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Castigo Máximo

De forma colocada, de paradinha, ou até mesmo à Panenka ou Cruijff, marcaremos aqui a actualidade leonina. Analiticamente ou com recurso ao humor, dentro ou fora da caixa, seremos SPORTING sempre.

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Castigo Máximo

01
Set23

Via Crúcis


Pedro Azevedo

Palhinha, instrumental no título de campeão nacional dos leões, foi durante anos relegado para segundo plano na Selecção. Matheus Nunes, considerado por Pep Guardiola como um dos melhores médios do mundo, só foi chamado após Tite o ter convocado para a Canarinha. Bruno Fernandes demorou uma eternidade a chegar à "Equipa de Todos Nós", mesmo com números astronómicos ao serviço do Sporting. O que nos diz isto?

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12
Abr23

A tentação de provar do veneno alheio


Pedro Azevedo

Na antevisão da nossa deslocação a Turim, é factual observar que, nas provas europeias, o histórico das equipas portuguesas contra as suas congéneres italianas não é nada famoso. Já com equipas inglesas, o desempenho português pode ser considerado bastante bom, o que nos aguça a curiosidade sobre a razão que justifica a tradicional boa performance das equipas de Sua Majestade quando defrontam times provenientes da pátria de Garibaldi, algo que contraria o simples silogismo aristotélico. Conclusão: parece-me evidente que as equipas portuguesas caem na tentação de tentar bater as italianas no seu próprio jogo feito de cinismo e de especulação, e que o resultado dessa aposta é tradicionalmente negativo (como ainda ontem se viu). Já as equipas inglesas, geralmente descomplexadas quando se trata de assumir o domínio do jogo e com o foco nas suas próprias qualidades, não mudam os seus princípios contra as italianas e têm sucesso. Talvez seja importante reflectir nisto, 24 horas antes do importante duelo com a Juve... (O Ruben não costuma alterar o seu modelo de jogo seja contra que adversário for, e isso contra a Juve pode revelar-se positivo para nós.)

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01
Abr23

Uma verdade inconveniente


Pedro Azevedo

Informação útil para os dogmáticos da idade que se extrai do bilhete de identidade e restantes detractores de CR7: o cidadão Cristiano Ronaldo marcou 67 dos seus 122 golos (54,9%) ao serviço da Selecção Nacional após completar 31 anos. Mais, tendo no total 122 golos em 198 jogos por Portugal (0,616 golos/jogo), a sua média de golos pela “Equipa de todos nós” cresce exponencialmente se considerarmos apenas os seus números depois dos 31 anos: são 67 golos em 75 jogos, média de 0,893 golos/jogo. E se eliminarmos o ano de 2022, em que foi acometido de diversos problemas pessoais e profissionais que impactaram na sua forma, essa média sobe para mais de 1 golo por jogo (64 golos em 63 golos), números de acordo com os registados no Real Madrid. É só isto que eu queria dizer, para agora nos concentrarmos devidamente na recepção ao Santa Clara. Esperando que a realidade factual dos números não tenha provocado alergia a alguém. (Em caso de azia, é favor tomar nota que qualquer medicamento que a combata terá um efeito menos duradouro que cada novo feito de Ronaldo. É lidar.)

 

PS: Em 2016, com 31 anos, Ronaldo ajudou Portugal a vencer o seu primeiro grande troféu internacional (Campeonato da Europa). Em 2019, aos 34 anos, com ele a marcar 3 golos na meia final (3-1 à Suíça), Portugal ganhou a Liga das Nações. 

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27
Mar23

Tudo ao molho e fé em Deus

O Lux(o) de ter Ronaldo


Pedro Azevedo

Vivemos na era do homem que mordeu o cão. Numa época destas, o acessório ganha prioridade sobre o essencial, o que traduzido para a Selecção significa que o debate sobre a qualidade e forma como sopra o ar torna-se de maior relevância que os 198 jogos e 122 golos de Cristiano Ronaldo, ambos recordes mundiais. Por isso discute-se epistemologicamente o que é uma lufada de ar fresco (tese) em contraposição a uma aragem de transição (antítese), dialética hegeliana logo rematada com a conclusão (síntese) de que o Ronaldo está a mais e os colegas estão fartos dele, o melhor mesmo é estarmos eternamente gratos ao Engenheiro pelo único título de relevo conquistado por Portugal. Ora, eu penso que se calhar também deveríamos estar um pouco reconhecidos ao Ronaldo, não sei. É que não me lembro do Bernardo, do Bruno ou do Felix em França, mas posso estar enganado. Do que eu me recordo é de Portugal ter obtido os seus melhores resultados internacionais (1º e 2º lugares em Campeonatos da Europa) com Ronaldo na equipa, além de igualmente com ele termos repetido uma meia-final e atingido uns quartos e dois oitavos-de-final no Campeonato do Mundo. Com vários treinadores diferentes. Para quem sofre com o labéu posto por alguns portugueses de que só se preocupa com os seus feitos individuais, não me parece que o que atingiu colectivamente seja pouco. E já nem falo das 5 Champions que ajudou o Real e o United a conquistar. Apesar dele, segundo os detractores, ainda que sem ele ambos os clubes tivessem curiosamente passado a ganhar muito menos. (Comigo, os detractores "vão de carrinho"; ou de tractores, se assim o preferirem.)

 

Quem conhece minimamente o Ronaldo sabe que o seu forte nunca foram as palavras. Como bom português, ele vai aguentando as provocações, uma após outra, até que explode na pior altura e da pior forma, com uma arrogância que disfarça a frustração de periodicamente ser posto em causa. E quando a isso junta o reconhecimento do prazer que lhe dá regressar a uma certa casa, então o caldo está entornado com uma certa intelligentsia escarlate invejosa e orfã de um menino prodígio que pulula em jornais e televisões. Sim, porque são esses que não conseguem despir a camisola e permanentemente confundem a prima do mestre de obras com a Obra-prima do Mestre, levando alguns incautos, politicamente correctos e sedentos de mostrar imparcialidade, por arrasto. Vimos isso durante o Mundial. Não é que Ronaldo não se tenha posto a jeito ou estivesse isento de culpas no cartório, mas não merecia ter sido o bombo da festa e vítima da maior tentativa de assassinato mediático de que um futebolista foi alvo em mais de 100 anos de futebol em Portugal. Após uma perseguição pidesca, inédita em 48 anos de democracia, em que cada seu esgar facial foi analisado até à exaustão, recorrendo-se até à leitura labial. E é isto, tão isto, o que fazemos a um dos nossos maiores de todos os tempos, o português mais conhecido no mundo. A quem exigimos fora do campo a perfeição que nenhum de nós tem, como se das suas imperfeições - e não das suas virtudes - bebessemos o nectar essencial para seguirmos em frente e assim justificarmos o nosso próprio congénito inconseguimento. 

