Polígrafo Sporting
Pedro Azevedo
Pós Editorial do Jornal Sporting ("Polígrafo Sporting CP") publicado por André Bernardo, cumpre dizer que a realidade financeira da SAD do Sporting é a seguinte: em 9 meses de actividade da época 19/20, a Março de 2020, a SAD obteve um resultado (sem venda de jogadores) negativo em €49,2 milhões. Tal compara com prejuízos (igualmente sem venda de jogadores) de €42,8 milhões em Março de 2019 e de €27,4 milhões em Março de 2018. Anualizando a perda anual e expurgando o efeito pandemia nos custos (corte nos salários nos últimos 3 meses de 40% com consequente reposição de 20% por via do recomeço do campeonato), o resultado anual sem venda de jogadores andaria à volta (para mais, devido á eliminação precoce das provas europeias) de €66 milhões. Acresce que a incerteza quanto à bilhética em 20/21 e a não qualificação directa para a fase de grupos da Liga Europa poderão elevar este valor deficitário para cima de €75 milhões.
Vejamos agora do ponto de vista do activo intangível, o valor do nosso plantel. Independentemente dos valores em queda apresentados no Balanço, e na medida em que os activos provenientes da nossa Formação têm um valor contabilístico próximo de zero, procurei a avaliação do Transfermarket como valor absoluto e comparativo mais fidedigno. Ora, o valor actual do nosso plantel para o Transfermarket é actualmente de €115,1 milhões de euros, uma descida acentuada face aos €211,1 milhões de euros verificados no início de 18/19 ou os €259 milhões observados no início de 17/18.
Conclusão: o nosso défice estrutural nos Resultados (sem venda de jogadores) aumentou 15% face a 18/19 e 79,6% quando comparado com 17/18. Paralelamente, os nossos activos depreciaram-se fortemente (45,5% face a 18/19, 55,6% perante 17/18). Ou seja, em 17/18 o nosso rácio de cobertura do défice de resultados por via da venda de jogadores era de 4,82 vezes, em 18/19 (consequência de Alcochete e opção de não aproveitamento de várias gerações da Academia e concomitante não diminuição dos Custos face à não-qualificação para a Champions) baixou para 3 vezes e no final de 19/20 (após 15 jogadores comprados!) é apenas de 1,71 vezes (57,3% do valor total do plantel, não esquecendo ainda que o Sporting não é detentor de 100% dos direitos económicos de diversos jogadores que compõem o seu plantel). É este o rastro de destruição de valor na SAD. E é muitíssimo preocupante, obviamente.
Sem lendas e narrativas, com honestidade intelectual e apenas baseando-se em indicadores irrefutáveis extraídos dos Relatórios&Contas, este é o polígrafo de "Castigo Máximo" aplicado ao Sporting Clube de Portugal. Porque verdadeiramente assumir a responsabilidade das consequências das decisões tomadas no Sporting é aceitar os tremendos erros do passado e mudar de vida. Não é branquear o passado e com soberba imaginar os sócios do Sporting como menores do ponto de vista intelectual e como tal facilmente manipuláveis. Quem age assim não merece ter mais tempo à frente do clube para depois o desperdiçar ingloriamente.
P.S.1. Em relação ao desempenho desportivo nem vale a pena falar...
P.S.2. O Sporting Clube de Portugal gasta de mais (€70M vs €18M em custos com pessoal, €105M vs €31M em gastos gerais) para andar a discutir taco-a-taco com o Sporting de Braga.