Tudo ao molho e fé em Deus - Traumatismo ucraniano
Pedro Azevedo
Ontem, a selecção portuguesa deu um tombo que o futuro dirá se foi fatal. Prognóstico reservado, portanto, pois com este adversário todos os traumatismos são ucranianos.
Os pupilos de Shevchenko apresentaram-se em campo com uma série de nomes a fazer lembrar aquelas letras que os oftalmologistas costumam dispôr aleatoriamente nos testes de visão, do tipo de um K R Y V T S O V ou de um Y A R E M C H U K, e a verdade é que os portugueses chumbaram no exame (também não havia ninguém do Boavista, não é?). O Fernando Santos, por exemplo, andou sempre a leste.
Num jogo que celebrou a imigração e a multiculturalidade em Portugal, com milhares de ucranianos nas bancadas da Luz, 3 brasileiros foram a jogo. Confusos? É verdade! Um alinhou pela "equipa de todos nós" (Dyego Sousa), dois pela Ucrânia (Marlos e Junior Moraes).
Pese as naturalizações, pouco dados a mostrar qualquer outra abertura ao ocidente, os ucranianos montaram uma verdadeira cortina de ferro à frente da sua baliza. E quando os portugueses a conseguiam romper, lá estava Pyatov a segurar a inviolabilidade. Por isso, quando Cristiano Ronaldo, por duas vezes, ou André Silva reclamaram por Glasnost e Perestroika, o guarda-redes logo reprimiu esses intentos.
Simultaneamente, o Fernando Santos lá ia mostrando aquela cara de poucos amigos. Mas se há povo que não se deixa impressionar por essa rigidez da face é o ucraniano, gente trabalhadora, desenrascada e moldada pelas agruras da vida. Assim, os onze em campo não desmontaram a teia que foram urdindo e ao engenheiro faltou a vassoura ou, pelo menos, a lagarticha (Bruno Fernandes?) que a destruísse. Também o facto de ter deixado uma das estrelas emergentes da Premier League (Diogo Jota) no banco em detrimento de um André Silva ou de um Rafa (o primeiro a entrar) não terá ajudado à festa. A bem da verdade, a coisa esteve para ficar ainda mais negra, quando o Chef Patrício serviu um frango à Kiev. Valeu ao Rui que um ucraniano tivesse ido com tanta sede ao pote que não conseguiu a frieza necessária para não entrar em fervura.
E assim, condenados a sofrer até ao fim "comme d`habitude", os portugueses iniciaram a defesa do título europeu conquistado em França.
Tenor "Tudo ao molho...": Pepe