 

Posto isto, Portugal foi ontem a campo contra o Luxemburgo. Já se sabe que nestes jogos marcar cedo é fundamental. E o Ronaldo adiantou-nos no marcador. Parece fácil, não é(?), mas o nosso craque fez o mais difícil. A partir daí abriu-se o ketchup, para ele e para os outros. E foi bonito de ver o Bernardo marcar e assistir, o Felix concluir, o Palhinha nada deixar florir à sua volta e ainda ter tempo para meter um passe de 30 metros com GPS cujo destino final foi o golo. Depois, com espaço, entrou o Leão e pintou a manta, como se de uma palanca se tratasse, a todos envolvendo num turbilhão de velocidade e porte altivo. No final, foram meia-dúzia, que somados aos quatro com o Liechtenstein dão dez. Deixemos por isso o ar fresco para outras bandas - em Varsóvia as temperaturas são tão frias que um Czech-mate a mais ou a menos nem faz diferença -  e constatemos o óbvio: após dois jogos disputados, Portugal já lidera isolado o seu grupo de qualificação para o Europeu. Ainda e sempre com Ronaldo.

 

Podium - Ouro: João Palhinha; Prata: Ronaldo; Bronze: Bernardo.

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24
Mar23

Tudo ao molho e fé em Deus

Bob, o Construtor


Pedro Azevedo

O Liechtenstein é um país minúsculo, tão mínimo que, se e a sua população inteira comprasse uma gamebox no José Alvalade ainda sobrariam 11.000 lugares de lotação do estádio para venda ao público em geral. Se o número de habitantes do Liechtenstein é pequeno para Alvalade, Ronaldo ainda é suficientemente grande para caber no Onze de Portugal. Como ontem ficou amplamente demonstrado, marcando dois golos e falhando outros tantos onde ainda assim o seu domínio nas alturas ou recepção imaculada da bola se destacaram dos demais. Nada mau, aos 38 anos de idade, para este Lawrence das Arábias português que aproveitou a oportunidade para bater o recorde mundial de internacionalizações por selecções (197) e reforçar o já por si detido máximo de golos (agora 120, 830 em toda a carreira). Portugal estreava Roberto Martinez, e este inaugurava a linha de 3 defesas. Com Inácio a ter a sua primeira internacionalização a jogar (e bem, com muita personalidade!) nessa linha pela esquerda, os laterais Cancelo e Guerreiro foram mais extremos no primeiro tempo e mais interiores no segundo. João Palhinha foi o polvo que tudo compensou no meio, Félix e Bernardo partiam das alas, com o jogador do Chelsea a frequentemente procurar espaços entre-linhas mais interiores e assim transformando o nosso bem conhecido (dos Sportinguistas) 3-4-3 num 3-5-2. Bruno Fernandes procurava a ligação com os jogadores do ataque. Apesar de ter marcado cedo, num remate às 3 tabelas de Cancelo cuja última carambola envolveu Ronaldo, Portugal deparou-se com um Liechtenstein somente interessado em perder por poucos. Por isso continuou fechado lá atrás, procurando não deixar espaços para que Portugal ligasse por dentro, obrigando-nos a circular em "U". Mas isso aconteceu na primeira parte, porque após o reatamento viu-se o dedo do treinador, com Guerreiro e, principalmente, Cancelo a jogarem por dentro e Félix e Bernardo a dissuadirem pelas alas. Não tardaria assim que Portugal voltasse a marcar, com Ronaldo a dar nova vida à metáfora do ketchup (agora dos golos de livre directo). Foram 15 minutos de futebol avassalador, com 3 golos (1 de Bernardo e 2 de Cristiano), muitas oportunidades desperdiçadas e Cancelo (mas também Palhinha) frequentemente envolvido na construção. 

No final foram só quatro. Mas poderia ter sido uma dúzia, o que até viabilizaria um bom trocadilho - "va douze" - aplicado ao regresso dos jogadores do Liechtenstein à sua capital. Quanto a Roberto Martinez, Bob, para os ingleses, e Construtor de uma nova filosofia de jogo, para os portugueses, os primeiros sinais foram encorajadores, aproximando-o das opções do homem comum não-contaminado e assim escalonando de início o Inácio e o Palhinha, dois jogadores que pouca ou nenhuma atenção mereceram do pretérito (e mais galardoado de sempre) treinador nacional. Com Portugal entre a nobreza europeia, a um Principado seguir-se-á um Grão-Ducado (Luxemburgo), provavelmente já com Nuno Mendes no Onze. 

 

Podium - Ouro: Cancelo; Prata: Palhinha; Bronze: Ronaldo.

 

P.S. Tenho algumas dúvidas sobre a eficácia da aposta de Danilo (mais tarde, também Palhinha) como central pela direita, afastando-o do centro do jogo, mais parecendo um peixe fora de água. Se por um lado a ideia parece ser não colidir o defesa com o espaço de intervenção do médio mais defensivo, dando a oportunidade de com bola e adversários fracos termos um duplo-pivô no meio, por outro seria mais natural que Danilo ocupasse um lugar central na defesa.  Mas, provavelmente, com a entrada de Pepe, tal questão não se colocará no futuro, jogando Martinez com Rúben e Inácio como complemento ao central portista.

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(O amarelo e o vermelho espanhóis presentes na indumentária de Bob)

15
Dez22

Leituras que valem a pena (e o lápis, a caneta e o teclado)

André Pipa


Pedro Azevedo

"OUTRA VEZ CURTO"
 
"Marrocos em festa: Portugal tornou-se a primeira selecção a ser eliminada nos quartos de final de um Mundial por uma selecção africana, que não teve culpa de aproveitar um lance marcado por erros do guarda-redes Diogo Costa e do central Rúben Dias.
O balanço final não é famoso. Em cinco jogos (três vitórias e duas derrotas) contei apenas uma exibição empolgante (6-1 à Suíça).
O resto esteve dentro do padrão habitual da «era Santos». Respeito quase doentio pelos adversários que, na óptica do engenheiro, são sempre «fortíssimos», uma obsessão pelos «equilibrios» e uma incapacidade desesperante de pensar e agir como grande.
Para mim, o desempenho português situou-se entre o razoável, o regular, o esforçado, o mediano e o medíocre, com os rasgos de qualidade individual de alguns jogadores a maquilharem a falta de uma ideia de jogo claramente afirmativa - um mal que vem de longe.
Infelizmente, o esplendoroso 6-1 à Suíça foi um epifenómeno sem antecedentes nem continuidade. O nosso normal é isto que vimos hoje. A derrota com Marrocos junta-se às que sofremos em 2021 (Bélgica) e em 2018 (Uruguai). Saídas pela porta pequena. E nem podemos dizer que enfrentámos adversários de primeira linha no Qatar…
O fracasso de Portugal não é caso único neste Mundial dos «equilibrios» (olá Brasil, olá Alemanha, olá Espanha…), mas com o mal dos outros podemos nós bem. Em termos individuais gostei muito de Bruno Fernandes (claramente o novo líder) e do fantástico Pepe, numa selecção com algumas «estrelas» mais jovens que não conseguem pesar e fazer a diferença quando é mesmo preciso. E os anos vão passando…
A «era Santos» acabou, mesmo que o engenheiro continue no cargo.
E é isto."
 
