Uma crise que é uma oportunidade
Pedro Azevedo
Qualquer crise, seja ela económica, financeira ou sanitária, constitui uma ameaça. Mas é também uma oportunidade, uma forma de reinvenção, renovação, renascimento. Quantas reformas necessárias não ficam na gaveta, vencidas pela inércia e por interesses individuais que não se conjugam com os de um todo, à espera de uma oportunidade como esta?
No caso particular do futebol português urge criarem-se condições para que o produto possa ser mais vendável nacional e internacionalmente, atraindo operadores de televisão além-fronteiras interessados na divulgação da nossa Liga e novos patrocinadores associados.
Em primeiro lugar, há que dotar de outra competitividade o nosso principal campeonato. A Primeira Liga tem de ser o nirvana para quem a alcança e não o purgatório para os clubes do meio da tabela para baixo, sempre numa luta pela sobrevivência desportiva e financeira. Questões como as de uma melhor distribuição das receitas ou do redimensionamento do número de clubes na elite à nossa realidade demográfica serão importantes discutir, assim como as da reorganização dos calendários competitivos ou da eficácia dos regulamentos e transparência, integridade e equidade das decisões arbitrais e disciplinares.
Evidentemente, tudo isto só será possível se tivermos pessoas à frente da Liga de Clubes mais preocupadas com a capilaridade do futebol português do que com a cera para o seu cabelo, empenhadas em garantir a idoneidade e qualidade do produto e dispostas a promovê-lo nesse pressuposto e sem receio de ficarem sem emprego, com sentido de "estado". É que um político preocupa-se com a próxima eleição, um "estadista" deve preocupar-se com a próxima geração, com a sustentabilidade. Que avancem as necessárias reformas!