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Castigo Máximo

De forma colocada, de paradinha, ou até mesmo à Panenka ou Cruijff, marcaremos aqui a actualidade leonina. Analiticamente ou com recurso ao humor, dentro ou fora da caixa, seremos SPORTING sempre.

De forma colocada, de paradinha, ou até mesmo à Panenka ou Cruijff, marcaremos aqui a actualidade leonina. Analiticamente ou com recurso ao humor, dentro ou fora da caixa, seremos SPORTING sempre.

Castigo Máximo

31
Jul20

Sobre a demissão dos Órgãos Sociais


Pedro Azevedo

Não sou de todo dado a exercícios de trapezismo e entendo que o equilíbrio na análise advém acima de tudo do conhecimento e rigor no tratamento da informação disponível e não de tacticismos. Tem sido através deste princípio - e não por dar "uma no cravo e outra na ferradura" - que aqui tenho formulado as críticas que entendo como justas a estes Órgãos Sociais e, especificamente, à Direcção do clube e Administração da SAD, separando sempre os actos escrutináveis de gestão do profissional do respeito que qualquer pessoa me merece, não promovendo nem alimentando ataques "ad-hominem". A maior parte daquilo que escrevo é quantitativo e como tal objectivo. Já a parte restante, sendo qualitativa, poderá ser considerada como subjectiva, porém os resultados práticos observados infelizmente só têm vindo a confirmar a justiça das críticas sempre fundamentadas  antecipadamente feitas. Nesse sentido, por priorizar o não querer ser cúmplice de um caminho de desesperança que obviamente não me parece nada bom em detrimento da solidariedade que de outra forma me moveria em relação aos correntes Órgãos Sociais e ao cumprimento dos mandatos, após inúmeras tentativas falhadas devido ao autismo de quem dirige de antecipadamente evitar um curso de acontecimentos altamente nefasto para o clube e para os Sportinguistas e face à impossibilidade de discutir internamente entre Sportinguistas e na obediência dos Estatutos estes pontos de vista (adiamentos sucessivos do Congresso, da primeira vez bem antes da Covid com a "justificação" de que o momento não era oportuno para debate), tenho vindo publicamente a assumir que o prazo destes altos representantes do Sporting Clube de Portugal se esgotou, razão pela qual deveriam apresentar a demissão. Fazendo-o publicamente, não me refugiando em manobras de bastidores, em prévias benções papais ou cálculos oportunisticos. Sempre com independência e equidistante de facções, porque na minha concepção só existem Sportinguistas e não grupos, grupelhos e grupóides que são formas não úteis de expressão de um todo de "leoninidade". Ainda assim poderá haver quem não goste. Eu, que gosto de assumir o que penso e nunca me escondo nem ando a tergiversar, estou de consciência tranquila. No Sporting não podem haver inimigos e quem gosta do clube tem a obrigação de o debater e defender. Da forma como eu entendo, somos todos do Sporting e todos queremos o melhor para o clube. Simplesmente, haverá naturalmente visões diferentes, mas no fim do dia o que dará gratificação a todos será ver o Sporting num ciclo virtuoso, algo que importa cumprir e não pode ser mais adiado. Viva o Sporting Clube de Portugal, os Sportinguistas e o Sportinguismo. 

Pedro Azevedo

(Sócio 5602-0)

29
Jul20

Às voltas com a política desportiva


Pedro Azevedo

Um dos grandes problemas da gestão de Frederico Varandas tem sido a política desportiva perseguida, não só no sentido do não-aproveitamento de anteriores boas gerações de jogadores da Academia como também nas incursões no mercado que têm sido pouco menos que apocalípticas. 

 

Assim, nos últimos anos o Sporting desperdiçou em termos de rendimento desportivo jogadores como Demiral (saiu com Cintra e foi contratado posteriormente pela Juventus), Domingos Duarte (integrante do "Onze Revelação" da La Liga), Mama Baldé (melhor marcador do Dijon na Ligue 1), Daniel Bragança (melhor jogador do Estoril), Palhinha (imprescindível para Ruben Amorim no Braga), Matheus Pereira (Rei das Assistências no Championship), Ryan Gauld (melhor marcador do recém-promovido Farense) ou Gelson Dala (1 golo a cada 79 minutos de utilização no Rio Ave), mostrando assim à evidência o erro de análise (ou soberba) de Frederico Varandas quando decretou o "gap" da Formação. 

 

Adicionalmente, o Sporting contratou, sem qualquer rendimento desportivo significativo, jogadores como Valentin Rosier (5.3 milhões de euros mais o passe de Mama Baldé), Tiago Ilori (2,4 milhões mais comissões de manutenção por 60% do passe), Borja (3,5 milhões), Idrissa Doumbia (4,4 milhões), Rafael Camacho (5,6 milhões) ou Eduardo (3 milhões). Outros há que ficam a perder na relação como custo/benefício, como é o caso de Vietto (7,875 milhões por 50% do passe). Jesé (empréstimo de 2 milhões de euros), Fernando (conheceu melhor a enfermaria que os relvados) ou Bolasie foram empréstimos sem racional económico ou desportivo. Neto (850 mil euros) é apenas um bom suplente, o mesmo se passando com Luís Phellype (700 mil euros), jogador algo irregular e com propensão para ganhar peso. Restam Sporar, Plata e Matheus Nunes, sendo certo que para mim o brasileiro é o mais promissor e aquele que teve melhor rendimento global nos jogos com os grandes (pese embora o erro fatal que deu o segundo golo ao Benfica). E já nem estou a considerar para este efeito o custo anual em salários nada desprezível destes 15 jogadores.

 

O que verdadeiramente me preocupa no rol de contratações é não notar-se o dedo de um treinador ou Director Técnico, mas sim da Estrutura. Vou dar um exemplo: o esloveno Sporar é um jogador forte nas transições. Não sendo rápido, é inteligente, sabe explorar os espaços entre os defesas adversários e possui um remate forte e colocado (habitualmente raso, de difícil defesa para os guarda-redes). Simplesmente, o Sporting joga habitualmente contra equipas dispostas em bloco baixo e tem posses de bola compreendidas entre 70 e 80% com clubes do meio da tabela para baixo. Ora, embora Sporar dê apoios frontais, nessa situação precisamos essencialmente de um ponta de lança de área, com faro de golo, forte no jogo de cabeça e com sentido de antecipação, características que já se viu o esloveno não possuir. Causa assim alguma incredulidade este avançado ter sido a primeira opção (em jogos europeus e contra equipas mais fortes talvez se justificasse mais a sua utilização) no mercado, independentemente das qualidades que lhe apontei em cima, algo que não deveria ter passado despercebido ao olho clínico de um treinador. E é nesta falta de sentido de construção do plantel que vamos surfando na maionese, antevendo-se mais do mesmo na janela de Verão. Nesse sentido, muito mais do que a experiência anunciada por Frederico Varandas do que precisamos é de qualidade. Não se entende assim porque Acuña está de saída, ele que é a réstia de qualidade superlativa do actual plantel e um guerreiro. Só assim se entenderá a chegada de Antunes, embora não se compreenda muito bem a razão pela qual iremos adquirir um jogador presumivelmente de ordenado alto (o tal custo zero tão enganador) e que não joga há tanto tempo quando, em época de vacas magras, temos um lateral sob contrato e com muita propensão ofensiva (vantagem no sistema de Ruben Amorim) que acabou de fazer 23 jogos na exigente La Liga (Lumor). Tal parece-me um desperdício de recursos, mais a mais quando tudo indica que Nuno Mendes será titular indiscutível. Adicionalmente, não se entende porque se vai contratar Adán, guarda-redes que não virá nada barato e que não joga há muito tempo. Temos Max como primeira opção para valorizar e dar rendimento desportivo, se queremos um segundo guardião (porque não Renan que nos deu duas taças?) então talvez Beto fosse uma muito melhor opção. Enfim, poder-se-ia também abordar o estranho caso de Feddal, jogador sem carreira significativa e a anos-luz de Mathieu que vem protagonizando uma estranhíssima novela, mas o essencial está dito e denota uma falta de visão geral sobre o que é necessário, ou, pelo menos, uma visão profundamente deturpada e superficial do que urge ser feito. 

