A peça que pode encaixar melhor no puzzle
Pedro Azevedo
Quando olho para Vietto vejo um jogador intermitente, de rotação média, com técnica apurada e boa visão de jogo mas sem pulmão para receber a bola muito atrás no campo. O argentino é muito mais um 9.5 que um 9, aquele tipo de jogador que ronda a área e precisa de uma referência de ponta de lança para sublimar o seu talento. O problema é que o Sporting não joga em 4-4-2 porque tem Bruno Fernandes e ele não pode ser o 2º avançado que certamente se ajustaria mais às suas características. Também, com ou sem Bruno Fernandes, nunca será verdadeiramente um 10, na medida em que lhe falta a intensidade de um médio, explosividade para chegar à área e potência de remate após deslocações longas. Assim, Silas vê-se obrigado a colocá-lo numa ala, de onde parte para descrever umas parábolas à volta da área. Nesse movimento serve muitas vezes de apoio frontal aos médios, o que retira protagonismo no jogo a Luiz Phellype, um jogador que não tem as características de finalizador de um Bas Dost mas cuja técnica razoável poderia ser útil à equipa no jogo interior. É curioso, pois quando espera por Luiz Phellype para fazer esse papel, e arranca então em diagonal, Vietto torna-se mais perigoso como o comprovam duas das três oportunidades que teve nos seus pés no pretérito Domingo. Simplesmente, a sua má definição à frente da baliza leva-o a perder muitos golos.
Não podendo jogar no 4-4-2 que seria da sua predilecção, talvez Silas o pudesse encaixar num 3-5-2, em que Coates, Mathieu e Neto seriam os centrais, Camacho e Acuña fariam os corredores (o que compensaria a falta de qualidade-extra dos laterais de raiz do plantel), Battaglia, Wendel (Matheus Nunes) e Bruno o meio-campo e ele posicionar-se-ia por detrás do ponta de lança, assim a jeito de um Saviola. Dou o exemplo do "Conejo", ex-jogador do Benfica, porque não é fácil encontrar um antigo jogador do Sporting com características semelhantes a Vietto. Talvez João Pinto, apenas pelo ponto de partida, já que o "menino de ouro" era mais enérgico, driblador e não circunscrevia a sua acção a um T0 como o argentino.
Deste modo, não está em causa a qualidade específica numa certa função de Vietto. O difícil é encaixá-lo num sistema de jogo no actual Sporting. A ala pode ser uma opção no campeonato português, mas duvido que pegue na Europa tendo em vista as tarefas defensivas que é imprescindível um ala cumprir a esse nível de competitividade. Mesmo sabendo-se que Acuña às vezes vale por dois (se o lateral for Borja a opção então é inimaginável), principalmente se o adversário privilegiar, como o Porto o fez, o ataque pelo flanco oposto (algo que duvido que o Benfica de Pizzi venha a fazer). A solução poderia ser o 3-5-2, a única forma possível de compatibilizar as melhores características dos mais importantes jogadores do Sporting (Mathieu, com a sua velocidade e leitura dos lances, no controlo da profundidade; Acuña, com a sua garra, no sobe-e-desce constante; Battaglia, se estiver apto, com 3 centrais nas costas, a potenciar a sua ambivalência entre "6" e "8"; Bruno, com a sua intensidade e explosividade, a criar jogo; Vietto, com o seu futebol de filigrana, a costurar em pequenos espaços frontais à área). Na minha opinião, claro, pois os sistemas devem adaptar-se no sentido de que os melhores possam ir a jogo e isso beneficie mais a equipa do que a prejudique.