- In Facebook

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13
Dez22

O futuro das Quinas


Pedro Azevedo

O fim da era Fernando Santos à frente da Selecção coloca a questão da sua sucessão em cima da mesa. Nestas ocasiões, naturalmente não falta quem lance nomes para o baralho, alguns deles com perfis diametralmente opostos. Muitos apontam Rui Jorge, que pelos indicadores existentes seria uma espécie de evolução na continuidade, outros indicam Mourinho, privilegiando a experiência do treinador português mais titulado na Europa, e depois há todo um contingente de técnicos nacionais e internacionais, jovens e menos jovens, que poderão vir a ser opção. 

Da mesma forma que uma casa não se constrói pelo telhado, mais do que nomes tem de ser o que se pretende da forma de jogar que deve presidir à eleição do Seleccionador Nacional. E aqui penso que temos definitivamente de nos libertar das teias de aranha do passado que nos continuam a constrangir e finalmente assumirmos a qualidade absoluta e relativa dos nossos jogadores. Para tal, necessitamos de um futebol positivo, dominador, que extraía o melhor da criatividade dos nossos. Se o sucesso são as escolhas que fazemos para o perseguir, então que escolhamos tentar ganhar com arte e não com ferrolho, divertindo e não aborrecendo, com o foco mais centrado em nós e menos no adversário. 

As vitórias têm o condão de muitas vezes esconderem erros no processo. Quando assim é, os triunfos serão sempre pontuais. Por isso, o processo é sempre o mais importante. Ninguém tira a Fernando Santos o campeonato europeu de 2016, obtido com tácticas conservadoras mais ajustadas ao elenco da época, mas alguém acredita ser repetível uma nação voltar a levantar um troféu desta importância com apenas uma vitória nos 90 minutos (bem sei, a Croácia está a candidatar-se ao mesmo neste Mundial)? É o "futebol de credo na mão (e na boca)" que  queremos para a nossa Selecção, mais a mais quando temos actualmente em quantidade uma muito boa geração de jogadores de topo? Então assumamos o nosso futebol positivo e deixemo-nos de complexos de inferioridade mais próprios de um tempo que ficou no passado. E, se perdermos, que não fiquem dúvidas de que explorámos toda a nossa qualidade, gastámos todos os cartuchos, caindo assim de pé. Concluindo, escolha-se para Seleccionador quem defenda estas ideias, com a característica adicional de ser alguém totalmente independente na hora do escrutínio dos jogadores. 

11
Dez22

Tudo ao molho e fé em Deus

O (Fema)caos, um anagrama do vazio


Pedro Azevedo

A Selecção foi para casa e estou curioso para ler a imprensa especializada porque a culpa só pode ser do Ronaldo, que ontem esteve apagadíssimo durante os primeiros 51 minutos, nem tocou na bola. Parece impossível, não é? Faltou também intensidade ao Palhinha, o melhor recuperador de bolas da Premier League, que não ganhou uma única contra Marrocos. Incrível! Já para não falar do Matheus Nunes e das suas célebres transições, ontem circunscritas ao espaço compreendido entre o balneário e o banco de suplentes. Malandro! E depois houve um ausente omnipresente na cabeça do Engenheiro, o Moutinho. Só isso explica o que foi pedido a Bernardo neste campeonato do mundo. E não fosse Bernardo falhar, ainda avançou o verdadeiro clone do jogador dos Wolves, o Vitinha. Tudo na tentativa, gorada, de jogar pinball com os marroquinos, de meter a bola entre-linhas, algo infrutífero quando estas se apresentavam coladas com gesso (e ligaduras e adesivos, à medida que os já de si depauperados marroquinos caídos em combate iam sendo substituídos). Antes havíamos tentado a circulação em "U", o que também não tinha resultado, pelo que acabámos o jogo numa homenagem a esta rubrica, em "Tudo ao molho e fé em Deus". O jogo directo é que não passou do papel. Quer dizer, no papel, a entrada a titular do Rúben Neves unicamente visaria pôr a bola atrás das linhas marroquinas e suscitar segundas bolas, mas o ponta de lança esteve sempre desacompanhado, nunca houve alguém por perto que desse consistência a esse plano. E quando o houve, uns parcos 10 minutos, não só o Neves já não estava em campo (lá teve de recuar o Bruno para lançar a bola para a molhada, ele que depois, por não ser omnipresente, faltou com o seu bom remate nas imediações da área marroquina) como logo o Engenheiro se empenhou em matar a solução, fazendo sair o Ramos e voltando ao jogo miudinho que nunca preocupou os homens de barba rija vindos do Magrebe. Assim sendo, Portugal foi quase sempre uma equipa sem arte, com jogadores incapazes de desequilibrar no 1x1, com a honrosa excepção de João Félix. A esperança ainda renasceu quando Ronaldo começou a servir apoios, jogando muito mais para a equipa do que para si próprio, o que deve ter escandalizado os maledicentes e os seus inúmeros médicos legistas espalhadas pela imprensa. Só que faltou um atrelado, alguém por perto que aproveitasse uma segunda bola. Por curiosidade, o jogador com mais características para tirar rendimento dessa situação, o Pedro Gonçalves, ficara em Lisboa, pelo que não houve Pote de Ouro no final do arco-íris. 

 

Confusos? Tudo isto encontra explicação na Teoria do Caos tão do agrado do CEO da Femacosa. Esta trata de sistemas altamente complexos, difíceis de entender por um homem médio que não o Engenheiro, cuja dinâmica acaba por suscitar uma instabilidade que se denomina como "sensibilidade às condições iniciais", que os torna não previsíveis ao longo do tempo. Assim, ao alterar permanentemente o Onze titular, o Engenheiro vai introduzindo o caos determinístico, tornando impossível prever o que se passará a seguir. As correcções que de seguida efectiva no modelo não permitem regressar às condições iniciais, até porque já houve ocorrências intermédias que não podem ser apagadas, pelo que a dado momento o sistema afigura-se aleatório à vista desarmada, dada a sua profunda instabilidade. É o "Efeito Borboleta", como explica Lorenz, e as suas consequências, que em termos de Selecção podem resumir-se ao bater de asa de Ronaldo no Qatar vir a influenciar uma revolução no corpo técnico da Federação em Lisboa. Tão certo como a morte e... os impostos.

