Um dia, passeando por Natal, descobri uma loja de T-shirts com frases estampadas. De entre as multiplas camisolas com dizeres humorísticos, uma delas veio-me à memória ontem e narrava qualquer coisa como isto: "Comecei uma dieta e em duas semanas perdi quinze... dias". Enquanto tentava compreender a humilhação em Alverca, esta frase associou-se no meu pensamento para descrever aquilo que sinto que tem sido o constante desaproveitamento de tempo no Sporting.
Por paradoxo, o tempo não tem sido bom conselheiro da Estrutura de futebol do nosso clube. No arranque da temporada, Frederico Varandas garantiu aos sócios que o Sporting iria fazer melhor que na época anterior. O pressuposto fundamental para esse optimismo era o facto de a temporada há muito estar a ser preparada por uma Estrutura altamente profissional, assim associando-se o tempo à previsão de sucesso. Acontece que, sendo a libertação de tempo algo importantíssimo na gestão, a sua constante má utilização pode mais facilmente conduzir ao desastre. O tempo só está do nosso lado se houver competência, caso contrário pode legitimar e exponenciar muita asneira. Ora, após 14 contratações desde Janeiro e vendas de Nani, Bas Dost e Raphinha, é fácil perceber que a equipa de futebol do Sporting não ganhou qualidade, pelo contrário perdeu-a. Ontem, em Alverca, na equipa inicial estavam 9 jogadores recrutados pelo Team Varandas, complementados por 2 elementos da nossa Formação. O resultado dessas apostas viu-se. Perante o quadro actual de jogadores, não haveria Jurgen Klopp, ou mesmo David Copperfield, que conseguisse com um passe de magia alterar instantaneamente o rumo das coisas.
Pese embora as condicionantes, a incoerência no discurso de Silas não pode passar em claro. Ontem começou por dizer que não teve tempo para treinar com os internacionais o novo modelo de jogo, mas a verdade é que os colocou em campo. Ora, durante duas semanas, Silas treinou o tal modelo, apoiando-se para o facto em diversos miúdos da equipa de sub-23 conforme foi amplamente noticiado. Se na altura da convocatória deixou todos de fora foi porque colocou os nomes à frente daquilo que faria sentido. Não adianta pois vir falar em "heróis" como algo prejudicial ao grupo, como se já não lhe chegassem os problemas que existem no plantel e ainda quisesse ver um problema na nossa praticamente única solução, o Bruno Fernandes. A verdade é que perante a desvantagem no marcador logo recorreu ao "herói". Como também se socorreu de Acuña, só faltando Mathieu para completar a entrada em campo dos jogadores que efectivamente fazem alguma diferença neste Sporting. De quem Silas não prescindiu foi de Jesé, estranhando-se a titularidade do espanhol que teve uma atitude incorrecta perante o tal grupo que Silas quer legitimamente ver a resolver os problemas. Conclui-se assim que também Silas desperdiçou o tempo que teve disponível desde o último compromisso da equipa de futebol, laborando exactamente na mesma teia de equívocos dos seus predecessores.
Aquilo a que se assistiu ontem deveria obrigar a uma profunda reflexão. E, já agora, a um plano de emergência. A uma política de contratações que privilegiou a quantidade em detrimento da qualidade somou-se o empréstimo de vários jogadores provenientes da Formação (alguns com cláusula de opção de compra do clube que os acolheu) e a venda ao desbarato de alguns dos melhores jogadores do plantel (Dost e Nani). Para além disso, a Estrutura nunca conseguiu dar estabilidade à liderança da equipa de futebol, definindo fins de ciclo ao fim de meses, quando não de dias, e indo já no seu 5º técnico num ano. Os efeitos nefastos da preparação desta época desportiva demorarão anos a dissipar-se. É preciso ter coragem de agir e inverter este rumo, antes que novas opções de mercado tornem o Sporting inviável. O que se viu ontem de Rosier, jogador que custou 5,3 milhões de euros mais o passe de um jogador (Mama Baldé) que havia marcado 10 golos na temporada transacta? Como explicar as dificuldades encontradas pela nossa dupla de centrais perante uma equipa da terceira divisão? A dado momento apeteceu-me perguntar a Doumbia se precisava de uma cadeirinha, tal a displicência do marfinense no lance do primeiro golo do Alverca, jogada em que Alex Apolinário teve tempo para rodar, ajeitar a bola e chutar sem ser incomodado por ninguém. Depois, Jesé foi a nulidade do costume, Borja tem melhorado com Silas mas não há milagres, Eduardo não se viu, Miguel Luís é menos talentoso que diversos jogadores dos sub-23 que não são aposta e Luíz Phellype não conseguiu uma única vez incomodar o seu sósia da baliza ribatejana. Salvaram-se Max, com uma defesa aparatosa, e Vietto, jogador com pormenores técnicos interessantes mas sem golo.
Humilhado na Supertaça, fora da Taça de Portugal, com a Taça da Liga muito comprometida e o campeonato irremediavelmente perdido em Outubro, para onde vai este Sporting? O que sobrou em tempo para o desconchavo, escasseia agora para que se reponha algum sentido nas coisas antes que o desastre seja total. Agora, ou isto é feito de uma forma ordenada, ou temo que o radicalismo tome conta do clube e que este se desfaça numa luta fratricida. Urge agir!
Tenor "Tudo ao molho...": Vietto