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Castigo Máximo

De forma colocada, de paradinha, ou até mesmo à Panenka ou Cruijff, marcaremos aqui a actualidade leonina. Analiticamente ou com recurso ao humor, dentro ou fora da caixa, seremos SPORTING sempre.

De forma colocada, de paradinha, ou até mesmo à Panenka ou Cruijff, marcaremos aqui a actualidade leonina. Analiticamente ou com recurso ao humor, dentro ou fora da caixa, seremos SPORTING sempre.

Castigo Máximo

30
Ago19

O estado da Nação


Pedro Azevedo

O Sporting deste milénio, sendo dos três grandes o único que tem Portugal no seu nome, é curiosamente o menos português dos clubes portugueses. Na verdade, quando a generalidade dos portugueses cultiva o mito sebastiânico e espera que o regresso d`El Rei num dia de nevoeiro os salve de uma vida onde sobra pouco tempo (e dinheiro) para viver a... vida, nós, os Sportinguistas, não somos saudosistas e até gostamos de utilizar a expressão "o cemitério está cheio de insubstituíveis" enquanto contemplamos um céu sem nuvens no horizonte. É um "wishful thinking", o Prozac - deve estar referenciado pelo nosso Scouting - que cada leão toma enquanto lhe levam os anéis (e também o cenário do céu sem nuvens emprestado por um estúdio da Venda do Pinheiro, de Oeiras ou de Queluz). De facto, no Sporting quase tudo é substituível. A começar pelos jogadores. Pouco interessa que não ganhemos um campeonato em ano ímpar desde 1953, há portanto 66 anos. Para nós, os Sportinguistas da era pós-moderna, o Necas, o Malhoa, o Zé da Europa e o Albano foram/são perfeitamente substituíveis. Só que não, como o comprova termos perdido o campeonato em 33 anos ímpares consecutivos. Ainda assim, poder-se-ia ter dado o caso de termos ganho o campeonato em todos os anos pares desde 53. Só que (de novo) não. As nossas vitórias nesses anos não chegam a 1/3, o que significa que ganhámos menos de metade do que Benfica e Porto juntos. E já nem falo de Peyroteo, homem honrado, de outros tempos, que, por ter feito uma festa de despedida que lhe permitiu arrecadar uns cobres para salvar um negócio em mau momento, sentiu que estaria a enganar os Sportinguistas se voltasse aos relvados, pese embora as suas (imensas) capacidades futebolisticas ainda estivessem intactas. Para sua sorte, mas não para sorte da sua carteira, nunca jogou nestes tempos modernos em Alvalade, não se tendo assim de sujeitar a ser considerado um tosco que só atrapalhava o "processo" ofensivo e logo aí ter como destino ser recambiado para alívio salarial da entidade patronal, coisa obviamente de conotação kafkiana para quem apresentaria a modesta contribuição de 1,6 golos por jogo.

 

É curioso, pois quando era pequenino o Sporting era aquele que aos Domingos ia a jogo, em que os ídolos eram os jogadores, a origem do sortilégio da nossa paixão. Hoje, no pós-modernismo leonino, eles são todos substituíveis para os sócios e/ou adeptos. Mesmo que se chamem Bruno Fernandes, Marcos Acuña, Jeremy Mathieu ou Bas Dost, ou qualquer um equivalente ao abono de família do atarantado senhor Keizer - "Tragam-me um ponta de lança. Móvel, de área? Tanto faz" - no fim do mês. Dizem que é a natureza do "negócio", uma forma altamente "edificante" de meritocracia em que aqueles que elevam mais alto a nossa camisola são tratados da mesma forma (quando não pior, e já nem falo do dia de horror vivido em Alcochete) que aqueles que não cumprem os mínimos daquilo que deveria ser a exigência pedida a um futebolista do Sporting. Por exemplo, se Vasco da Gama estivesse ao serviço das nossas cores, a sua descoberta do caminho marítimo para a Índia não valeria mais para nós que o deslindar do melhor caminho para a Brandoa pelo Moovit, ou até que os atalhos que o Ilori e o Borja escolhem para pôr em perigo o meu pobre coração sofredor. É o que fica implícito depois de tanto leilão, ou saldos, ou liquidação total, ou lá o que é. Posto isto, nós, sócios e adeptos, queremos que os jogadores nos respeitem, o que também faz sentido. Para nós, Sportinguistas, única e exclusivamente, bem entendido...

 

Aparentemente, os únicos não-substituíveis no clube são os presidentes. Por eles não se cala a indignação, sobram querelas, batalhas, guerras até. Deles certamente dependerá a emoção de todos os fins de semana. E quando não a emoção, a razão, a nossa sustentabilidade, as contas sempre impecáveis que apresentamos no final de cada época desportiva, ano após ano, razão pela qual todos os futebolistas devem ser substituíveis. Para que possamos apresentar sempre lucros? Não. Para que possamos fazer plantéis cada vez mais fortes? Também não. Por qualquer outra razão estratégica, aliás explicada tim-tim por tim-tim aos sócios? Não, não e não. Para fazer sócios e adeptos felizes, o que deveria ser a única motivação de quem dirige? Nãox4. Mas que interesse tem dissecar tão pueris questões, não é verdade?