 

Tenor "Tudo ao molho...": João Félix

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11
Dez22

Crónica do Marrocos-Portugal


Pedro Azevedo

Portugal foi eliminado do Mundial do Qatar. Perdemos, mas podíamos ter empatado ou até mesmo ganho, o que decorre da forma como sistematicamente especulamos com o jogo quando defrontamos equipas teoricamente inferiores a nós, expondo-nos assim aos detalhes ou à Santinha. Só que, na ocasião, os detalhes não estiveram connosco e a Santinha, compreensivelmente, teve de se haver com outros males do mundo que não lhe permitiram atenuar os nervosos esgares de pescoço do Engenheiro, razão pela qual já estamos a fazer as malas. Aliás, contrariando o adágio popular que nos diz que as coisas boas vêm aos pares, os detalhes desfavoráveis para nós surgiram em dúo: por duas vezes remates indefensáveis de Bruno falharam o alvo por um fio de cabelo, Bono teve uma parelha de defesas a roubar o golo a Félix e a dupla Ramos e Pepe não teve cabeça para meter a bola nas redes de Marrocos. Já para não falar do momento do jogo, em que Rúben Dias se encolheu a ver En Nesyri saltar e Diogo Costa acertou com os punhos na atmosfera. Caricato, no mínimo.

 

Portugal desperdiçou ingloriamente uma parte da partida a jogar xadrez, algo particularmente imprudente tendo a amostra do que havia acontecido a Espanha. Além disso a escolha do médio defensivo a quem coube o início da construção foi desastrosa. Não é que Rúben Neves não seja um bom jogador, simplesmente a disposição sem bola dos magrebinos pedia um outro tipo de abre-latas. Por exemplo, alguém que saísse em posse com facilidade da pressão e criasse superioridade numérica no miolo (Matheus Nunes), ou que tivesse a qualidade de meter um passe rasteiro e vertical entre-linhas (William), ou que se constituisse como um tampão aos contra-golpes adversários e assim libertasse a criatividade dos restantes colegas do meio-campo (Palhinha). Sem nenhum jogador nessa posição crucial com as características adaptadas ao jogo de Marrocos, Portugal limitou-se a circular a bola pela frente dos africanos. Uma circulação em "U", sem risco nem capacidade de entrar dentro da equipa marroquina, a que se somou negativamente a quase ausência de movimentos 1x1, o não ir para cima do seu adversário directo, uma falta de criatividade da qual só Félix esteve isento. Mas, lá está, quando se escolhe um médio que não tem nenhuma das qualidades supracitadas e nem sequer tem liberdade para aplicar a sua melhor arma (remate), o resultado é ter de recuar Bernardo ou Bruno para posições onde ficam demasiadamente longe da baliza adversária, que é como quem diz afastados do objectivo do jogo (o golo). Como também não faz sentido meter Ronaldo no relvado, a equipa melhorar e depois fazer sair o outro avançado, não potenciando assim as segundas bolas que o choque do 5 vezes Bola de Ouro com os defesas propiciaram. Aliás, nunca houve a aproximação devida do resto da equipa ao seu ponta de lança. Porque a maioria dos jogadores trazia a cartilha errada. Vidé os inúmeros cruzamentos da direita que apanharam Rafael Leão aberto na esquerda, quando deveria ir ao encontro da bola na área, ou as bolas que CR7 amorteceu em zona perigosa e às quais não acolheu ninguém, exceptuando João Félix numa ocasião.

 

Portugal não tem uma identidade, não assume a sua teórica superioridade nos jogos. Os jogadores são bons, habituados a jogar em grandes equipas e grandes palcos, embora me pareça que a selecção final para este certame descurou características como velocidade (Guedes), irreverência e combatividade (Vitinha, do Braga) ou qualidade no ar (Beto) que nos poderiam ter sido úteis. Então qual é o problema? A meu ver o comandante, que faz fracas as fortes gentes, cozinhando uma equipa com medo da própria sombra, o que obriga jogadores que podiam ser decisivos a desgastarem-se fora das suas posições naturais, onde não molestam os adversários. As peças são ordenadas e desordenadas de uma forma algo caótica, o que por vezes surpreende a oposição como no tal Euro que permitiu a Fernando Santos elevar-se a Grande Mestre. Mas o Engenheiro não é um Alekhine, Karpov, Fischer ou Kasparov, longe disso, embora por vezes lhe saia um Éder da cartola. Simplesmente, a ideia com que se fica é que as apostas são tão aleatórias e as convicções tão ténues que em qualquer outra ocasião o próprio ilusionista mata o número do coelho. Com tudo a ficar entregue ao improviso do momento, se a fantasia não sai dos pés dos jogadores, mais se nota a desorganização latente. 

 

Antes do jogo muito se falou de vingar Alcácer-Quibir, como se uma hipotética vitória em 90 minutos de futebol compensasse 60 anos de perda de soberania. Não compensaria. Ainda assim, perdemos. Agora só nos resta esperar pelo dia de nevoeiro em que regressará El Rei... D. Ronaldo. Acreditem ou não, ainda vai ser necessário alimentar o mito. (Será sempre mais autêntico do que alimentar o mito de que sem Cristiano a Selecção fará melhor nos próximos anos. Querem apostar? Eu creio que ainda iremos chorar baba e ranho a sua aposentadoria.)

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07
Dez22

Tudo ao molho e fé em Deus

Entre o eterno e os adversários que não são internos


Pedro Azevedo

Com a vitória de ontem, Portugal atingiu os quartos de final do campeonato do mundo, patamar unicamente alcançado pelos lusos em duas ocasiões (1966 e 2006) na história da competição. Eu vi o jogo ontem e fiquei com a sensação de que tínhamos ganho à Suiça. Mas hoje, ao analisar os comentários que proliferam pela blogosfera, parece que ganhámos contra o Ronaldo (Uma injustiça face à dimensão universal de um craque com uma ética de trabalho irrepreensível, a quem exigimos que seja perfeito.) Ou contra uns projectados aziados lesa-pátria, que isto de uns opinion-makers dizerem uma coisa e o seu contrário é uma arte só comparável à provocação gratuita destinada a criar uma agitação popular que se insiste em confundir com o sucesso. Pensando bem, é esta falta de unidade que nos caracteriza como nação. Por isso, quando Portugal vence em qualquer actividade é sempre contra outros... portugueses. Para essa singular forma de se ser português, ontem o Gonçalo Ramos ganhou ao Cristiano, olvidando-se que bateu essencialmente o Messi, o Gakpo, o Mbappé, o Kane, o Neymar, o Havertz, o Morata, o Mitrovic e todos os outros brilhantes e celebrados avançados que ainda não conseguiram fazer 3 golos num só jogo deste Mundial. Assim sendo, tenhamos noção das coisas: Portugal ganhou à Suiça, ponto. E Gonçalo Ramos tornou-se o mais jovem jogador desde Pelé a fazer um hat-trick em jogos a eliminar. Tudo motivos para festejar, colectiva e individualmente, o desempenho da nossa Selecção. Que é de todos nós, embora aqui e ali haja divergências entre os portugueses sobre a melhor forma de atingirmos o sucesso, o que é natural. (Já se sabe que para corrigir o que não é natural só há o Restaurador Olex, o resto são disfarces.)