 

Cada vez mais parece fazer sentido a ideia de que Varandas não pretende ter no plantel jogadores contratados por terceiros, num pretenso desejo de afirmação que demonstra mais ego e soberba que inteligência. Tal está errado sob diferentes prismas e o Sporting é que mais uma vez "pagará as favas". Apostando tudo na sorte, uma vez mais.

 

Sorte? Sorte é quando a oportunidade encontra o nível de preparação adequado. Alguém acredita?varandasaeroporto1.jpg

27
Jul20

Comparativo de treinadores na era Varandas


Pedro Azevedo

Treinador Pontos/jogo
Marcel Keizer 2,14
José Peseiro 2,00
Ruben Amorim 1,91
Jorge Silas 1,86
   
   
   
Treinador % vitórias
Marcel Keizer 66,70
José Peseiro 64,30
Jorge Silas 60,70
Ruben Amorim 54,50
   
   
   
Treinador % derrotas
Ruben Amorim 18,20
Marcel Keizer 19,00
José Peseiro 28,60
Jorge Silas 35,70
   
   
   
Treinador Golos M
Marcel Keizer 2,50
José Peseiro 1,71
Jorge Silas 1,61
Ruben Amorim 1,27
   
   
   
Treinador Golos S
Ruben Amorim 0,73
José Peseiro 1,00
Jorge Silas 1,14
Marcel Keizer 1,31

 

Nota: Ruben Amorim apostou forte na Formação e não teve à disposição decisores como Nani (Peseiro e Keizer, este último só contou com o jogador até Janeiro de 2019), Raphinha (Peseiro e Keizer, este último só contou com o jogador até fim de Agosto de 2019), Bas Dost (Peseiro e Keizer, este último só contou com o jogador até fim de Agosto de 2019) ou Bruno Fernandes (Peseiro, Keizer e Silas, este último só contou com o jogador até fim de Janeiro de 2020), o que deverá também ter contribuído (em paralelo com um sistema táctico que privilegia a segurança defensiva) para a menor percentagem de golos marcados e mais elevada média de empates. Nos dados de José Peseiro foi considerada toda a época de 18/19, inclusivé os 4 jogos em que o Sporting foi liderado pela Comissão de Gestão. Por curiosidade, no total das suas 3 épocas no Sporting Jorge Jesus tem os seguintes números: Pontos por jogo=2,07 (pior que Keizer); % de Vitórias=63,92 (pior que Keizer e Peseiro); % de Derrotas=20,89 (pior que Ruben Amorim e Keizer); Golos Marcados= 2,00 (pior que Keizer); Golos Sofridos= 0,99 (pior que Ruben Amorim e sensivelmente igual a Peseiro). Ou seja, JJ não lideraria nenhum destes itens comparativos com os treinadores da era Varandas. Porém, se eliminarmos os 12 jogos para a Champions (os treinadores da era Varandas não a disputaram), o cenário já é diferente, com JJ a liderar em média de pontos (2,17, ligeiramente melhor que Keizer), % de vitórias (67,12, ligeiramente melhor que Keizer) e menor % de derrotas (17,12, ligeiramente melhor que Ruben Amorim e Keizer). Melhora também em golos marcados (2,08) e menos sofridos (0,96), todavia insuficiente para liderar esses itens. Não esquecer que JJ pôde contar com os jogadores que rescindiram pôs-Alcochete. Finalmente, considerando o maior número de derrotas da nossa história num ano desportivo e resultados globalmente desapontantes, fica a sensação que as sucessivas alterações no comando da equipa não produziram nada de significativamente diferente, com o Sporting em 2019/20 a realizar 48 jogos e a obter uma média de pontos de 1,69, valor inferior à média individual de qualquer um dos 4 treinadores utilizados desde o início de 18/19 (Peseiro: 18/19, Keizer: 18/19 e 19/20, .Silas: 19/20 e Amorim: 19/20). 

26
Jul20

Carta aberta ao PMAG


Pedro Azevedo

Ex.mo Senhor Dr Rogério Alves, digníssimo Presidente da Mesa da Assembleia Geral do Sporting Clube de Portugal.

 

Começo por lhe dizer que estou totalmente do seu lado e o defendo quando alguns o assacam de aleivosias tamanhas que envolveriam um plano secreto urdido para retirar o Sporting aos Sportinguistas. Igualmente, não realço que o facto de ser sócio do irmão do actual Presidente do Conselho Directivo e ter representado legalmente um accionista de referência da SAD possa minimamente beliscar a sua capacidade de actuar com imparcialidade em prol do clube e de seus sócios. Não, do que V.Ex.ª, insígne representante da elite de toda uma nação, douto homem da oratória, do verbo e da verve, sumo arquitecto de frases feitas e, acima de tudo, castiço, inexoravelmente tem sido vítima é da indelével derrota da tudologia face à especialidade, que vem tolhendo a sua habilitação para compreender o desconchavo que vem comprometendo o presente económico, financeiro e desportivo do Sporting Clube de Portugal, ainda que tais factos sejam incontornáveis para muitos e até lhe tenham sido reforçados por carta privada remetida pelo signatário ao seu cuidado. Adicionalmente, estar-lhe-á a desajudar no exercício das suas funções V.Ex.ª não prescindir do avental ou outro resguardo na hora de viajar em "carruagem" aberta pelos anseios dos Sportinguistas, não sentindo assim verdadeiramente na pele a realidade social do clube e aquilo que urge ser feito no sentido da devolução da grandeza do Sporting Clube de Portugal.

 

A V.Ex.ª melhor competirá avaliar em que medida, neste vale de humilhação e lágrimas, tem feito por merecer a coroa que alguns insistem em lhe atribuir da manutenção do status-quo vigente, perspectivando-se até que num futuro mais próximo do que qualquer um de nós certamente gostaria possa acumular esse "louro" com o estatuto de coveiro e testamenteiro do enorme Sporting Clube de Portugal.  