 

Últimamente, o nosso futebol também é subsbtituível. Aliás, a minha relação com o nosso fio de jogo é semelhante à que tenho com Deus: creio e sinto que existe, embora não o veja. Bem, houve profetas que pregaram a palavra d`Ele (e um deles foi especialmente relevante) como agora há um Bruno - o Atlas que carrega o nosso céu azul nos seus ombros - que tem o seu nome em quase todas as escrituras dos jogos. Ainda assim há uma diferença. É que em Deus eu tenho fé e nesse Sporting sem os melhores jogadores não tenho fé nenhuma. Confesso que ainda julguei ser possível nos primeiros tempos de Keizer, mas tal como um dos seus (iniciais) princípios perdi-a em cinco segundos. Mas graças a Deus que já era católico antes de ser Sportinguista. Caso contrário, seria tentado a pensar que Deus não existe, partilhar do silogismo de que vale tudo e assim assistir impávido ao declínio, resssentimento, incapacidade de avançar, paralisia, ausência de finalidade ou de resposta ao "porquê" das coisas - o niilismo Sportinguista pós-João Rocha (com breves interrupções que deram esperança e acabaram por gerar grandes desilusões). Antes que me lancem um Auto da Fé Sportinguista, algo com que consócios e adeptos se gostam de entreter nos tempos livres enquanto expiam o sentimento judaico-cristão da culpa, convém lembrar que o último ritual de punição pública na Península Ibérica contra hereges que repudiavam a igreja católica data de 1826. Ainda assim, como nem nisso somos bem portugueses, ou mesmo iberos, e apesar de saber que nós somos um clube civilizado, de gente do bem ("de bem", não sei "bem" o que pensar), diferente até, que como tal terá espírito e certamente se saberá rir de si própria, dizia eu antes que me atirem com um daqueles epítetos que vêm entre aspas e estão tão em voga neste milénio Sportinguista depois de infelizmente terem sido fomentados por um antigo presidente, cumpre-me informar que não tendo fé ainda tenho paixão. Muita! Imensa! E genuína! Mas não ao ponto de estar preocupado. Se o (actual) insubstituível não está, porque carga d`água deveria eu estar? Só está preocupado quem tem uma ilusão e eu não tenho ilusão nenhuma, só paixão. Essa paixão leva-me a ter um ideal de clube, da sua identidade, da sua Cultura corporativa, princípios e sustentabilidade, que ninguém irá substituír porque reside na minha mente, morrerá comigo e não é alienável como a celebérrima aposta na Formação é para alguns (ateus da sustentabilidade, por certo). Bom, a esta hora muitos estarão a pensar que também eu sou substituível. Eu e mais uns quantos sócios do Sporting. O que num dia, que até já esteve mais longe, será indiferente, na medida em que por este andar só contarão os accionistas. Da SAD, obviamente. Maioritários, obviamente (de novo). Afinal, o dinheiro compra quase tudo. Bem, a luxúria talvez, mas não compra o amor. Se bem que este, por estes dias, também já deva ser substituível. No pós-modernismo, onde o equilíbrio é uma coisa que só imaginamos no trapézio do circo, o que interessa é o cliente, essa figura da mitologia leonina que um dia chega a Alvalade e compra todas as gamebox do futebol mais as das modalidades, sorve cem tonéis de duzentos litros de cerveja com alcool, enfarda uma tonelada de cachorros quentes e de enfiada ainda varre todas as camisolas do Bas Dost, perdão do Bruno Fernandes, perdão do Acuña, perdão... Do Tiago Ilori ou do presidente Varandas?... Bolas!!! Não me deem cabo do(s) plano(s). Deixem-me trabalhar. Vá, soletrem lá: A, B, C...   

 

P.S.1: Não troco a próxima geração pela próxima exibição. 

P.S.2: A paixão pelo clube, na sua génese comum a todas as gerações de Sportinguistas, confunde-se com a paixão por jogadores míticos que ajudaram a fazer a história do Sporting Clube de Portugal. É bom não o esquecer.

P.S.3: O Grande Prémio do Mónaco de BF8 não tem transmissão televisiva?

P.S.4: Jorge Fonseca sagrou-se hoje campeão do mundo de judo (-100Kg). Atleta do Sporting, é o primeiro campeão do mundo de judo de nacionalidade portuguesa. Mais um campeão que o Sporting oferece ao desporto português e ao país. Há todo um Sporting eclético e gerador de contentamento para lá da Sporting SAD...

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