 

Eu afirmei aqui que o Ronaldo ainda era melhor do que o Ramos e os factos da noite passada pareceram desmentir-me. Óptimo, digo eu. Porque muito mais importante do que as minhas razões é a razão colectiva. E Portugal ganhou, as pessoas estão felizes e mais felizes ainda ficarão se sobrepuserem Portugal ao jogador A ou B, ou ao treinador C ou D. Como o futebol é o momento, ontem o Ramos justificou plenamente a titularidade. Se já é melhor do que o Ronaldo é outra questão, até porque não há estatísticamente uma amostra com grau de significância relevante baseada numa única observação e as 118 observações anteriores de Ronaldo não devem ser desprezadas. Certo, certo é que no dia de ontem o Ronaldo dificilmente teria feito melhor do que o Ramos. Poderá uma Argentina dizer o mesmo sem Messi, um Brasil sem Neymar ou uma França sem Mbappé? Pois, feliz de quem substitui pontualmente um 5 vezes Bola de Ouro com aparente vantagem, o resto é conversa autofágica.  

 

Falando do jogo, que é o que essencialmente nos traz aqui, Portugal teve uma largura e profundidade até aí não vistas neste Mundial. Para tal muito contribuíram as prestações de Dalot e de Guerreiro, que assim permitiram a criação de espaço em zonas interiores tão bem aproveitado pelo João Félix, para mim o melhor em campo. [Eu sei, o Homem do Jogo foi o Gonçalo Ramos, com três golos e uma assistência (bom, na verdade duas), mas o Melhor em Campo é outra coisa.] Um destaque também muito especial para o Pepe. O Pepe é aquele jogador que qualquer amante de um clube gostaria de ter do seu lado e odiaria ter do lado oposto. A sua garra, concentração e atleticidade contagiam qualquer um, assim como o seu profissionalismo. Por isso, chega aos 39 anos aparentando estar fresco como uma alface, desafiando a perenidade das coisas e afirmando a sua eternidade na linha do que Ronaldo vinha fazendo até recentemente, o que lhe vem permitindo esconder o momento de forma menos exuberante do colega do lado que é 14 anos mais novo (Rúben Dias), pelo que surpreendente é que esta constatação ainda seja uma surpresa para alguém. Ontem marcou mais um golo pela Selecção, ajudando a consolidar a nossa grande vitória, tornando-se o jogador menos novo a marcar em jogos de mata-mata na história dos mundiais de futebol. (O mais velho a marcar em fases finais ainda é o Roger Milla, 42 anos, com a cortesia do escorpião Higuita.)

 

Como remate final, porque eu também tenho a tentação de marcar um golo, gostaria de dizer o seguinte: há por aí muito boa gente que vê o futebol como uma ciência. Pior, muitos até elevam-no a ciência exacta. Ora, o futebol não é matemática, certamente desafia qualquer silogismo aristotélico (por Portugal ter ganho por 5 à Suiça e o Brasil só lhes ter ganho pela diferença mínima, tal não significa que vençamos os canarinhos por 4 golos de diferença) e tem muitos novos amanhãs que permanentemente desafiam o presente e o estabelecido. Por isso é tão fascinante, e como tal suscita tanta curiosidade. Desde logo porque, sendo de aprendizagem simples, a sua complexidade traduz-se em que quanto mais se julga saber, mais se percebe nada se entender. E é bom assim, que pertença àquelas coisas que aparentemente estão ali à mão mas são inatingíveis. Como, aliás, a lua ou o sol. Talvez por isso gere tantos aluados e gente que parece ter apanhado sol a mais na moleirinha. É dos astros. [Dos astros, de quem se julga astro e de quem veste a pele de lobo e não é (Prof.) Astromar.]

 

Tenor "Tudo ao molho...": João Félix

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05
Dez22

Futebol sem balizas


Pedro Azevedo

O maior problema de Portugal não é Ronaldo, que ainda é uma solução bem melhor do que André Silva ou Gonçalo Ramos, mas sim não haver quem procure o espaço como Diogo Jota, algo agravado pela indisponibilidade de Rafa, não convocação de Guedes e prestação desapontante de Leão. A Selecção não só se ressente da falta de largura, em virtude de os supostos alas virem sempre para dentro e de os laterais ficarem amarrados atrás, como também da falta de profundidade que a moto Jota trazia, tornando-se assim previsível e mais facilmente controlável. Com este plantel escolhido por Fernando Santos faltam-nos 30 metros de comprimento e 20 de largura. É um regresso ao passado, a um tempo antes de Allison e de Eriksson, em que éramos campeões do futebol sem balizas e a maioria dos nossos médios só queria a bola no pé. (Vamos ver se Dalot consegue trazer aquilo que os alas não têm dado.)

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03
Dez22

Tudo ao molho e fé em Deus

À-vontade e à-vontadinha


Pedro Azevedo

Os jogos da Selecção não se esgotam nos 90 minutos. Na verdade, o jogo em si é apenas um pretexto. O verdadeiro jogo passa-se antes, na antevisão, um terreno fértil para o inuendo ou insinuação, e, principalmente, depois, durante a conferência de imprensa, onde o prato forte é a profanação que é feita ao cadáver após cada nova derrota. Nesse sentido, o dia de ontem não fugiu à regra. Para variar, no pós-jogo, e enquanto o presidente-comentador-tudólogo Prof. Marcelo não dava as suas notas ao melhor estilo do Dr. Rogério Alves, a relação entre Ronaldo e os seus treinadores, na circunstância o próprio do Engº Fernando Santos, tomou o centro como tema de falatório. E houve revelações chocantes. Assim, na ausência de um "bellboy", ficámos a saber que houve um c#!#$&o de um coreano que, fo%#-se, foi o culpado de o Ronaldo ter saído antes do tempo. Tal suscitou a curiosidade de Castigo Máximo, que logo se pôs em campo na pista coreana, contando para isso com a sua vastíssima equipa de investigação. Apurando factos históricos que comprometem outros cidadãos provenientes desse país da Ásia Oriental, que doravante iremos transcrever: assim, durante a XVII Conferência Ibero-americana, o Juan Carlos não dirigiu o célebre "por qué no te callas?" a Hugo Chávez, não senhor. Foi a um empregado de limpeza vindo expressamente de Seul que insistia em segredar-lhe ao ouvido a intenção de higienizar o cinzeiro onde o rei acabara de depositar a cinza de um "puro". E, durante a campanha eleitoral para as presidenciais brasileiras, as acusações de Bolsonaro a Lula sobre má-conduta foram afinal referentes a um cefalópede mal-cozinhado que deu à luz 12 filhotes na boca de uma sul-coreana de 63 anos (para quem tiver dúvidas, faça o favor de confrontar com uma Super Interessante não tão interessante ou bizarra quanto as conferências do CEO da Femacosa). São uns maganos, estes coreanos!!!