 

Quanto a mim, só me resta lamentar que estas proporções tenham sido exacerbadas por si e pelo zelo acrítico dos seus próximos, pelo que daqui lhe faço um último apelo: demita-se. Obviamente demita-se, e faça acompanhar nessa demissão os seus colegas membros da Mesa da Assembleia Geral do clube e restantes Orgãos Sociais, única forma possível de dar voz aos Sportinguistas e de lhes permitir, espera-se que com escrutínio rigoroso de medidas concretas e de objectivos e sua proposta de execução e não de aclamação da vacuidade escondida na retórica, mudar de vida. Tal traduzir-se-ia num último serviço relevante prestado por V.Ex.ª ao Sporting Clube de Portugal.

 

Saudações Leoninas

 

Atenciosamente

 

Pedro Azevedo (sócio 5 602-0)

22
Jul20

Tudo ao molho e fé em Deus

O Jovane não decidiu (mal)


Pedro Azevedo

Entediado com o tipo de jogo sensaborão que o Lito Vidigal sempre proporciona, entretive-me a ler um estudo da Katherine Berg, professora do Departamento de Terapia Física da Universidade de Toronto. A Katherine é especialista em geriatria e elaborou uma escala. A escala de equilíbrio de Berg é um teste clínico que visa determinar o equilíbrio estático e dinâmico de um indivíduo. Compreende 14 tarefas de equilíbrio simples, cada uma pontuada de 0 a 4. Apresento-vos as conclusões: se o resultado final for entre 41 e 56, considera-se que o indivíduo é independente no que respeita à mobilidade; caso oscile entre 21 e 40, então o indivíduo necessitará de assistência para andar; na eventualidade de ser igual ou menor que 20, determina-se que o indivíduo é um Semedo ou um Makaridze.

 

Eis como lendo um livro se pode aprender sobre o que se passa num relvado de futebol. Pensei logo no Chico Geraldes e que isso também funcionaria bem com ele. Bem, talvez com menos Ensaio sobre a Cegueira e mais Ensaio sobre a Lucidez a coisa vá lá. Ou mesmo - porque não? - , ensaiar o remate. (Chuta rapaz, se não de nada adianta puxar aqui por ti.)

 

O Sporting tinha hoje um primeiro match-point para garantir o 3º lugar que dá acesso directo à fase de grupos da Liga Europa. Mas o que Artur Jorge (pai) e companhia deram, Artur Jorge (filho) e companhia tiraram, e lá iremos para a última jornada a precisar de pontuar na Luz não vá o diabo tecê-las na Pedreira e o Porto sair de lá derrotado. O Vitória, que é sadino mas não e sádico, é que não desperdiçou a oportunidade de melhorar a sua situação (saiu da "linha de água") e agora basta-lhe vencer o Codecity, a SAD que usa o nome d' Os Belenenses, para permanecer na Primeira Liga. Quanto ao Portimonense, que também é uma SAD, até uma vitória sobre a SAD que ameaça não comparecer em Portimão poderá não lhe valer. Atenção porém que estes últimos são Aves e de rapina, como tal até a Taça de Portugal ganha contra nós voou. Como diria um amigo meu inglês, a história das SAD em Portugal é "sad". A da Liga também. Muito.

 

O jogo não foi bom nem mau (antes pelo contrário), o Pentágono do Ruben Amorim não é bom nem mau (antes pelo contrário) e os jogadores que enquadram os jovens não são bons nem maus (antes pelo contrário). Já este autor que Vos escreve também não deve ser bom para alguns situacionistas ou cartilheiros (hoje há horas extraordinárias aí no escritório?) quando escreve o que vê antes dos resultados se desvanecerem, nem mau quando se cala hoje perante evidências que já não pode contrariar (antes pelo contrário). São muitos anos a virar frangos (lembram-se do Katzirz?). Assim, sem mais assunto, após esta longa elegia ao Gabriel Alves, saúdo um novo equipamento que não é bom nem mau (antes pelo contrário) e os 200 jogos do Coates, que é um bom profissional. Ah, quase me esquecia: o Nuno Almeida não é bom nem mau (antes pelo contrário). O Xistra idém, mas pelo menos já está reformado. Pelo contrário, quem hoje deixou saudades foi o Jovane. Muitos tiveram pena que não jogasse, especialmente aqueles que embirram com ele e não perdem uma oportunidade de dizer que decide mal. Pois bem, hoje não decidiu de todo.

 

O mal disto tudo (da formação dos plantéis) é a contabilidade das SAD. Então não é que uma venda entra toda direitinha e uma compra só releva pela amortização do número de anos do contrato? Assim, não há austeridade ou bom senso (e bom Scouting) que impere, ou défice estrutural que assuste uma Demonstração de Resultados, basta vender caro. Depois, compra-se igualmente caro e divide-se por muitos anos de contrato. Eis a essência desse dinheiro cripto ou encriptado para a maioria dos adeptos. Fácil, não é? Quarenta e cinco milhões para aqui, cento e vinte milhões para ali, consoante o escalão de hard-core. Difícil mesmo é haver um Bruno Fernandes com um rendimento desportivo superlativo em qualquer palco, que vale cada cêntimo que se pague por ele. Mesmo que isso apenas represente uma perna do Felix. Assim vai o futebol (português e não só). 

 

Tenor "Tudo ao molho...": Marcos Acuña

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21
Jul20

O caminho não se faz caminhando para trás


Pedro Azevedo

Confesso que o ingresso de Jesus no Benfica me preocupa. Independentemente de nunca ter achado JJ o treinador adequado para um projecto que procure rendibilizar a Formação, a verdade é que lhe reconheço a capacidade de pôr uma equipa a jogar futebol e de desenvolver os jogadores com quem efectivamente se preocupa entre as dezenas que manda comprar e desperdiça. Por isso, não tenho dúvidas que com um forte investimento por trás o Benfica será um fortíssimo candidato ao título em 2020/21. Porém, essa não é a minha grande preocupação, o que me desassossega é a possibilidade de isso poder alterar o caminho que o Sporting começou a percorrer após a pandemia. E desassossega-me porque sinto que esse caminho não foi uma opção natural mas tão só o único possível na conjuntura em que estávamos mergulhados, fora da luta em todas as competições, com um défice de exploração antes da venda de jogadores de cerca de 70 milhões de euros e com o valor do plantel a deteriorar-se. É certo que Ruben Amorim, na conferência de imprensa de ontem, deu-me sinais animadores ao transmitir que pouco importa ao Sporting o que acontece no vizinho e que temos é de continuar no nosso caminho, mas será que a administração da SAD irá resistir a ir ao mercado da forma que foi no ano anterior? Nós não queremos mais desculpas do género "o Rosier compreensivelmente teve dificuldades, não sabe falar inglês", como se a linguagem do futebol não fosse universal ou isso alguma vez tivesse impedido Yazalde, Balakov, Seminário ou Keita de soltarem o perfume do seu futebol. Não, o que desejamos antes de mais é a sustentabilidade do clube/SAD. E que isso crie posteriormente condições para que sejamos um verdadeiro candidato ao título nacional. É por isso fundamental que a aposta nos miúdos da nossa Formação não fique por aqui e não sirva apenas para disfarçar uma época mal conseguida, à semelhança do ocorrido em 16/17 quando Geraldes, Podence e Palhinha regressaram a meio da época dos empréstimos. Não só a aposta deve continuar como terá de ser acompanhada por importação de três jogadores de qualidade indiscutível (do tipo de um Bruno, Mathieu ou Acuña, e não remendos comprados na Loja dos 300). Apenas três, mas que façam uma efectiva diferença que ajude os nossos formandos a crescerem mais depressa. Seguidos de outros três na época seguinte, na medida em que não há dinheiro para fazer tudo de uma vez. Nesse sentido, o pior que se poderia fazer a esta geração de promissores jovens futebolistas, às nossa finanças e a um modelo económico sustentável seria entrar em pânico e ir aos saldos comprar por comprar, cobrindo todas as posições sem critério e acabando por investir (compras) e gastar (ordenados) mais dinheiro do que no cenário alternativo que apresento. Num momento em que o mais urgente será arranjar colocação para uma boa dúzia de excedentários do plantel que custam uma fortuna todos os anos e assim libertar a folha de pagamentos, uma nova roda-viva no mercado seria absolutamente letal. Não só porque coartaria as legítimas aspirações dos nossos formandos, mas também na medida em que prejudicaria definitivamente qualquer percepção de projecto desta Direcção existente na mente dos Sportinguistas, neles incluindo mesmo os mais optimistas ou situacionistas. 

