Sugestão do dia
Big Mal & Companhia
Pedro Azevedo
No Dia Mundial do Livro, uma dose dupla de leituras sugerida. Esta última focada no nosso Sporting.
A propósito da dobradinha de 82, Gonçalo Pereira Rosa aproveita para deixar implícito um diagnóstico geral dos males que ainda hoje apoquentam o leão. A autofagia leonina fica expressa ao longo da narrativa do autor e dos testemunhos de quem acompanhou por dentro (algo a que raramente temos acesso) uma época gloriosa mas marcada por inusitadas tensões entre dirigentes e dirigentes e treinador, onde também não faltam alegações de traição de um ou outro jogador. Um ambiente palaciano, cujos contornos permanecem pouco nítidos, aparentemente marcado por personalidades fortes e invejas e ambições pessoais desmedidas que acabam por transformar uma epopeia numa tragédia grega cujo epílogo ainda permanece em aberto nos dias de hoje. Só por isso já valeria a pena ler este livro (edição Planeta), mas Pereira Rosa oferece-nos também a receita do sucesso nessa temporada: a aposta num treinador sem medo, que dá liberdade e pede em troca responsabilidade aos jogadores, capaz de apostar em jovens e de formar uma equipa onde a classe (Meszaros, Eurico, Oliveira, Manuel Fernandes, Jordão) anda de mãos dadas com o fato-macaco (Marinho, Nogueira, Bastos, Barão, Zezinho) e os produtos da "Academia do Pelado" (Carlos Xavier, Mário Jorge, Ademar, Virgílio, Freire, Alberto). Sucesso que terminou em drama, algo que Pereira Rosa explica através de uma entrevista concedida por Malcolm Allison a Neves de Sousa na hora da sáida: "o director compra as sementes e é o jardineiro, o médico aconselha os adubos, o treinador é o Sol. Quando os directores ficam convencidos de que são espertos de mais e sabem tudo, cai o império. É o fim: o Sol não volta e as flores morrem". Lapidar!