Bruno Fernandes e a Formação
Pedro Azevedo
Da entrevista de Bruno Fernandes ao Record retiro duas notas que reforçam aquilo que neste espaço venho perorando:
- Bruno Fernandes diz que gosta muito de Matheus Nunes, não só pela qualidade técnica mas também pela intensidade do seu jogo, adiantando ainda que lhe parece ser o sub-23 que a nível físico está mais próximo dos patamares requeridos na equipa principal;
- Bruno Fernandes fala de um central esquerdino dos juniores de quem também gosta muito. Refere-se a Gonçalo Inácio, e dele diz algo lapidar: se vier a treinar com o plantel principal, pode vir a aprender muito com Mathieu, pois apesar das dimensões diferentes têm um estilo de jogo muito idêntico.
Mostrando estar atento à nossa Formação - não será por acaso que é frequente vê-lo em Alcochete a acompanhar os jogos das nossas camadas jovens - , Bruno Fernandes evidencia assim um pensamento estruturado sobre o que é necessário fazer transversalmente ao nosso futebol. Ele mostra-nos que as qualidades de passe, recepção e progressão com bola (cabeça sempre levantada) de Matheus Nunes, aliadas à sua envergadura física, não passam despercebidas aos mais velhos e já justificam uma oportunidade dado que os seus níveis de intensidade estão próximos dos do plantel principal (pergunto: valia a pena ter ido ao mercado reforçar a posição "8"?), ao mesmo tempo que esboça uma ideia que devia complementarmente estar presente aquando da contratação de um veterano como Mathieu: o poder, com a sua experiência, ajudar ao desenvolvimento de jogadores jovens, como se fosse um artesão da última estação de produção de uma fábrica. Algo que não foi aproveitado na moldagem de Demiral ou Domingos Duarte, mas que urge ser feito com Gonçalo Inácio (jogador que iniciou a época com óptimo rendimento nos sub-23 e depois, inexplicavelmente para quem está de fora, desceu aos juniores) ou Quaresma. O Benfica utilizou Luisão dessa forma nos últimos anos da sua carreira, e daí surgiram jovens como Lindelof ou Ruben Dias que muito beneficiaram com a experiência do central brasileiro.