qualidade igual ou inferior ao que tínhamos na nossa Formação. É que quando se fala que urge baixar os custos com pessoal até aos 50 milhões de euros, é bom não esquecer que a diferença para o valor actual (€70 milhões) são essas "gorduras" de que falamos em cima, excedentários esses que ajudam a justificar o seguinte cenário: os 10 jogadores mais bem pagos custam 23 milhões de euros anuais; o restante plantel (total de mais de 80 jogadores) tem um custo equivalente ao dobro, com destaque para o bucket dos jogadores entre os 10 e os 30 mais bem pagos, que nos custam cerca de 20 milhões de euros (dados retirados da Auditoria que se tornou pública e referentes a 2018*). 

 

Keizer tem uma ideia positiva de futebol. Quando comete um erro de arranjo táctico da equipa, raramente o repete, notando-se que aprende (vidé jogos com Benfica). Os jogadores parece gostarem dele. Tudo isso são factores positivos. Simplesmente, tenho muitas dúvidas de que o holandês seja a pessoa indicada para rendibilizar a nossa Formação e assim estar de acordo com o modelo de sustentabilidade de que precisamos. Adicionalmente, também não me parece que lhe tenha sido entregue a gestão de todo o departamento de futebol (Formação incluída), pelo que não se afigura simples que as suas ideias de futebol venham a ter correspondência naquilo que se treina nos escalões jovens. É também esta falta de abordagem "top-down" que nos vem afastando, ano após ano, da glória. Só assim se compreende o desperdício de um talento como Daniel Bragança, um rapaz que merecia um modelo de jogo que privilegiasse a construção desde a posição "6", algo que vimos o ano passado com Gudelj não estar nos planos de Marcel Keizer. Não está, e dada a sua inflexibilidade na forma como pensa as dinâmicas (e o receio em lançar jovens) - mais do que a questão táctica, onde já se mostrou capaz de transformar o 4-3-3 num 3-5-2 - , não é de esperar que venha a estar. 

 

Por tudo isto, mais do que estar a dizer se alguém é bom ou mau, competente ou incompetente, é importante que se perceba se é adequado ao que pretendemos. E, já agora, dentro do que pretendemos, também será importante definirmos se queremos ter um modelo próprio de futebol treinado desde os escalões jovens, ou se queremos estar sempre a mudá-lo em função de cada novo treinador. A ascensão e sucesso na equipa principal dos mais jovens também passa muito por uma ideia de futebol que cumpre definir em cima. Ela seria como a Pedra Filosofal de todo o projecto, a alquimia que mais facilmente transformaria em ouro o produto do labor dos vários artesãos qualificados que ao longo dos anos temos tido em Alcochete.

 

(*) Os Custos com Pessoal em 2018 eram €5 milhões de euros superiores (€75 milhões), mas se descontarmos a diferença entre o ordenado de Jesus e os ordenados de Keizer e Peseiro (mais a indemnização deste último), então concluímos que o custo com o plantel ficou praticamente igual. 

21
Jul19

Interlúdio publicitário - Expressões da Língua Portuguesa


Pedro Azevedo

"Deus DANONE a quem não tem dentes" - Sporting vs aproveitamento de Bas Dost

"FIAT na Virgem e não corras" - Sporting vs Merih Demiral (família Agnelli) e Formação

"Quem sabe, SAAB" - Sporting vs Bruno Fernandes (Fica Bruno!)

"Meter o ROSSIO na Rua da Betesga" - Sporting vs Luciano Vietto (patrocínio CML)

"Quem vê CARAS, não vê corações" - Sporting vs empresários do futebol

"Nunca mais é SÁBADO!" - Sporting vs jejum no campeonato nacional

20
Jul19

Leão rima com campeão


Pedro Azevedo

Portugal tem um novo campeão europeu de sub-20. Na prova dos 1500m do Campeonato da Europa de sub-20 em atletismo que se tem estado a disputar em Boras, na Suécia, Nuno Pereira, atleta do Sporting Clube de Portugal, ganhou a medalha de ouro. Para além da vitória, importa assinalar a extraordinária recuperação que protagonizou, com uma ponta final em superação, feita de esforço, dedicação e devoção, que só poderia mesmo ter terminado em glória.

Convido-o então a ver o vídeo (merece a pena):

20
Jul19

Princípio inalienável (2)


Pedro Azevedo

A compra de jogadores em parceria tem 2 problemas: geralmente quem paga o ordenado somos nós, na venda só ganhamos na proporção da % dos direitos económicos que estão na nossa posse.