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20
Jul20

Do mal o menos


Pedro Azevedo

Bem sei, esta temporada ficará aquém dos pergaminhos do clube. Porém, com a derrota do Braga hoje em Tondela, bastará ao Sporting uma vitória na recepção ao Vitória Futebol Clube (de Setúbal) para automaticamente assegurar o 3º lugar no campeonato. Dir-me-ão que terceiro ou quarto é igual. Não é, na medida em que o último lugar no pódio garante a passagem imediata à fase de grupos da Liga Europa e mais algum dinheiro (embora nada que se compare à Champions), evitando assim o Sporting disputar duas fases a eliminar e podendo começar a época mais tarde. Uma boa notícia, portanto. (Mas é preciso ganhar amanhã.)

20
Jul20

Ped Talks

Sustentabilidade do Futebol Português


Pedro Azevedo

O Sporting tem de estar estratégicamente na primeira linha em todas as transformações que o futebol português precisa, no sentido do reforço da sua competitividade e viabilidade económica, e necessita de ser mais persuasivo na mobilização dos restantes clubes para esta causa. Há que perceber o que é fundamental e o que é acessório e saber estabelecer os compromissos necessários para que as nossas ideias vinguem.

 

A nossa Primeira Liga tem um défice de competitividade gritante e a falta de intensidade do jogo tem-se vindo a reflectir naquilo que têm sido as últimas participações europeias dos nossos clubes mais representativos. Há dados objectivos que o confirmam: já aqui abordei a questão do tempo útil de jogo, aspecto onde segundo um estudo do Observatório do Futebol, alargado a 37 ligas europeias, a Primeira Liga ocupa o último lugar com 50,9% (60,2% da Premier League, 58,5% da Bundesliga, 55,8% da La Liga). 

 

Por conseguinte, se queremos ter um futebol mais competitivo temos de diminuir as equipas da Primeira Liga e proceder a uma distribuição de receitas mais equitativa entre os seus participantes (DireitosTV e Fundo de Competitividade). Recentemente trouxe aqui algumas ideias que poderiam servir o propósito de melhoria do produto a fim de que este fosse mais vendável nacional e internacionalmente. Creio que a reformulação dos quadros competitivos é fundamental a esse objectivo e deveria ser iniciada de imediato para que daqui a 3-5 anos os nossos campeonatos pudessem reflectir essa visão. Na minha opinião, Portugal deveria ter 3 campeonatos profissionais - Primeira Liga, Segunda Liga e Terceira Liga - , cada um com 12 equipas e jogado em forma de "poule" a duas voltas, com "play-off" (6 primeiros da primeira fase) e "play-out" (6 últimos da primeira fase) também a duas voltas (os pontos acumulam). Desceria o último de cada campeonato e subiria o primeiro da 2ª e 3ª Liga, disputando-se uma liguilha entre o penúltimo de um campeonato e o 2º classificado do campeonato imediatamente inferior. As transmissões televisivas destes 3 campeonatos seriam asseguradas por venda em bloco (centralizada). Por motivos financeiros, a 4ª divisão (semi-profissional) seria disputada por zonas geográficas (4), agrupando-se os clubes em regiões próximas a fim de se evitarem grandes custos de deslocação. Cada zona conteria 14 equipas. Os vencedores de cada zona enfrentar-se-iam numa "poule" final disputada a 2 voltas, o que lhes proporcionaria, no total, exactamente o mesmo número de jogos (32) dos clubes das divisões superiores.

 

A Taça da Liga seria disputada pelas equipas das 3 divisões profissionais (universo de 36). Todas as equipas da Primeira e Segunda Liga (24) estariam automaticamente apurada para os dezasseis-avos-de-final desta competição, assim como os 4 primeiros da Terceira Liga, perfazendo um total de 28 equipas. As restantes 8 disputariam uma pré-eliminatória, apurando-se assim mais 4 equipas para a fase seguinte. Dos dezasseis-avos-de-final até aos quartos-de-final os jogos que o sorteio indicasse seriam sempre disputados em casa do clube pior classificado. A Final Four seria disputada em campo neutro, nos moldes actuais. 

 

Enfim, para que um objectivo não se revele uma quimera é necessário dar passos concretos para que ele se torne possível. É por isso tempo de falar menos e pensar e implementar mais. E também de se fazerem algumas cedências, porque o que à primeira vista possa parecer um passo atrás rapidamente será percepcionado como dois passos à frente. Outro pressuposto fundamental para a imposição de um produto no mercado é a sua credibilidade. E isso só se obtém com transparência de processos e regulamentos claros e inequívocos que protejam a integridade da competição.

 

No outro dia ouvi Frederico Varandas pugnar por um campeonato de 16 equipas. A coisa, dita assim como um fim desejado e não como um meio, parece-me um caminho para nada. A sério, não é má-vontade contra o senhor, mas uma Liga com menos duas equipas significaria menos jogos, provavelmente menores receitas globais, e não melhoraria a competitividade dos jogos. Aquilo que veria com bons olhos seria um campeonato a 12, jogado em duas voltas, com "play-off" (primeiros 6 da fase regular) e "play-out" (últimos 6 da fase regular), em poule, com os pontos a acumular, num total de 32 jogos, como disse anteriormente. Isso, sim, traria mais patrocínios, maiores receitas e faria com que os jogos fossem mais intensos e se aproximassem do melhor que se vê lá fora. Por falar em intensidade, o comunicado do Sporting a verberar haver muitos jogos previstos no calendário é triste. Desde logo porque pressupõe que é não jogando que se irá ser mais competitivo. Ora, se há algo que poderemos aprender das nossas sucessivas aventuras europeias é que às nossas equipas vem faltando uma competição interna mais intensa, por isso não se compreende que o Sporting mostre esta cultura de (in)exigência.

