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Castigo Máximo

De forma colocada, de paradinha, ou até mesmo à Panenka ou Cruijff, marcaremos aqui a actualidade leonina. Analiticamente ou com recurso ao humor, dentro ou fora da caixa, seremos SPORTING sempre.

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Castigo Máximo

16
Jul19

E depois do adeus...


Pedro Azevedo

Olhando para a realidade como ela é, e não para a percepção que se impõe dela - raramente limpa, como oposto do imaginado na citação de "Doors of Perception" de William Blake, e desejavelmente não quimicamente alterada, ao contrário do que propõe Aldous Huxley no livro homónimo - , há toda uma geração de jogadores que o Sporting perdeu porque teve treinadores principais que nunca olharam devidamente para eles. Ou se olharam, não viram, como diria o Dr Pôncio. Demiral, Domingos Duarte, Palhinha, Francisco Geraldes, Ryan Gauld ou Mama Baldé são apenas alguns exemplos. Quem não concorda com esta teoria geralmente apresenta um argumento: se esses jovens não jogaram com diversos treinadores, então é porque não têm categoria suficiente para a primeira equipa. Na minha opinião, esse argumento é frágil porque toma esses treinadores como os detentores da verdade absoluta. Porém, uma análise rápida permite concluir que falharam no passado nas avaliações que produziram. O caso mais flagrante será o que se passou com Bernardo Silva no Benfica quando Jorge Jesus era o seu treinador. Para além de não ter tido oportunidades, rezam as crónicas da época que JJ queria fazer dele um lateral esquerdo, uma invenção digna de mostra à Academia Real das Ciências. Outro caso é o de Demiral. O turco pode não ter convencido Jesus, ou mesmo Peseiro que o despachou de volta ao país de origem, mas não teve dificuldades em receber a aceitação de Allegri, que recomendou a sua contratação, ou de Sarri, que a ratificou por 18 milhões de euros quando chegou a Turim, dois treinadores de alto gabarito do futebol mundial. 

 

Outro problema de erro de paralaxe é a avaliação da nossa Formação não contemplar muitas vezes o valor relativo das coisas. Sentencia-se negativamente o valor do jogador A ou B proveniente da Academia, mas esquecemo-nos de avaliá-los comparativamente com os jogadores que vamos contratando no mercado. Pegando só nos casos mais recentes, eu não tenho dúvidas de que Eduardo (24 anos) mostrou qualquer coisa de distintivo no Belenenses, mas isso não foi mais do que aquilo que Geraldes (tem a mesma idade) exibiu no Moreirense - para quem já se esqueceu, destruiu o Benfica numa semi-final da Taça da Liga - ou no Rio Ave (11 assistências em 17/18) quando era ainda mais novo. Outras comparações podem mesmo estabelecer-se no desempenho observado em Alvalade: Matheus Pereira na época 15/16, aos 19 anos de idade, fez 18 jogos pela equipa principal, nos quais marcou 5 golos e produziu duas assistências, números em média por jogo semelhantes aos obtidos a época passada por Diaby (27 anos), o qual custou 5,5 milhões de euros. Simplesmente, essa aposta não teve continuidade para lá de uns lançamentos fetiche em jogos contra o Porto. E isto para não falar em Misic, Alan Ruiz, Elias, Markovic, Campbell, todos certamente muito fluentes em mandarim, ou, mais recentemente, Ilori ou Borja, que todos juntos custaram muito dinheiro em transferências, comissões e ordenados e não mostra(ra)m ser superiores a produtos da nossa Formação que ficaram em fila-de-espera eventualmente por não terem o guião correcto. Nesse sentido, é bom não esquecer que muitos daqueles produtos da nossa Formação de cuja carga agora nos queremos aliviar foram chamados de volta a meio da temporada de 2016/17 para esconder aquilo que foi um despautério de péssimas aquisições que redundaram no facto de 1 ano depois só Bas Dost ser titular, erro que desejo ardentemente não se esteja a repetir pois os melhores jogadores da equipa continuam a ser aqueles comprados em 2017/18 (Bruno, Acuña, Mathieu, Wendel).