 

Quando se tem um défice estrutural na SAD de cerca de 60 milhões de euros anuais (cerca 43 milhões de euros negativos nos 9 meses até 31 de Março de 2019) antes da venda de jogadores, talvez não fosse mal pensado reflectir sobre isto...

 

Há um velho ditado português que diz que quem não tem dinheiro, não tem vícios. A ideia do oásis e o financiamento fácil tiveram as consequências na sociedade portuguesa (e no mundo) conhecidas de todos após 2008. Por conseguinte, criemos primeiro as condições para sermos sustentáveis. E essas condicões criam-se comprando apenas qualidade e complementando com a Formação. Nesse sentido, Bruno Fernandes ou Acuña (10 milhões de euros cada) foram baratos e Petrovic (aquisição de baixo custo e ordenado anual superior a 2 milhões de euros, segundo a auditoria que se tornou pública), pese embora o apreço que lhe ganhei pelo sacrifício em campo na final da Taça da Liga, foi caro.

 

PS: os nossos Gastos Gerais administrativos, no Sporting denominado de "Gastos e perdas operacionais sem transações com jogadores" ( soma dos Custos com Pessoal com fornecimentos e serviços externos e outros pequenos itens) continuam acima dos 100 milhões de euros anuais (estavam em cerca de 80 milhões de euros nos nove meses terminados em 31 de Março de 2019), situação que já vinha do tempo de Bruno de Carvalho. Sem Champions, é preocupante assistir ao crescimento dos FSEs e à subida das amortizações, esta última consequência directa da compra de jogadores e da não aposta na Formação. Aguarda-se que pelo menos se consiga emagrecer a rubrica de Custos com Pessoal. 

20
Jul19

Princípio inalienável (1)


Pedro Azevedo

Qualquer jogador que venha para o Sporting tem de fazer a diferença. Caso contrário terá sempre de ser considerado um reforço falhado, na medida em que a sua contratação envolverá uma compra, comissões, ordenados e peso nas amortizações e Resultados da SAD. Não esquecer ainda o custo de oportunidade: nem sempre a nossa Academia produzirá Ronaldos, Figos ou Futres, ou mesmo Adriens, J. Mários, Williams ou Patrícios, mas se é para comporem o plantel como segundas opções e irem entrando (ganhando assim um maior valor de mercado), então os nossos jovens não deslustrarão face a quem não vem para ser titular. Para além da adopção desta política ter um efeito positivo nos Resultados da SAD, também se encontrará justificação para o investimento que anualmente fazemos nas camadas jovens. 

19
Jul19

Tudo ao molho e fé em Deus - Juventude inquieta


Pedro Azevedo

A pré-época é pródiga em experiências. Essas experiências normalmente transmitem sinais. Se temos um lateral direito de raíz no banco (Thierry) e adaptamos um central (Ilori) à posição, então não é preciso ser-se o (Detective) Correia para compreender o que se irá passar no futuro. 

 

A primeira parte foi muito má. Na ala, Vietto não desequilibrou nada à frente e também não equilibrou atrás, pelo que a continuar assim promete só fazer a diferença nas contas. Sobrou para Abdu Conté, que muitas vezes apanhou com 2 adversários pela frente, um dos quais um diabrete com nome de Dennis (o Pimentinha?) e enganador apelido de Bonaventura. A custo, Neto e Mathieu lá foram colando os cacos, contando também com a falta de pontaria dos avançados do Brugge. Numa jogada de insistência, os belgas adiantaram-se no marcador, com um jogador deixado completamente solto na área, por a defesa dos leões o ter tentado pôr em fora de jogo esquecendo-se que Abdu Conté tinha ficado para trás na tentativa de um corte de carrinho. Em cima do intervalo, e contra a corrente do jogo, de mais uma combinação entre Bruno Fernandes e Raphinha resultou novo golo leonino nesta pré-época, o terceiro com a assinatura exclusiva desta parceria. 

 

