O futebol em Portugal
Pedro Azevedo
Os portugueses não amam o futebol. Isto é, até gostam do clube do seu coração, ainda que este sentimento se expresse mais pelo ódio a um rival do que pelo amor à sua equipa de eleição. Também não ajuda o facto de no futebol português vigorar a lei do mais forte, sendo este genericamente aceite como aquele que melhor manobra nos bastidores. Um futebol assente neste pressuposto será sempre um jogo capaz de fomentar todo o tipo de ódios e de recalcar um sem número de frustrações. Logo, o produto é-nos vendido de forma totalmente errada, havendo ainda muito boa gente com responsabilidade que crê ser o ruído que dá popularidade ao jogo. Essas pessoas geralmente têm o mundo do tamanho de uma azeitona e ainda assim querem trincá-lo com toda a força mesmo que aqui e ali uma dentada mais forte os faça perderem uns caninos.
Uma pessoa passa fronteiras, vai até Inglaterra e percebe o que é a essência do futebol. Os ingleses são os guardiões do Santa Graal do futebol mundial. Eles amam incondicionalmente o jogo e os grandes jogadores que ao longo dos anos vão fazendo a história do futebol. Não deixam de torcer pelo seu clube, simplesmente sabem admirar a qualidade de um adversário. Acreditam piamente que a emoção nas bancadas está dependente da qualidade dos artistas e que esta sai valorizada se houver critérios uniformes de arbitragem e procedimentos que beneficiem o espectáculo. Os participantes do futebol inglês não estão interessados em criar alçapões por onde as regras se podem temporariamente escoar, quais xico-espertos de ocasião. Não, eles estão empenhados é em dar transparência às coisas de forma a que ninguém questione ou duvide do produto. E para quê? Para que a paixão do adepto seja direccionada para o jogo que é disputado nas quatro linhas durante os 90 minutos. E quando recrutam finos solistas, fazem-no com a percepção de que isso vai estimular mais o amor pelo jogo.
Azar o nosso que importando tantos anglicismos não fomos capazes de adquirir a verdadeira substância das palavras. "Fair" quê?