O (J)amor acontece!
Pedro Azevedo
Num futebol português em que quase tudo é, pardon my french (ou melhor, my italian, com a devida vénia a Ettore Scola), feio, porco e mau, a festa do Jamor é a nossa reconciliação com o que o desporto-rei tem de belo, nobre e bom.
Embora últimamente tenha deixado de ser um momento de reunião das famílias à volta de um campo de futebol (como um jogo da selecção o é), fruto de umas regras de distribuição de bilhetes que fomentam exclusivamente a fidelidade ao clube expressa através da compra de uma gamebox, a final da Taça de Portugal é uma celebração epicurista da vida e da amizade.
Pelas matas adjacentes ao Estádio Nacional inúmeros pontos de convívio são antecipadamente estabelecidos, por vezes com dias de antecedência, porque na Taça o pré-jogo é tão ou mais importante do que o próprio jogo. Como tal, não poderiam faltar o leitão, as febras ou as gambas. Tudo regado com umas tantas minis, que ajudam a vencer a canícula habitual nesta altura da época e convidam à manutenção da boa disposição.
Infelizmente, a festa da Taça marca o encerramento da época, pelo que todo o espírito positivo à sua volta se perde ao longo do defeso. Quando a pré-época se inicia, logo regressa a sua antítese: o ódio, a intolerância, o facciosismo exacerbado, a perfídia, o desejo de ganhar a todo o custo. Se o futebol é o circo romano dos nossos dias, todas as frustrações são descarregadas em cima do jogo. Acresce que, numa sociedade onde há tantos perdedores e excluídos, a vontade de estar associado a um projecto vencedor sobrepõe-se à racionalidade do ser, o que vai alimentando o "status-quo" vigente.
É por tudo isto acima descrito que eu gosto muito da final da Taça. Que tal como a pescada, antes de o ser (apito inicial do árbitro) já o era.
Um dia bem passado para todos!