Para o segundo tempo, Vietto e Dost ficaram de fora. O argentino, que passou a primeira parte toda a sobrevirar para a direita (procurando o centro do terreno, sua posição natural, ele que é um segundo ponta de lança e portanto nunca recuará para pegar na bola onde Bruno Fernandes muitas vezes inicia a contrução), recebeu ordem para sobrevirar para a esquerda, que é como quem diz para sair do campo, porventura tornando-se assim mais útil à equipa. Entraram Jovane e o Felipe das Consoantes. Ter um ala que vai para cima deles (defesas) faz sempre alguma diferença, e o miúdo começou logo a dar nas vistas: primeiro, serviu Luíz Phellype para um remate venenoso, depois marcou o segundo dos leões. Na origem da jogada estiveram mais uma vez Raphinha e Bruno Fernandes (assistência). O cabo-verdiano deverá, no entanto, refrear os ânimos quando na sua área, evitando assim penalidades escusadas como a que resultou no golo do empate dos belgas. Renan mostrou mais uma vez porque não merece ser um patinho feio, pese embora Max seja muito promissor. O brasileiro salvou por duas vezes na mesma jogada o golo dos belgas. À terceira, Ilori mandou para canto. A partir daí massificaram-se as substituições. Bruno ainda teve um remate que quase ia dando golo e depois ficaram quase só miúdos em campo. E a verdade é que se mostraram mais à altura do que muitos dos reforços, em especial o Daniel Bragança, hoje a jogar como médio de ataque e a dar sempre ritmo ao jogo, o Nuno Mendes, que mostrou segurança, e o Plata, desta vez menos trapalhão e a libertar a bola na altura certa. Tempo ainda para Luíz Phellype encenar a fábula da lebre e da tartaruga. desta vez com uma conclusão bem mais lógica. (O brasileiro é daqueles jogadores que não estando em forma física é um a menos quando o Sporting tem a bola.)

 

Ao terceiro jogo da pré-época a sensação que fica é que estamos no mesmo patamar do fim da época passada. Não se consegue neste momento determinar se os reforços justificam o nome, para além de Neto (provável suplente de Coates e Mathieu) que promete vir a ser útil (Eduardo tem potencial, mas ainda é cedo para perceber até onde pode chegar). Os outros não tem feito a diferença, não havendo ninguém que se perspective um titular indiscutível. Em sentido contrário, Jovane mostrou que se tem de apostar mais nele, não só pelo que fez no ataque mas também pela cobertura que deu a Abdu Conté e que não existiu no primeiro tempo, e Daniel Bragança deixou água na boca, ficando à espera de o ver jogar com Wendel e Bruno Fernandes. Doumbia esteve mais solto e Eduardo Quaresma, que está connosco há oito anos, continua a deslumbrar pela personalidade que demonstra jogo após jogo, tendo hoje mostrado estar completamente à vontade contra uma equipa formada por jogadores experientes e de bom nível. O que parece óbvio é que nos falta um ponta de lança que tenha mobilidade e simultaneamente seja decisivo na área. Uma pecha não colmatada desde a saída de Slimani, embora um jogador com um pouco de mais tecnica, que combinasse melhor com a equipa, na linha de um Liedson, igualmente capaz de pressionar a saída de bola adversária, fosse uma grande contratação. O problema é que essa deveria ter sido uma prioridade antes da contratação dos 5 jogadores do Mercado de Verão.

 

Para terminar, nos desequilíbrios atacantes a equipa parece totalmente dependente de Bruno Fernandes e de Raphinha: tendo o Sporting até agora marcado 5 golos nestes 3 jogos, Bruno marcou 3 e produziu duas assistências; já Raphinha participou até agora em 4 golos. Como tal, não é preciso ser "Brugge" (nem Ristovski) para adivinhar o que seria esta equipa sem o Bruno. 

 

P.S. Os meus sentimentos pelo falecimento do nosso antigo treinador Robert Waseige, por quem hoje foi respeitado um minuto de silêncio antes do início do jogo. 

 

Tenor "Tudo ao molho...": Bruno Fernandes

brugge.jpg

19
Jul19

A causa das coisas (reloaded)


Pedro Azevedo

No princípio era o sortilégio da bola, aquela "criatura" rebelde, com vontade própria, que rolava e saltava à minha frente. Não podendo ser domada, ensinada, adestrada, havia pelo menos que poder dominá-la, controlá-la, impôr-lhe a nossa vontade, e esse era todo um desafio. Jogar à bola era só a consumação do amor, muitas vezes primeiro era preciso merecê-lo, nem que para isso fosse necessário recorrer à manufactura caseira e improvisar um objecto redondo a partir de umas meias de vidro. Outras vezes havia que estudar a relação da bola com o vento, que parecia soprar com mais ou menos nós conforme a bola fosse de plástico ou de borracha. A bola de cautchu era o nirvana de qualquer miúdo, o banquete para todos os sentidos. Com uma bola "oficial" nas mãos, a ideia de jogador da bola ficava completa com a camisola do clube de eleição no dorso. A minha, a do Sporting, foi comprada na Socidel, a casa que anteriormente havia sido do melhor de nós todos, o incontornável Peyroteo. 

