As causas da coisa (2)
Pedro Azevedo
Causa nº2: Equidade de critério disciplinar por parte dos árbitros
Procurando deixar de lado a óbvia parcialidade de quem é Sportinguista e adepto e sócio do Sporting, não deixou de ser notório em Paços de Ferreira que o critério disciplinar usado por Fábio Veríssimo não foi uniforme para as duas equipas. Não se tratou só do facto de a equipa que mais faltas cometeu (18 contra 12) ter sido a que menos vezes foi admoestada com o cartão amarelo (2 contra 6) mas também de faltas cometidas por trás pela equipa pacense - por vezes com infração dupla que consistiu em puxão pelas costas acompanhado de pisão no tendão de aquiles (gravidade extrema) - terem passado impunes do ponto de vista disciplinar. Ao mesmo tempo, irregularidades leves cometidas por jogadores leoninos foram severamente punidas com a cartolina amarela. Desta forma, o jogo terminou com um rácio de cartão amarelo por falta de 11,1% para os pacenses contra 50%(!) para os leões. Um absurdo! Poderá alguém alegar que o árbitro não viu o tal lance faltoso do jogador pacense e que o total de amarelos mostrados no jogo (8) se deveu a ser especialmente rigoroso em matéria disciplinar. Porém, analisando os outros dois jogos que apitou esta época - um jogo da Liga das Nações entre País de Gales e Bulgária e uma partida de qualificação para a Liga Europa entre Riga e Celtic - verificamos que em cada um apenas levou a mão ao bolso por três vezes.
Se o critério do árbitro num mesmo jogo não é uniforme, imagine-se a equidade que se pode esperar quando se compara do ponto de vista disciplinar o critério dos "n" árbitros habilitados a apitar jogos da Primeira Liga. Nesse sentido, o Tiago Cabral, no És a nossa FÉ, ontem apresentou números comparativos que evidenciam que o Sporting já tem mais cartões amarelos num só jogo do que o somatório de Benfica e Porto em dois jogos. Enquanto para os leões, 12 faltas cometidas implicaram 6 amarelos (rácio de 50%), Porto e Benfica juntos apenas viram o rectângulo icterícia por 5 vezes após 57 (!) faltas (8,8%). Dirão alguns que portistas e benfiquistas sabem onde fazer faltas e que são especialmente meticulosos na forma de transgredir a regra sem necessidade de infração disciplinar, porém não só quem veja os jogos não tem essa noção como não deve ser desprezado o ilícito disciplinar que decorre da recorrência da falta por parte do(s) mesmo(s) jogador(es). Acrescento ainda aqui o exemplo do Braga, equipa que tem os mesmos amarelos que nós. Acontece que para isso os braguistas cometeram 31 faltas, o que lhes confere um rácio de 19,4%.
Estes números do Sporting não deixam de causar estranheza quando analisados de forma comparativa com outros clubes. Analogia que não fica por aqui e que se pode estender ao desempenho disciplinar dos leões nas provas europeias. Se bem que a amostra é de apenas 1 jogo, na partida contra o Aberdeen os leões viram 2 amarelos e cometeram mais uma falta do que no jogo em Paços. Enfim, usando uma expressão bem cara a O' Neill, a uniformidade de critério disciplinar dos árbitros portugueses é "uma coisa em forma de assim". Assim vai o futebol português...
P.S. Algumas notas: Guga, do Famalicão, é o jogador mais faltoso (7) ao fim de 2 jornadas. Não tem nenhum cartão amarelo. Enfim, poder-se-á dizer que é um médio de ataque e como tal as infrações que comete são fora de uma zona de perigo para a sua equipa. De qualquer forma, há aqui a questão da acumulação. O mesmo é válido para Corona, que tem já 6 faltas e ainda não viu o amarelo. Já em relação ao rioavista Borevkovic, igualmente com a folha disciplinar em branco, a coisa não será tão líquida, na medida em que é um central e já cometeu 5 faltas em apenas 132 minutos de utilização.