0 seu a seu dono
Pedro Azevedo
Para que fique claro, todo o imbróglio à volta do "caso Palhinha" deriva de duas situações:
1) O árbitro não se mostrou à altura do seu ofício quando se precipitou e tirou apressadamente do bolso o cartão amarelo. A prová-lo o facto de, posteriormente, ter alegado que o seu ângulo de observação não era o melhor, o que deixa a questão da razão pela qual um árbitro internacional, e como tal experiente, não teve a frieza de espírito de em campo consultar o seu auxiliar, esse sim com uma visão privilegiada (jogadores de frente para si) do lance em discussão.
2) A posterior admissão pública do erro por parte do árbitro seria perfeitamente inócua em sede de justiça desportiva caso o Sporting não tivesse recorrido para o TAD e, dada a impossibilidade deste de decidir em tempo útil, para os tribunais (providência cautelar), facto que não poderia deixar de ser do conhecimento do árbitro aquando da sua declaração pública. Tratou-se assim de um lavar de mãos como Pilatos, deixando a batata quente para o Conselho de Disciplina (este só teria tomado uma decisão diferente caso o árbitro no relatório tivesse indicado não ter visibilidade perfeita do lance, algo que aliás não alegou na medida em que não tinha qualquer obstáculo à visão do lance, os jogadores não estavam era de frente para si). Este só fica mal visto junto da opinião pública devido ao procedimento que tinha montado, o qual não lhe permitia ouvir o árbitro (o relatório não é suposto narrar uma versão diferente daquela que o árbitro "viu" no campo, pois não é suposto incluir o visionamento de imagens televisivas), provavelmente a fim de não criar um precedente de sucessivos recursos que pusessem em causa a celeridade da justiça desportiva em matéria de aplicação do regulamento disciplinar. Ora, pesando os dois pratos da balança, ainda assim penso dever ser sempre de fazer prevalecer a verdade desportiva, ainda que não seja completamente certo que futuramente todos os árbitros instados a se pronunciar em matéria que possa conduzir a despenalizações venham a ter tal como prioridade mediante eventuais pressões mediáticas (directores de comunicação, nomeadamente) a que estejam sujeitos. Adicionalmente, ao contrário do que já li por aí, o TAD não foi sensível à alegação feita pelo Sporting de que o jogador Palhinha não foi ouvido, mas sim ao facto de o árbitro ter publicamente reconhecido o erro (ainda que isso perante as antigas regras do CD fosse, repito, inócuo).
À boa maneira portuguesa, o árbitro, que cometeu o pecado original, está aí a apitar sem consequências de maior. Não foi para a "jarra", pelo contrário apitou logo uma série de jogos de seguida, sinal inequívoco da confiança que merece para o Conselho de Arbitragem. Em oposição, sobrou para Cláudia Santos o ónus da ira popular. Quanto ao Sporting, aproveitou bem os mecanismos jurídicos à sua disposição, defendendo os seus direitos e os do seu jogador. O TAD decidiu bem, dando prioridade à verdade desportiva e considerando a opinião posterior do árbitro.