 

A derrota com a Coreia não foi diferente de outras derrotas com outras coreias ao longo dos anos. Historicamente, a nossa vocação é mais para o heroísmo, metermo-nos numas cascas de noz e assim pretender abraçar o mundo. Contra todas as probabilidades, como quando o Torres imitou o Martin Luther King e decidiu viver o sonho, mesmo se esse sonho tenha depois virado um chili-pesadelo. Porque quando tudo está a nosso favor é preciso desconfiar, havendo sempre uma Albânia ou uma Malta capazes de nos porem em sentido. Em suma, nós queremos mesmo é Adamastores, se o desafio fica aquém somos uns distratores. Nesse sentido, a milenar instituição militar resume bem o nosso dilema: uma coisa é à-vontade, outra coisa é à-vontadinha. E nós, simplesmente, não conseguimos estar à-vontade sem resvalarmos para o à-vontadinha. Talvez por isso tenhamos vivido tantos anos apertadinhos, em ditadura...

 

A minha grande dúvida é se a Suiça será um Adamastor suficiente para moralizar esta rapaziada, para eles a levarem a sério. Se o for, a vitória é certa, se não temo o pior, podendo até todas as nossas aspirações reduzirem-se a Esferovite (ou Seferovic, ou lá o que é). Terça-feira logo o saberemos, agarrados ao desfibrilador verde-rubro à venda na Cidade do Futebol e a viver o sonho. O sonho que comanda a vida, tal como na Pedra Filosofal do José Freire. Então, deixem-me sonhar que o Bernardo, o Ronaldo, o Leão, o Matheus e companhia comecem a jogar à bola. E que daí resulte um fondue indigesto para os helvéticos. Ou então não, que o nosso caos organizado - a desconstrução pode ser a construção de algo novo - parece que confunde ainda mais os adversários que a nobre lusa arte de bem jogar o futebol. Como já se viu no Euro-2016.

 

Tenor "Tudo ao molho...": Diogo Dalot

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29
Nov22

Tudo ao molho e fé em Deus

The hair of God


Pedro Azevedo

Em 86, no México, Argentina e Inglaterra defrontavam-se nos quartos de final do Mundial. O palco era o Estádio Azteca e cerca de 115 000 almas dispunham-se nas bancadas sob um sol inclemente. Para apimentar ainda mais o ambiente, o jogo tinha um carácter extra-desportivo motivado pelas cicatrizes ainda abertas da Guerra das Malvinas, que havia oposto os 2 países uns anos antes. No fim, no campo, ganhou a Argentina, naquilo que poderia ser considerado a "revancha del Tango". Para isso muito contribuiu Diego Armando Maradona, o génio da lâmpada, que marcou um golo épico e outro ignóbil, cada um inesquecível à sua maneira, ambos porém produto da improvisação, expressividade, ginga, truque e carga dramática que caracterizam o tango. No fim, quando questionado pela imprensa inglesa sobre a legalidade do seu primeiro golo, El Pibe apelidou-o de "The hand of God", a mão de Deus. Quanto ao segundo, o "Golo do Século", Lineker afirmou ter sido a única vez na vida em que se sentiu compelido a aplaudir num relvado um golo do adversário.  

 

Pensei na "mão de Deus" ontem enquanto aplaudia o primeiro golo de Portugal contra o Uruguai. Não que tivesse havido algo de ignóbil no lance, aliás perfeitamente limpo, mas porque envolveu um outro deus do futebol mundial, o nosso Cristiano Ronaldo, que foi absolutamente decisivo no êxito da iniciativa conduzida por Bruno Fernandes. Logo se levantou a questão de Ronaldo ter ou não tocado na bola e as imagens televisivas pareceram concluir que não. Mas tendo o salto de Ronaldo sido fundamental para a inacção do guarda-redes uruguaio, que ficou na dúvida entre seguir a trajectória da bola ou precaver-se face a um hipotético desvio do avançado português, bem que o golo poderia ficar na história como "The hair of God", como se um fio de cabelo divino tivesse acrescido à cabeleira de Ronaldo e assim impelido a bola para as redes. ("Se no è vero, è ben trovato".)

 

O jogo para nós foi de uma forma geral sofrido, ou não fosse Portugal a equipa e Fernando Santos o seu treinador. Algumas debilidades em termos de intensidade defensiva do nosso meio-campo ficaram expressas num arranque de Bentancur no primeiro tempo ou na reacção uruguaia ao golo inaugural luso. Também ficou evidente que o nosso seleccionador atrasou demasiadamente as últimas substituições, especialmente as entradas de Palhinha e de Matheus Nunes (que classe!), submetendo a equipa desnecessariamente a uma forte pressão dos sul-americanos que o poste, a malha lateral e Diogo Costa impediram que se materializasse em golos. Antes assim, mas que não havia necessidade de sofrer tanto, lá isso também é verdade. Até porque um dia, nada se alterando, a história poderá acabar mal, que os deuses do futebol não estarão sempre connosco, como aliás já se provou em competições que sucederam à vitória no Euro-2016. (A maior vítima do caos organizado que caracteriza o nosso jogo desposicional, bem como da macieza dos médios, é o Bernardo Silva, que é obrigado a transpirar tanto que depois lhe falta oxigénio para inspirar... a equipa.) 

 

Com apenas 2 jogos disputados, Portugal já está nos oitavos de final do Mundial. E com grande possibilidade de terminar em primeiro lugar no seu grupo, evitando assim o Brasil, que com igual probabilidade deve finalizar no topo da sua poule. Para quem tem na Texas Instruments ou na Casio uns parceiros de uma vida, não deixa de ser reconfortante...

 

Viva Portugal!!! (A revolta do Fado.)

 

Tenor "Tudo ao molho...": Bruno Fernandes. Menção honrosa para Diogo Costa. Ronaldo esteve no golo e deu apoios no ataque, Pepe regressou a bom nível, Nuno Mendes foi o único a acelerar o jogo no primeiro tempo, Cancelo preocupou-se essencialmente em defender bem e teve um corte providencial e Bernardo lutou em todo o campo pela equipa.

 

PS: O Ruben Neves passou o jogo todo com mialgias a nível do rabo de cavalo...

 

PS2: A minha equipa para a Coreia: Diogo Costa (Rui Patrício); Dalot, Pepe, Rúben Dias e Cancelo; Palhinha, Matheus Nunes e Vitinha; João Mário, Ronaldo (André Silva) e Rafael Leão. Descansam o Bruno, o Bernardo e o Guerreiro (não temos outro). Os outros que jogaram com o Uruguai também, mas não são os melhores. 

