Magic one?
Pedro Azevedo
José Mourinho foi apresentado no Tottenham Hotspur, clube londrino vulgarmente conhecido como os "Spurs". Antes de mais, o despedimento de Mauricio Pochettino é uma daquelas coisas incompreensíveis das quais o futebol é fértil. O argentino chegou a Londres em 2014 proveniente dos sulistas do Southampton e teve um impacto imediato. Nos 5 anos anteriores à sua chegada os Spurs tinham obtido dois quartos lugares com Harry Redknapp aos comandos, dois quintos lugares (André Villas-Boas e Redknapp) e um sexto (época dividida entre Villas-Boas e Tim Sherwood) na Premier League, com Pochettino a pior classificação aconteceu no primeiro ano (5º lugar em 2014/15). Seguiram-se dois terceiros lugares (15/16 e 17/18) e um segundo lugar (16/17), este último só superado pela gesta gloriosa de Cliff Jones, Danny Blanchflower, Dave MacKay ou Bobby Smith (treinador Bill Nicholson) em 1960/61, época que marca a última vitória dos Spurs no campeonato inglês. Na temporada passada terminaram apenas em 4º lugar na Premier League, mas conseguiram o feito histórico de atingir a final da Champions. Este ano as coisas não começaram bem e o Tottenham encontra-se actualmente no 14º posto. Ainda assim a apenas 3 pontos do 5º colocado, o surpreendente Sheffield United, facto que não serviu de atenuante para o presidente Daniel Levy accionar a chamada "chicotada psicológica".
Este arrazoado que aqui deixei no 1º parágrafo em nada põe em causa a capacidade de José Mourinho, destina-se apenas a mostrar o quão ingrato o futebol pode ser para os seus profissionais. Não há por isso créditos, o futebol é essencialmente o momento e só isso explica que tenha acontecido a Pochettino exactamente aquilo que há 1 ano atrás sucedeu com Mourinho, treinador que havia conquistado previamente um segundo lugar na Premiership, uma Liga Europa, uma Taça da Liga e uma Supertaça aos comandos do Manchester United.
Mou, o único treinador que simultaneamente bisou em conquistas de Champions e Liga Europa, tem pela frente um tipo de desafio que só viveu em Portugal: pela primeira vez desde que emigrou como treinador principal entra num clube com a época a decorrer, algo que só tinha vivido quando trocou o lugar de adjunto de Van Gaal no Barcelona pelo de treinador do Benfica ou, mais tarde, quando acabou a época no Porto proveniente da União de Leiria. Habituado a ter um impacto imediato nas equipas que dirige - Benfica, União de Leiria, Porto, Chelsea (por duas vezes), Inter, Real Madrid e Manchester United - o seu sucesso esta época encontra-se limitado no que diz respeito às aspirações de conquista da Premier League. A 20 pontos do líder Liverpool, 12 do Chelsea e do surpreendente (de novo!) Leicester e 11 do Manchester City, até a qualificação para a Champions parece neste momento muito remota por muito que outros dois habituais concorrentes (Arsenal e Manchester United) também estejam a ter inícios de campeonato desapontantes. Eliminado da Taça da Liga inglesa, resta-lhe tentar ganhar a Taça de Inglaterra (ainda não iniciou a participação) e dar asas ao sonho de vencer de novo a Champions, facto que seria único na história dos Spurs e marcaria claramente pela positiva esta sua primeira temporada no clube dos judeus londrinos.
Mais do que nunca, Mourinho vai precisar de fazer jus ao seu epíteto de "Special One" e dar uso à sua varinha outrora considerada mágica. Só espero é que esse passe de magia não obedeça à contratação do nosso único "Special One", o Bruno Fernandes. É que se a operação vier a decorrer em Janeiro, época de saldos e de refugo, não vejo como com o dinheiro proveniente da sua hipotética venda possamos minimamente no imediato colmatar a sua ausência e começar a esboçar com passos seguros o plantel para 2020/21, época - é bom não esquecer - onde o terceiro lugar final garantirá um lugar nas pré-eliminatórias (play-off?) da Champions (assim Portugal termine este ano à frente da Rússia no ranking da UEFA).