 

Aos 8 anos, o sortilégio passou a ser o estádio. A minha primeira ida a Alvalade, o coração a bater aceleradamente no caminho, as luzes, o público, as balizas, a relva. Que emoção! Uma estreia de fogo, contra o Porto. E uma vitória, concludente, por 5-1, que se tornou inesquecível. No estádio vi passar todos os meus ídolos, com uma única e honrosa excepção: o meu primeiro ídolo nunca vi jogar ao vivo. Ouvi-o, imaginei-o, como naquela tarde contra o Benfica em que através da telefonia sem fios o relatador gritava a plenos pulmões um golo de cabeça apontado a 20/30 centímetros do solo, ou como naquela tarde de passeio de automóvel dominical em que marcou 5 golos a um guarda-redes do Oriental que curiosamente se chamava Azevedo como eu. Também o vi, fugazmente, pela televisão, num tempo em que "a bola" raramente passava no pequeno ecrã. Falo-vos de Yazalde, que eu associo sempre à minha ideia de Sporting. A minha paixão nasceu com ele, e o primeiro amor nunca se esquece.

 

O tempo foi passando e durante muitos anos o meu ídolo foi o Manuel Fernandes. Chegou Keita, Jordão ou Oliveira, mas eu mantive-me fiél ao Manél de Sarilhos. Pequenos de nascimento, grandes para os adversários. Durante alguns anos, essa minha idolatria foi partilhada com um jogador genial. Era o Fraguito, o homem das trivelas, classe pura ao ritmo do samba que os Vapores do Rego entoavam da bancada e um GPS na ponta de cada bota. Infelizmente, os joelhos não deixaram o transmontano ir mais longe, para meu desgosto e pesar de todos quantos amam o futebol. Quando o Samuel (primeiro) e o Manuel (depois) acabaram, senti um vazio. Gostei das "unhas" Douglas e Silas, mas o meu coração palpitava mais por duas estrelas que nunca confirmaram o seu imenso potencial. Eram o Litos e o Xavier, já que o Futre, de quem tanto gostava, nos deixou prematuramente. Do Xavier guardo uma memória mais recente: num torneio do Clube Sétimo, ali para os lados do Parque Eduardo VIIº, a minha empresa defrontou-o na fase de grupos. Calhou-me vigiá-lo durante alguns minutos, que é como quem diz marcá-lo com os olhos e poder de perto admirar o esplendor da sua ainda prodigiosa e intacta técnica - ó Xavier, também não havia necessidade daquele "elástico", não é assim? - , ao serviço de uma equipa onde também figuravam o seu irmão Pedro, o Carraça (a fazer jus ao nome, sempre a agarrar), o José Eduardo (durinho...), o Sotil, entre outros. Quis o sortilégio que ambas as equipas se tivessem apurado para a fase a eliminar, eles em primeiro como é óbvio, nós em segundo. E no mata-mata lá fomos sobrevivendo até ambos chegarmos à final. Ainda sonhámos - estivemos a ganhar por 3-1 muito à conta do pé leve do Pestana e da garra do Vilhena - , mas eles acordaram ainda a tempo e bateram-nos por 5-3. Na cerimónia de entrega dos prémios, a classe demonstrada na quadra pelo Xavier transferiu-se para a sala de jantar, um senhor. E eu, esmagado pela idolatria, senti-me pequenino para lhe dizer que ele era um dos meus eleitos...

 

Na década de 90, presenciei um quarteto de cordas de enormíssimo nível. O Sousa, o Cherba, o Bala e o "Pastlhas" tocavam uma música diferente de todos os outros, eles eram os "Fab Four". A seguir houve um hiato. Eu sei, tivemos João Pinto, Quaresma, Jardel, mas aquele que mais se aproximou do meu afecto foi o André Cruz, que parado mexia mais no jogo do que 10 formiguinhas trabalhadoras. Voltei a acalentar esperanças com Matias Fernandez, um jogador que poderia ter sido um dos imortais, mas a quem sempre pareceu que a vontade não acompanhava a capacidade ilimitada que tinha com os pés. Depois, um longo interregno. Muita burocracia, por vezes mais eficácia, mas a ausência daquele toque de genialidade. Até que vi o Bruno Fernandes, e ele reconciliou-me com as memórias de outros tempos. 

 

O Sporting no seu estado puro é isto. Nesse estado, a paixão pelo clube confunde-se com o amor que temos ao jogo e a quem nele se destaca. Os jogadores são a razão disto tudo, a bola também. O estádio oferece a moldura perfeita. Sem espectadores, o futebol é como manteiga sem sal. Um artista sublima a sua arte perante uma audiência, sem ela perde a razão da sua existência. O segredo é a partilha, e é isso aquilo que um futebolista oferece ao seu adepto. Reparem que neste texto nunca falei de presidentes. E porquê? Porque se não são eles a razão do nosso amor pelo clube, também não podem ser a razão do nosso afastamento. Viva o Sporting!

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