 

Por fim, há uma ideia que à superfície aparenta fazer sentido que consiste em que já não há muito valor a apurar em jogadores da nossa Formação com idades entre os 22/25 anos e que as apostas devem ser feitas, sim, em jovens entre os 17 e os 21 anos provenientes da Academia. No entanto, quando vemos entrar um ainda lesionado Rosier (5M€ + Mama Baldé), percebemos que Thierry Correia poucas hipóteses irá ter. O mesmo acontece com a aquisição de Rafael Camacho (5M€?), continuando Elves Baldé a rodar fora de Alvalade e persistindo a interrogação sobre o futuro de Jovane, numa altura em que o Sporting tem uma hiper-inflacção de alas, o que até seria uma boa dor de cabeça se todos os adquiridos fossem de nível "top". 

 

O presidente do Sporting, Dr Frederico Varandas, sentenciou que havia défice de qualidade na Academia entre os 17-23 anos. Ninguém lhe perguntou se tal percepção se devia à sua convicção pessoal, à de técnicos especializados, ou se derivava de outras motivações. Por isso, à primeira vista, o número de jogadores da nossa Formação que se encontra em estágio é incongruente com esse ponto-de-vista. Porém, se virmos à lupa, verificamos que dadas as aquisições para médio defensivo observadas desde Janeiro (Doumbia, Matheus Nunes, Eduardo) dificilmente Daniel Bragança terá uma oportunidade, ele que ainda nem se estreou no estágio. O mesmo se passará com as opções nas alas, analisando os investimentos em Camacho e Plata. Haveria, no entanto, aqui uma boa oportunidade para os defensores da rotação por "buckets" etários mais baixos: vendia-se Borja (26 anos), aquele jogador a quem a meio do caminho parece faltar corda e que agora dizem estar super-hiper valorizado pela ida à selecção colombiana, e dava-se uma oportunidade a Abdu Conté, ou Nuno Mendes, de aprender com Marcos Acuña. Igualmente, porque já tem 26 anos, fazia-se o "write-off" de Ilori e punha-se Eduardo Quaresma (17 anos) a crescer ao lado dos consagrados Mathieu, Coates e Neto, podendo jogar na Taça da Liga e em alguns jogos da Taça de Portugal.  

 

Uma última reflexão, que repete uma outra que publiquei no "És a nossa Fé" em 1/9/2018, com o título de "E depois do adeus": "nenhum clube tão assiduamente, e na praça pública, trata os seus atletas como activos como o Sporting. Não estamos a falar de acções nem de obrigações, nem sequer de sobreiros mas sim de um outro tipo de seres vivos, com pensamento e vontade própria. No dia em que pensarmos o clube não como um entreposto de compra/venda de jogadores, mas sim como um clube de futebol que quer manter os seus melhores jogadores, rendibilizando-os do ponto-de-vista desportivo, financeiro (via proveitos ganhos com conquistas desportivas) e económico (merchandising assente nos feitos dos jogadores) estaremos mais perto de uma cultura de clube vencedora e de um modelo de Organização onde impere o respeito entre todas as partes. No entretanto, continuaremos a dizer sim a défices de exploração constantes, proliferação de importação de jogadores para as mesmas posições e outros desvarios que nos levarão, em pouco tempo, a consumir os proveitos inerentes ao contrato com a NOS. Depois, acordar será tarde." 

 

Parece ainda estar actual, não é? Ora, de forma a podermos manter os nossos melhores jogadores, ou vendê-los apenas por preços irrecusáveis, não se podem desperdiçar recursos - escassos na economia - em compras na classe média/baixa do futebol mundial. Para isso, complementa-se o plantel com a Academia, onde investimos uns milhões de euros anuais em infra-estruturas, atletas e técnicos especializados que conhecemos bem. 

 

P.S. Se o Demiral tem ficado no Sporting, aceitando ir jogar para os sub-23 como foi noticiado que lhe foi proposto, não seria hoje também alvo da narrativa daqueles que não veem valor na nossa Formação? É bom lembrar que o turco foi preterido em função de Marcelo, um central que poucos meses depois foi dispensado. Um filme que se repete, em sessões contínuas, no "cinema" de Alvalade. Depois do fado (1ª arte) de 17 anos sem ganharmos o campeonato, a Tragédia Grega (2ª arte) desencadeada por aquela abominável peripécia de Alcochete, o quadro das nossas finanças (3ª arte), o Scouting que faz tábua-rasa da nossa Formação (escultura/4ª arte), o Estádio e suas "funcionalidades" (arquitectura/5ª arte) e as narrativas de criação de uma percepção sobre a Formação (literatura/6ª arte), eis a "Sétima Arte" leonina em todo o seu esplendor. Os sportinguistas têm mesmo de ser muito resistentes...

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