Conto de um Natal a verde-e-branco
Pedro Azevedo
Era uma vez um clube. Mais do que um clube, uma nação. Uma nação com vários clãs. Clãs que divergiam em quase tudo: dos grupos etários à influência na sociedade, sem esquecer a doutrina ideológica social e política que incluía conservadores, renovadores moderados e extremistas revolucionários. Há anos que os clãs se vinham degladiando numa luta fratricida pelo poder. Por via disso mesmo e da má gestão do bem comum, a glória acumulada por anos pretéritos de conquistas foi mirrando. Mas os clãs continuavam a batalhar, por vezes conseguindo obter o ceptro para logo repetirem os erros dos seus antecessores. Já pouco mais havia para partilhar do que o orgulho. Bom, havia o afrodisíaco poder, e esse era fruto apetecível para motivar quem estava empossado e quem cobiçava o trono. Preservá-lo, de um lado, ou conquistá-lo, do outro, tornou-se o objectivo principal das facções em compita. Ambas dividindo, beneficiando do radicalismo, para mais facilmente poderem concretizar os seus propósitos.
Estavamos neste impasse quando no Natal se produziu o sortilégio. Ele não surgiu de uma trégua entre os chefes dos clãs, tão assoberbados se encontravam com os seus próprios egos, nem por iniciativa do povo adepto. Não, como que para nos recordar a origem de tudo, o melhor exemplo veio dos artistas contratados pela nação Sportinguista, os jogadores de futebol. Logo eles que haviam sofrido recentemente um choque, que tantas vezes no presente e passado tinham servido de escudo perante a opinião pública para tapar a incompetência de dirigentes, haveriam em Portimão de nos dar uma lição e finalmente deslocar a nossa atenção daquilo que nos divide para aquilo que nos aproxima, nos une, é denominador comum. E assim, contra todas as probabilidades, em inferioridade numérica, em desvantagem no marcador, perante uma arbitragem que objectivamente (n)os prejudicou, conseguir dar a volta por cima e ousar vencer, metaforicamente relembrando a todos nós a razão de ainda cá estarmos, o antes quebrar que torcer, o nosso paradigma comum, a fonte da nossa "leoninidade": a resiliência. Nunca desistiremos!
Feliz Natal para todos os Leitores de Castigo Máximo!