O homem que via o futuro
Johan Cruijff
Pedro Azevedo
Johan Cruijff deixou-nos há 5 anos atrás. Visionário, ele foi sempre um homem à frente do seu tempo. Inspirado pelo seu mentor Jany van der Veen, que havia absorvido os fundamentos da ideia do Futebol Total do inglês Jack Reynolds - o britânico que treinou os "lanceiros" nos anos da 2ª Guerra Mundial e foi preso após a anexação holandesa pelos alemães - , Cruijff encontrou em Rinus Michels o homem ideal para dar continuidade a essa revolucionária ideia de futebol na equipa principal do Ajax, constituindo-se como o prolongamento do treinador em campo. Assim, ao lado de futebolistas como Johan Neeskens, Ruud Krol, Piet Keizer, Wim Suurbier, Arie Haan ou Johnny Rep, Cruijff e o seu Ajax encantaram o mundo com um estilo de jogo apoiado que fazia da mobilidade dos jogadores o seu grande trunfo. Ele era o cérebro e a força motriz de tudo. Após 3 vitórias consecutivas na Taça dos Campeões, Cruijff migrou então para Espanha, onde ao serviço do Barcelona se viria a sagrar campeão espanhol logo no primeiro ano. No banco estava Michels, um feliz reencontro.
Depois de uma temporada passada nos EUA, Cruijff regressou já veterano à Holanda para recriar e aprimorar a ideia de Futebol Total no Ajax. Primeiro ainda como jogador, no Ajax e Feijenoord, depois como treinador dos "lanceiros". Oscilando entre um 3-4-3 e um 4-3-3, com Rijkaard como o líbero capaz de transformar o sistema dentro do campo, Cruijff venceria então a Taça das Taças de 87 com uma nova geração de meninos formados no clube onde se destacavam Marco van Basten, o seu delfim, os extremos Van't Schip e Witschge e o médio Winter, a que se juntava a experiência de Danny Blind, Muhren e do próprio Rijkaard. Replicando o seu percurso enquanto futebolista, Cruijff foi então para Barcelona criar o "Dream Team". Na Cidade Condal venceria 4 títulos consecutivos entre 91 e 94, uma Taça das Taças e a tão desejada Taça dos Campeões.
Em Barcelona teria ocasião de aprimorar os fundamentos do Futebol Total, trabalhando alguns princípios do jogo posicional como a distância ideal entre jogadores e linhas, formas ideais de pressionar o adversário e a ideia de que o jogador que define o passe é quem se desmarca e não o portador da bola (procura constante do passe entre-linhas). Tendo abandonado os bancos de futebol cedo, em 96, Cruijff dedicar-se-ia então à sua Fundação e ao Ajax, procurando neste último a criação de uma estrutura formada por antigos jogadores que garantisse a perpetuação de uma forma identitária de jogar futebol.
Johan Cruijff deixou-nos há 5 anos, mas a sua forma de ver o jogo influenciar-nos-á para sempre, observe-se a longa lista de treinadores que em si encontraram inspiração. Génio, e como tal tantas vezes incompreendido, a sua marca no jogo é indelével. Afinal, a ele e aos seus mentores devemos a melhor ideia de futebol que alguma vez passou à face da Terra. Obrigado por tudo, Johan!