Mercado de Inverno
Pedro Azevedo
Por muito boa vontade que possa haver, custa-me muito compreender a acção do Sporting no Mercado de Inverno. Isto é, eu entendo que o estrangulamento financeiro, aliado à muito previsível perda do maior objectivo da temporada para um clube grande (campeonato nacional), impele o clube a vender alguns dos jogadores que mais pesam na conta de exploração. (Não conheço os salários de ambos os jogadores, mas alguns "sites" indicam que Nani ganhava 4 milhões de euros brutos por ano.)
Percebo também que se tenha esticado o mais possível o prazo para a venda até ao final da última janela de transferências aberta, procurando assim não prejudicar o desempenho da equipa. Acontece que o plantel do Sporting não tem muitos jogadores de qualidade acima da média e a saída destes dois jogadores tem o potencial de ainda vir a reduzir mais a capacidade competitiva da equipa e a identificação do grupo com o clube (Nani era o capitão, produto da nossa Formação e leão assumido). Adicionalmente, transmite o sinal de que "deitámos a toalha ao chão", mesmo que a segunda mão dos dezasseis-avos-de-final da Liga Europa (uma montra para o mundo onde podemos valorizar os nossos activos) ainda esteja por disputar, bem como a segunda mão da meia-final da Taça de Portugal. E menos ainda se compreende como gastámos, a fazer fé na imprensa dado que o clube não divulgou os dados oficiais, 12 milhões de euros em contratações (a que acrescem os salários) de 9 jogadores, onde se incluem o albanês Lico, os brasileiros Ronaldo (ex-Alverca), Matheus Nunes e Luíz Phellype, o marfinense Idrissa Doumbia, o colombiano Borja, o equatoriano Plata e os portugueses Ilori e Neto (este para a próxima época). Isto para além do regresso de Francisco Geraldes, que segundo li implicou uma compensação ao Eintracht Frankfurt pelos salários pagos desde o início do empréstimo (informação surgida na imprensa e que carece de confirmação oficial). Ora, o preocupante é termos gasto este dinheiro e na última quinta-feira nenhum destes jogadores ter sido utilizado como titular (apenas Luíz Phellype entrou na segunda parte). Mesmo olhando para os jogos anteriores, apenas Borja e Ilori têm sido aposta na equipa principal.
Perante isto, o que me faz confusão é que estejamos a gastar dinheiro que não temos em jogadores que não fazem a diferença para depois vendermos alguns dos nossos (já poucos) melhores futebolistas. Eu sei que algumas das supracitadas contratações são para a equipa de Sub-23 e já dei a minha opinião sobre as qualidades que vejo em Matheus Nunes (vamos ver que oportunidades terá), mas não compreendo esta política na sua globalidade. Não havendo categoria superlativa nos jogadores adquiridos, o destino final será a criação de stocks. Entretanto, a qualidade vai definhando e neste momento restam-nos apenas Bruno Fernandes (até quando?), Acuña (apesar dos "apagões"), Mathieu (veterano) - estes três acima de todos outros - , Bas Dost (baixa de forma), Raphinha, Wendel ou Battaglia (lesionado) como jogadores de um patamar superior e com valor de mercado interessante. Ainda se isso significasse que se iria apostar nos jovens...