Tudo ao molho e fé em Deus
Um Jovane à solta no berço da nação
Pedro Azevedo
Um maradoniano Jovane, um irrequieto e oportuno Sporar e um Camacho finalmente revelado na posição certa não foram suficientes para o Sporting sair do Afonso Henriques com os três pontos. O que faltou? Desde logo, eficácia - Vietto, por duas vezes, Sporar e Jovane perderam golos cantados na cara de Douglas - , mas também um meio campo que não funcionou - Battaglia muito trapalhão e Matheus Nunes inibido e escondido do jogo - , erros individuais (Max) e má sorte (ressalto que deu o segundo golo do Vitória). Além disso, Marcus Edwards foi sempre um diabo à solta, explorando o espaço existente entre Acuña e Mathieu, conseguindo assim constrangir a subida no terreno dos leões após terem ficado em superioridade numérica.
O Sporting empatou no presente, mas, ao contrário do que tinha vindo a ser habitual, não empatou o seu futuro, e isso foi o melhor que se tirou de um jogo onde a equipa leonina se apresentou desde o início com Max, Quaresma e Matheus Nunes (duas estreias) e Jovane Cabral, jovens da Formação, e durante a partida ainda recorreu a Plata (Camacho fez parte da sua formação em Alcochete, mas custou 5,6M€ para ser resgatado ao Liverpool).
Jovane esteve num nível superlativo, com uma assistência, três passes para golo, a expulsão provocada por uma acção de ruptura sua e um irrequietismo permanente que pôs a cabeça em água à defesa dos Conquistadores. Além disso, protagonizou dois momentos de pura magia numa cabine telefónica (junto à linha de fundo), um em cada parte, só ao alcance de predestinados. Apresentando-se com uma disponibilidade física superior à da maioria dos jogadores presentes no relvado, as suas movimentações abriram imensos espaços no último reduto vimaranense. Infelizmente, na frente, só Sporar (dois golos) o acompanhou a bom nível, na medida em que Vietto voltou a exibir a sua esmerada arte de perdoar em frente da baliza. A actuação do cabo-verdiano esteve muito perto de merecer a nota máxima, tendo apenas lhe faltado o golo para atingir a perfeição.
Quanto a Ruben Amorim, esteve na globalidade bem. Apostou nos miúdos e lançou dois jogadores nos corredores com grande propensão ofensiva (Camacho e Acuña, este último ontem a meio-gás), ambos suportados no sistema de 3 centrais, mostrando assim uma ideia de futebol em consonância com o clube grande (enorme) que representa. Sendo certo que a genialidade de Edwards expôs que a mecanização entre os laterais/alas e os centrais ainda está longe de ser a necessária e que ao miolo do terreno faltou clarividência e maior assumpção do jogo, a verdade é que o Sporting revelou trabalho no regresso à competição. Como sinal menos a entrada de Doumbia, o que viria a impedir posteriormente uma melhor definição das posições "6" e "8" a partir do momento em que os leões passaram a ter mais 1 jogador em campo. Aliás, o duplo-pivot à frente de 3 centrais parece-me ser o grande equívoco deste sistema de Ruben Amorim - quando em postura defensiva (linha defensiva de 5), enquanto nas alas o lateral do lado da bola sai e a defesa fica a 4, no centro não parece haver essa rotina (saída à bola de um dos centrais) - , notando-se claramente a ausência de um médio centro capaz de transportar verticalmente a bola desde trás. Na ausência de Wendel, Matheus Nunes poderia e deveria ter sido esse jogador (tem qualidade para isso), mas a verdade é, que muito amarrado (pelo sistema e/ou por o que pareceu ser medo cénico e inexperiência), pouco ou nada ousou. De todo o modo, nota positiva para o treinador leonino, que viu a sua equipa sofrer 2 golos fortuitos que impediram o que teria sido uma justa vitória.
Tenor "Tudo ao molho...": Jovane Cabral (parte consecutivamente para cima dos adversários, procurando o 1x1, sem complexos).