 

Outro aspecto onde a Liga poderia actuar seria na limitação no nº de inscritos por equipa. Imaginemos, por exemplo, um limite de 20 jogadores, sendo que os restantes deveriam provir da Formação. Tal obrigaria os clubes a recorrerem às suas Academias e nelas investir e deixaria livres jogadores interessantes que habitualmente os pequenos e médios clubes não conseguem obter, ajudando a dar outro equilíbrio à competição. 

 

Já me manifestei também a favor da centralização de DireitosTV e da existência de um Fundo de Sustentabilidade (ou Competitividade) do futebol português, no sentido de proporcionar mais equidade entre clubes. Esse fundo poderia ser dotado por uma contribuição anual de 0.5% do valor do activo intangível (plantel) contabilistico dos clubes e seria distribuído pelos últimos seis classificados da Primeira Liga. 

 

Igualmente me manifestei a favor de uma muito maior transparência nos campeonatos, que passaria por um código de conduta dos agentes desportivos (dirigentes, treinadores, jogadores, árbitros, delegados Liga, empresários de jogadores, Conselho de Arbitragem, Conselho de Disciplina, etc) com sanções significativas para quem incumprisse com regras e procedimentos, desde irradiação do agente até à descida de divisão do(s) clube(s) infractor(es). Este código, entre outras coisas, deveria ser especialmente robusto no que concerne à prevenção de conflito de interesses, promiscuidade, tráfico de influências e branqueamento de capitais. Nele estariam claramente definidas as penalizações em sede de justiça desportiva em que incorrerão os prevaricadores. A Liga e a Federação não se podem demitir da sua função reguladora e devem criar condições que previnam a adulteração da integridade das competições e o respeito pelos espectadores/consumidores do produto futebol. O Código deveria constar em local bem visível na primeira página dos sites das entidades reguladoras. A justiça desportiva não pode nada fazer a montante e estar sempre à espera, a jusante, de investigações da PGR. O Ministério Público e a PJ deverão ter mais que fazer do que permanentemente ter de alocar recursos para estudar as diversas suspeitas que envolvem o fenómeno futebolistico em Portugal. Ou, Liga e FPF, mostram capacidade de se auto-regularem ou o Estado terá de intervir, criando regras que impeçam a continuação deste status-quo. Para além destas regras, Liga e FPF deveriam alargar durante toda a época o conjunto de iniciativas que visam promover um futebol limpo, à semelhança do que já acontece com a campanha contra o match-fixing, seja por via de acções nos estádios, seja através de acções de formação e sensibilização de todos os agentes. Estes deveriam ser obrigados a fazer um exame e a terem de mostrar ser conhecedores de todos os procedimentos constantes do Manual.

 

A questão da defesa do futebolista português também deve ser abordada. Bem sei que, pós-Lei Boaman, para a UEFA vigora a livre circulação, mas há algumas medidas que se poderiam tomar. Por exemplo, a primeira regra de desempate de pontos nas competições nacionais poderia ser o nº de portugueses utilizados, critério que prevaleceria sobre a diferença de golos, o nº de golos marcados ou os resultados entre os clubes em causa.

 

A Liga enquanto regulador tem de fazer outro escrutínio na constituição de sociedades anónimas desportivas. O futebol, actualmente, é um paraíso para negócios pouco claros e é necessário tomar medidas para combater isto. O “match-fixing”, geralmente associado às apostas desportivas, é um flagelo que importa enfrentar. Não me parece que haja suficiente “compliance” sobre os investidores e a Liga deveria adoptar os procedimentos actualmente em vigor no sistema financeiro sobre branqueamento de capitais e financiamento ao terrorismo (BCFT). E depois, há modelos que funcionam porque apostam em criar raízes e na envolvência com as povoações, outros não contemplam essa realidade e acabam por criar um fosso com os sócios e adeptos do clube, servindo apenas como plataforma de interface de jogadores.

 

O futebol português possui desvantagens competitivas face a diversos países europeus (a diferença para Espanha é gritante) devido a uma fiscalidade mais exigente, que não discrimina positiva uma profissão de desgaste rápido (dos profissionais de futebol) e que muito penaliza os clubes. Promover consenso na Liga e constituir um grupo para sensibilizar o governo, no sentido de tentar aligeirar a carga fiscal dos profissionais de futebol, seria uma prioridade.

 

Um clube formador, como é o caso do Sporting, que abastece todo o futebol português, tem de ter outro peso perante os seus pares, não pode ser permanentemente desrespeitado, nem as suas posições serem sempre relegadas para segundo plano em nome de outros interesses instalados. Assim, o Sporting deve ter uma política de relacionamento com outros clubes, privilegiando aqueles que o respeitem. As nossas filiais, tão abandonadas nas últimas décadas, deveriam ser o destino principal dos jovens jogadores que punhamos a rodar e de outros jogadores que queiramos emprestar. Obviamente, há uma linha que deve ser traçada entre bom relacionamento e promiscuidade, mas isso estaria salvaguardado no Código de Ética à semelhança de outras matérias.

 

O produto Futebol Português tem de ser vendido de uma forma totalmente diferente. Devem existir regras claras de transparência para que o consumidor acredite no produto, os artistas (jogadores) têm de ter liberdade concedida pelos clubes para abordarem diversos temas e estar disponíveis para acções com os fãs, a exportação do produto para os mercados americano e asiático pensada. É inconcebível que o futebol do país campeão europeu continue a despertar tão pouca procura e isso dever-se-á muito à inércia da Liga e sua incapacidade de promoção da imagem do nosso futebol. Também não é aproveitada da melhor maneira a passagem de alguns craques pela nossa liga. Jogadores como Schmeichel, Deco, Aimar, entre outros (só falando deste milénio), poderiam ter contribuido para uma maior divulgação.  

 