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28
Nov22

Breve antevisão


Pedro Azevedo

Muito cuidado com a velocidade de Fede Valverde e Darwin Nuñez. E fé inabalável em Ronaldo, claro. Quanto ao Onze, o meu seria: Diogo Costa; Dalot. Pepe, Ruben Dias e Nuno Mendes (se estiver em condições); Palhinha, Matheus Nunes e Bruno Fernandes; Bernardo Silva. Ronaldo e Rafael Leão. O Onze de Fernando Santos ainda não foi divulgado, mas seja ele qual for o que interessa é a vitória. Vamos, Portugal!!!

25
Nov22

Tudo ao molho e fé em Deus

Doha a quem doer


Pedro Azevedo

A FPF delegou numa empresa privada, a Femacosa, a gestão da sua principal equipa de futebol. O gerente dessa empresa é o simpático Engenheiro Santos (santinho!), que em dia de treino ou de jogo adquire a personalidade do seu maléfico altar-ego, o senhor Femacosa, à boa maneira de uma novela gótica com elementos de ficção científica e de terror. (Sendo a Selecção Nacional a "Equipa de todos nós", na expressão feliz de Ricardo Ornellas, doravante tratemos carinhosamente a empresa que a gere por "Femacosa Nostra".)

 

Ontem, a Femacosa Nostra foi a jogo. Os jogos da Femacosa Nostra são como os melões: tanto dá para empatar ou perder com as Ilhas Salomão como dá para empatar ou ganhar à França. Tudo na verdade obedece a uma aleatoriedade capaz de desafiar a epistemologia das coisas. Com a Femacosa Nostra ganha-se como se perde ou se empata: não desse o árbitro um penálti ou não escorregasse o Williams na hora de surpreender o Diogo Costa e estaríamos agora a lamentar um empate ou uma derrota num jogo em que tivemos tudo para golear. Mas não goleámos. Primeiro, porque demos uma parte do jogo de avanço, renunciando a provocar desequilíbrios que na mente do gerente da Femacosa Nostra nos desequilibrassem a nós. (A Louis Vuitton deveria deixar-se de Ronaldos e Messis e convidar o Engenheiro Santos para defrontar o senhor Femacosa no tabuleiro do xadrez.) Segundo, porque finalmente por cima do jogo, o senhor Femacosa decidiu aliviar a pressão no meio campo e fazer entrar um passeante, o William de Carvalho, permitindo-lhe assim fazer a digestão do almoço no relvado de Doha. Terceiro, porque ter Bernardo Silva e obrigá-lo a vir buscar a bola junto dos centrais desafia qualquer lógica de Jogo Posicional e desgasta desnecessariamente uma unidade que deveria ser resguardada para fazer a diferença na frente (e não atrás). Quarto, porque aos evidentes erros de casting do plantel, para uma competição com estas condicionantes de temperatura e humidade, seguiu-se as já habituais inações e atrasos nas decisões que viram Matheus não sair do banco ou Rafael Leão entrar já tarde no jogo, dois jogadores com aquilo que qualquer Selecção presente neste Mundial necessita para ter sucesso: explosão com bola. No entretanto, o Otávio e o Ruben Neves nunca pegaram no jogo, os laterais não arriscaram no 1x1 e os extremos fugiram das alas e assim afunilaram o nosso jogo. Defensivamente, os erros somaram-se, como é bom exemplo o primeiro golo ganês: a bola passou, primeiro, pela frente de Ruben Dias sem que este a interceptasse e, depois, por entre as pernas de Danilo. 

Foi já com Leão aberto na esquerda e Félix na direita que Bruno Fernandes encontrou espaço para si próprio no miolo do campo para endereçar dois passes açucarados para golo, com os africanos centrados na marcação a Ronaldo. Ronaldo que ganhou um penálti, viu um golo aparentemente limpo ser anulado pela precipitação do árbitro e ainda teve duas oportunidades negadas pela excelente acção do guarda-redes do Gana. Numa delas, sprintou em 30 metros, deixando um defesa colado aos blocos. Pelo meio, elevou-se e falou aos pássaros como só ele sabe. Nada mau para um ancião (dizem eles)... Ronaldo que deu sempre a sensação de ser o inimigo público número 1 para os géneses. Uma vez mais emocionou-se e emocionou o seu povo, pelo menos aquele povo que valoriza o mérito e não se revê na inveja e na perfídia. "Once Ronaldo, always Ronaldo" - os seus críticos ainda vão ter de "levar com ele" mais algum tempo. Entretanto, lá bateu mais um recorde, com golos em 5 fases finais de mundiais de futebol. Despedido por um clube à venda e injustiçado por uma narrativa de não haver quem o compre, Ronaldo simbolicamente ergueu-se sobre um Messi que o olhou embevecido. Não surpreendeu, porque os grandes sabem reconhecer-se entre eles. Força Femacosa, força Federação, uma entidade de utilidade pública. (Se fosse púbica, contratava-se o John Holmes e o problema estaria resolvido sem hesitações.)

 

Tenor "Tudo ao molho...": Ronaldo 

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20
Nov22

A insustentável leveza do Ser português


Pedro Azevedo

A histeria colectiva sobre os direitos humanos a propósito da realização do Mundial de Futebol no Qatar é reveladora da hipocrisia da sociedade portuguesa, tão solícita a acompanhar a última moda mundial de Outono-Inverno da moral e dos princípios e tão pródiga no esquecimento das condições existentes no seu próprio país. Sim, focamo-nos no que se passa no médio oriente e olvidamos o que ocorre aqui ao pé de nós, no ultra ocidente (europeu), onde à boa maneira de Groucho Marx se traficam os princípios: "Estes são os meus princípios, se não gostarem deles eu tenho outros", que é como quem diz, "Ah, e tal, os estádios e assim... mas agora concentremo-nos no Campeonato do Mundo". E por que deveria ser diferente? Afinal, nós somos o país onde existem dezenas de inquéritos abertos por suspeitas de crimes relacionados com a exploração de imigrantes, tráfico de pessoas, em que cidadãos estrangeiros são espancados até à morte num aeroporto e mais de cinco centenas de agentes da autoridade disseminam o ódio e expressam simpatia por ideais de extrema direita na redes sociais. E somos também os mesmos que deixam isolados e desesperançados todos aqueles que não alinham na moscambilha, no conflito de interesses e tráfico de influências, na pequena corrupção. A quem vemos com maus olhos e a quem tomamos como tolos, quanto mais não seja porque assim expõem e mostram à saciedade a insustentável leveza do nosso Ser e a nossa ancestral hipocrasia disfarçada com umas alegadas moral e bons costumes que nunca passam do adro da igreja, ou não fossemos também o país onde um inquérito conduzido pela Fundação Francisco Manuel dos Santos, curiosamente apenas reproduzido pela TSF, mostra que a meritocracia pouco ou nada pesa na ascensão de um profissional nas empresas. E o que resta a quem não se revê no sistema? O abandono, à mercê do populismo primário de um Chega ou da inconsistência ideológica de uma IL, que ninguém quer saber até porque o problema é o Qatar. Sabem o que vos digo? Vão-se catar!

