O negócio Gelson
Pedro Azevedo
A Sporting SAD anunciou um acordo global com o Atlético Madrid, em que:
1) o clube espanhol compromete-se a pagar a quantia de 22,5M€, renunciando Sporting e jogador a quaisquer direitos inerentes a, respectivamente, contrato de trabalho e rescisão unilateral;
2) na prática, a Sporting SAD compra 100% dos direitos desportivos e 50% dos direitos económicos de Luciano Vietto (últimamente emprestado ao Fulham), por 7,5M€.
Algumas coisas a destacar:
1) segundo a imprensa, Sousa Cintra recusou no passado uma oferta de 22M€, mais 10M€ em variáveis, por uma percentagem a definir entre 60 a 70 dos direitos económicos de Gelson;
2) o Director Desportivo do Atlético de Madrid, Gil Marin, chegou a anunciar, em Dezembro de 2017 (mandato de Bruno de Carvalho), o empréstimo de Vietto por 2 M€, com uma cláusula de opção de compra de 10M€, negócio que abortou devido à recusa do jogador em vir para o Sporting, ou seja, a tentativa de negócio é antiga e vem de outra Administração, mas os valores de transferência na altura eram inferiores (a avaliação em 15 M€ dos direitos económicos de Vietto parece-me manifestamente exagerada neste momento);
3) Desde Janeiro de 2018, Vietto representou o Valência e os ingleses do Fulham. Somado, realizou 41 jogos, com 6 golos marcados e 5 assistências;
4) Gelson Martins e Vietto estão, respectivamente, avaliados em 28 M€ e 6 M€ pelo site Transfermarket, sendo que o primeiro valorizou-se de 20 para 28 M€ desde que foi para o Mónaco e o segundo depreciou de 10 para 6M desde Janeiro de 2018 (dados Transfermarket de Valor de Mercado);
5) o Mónaco, clube que recebeu Gelson por empréstimo e que alegadamente estará interessado na sua compra, ainda não assegurou a permanência na Ligue 1, pormenor que poderá fazer toda a diferença na sua disponibilidade efectiva para comprar o jogador, o que indelevelmente aumenta a incerteza do lado do Atlético (mau à partida para as pretensões do Sporting) na realização de uma boa venda. Adicionalmente, será difícil alguém comprar o jogador sem acautelar o ónus potencialmente superveniente de uma decisão hipotéticamente desfavorável para o jogador em sede de Tribunal (bom à partida para as pretensões do Sporting, na medida em que impele à abertura para negociar);
6) não se sabe se os valores anunciados são liquidos de comissões e outros encargos;
7) não conhecendo a opinião do experiente advogado contratado pelo Sporting para dirimir o caso, não sei se está mais ou menos confiante na decisão do Tribunal. Nestas coisas há sempre algum "bluff", e muitas vezes o que se diz publicamente não encontra correspondência no que se pensa. Em traços gerais, seria sempre mais interessante a questão ficar resolvida fora do Tribunal, dado que se eliminaria a incerteza. Mas isto é válido para todas as partes: Sporting, Atlético de Madrid e jogador.