O futebol português está inserido no europeu e, como tal, depende dele. Portugal e o Sporting tem de ter uma voz também nas instâncias superiores do futebol europeu. Está a matar-se a galinha dos ovos de ouro. A nível do futebol, o que a situação pandémica a nível mundial trouxe à evidência foi que a maioria dos clubes não estava preparada para um choque sistémico. Na verdade, primeiro devido à conjugação da Lei Bosman com o fim da limitação do número de estrangeiros em diversos campeonatos europeus, depois devido ao novo modelo de distribuição de dinheiros da Champions, é público e notório que a assimetria entre clubes aumentou. E isso não se processou apenas entre os tradicionais clubes grandes e pequenos. Clubes outrora com grande história no panorama europeu, como o Ajax (o caso paradigmático do pequeno milagre da optimização da Formação conjugado com uma criteriosa acção no mercado que ainda lhe vai permitindo aparecer nos grandes palcos de quando em vez), PSV, Feijenoord, Anderlecht, Estrela Vermelha, Partizan, Steaua Bucareste, Celtic, Saint-Étienne ou os nossos Sporting, Benfica e Porto, são hoje pequeno peixe à mão dos novos tubarões do futebol europeu que curiosamente não são detidos por autóctones. Oligarcas russos e estados do Médio e Extremo Oriente tomaram conta de clubes como o Chelsea, o Manchester City ou o Paris Saint Germain e dotaram-nos de orçamentos que até os colossos Real Madrid, Barcelona, Juventus, Milan ou Bayern Munchen têm dificuldade em acompanhar. Os clubes de países periféricos, que antigamente conseguiam manter por muitos anos os seus melhores jogadores e assim ser competitivos na Europa, transformaram-se em clubes que formam para vender ou, simplesmente, em interpostos de compra/venda de jogadores. De forma a serem mínimamente competitivos quase todos vivem acima das suas possibilidades, com enorme alavancagem dos custos face aos proveitos gerados. Ficam por isso muito dependentes das suas convicções sobre a Formação, ou do acerto (ou não) das escolhas no mercado de transferências. Logicamente, em casos em que a política desportiva é má, o caos fica iminente. Os empresários de jogadores lucram devido à rotação dos negócios; os clubes apenas sobrevivem, ligados à "máquina" e incapazes de respirarem por si. Tudo isto concorre para a pouca sustentabilidade do negócio do futebol, o qual precisa de ser repensado de uma forma que permita que se produza uma desalavancagem sem ainda maior perda de competitividade global de uma série de clubes que hoje em dia constituem uma classe média do futebol europeu e que a este são vitais pela dimensão social de adeptos e paixão que acarretam para o jogo. Simultaneamente, esta classe média europeia de clubes deve ser apoiada por mecanismos de compensação que lhe proporcionem proveitos de forma a protegê-la de uma desregulação, dir-se-ia selvagem, do sector que está a provocar grandes desequilíbrios. Eis portanto algumas ideias que deixo para discussão:

 

  1. Regra UEFA e das Ligas domésticas: os planteis só podem conter 20 jogadores. Isso trará imediatamente 2 benefícios: a) os clubes grandes não poderão secar o mercado e jogadores outrora inacessíveis poderão surgir em equipas médias; b) recurso obrigatório a jogadores da Formação (sub-21) para compôr o plantel;
  2. Regra de cada campeonato: limitação do número de estrangeiros por equipa (apesar da livre circulação comunitária, o exemplo inglês da Premier League mostra que se pode condicionar por determinados critérios a inscrição de jogadores estrangeiros) ;
  3. Regras de acesso à Fase de Grupos da Champions que não discriminem tão negativamente os campeonatos fora dos "Big Five";
  4. Nova distribuição de receitas da Champions. Tem havido muita pressão dos clubes grandes sobre a UEFA com a ameaça da Superliga Europeia. Mas os clubes grandes vão rapidamente entender que se secarem tudo à sua volta vão ficar sem o filão dos pequenos/médios clubes para os abastecer. Se só os clubes grandes resistirem, os custos inflacionar-se-ão e isso exponenciará a alavancagem até níveis que criarão um enorme risco de falência aquando de inversões de ciclo económico;
  5. Fundo de Sustentabilidade: a UEFA deverá aproveitar esta crise sanitária para promover um maior equilíbrio no futebol europeu, distribuindo mais dinheiro por federações europeias pertencentes a países de menor dimensão económica;
  6. Campeonatos periféricos europeus com melhores jogadores e equipas atrairão mais patrocinadores e um valor maior dos direitos centralizados de TV. 

 

Com todos estes ingredientes reunidos, então sim o futebol português seria um produto vendável. Terminariam as subserviências e todos os clubes, pequenos e médios incluídos, se aperceberiam de que as suas cedências individuais haviam gerado ganhos substanciais para todos. 

 

Tudo isto deveria fazer parte de um plano de implementação total a 3/4 anos de qualquer novo presidente da Liga. Infelizmente, nada disto é o que vamos ouvindo e lendo. Nesse sentido, a percepção popular é que mais uma vez iremos mudar para tudo poder ficar exactamente na mesma. E é pena, porque quem resiste à mudança um dia vê-se obrigado a lutar contra a extinção. (Apesar de tudo, prefiro o actual presidente da Liga a andar a reboque do Benfica na escolha de um outro que recentemente se perfilava.)

 

PED Talks - Princípios, Estratégia, Desporto

20
Jul20

El Loco Bielsa e o triunfo do futebol-champanhe


Pedro Azevedo

Dezasseis anos depois de ter sido relegado da Premier League - uma queda acentuada após a meia final da Champions que havia disputado em 2001 - , o histórico Leeds United regressa à elite do futebol inglês. Aos comandos um treinador pouco resultadista, conhecido essencialmente pelo aroma de bom futebol que as suas equipas exalam em campo. 

 

Curiosamente, no ano em que o Leeds desceu de divisão (2004) Marcelo Bielsa havia conseguido o último título da sua carreira. Aconteceu nos Jogos Olímpicos de Atenas, onde a Argentina arrebatou a medalha de ouro. 

 

Mais tarde, em 2012, o treinador argentino acabaria por se encontrar com o nosso Sporting. Foi na meia final da Liga Europa e o seu Atlético de Bilbau acabou por nos eliminar de uma competição onde tivemos o momento de brilhantismo de afastar o todo poderoso Manchester City.

 

Em Elland Road desde 2018, El Loco Bielsa parece finalmente ter encontrado a estabilidade que lhe faltou ao longo da sua carreira, muitas vezes vítima de presidentes imediatistas. Para tal muito também terá contribuído a paciência do empresário Andrea Radrizzani, actual dono do clube, que resistiu a despedi-lo quando o Leeds falhou a promoção que parecia certa na recta final da época passada. 

 

Pressão alta, defesa subida e agressiva e jogo posicional a partir de trás são alguns dos princípios que muitos treinadores hoje põem em prática e que tiveram como referência nomes como Cruijff ou Bielsa. Para o argentino, tal como para o holandês, ganhar nunca foi o suficiente, jogar bem sim. Jogar bem como a forma ideal de ganhar, simultaneamente divertindo as pessoas quando o jogar bem se conjuga com o jogar bonito, eis a fórmula de Bielsa. Por isso, a vitória do Leeds no Championship não pode ser encarada apenas como o sucesso de Bielsa, ela é o triunfo do futebol feito a pensar nos espectadores, a razão de ser de tudo. Obrigado Marcelo!

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20
Jul20

Joelson, empresários e os vendilhões do templo


Pedro Azevedo

Mais uma vez o Sporting encontra inesperadas dificuldades na renovação de contrato com um seu jovem jogador. Mais do que pensar no Joelson, em seu pai ou nos empresários, veio-me à memória uma entrevista do ex-jogador Poejo em que este se confessou ostracizado por alegadamente ter recusado a sugestão de alguém na época pertencente à estrutura do Sporting para assinar com um determinado empresário. Sendo este um ângulo oculto para a generalidade das pessoas, fica a pergunta: de onde vem a influência de certos empresários junto dos miúdos? São exclusivamente os pais dos miúdos que a promovem? O Sporting precisa de ter a certeza que na sua estrutura do futebol juvenil não existem conflito de interesses sob a forma de angariação para qualquer tipo de empresários, nomeadamente aqueles que sistematicamente colocam inúmeros problemas ao clube aquando da renovação de contrato dos nossos jovens jogadores. A haver, os prevaricadores têm de ser afastados, processados (para servirem de "exemplo") e ver o resultado das suas acções tornado público a bem do bom nome da esmagadora maioria de valorosos técnicos e staff da nossa Formação que ao longo dos anos se têm dedicado com profisionalismo e brio à causa leonina. É que no Sporting não pode haver espaço para vendilhões do templo. 