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10
Nov22

Vem aí o Mundial


Pedro Azevedo

Vem aí o tão controverso quanto incontornável Mundial do Qatar. Independentemente de todos os aspectos negativos que rodeiam esta competição desde que ficou conhecido que a FIFA atribuiu a sua organização a este país do médio-oriente, um mundial de futebol é sempre o nirvana dos adeptos do desporto-rei. Por isso, é com expectativa que estes aguardam o início da prova. Haverá novidades importantes do ponto de vista táctico? Que países surpreenderão? Terá chegado o tempo das seleções africanas? À partida, atendendo às condições climatéricas, este mundial poderá ser um hino aos craques da bola. Pelo menos levando em linha de conta o que ocorreu em Espanha (82) e especialmente no México (86), competições onde os jogos foram disputados sob um calor tórrido, condicionante atmosférica que impediu marcações tão cerradas como seriam aquelas que se poderiam encontrar noutras latitudes. Privilegiando assim a emergência do génio de um Diego Armando Maradona, mas também o futebol sambado de Zico e de Sócrates ou o perfume que Platini deixava quando deslizava suavemente pelo terreno. Se aconteceu antes, bem pode ocorrer de novo. Pelo que não deixo de fora a possibilidade de este ainda vir a ser o Mundial de Messi, Neymar ou, até mesmo, Cristiano Ronaldo, os velhos guerreiros que querem deixar uma última impressão antes do render da guarda. Mas também poderá ser o Mundial dos jovens lobos, que potencialmente imortalizará Mbappé, Havertz, Foden, Mount ou Pedri, entre outros. De Portugal aguardo com entusiasmo a forma como o futebol de Bruno Fernandes e de Bernardo Silva se adaptará às condições existentes. E penso que haver quem queime linhas como Matheus (mais) ou Sanches (menos) pode vir a ser um factor determinante. Por isso, pese embora duvide muito que o Engenheiro Santos alguma vez venha a optar por esse caminho, eu não abdicaria nunca do duo Palhinha/Matheus no centro do campo, deixando depois espaço para que os criativos em zonas mais avançadas do terreno façam o resto. De entre estes, a grande incógnita para mim é o Rafael Leão. Irá ele ao encontro do patamar que o seu enorme talento há muito augura ou passará sem glória por uma competição cujas condições parecem ter sido criadas para favorecer jogadores como ele? Dentro de algumas semanas teremos a resposta. (Assim tenha ele cabeça, que é coisa que no passado recente lhe falhou flagrantemente.)

27
Set22

Tudo ao molho e fé em Deus

O Santos Contestável


Pedro Azevedo

Um Portugal vs Espanha traz-nos sempre à memória Aljubarrota, o "Mestre de Avis", e D. Nuno Álvares Pereira, o mestre da táctica, que passou à história como o Santo Condestável. Nesse tempo "jogávamos" em inferioridade numérica, apesar dos ocasionais reforços provenientes de Inglaterra, mas no final o Quadrado, a Ala dos Namorados e o jóquer Brites faziam toda a diferença. Mas esse era um outro tempo, de antes quebrar que torcer, onde o engenho e a arte abundavam e compensavam as limitações próprias de um país pequeno. 

 

Hoje em dia a realidade é outra, vivemos em abundância (de talento): Portugal teve, entre o relvado e o banco de suplentes, 13 jogadores que actuam nos melhores clubes do mundo (Man City, Man Utd, PSG, Liverpool, Atlético de Madrid, Nápoles e Milan), um luxo. Cumprindo a velha tradição da aliança com os ingleses, outros 5 vieram de clubes da Premier League, o campeonato dos campeonatos europeus. Bem sei, o Quadrado, que Fernando Santos no passado recente adaptou como losango, desfez-se num triângulo. Mas tivemos duas (dois!) alas de grande nível, pelo que uma coisa compensou a outra. O que nos faltou, então? Bom, uma coisa é ter do nosso lado o Santo Condestável, outra é ter o Santos Contestável. E se quem dirige não ajuda a assegurar o ganha-pão, não admira que a Padeira tenha falta de comparência. (A Espanha a meter a alta cilindrada, o Palhinha e o Matheus a criarem raízes no banco e o João Mário, aquele que no Sporting-campeão não era opção para o seleccionador, a entrar quando o motor espanhol estava muitas rotações acima da sua trotinete, eis um breve resumo do inglório desperdício de talento operado pelo nosso seleccionador.)

 

Tenor "Tudo ao molho...": Diogo Jota. Nota alta também para Nuno Mendes e Danilo.  

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30
Mar22

Tudo ao molho e fé em Deus

Macedónia sem Norte


Pedro Azevedo

Ao princípio eles queriam ser só Macedónia, orgulhosamente assim evocando os tempos de glória de Alexandre, O Grande. Mas os gregos vetaram e sugeriram que fossem à procura do Norte. Como a história muitas vezes se recria, voltaram agora desejosos de emular de novo a Grécia antiga, desta vez a do não assim tão longínquo ano de 2004, que contra todas as previsões fez furor nesse Europeu. Para tal deixaram pelo caminho a nóvel campeã europeia, a Itália, de Garibaldi, herdeira de um Império Romano que, curiosamente, teve a Macedónia como sub-divisão administrativa, depois de já terem causado um escândalo ao imporem a terceira derrota em casa - a primeira foi sonhada por Torres e concretizada nos pés de Carlos Manuel em Estugarda - da história à tetra-campeã mundial Alemanha, em jogos a contar para a qualificação de campeonatos do mundo de futebol. E assim vieram até Portugal, desejosos de voltarem a surpreender. Só que do outro lado encontraram uns lusos hesitantes e que não assumiram o ataque relâmpago. Incrédulos, os macedónios (do norte) viram-se em zonas do terreno habitualmente por si inexploradas. E tomaram-lhe o gosto, vivenciando um inusitado conforto com bola. Afinal, foi só uma ilusão, e o surpreendente acabou surpreendido. Bastaram para tal dois contra-ataques fulminantes que permitiram um igual número de pontapés certeiros de Bruno Fernandes. Isso, bem como uma exibição imaculada de Pepe, o General, imperial em todas as suas acções. No fim, os portugueses celebraram Fernando, o Grande (O Único, a nível de selecções nacionais). E ainda há quem diga que Santos da casa não fazem milagres... (Se bem que milagre, milagre era estas gerações de grandes jogadores que confluíram aqui ficarem fora deste Mundial, o quinto de Cristiano Ronaldo.)

 

Tenor "Tudo ao molho...": Pepe. Menção honrosa para Bruno Fernandes pelos golos (melhorou a sua exibição no segundo tempo)

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