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19
Jul20

Os mistérios de Roeselare


Pedro Azevedo

Dada a natureza paranormal do alegado negócio até julguei tratar-se de Roswell (Novo México), mas afinal são os belgas do Roeselare a indicar em comunicado que o Sporting é um dos 3 investidores envolvidos na salvação do clube da cidade belga da Flandres Ocidental. Entretanto, o nosso clube, por via de Miguel Braga, Director de Comunicação, já veio desmentir a informação. Porém, os belgas, através do seu Facebook , não só confirmam a notícia originalmente publicada no seu Site como adiantam que na próxima semana receberão uma comitiva do Sporting. 

 

Não sou perito em Ocultismo, por isso creio que isto merece uma explicação ao alcance de todas as pessoas. Até porque, a confirmar-se a utilização abusiva do nome do nosso clube, não bastará certamente um lacónico comunicado a desmentir a natureza do negócio.  

17
Jul20

O amor acontece (Love Actually)


Pedro Azevedo

O filme começa (prólogo) com a voz do "primeiro ministro" narrando que cada vez que fica deprimido com o estado da nação (lampiânica) pensa no terminal de chegadas do Aeroporto de Lisboa e no amor com que amigos e famílias recebem os seus entes queridos. Enquanto a realização nos dá a vêr excertos avulsos desses reencontros, a narração é entrecortada por "Wouldn`t it be nice" dos Beach Boys.  A fita evolui então para a "história de amor" entre Jorge e Luís.

 

O primeiro acto aborda a aposta arriscada que Luís fez em Jorge há 11 anos atrás, o "big break" da carreira do veterano treinador até aí sempre afastado dos grandes palcos. Preparando o novo enlace, a cena é acompanhada pela audição de "Christmas is all around", um "cover" canastrão de Love is all around dos Wet, Wet, Wet.

 

O segundo acto narra o "casamento" entre Jorge e Bruno e os ciúmes sentidos por Luís durante esse período. O divórcio esteve para ser litigioso, mas no fim um acordo acabou por ser selado. Um pungente "Bye bye baby (baby goodbye)", tocado pelos Bay City Rollers, acompanha o enredo.

 

O terceiro acto centra-se em Luís e Rui e como o primeiro voltou a ser feliz, apesar de um primeiro encontro que não pareceu muito prometedor. Dois anos de extrema alegria, esfusiantemente passados para o ecran ao som de "All you need is love". No entanto, ao terceiro ano a relação começa a ter os seus percalços e da ameaça de adultério ao divórcio foi um pequeno passo (ou luz). O realizador ilustra esse doloroso momento com o soberbo "Both sides now" de Joni Mitchell.

 

Epílogo: após breve quimera vivida com Bruno Lage, Vieira volta a aproximar-se de Jorge e... o amor acontece. Jorge Jesus regressa a Portugal, por entre anteriores juras de amor do tipo "o bom filho a casa torna", terminado o seu exílio forçado nas arábias e no Brasil, e tem um reencontro emotivo no Aeroporto de Lisboa com Luís Filipe Vieira. Ao longe, em ruído de fundo, os Beach Boys tocam "God only knows"... (Entretanto, em suas casas, os benfiquistas socorrem-se do sal para engolirem o sapo.)

 

P.S. Baseado num texto originalmente publicado pelo autor em "És a nossa Fé". Para melhor aproveitamento deste "filme", aconselha-se que a leitura de cada parágrafo seja acompanhada pela audição do(s) temas musical(ais) nele inserido(s). 

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16
Jul20

Tudo ao molho e fé em Deus

Pentágono não evitou festa dos Aliados


Pedro Azevedo

O Sporting foi derrotado no Dragão e a tentação de o justificar devido à utilização de muitos miúdos da nossa Formação será certamente grande. Todavia, do meu ponto de vista tal não só será injusto como também perigoso. Injusto, porque apesar do desaire Matheus Nunes iluminou a noite do Porto com uma exibição onde mostrou categoria e personalidade perante os dois armários que Sérgio Conceição lhe colocou pela frente e Nuno Mendes voltou a deixar água na boca em relação ao seu futuro. Perigoso, na medida em que poderá transmitir a ideia que é só deixar crescer os jovens e acrescentar-lhes experiência para sermos felizes quando na verdade precisamos essencialmente não só de tempo como também de jogadores consistentes e de qualidade a enquadrar a nossa Formação, o que implicará uma abordagem ao mercado completamente diferente daquela que tem vindo a ser seguida até aqui tanto nas compras como nas vendas.

 

Trago à colação o enquadramento porque ao longo de ano e meio perdemos Nani, Raphinha, Bas Dost, Bruno Fernandes e Mathieu, qualidade que foi substituída por quantidade que na sua esmagadora maioria não se impôs. Ontem, por exemplo, Sporar foi de uma inoperância total e até defensivamente falhou ao não ter atacado a bola convenientemente no lance do primeiro golo. Na lateral/ala direita, Ristovski é um brioso profissional que apesar das suas limitações técnicas ainda oferece mais garantias que duas contratações (Rosier e Camacho) que juntas custaram muito dinheiro (10,9 milhões de euros mais o passe de Mama Baldé). Ilori, Neto, Borja, Eduardo, Doumbia são curtos para o Sporting e Vietto tem qualidade mas é estatisticamente pouco relevante, não justificando na plenitude o investimento feito na sua contratação e o seu elevado custo salarial para o clube. De Fernando, Bolasie e Jesé nem vale a pena falar e Luiz Phellype está há muito tempo lesionado. 

 

Assim sendo, apenas Matheus Nunes e Gonzalo Plata, dois jovens, parecem mostrar qualidade suficiente que justifique a aposta que neles foi feita aquando da sua contratação, o que é manifestamente curto para um investimento de 50 milhões de euros e custos com pessoal consideráveis. Acresce que dos que já cá estavam só Acuña é de primeiro plano, pese embora não seja um jogador consensual para quem não entende que muitas vezes as nossas principais qualidades estão perto de ser os nossos principais defeitos. Mais inteligente que a média, Bruno Fernandes resumiu tudo quando alertou que ao tentar corrigir-se os defeitos do argentino poder-se-ia correr o risco de afectar as suas melhores qualidades. Em relação aos outros, Battaglia demora a adquirir a forma anterior à lesão e é uma incógnita para o futuro, Wendel alterna jogos muito bons com outros em que adopta o modo Zé Carioca e mais parece um holograma, Ristovski é limitado ofensivamente e Coates, embora menos exposto pelo sistema de 3 centrais que lhe exige essencialmente que tenha atenção às dobras, tem falta de velocidade, pouca saída de bola e por vezes desconcentra-se na marcação. Sobra o renascido Jovane, um valor seguro nem sempre bem entendido. Mas tem apenas 22 anos e não se lhe pode colocar um peso excessivo em cima dos ombros. Atlas já houve um, chama-se Bruno Fernandes e tem imensa categoria, mas nem ele conseguiu evitar que a época fosse um flop. 

 

Deste modo, é importante perceber que há muitos jogadores no plantel com uma relação custo/benefício deficitária que deveríamos alienar ou emprestar, a fim de se poder libertar cash-flow para a realização de alguns investimentos efectivamente produtivos. Comprar por comprar será apenas mais do mesmo, pelo que os resultados dessa política estarão sempre em linha com o que foi a realidade desta época. Comprar em quantidade, sempre alegando não haver dinheiro, só por si já constituiria um paradoxo, pois essas aquisições acabam por se revelar muito mais onerosas do que a simples contratação de 3 jogadores de qualidade indiscutível, não só pelo investimento inicial como também pelo custo total que o clube acaba por pagar no somatório dos anos de contrato de cada jogador. Ora, se do ponto de vista financeiro o resultado dessa política é desastroso, o impacto desportivo não é melhor, o que numa segunda derivada acaba por comprometer ainda mais as nossas finanças devido à não qualificação para a Champions. 

 

O jogo? Uma primeira parte muito equilibrada em que as equipas se encaixaram perfeitamente uma na outra, bloqueando muito o jogo a meio campo, com muitas faltas à mistura. O primeiro golo do Porto diminuiu a ansiedade dos dragões e facilitou-lhes a vida. Tudo se resumiu à concentração. Um erro individual ofereceu o primeiro golo ao Porto e uma sucessão de erros individuais resultou no segundo. Se Sporar não atacou devidamente a sua zona de acção no canto (do cisne), no segundo golo Wendel alheou-se do lance, Geraldes deixou-se ir no engodo de uma disputa de bola onde Matheus já estava envolvido e deu todo o tempo do mundo a um portista sem pressão para fazer a assistência e Coates só olhou para a bola e esqueceu-se de Marega nas suas costas. 

 

Se perdemos devidos a erros individuais, não foi certamente devido ao sistema do pentágono que fomos menos competentes defensivamente. Porém, do ponto de vista ofensivo foram visíveis as dificuldades de desdobramento da equipa, demasiadas vezes apenas com um jogador (ou 2) nas imediações da área adversária quando em posse ou transição. Pouca chegada para um clube grande e a requerer que futuramente tanto o lateral/ala do lado oposto da bola como um segundo médio apareçam muito mais vezes nos envolvimento atacantes. Disso dependerá o sucesso ou insucesso futuro deste sistema a nível de resultados e também em termos de uma qualidade exibicional que entusiasme sócios e adeptos a comparecerem em massa no José Alvalade e nos estádios deste país assim que as condições sanitárias o permitam. Compreenda-se porém que Ruben Amorim leva muito pouco tempo de trabalho com esta equipa e que há rotinas que demoram até que estejam totalmente interiorizadas. Enfim, há uma base, é preciso é que a direcção do clube acrescente alguma coisa ao processo, não permitindo que se criem falsas expectativas em relação a 2020/21 que justifiquem mais incursões desmesuradas no mercado.  Repito o que tenho vindo a dizer em vários momentos: se queremos estar a lutar pelo título daqui a 2 anos, então precisamos de dar um passo importante na próxima época, e esse passa por apenas 3 contratações que acrescentem qualidade indiscutível à equipa. Esse é o caminho, o resto serão atalhos para o abismo. E não me digam que não há dinheiro, não quando se investe anteriormente cerca de 60 milhões em jogadores (15) e treinadores (mais ordenados) e se pagam indemnizações milionárias por apostas mal sucedidas. Tem de haver dinheiro, eliminem é as redundâncias que fazem com que tenhamos custos na SAD próximos dos 110 milhões de euros anuais e um plantel que custa 70 milhões, valores que necessitam de um corte urgente de aproximadamente 35%, pois são despesas que criam estrangulamento na tesouraria e não se justificam de todo quando temos uma boa base da Formação. Mas sobre isso pouco se ouve.

 

Parabéns ao F.C. Porto pelo título de campeão nacional!

 

Tenor "Tudo ao molho...": Matheus Nunes (elevar o nível do seu jogo num palco grande não é para todos, especialmente quando se trata de um jovem jogador)

 

P.S. Peço desculpa, mas hoje a minha costela irónica ressentiu-se da derrota.

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14
Jul20

Entre as brumas da memória


Pedro Azevedo

Entre brumas ou nevoeiros, uma visita ao purgatório e o inferno de (Alder) Dante ali tão perto, no dia 18 de Outubro de 1975 o Sporting deslocou-se às Antas e venceu o Futebol Clube do Porto por 3-2. O Porto tinha acabado de ir buscar Alhinho e Dinis a Alvalade, situação que aqueceu os ânimos entre os clubes. Branko Stankovic estava no banco dos dragões, o imortal Júlio Cernadas Pereira (Juca) era o treinador do Sporting. Chico Faria (9 minutos), Manuel Fernandes (em época de estreia, aos 15 minutos) e Baltasar (aos 74) marcaram para nós, Murça (19) fez o golo legal do Porto. O outro (57 minutos), que momentaneamente empatou a partida, validado e atribuído a Fernando Gomes, foi efectivamente concretizado por um apanha-bolas (José Matos) que sorrateiramente, a coberto do intenso nevoeiro que se fazia sentir, introduziu a bola dentro das redes de Vítor Damas sem que o árbitro da partida vislumbrasse a infração. Pese esta vicissitude, o Sporting venceu a adversidade e saiu do Porto com uma vitória. Quarenta e cinco anos depois, que tal seja inspirador para os leões que amanhã pisarão a relva do Estádio do Dragão. Força rapazes!

13
Jul20

Venham mais cinco!


Pedro Azevedo

Venham mais cinco (milhões). O Manchester United, que recebe o Southampton, tem hoje a oportunidade de se colocar em posição que dê acesso à Champions. Se os Red Devils ganharem, passarão para o 3º lugar da Premier League. Força Bruno!

 

P.S. Bruno Fernandes leva 7 golos e 6 assistências na Premier League. Mais, qual vendaval que se soltou, onda que se alevantou ou átomo a mais que se animou (obrigado José Régio!), o United com ele parece outra equipa. O efeito de contágio é mesmo notório em prima-donnas como Paul Pogba, que está outro, alegre, envolvido no jogo, solidário. Nada contra a promoção que outros (que não jornalistas) façam de Félix ou Pizzi, a quem desejo tudo de bom menos quando jogarem contra o Sporting, mas o nosso antigo jogador é outra coisa. Top, top, top.

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13
Jul20

O Feddalismo


Pedro Azevedo

O Feddalismo é um sistema político, económico e social que vigora no Sporting há muitos anos. Deve a sua formação à desagregação do império (terrenos, equipamentos desportivos, influência por via do ecletismo, passivo zero, dinheiro em caixa) criado por João Rocha, lançamento da SAD, menor importância dada aos sócios, necessidade de contabilisticamente alimentar o activo (os jogadores da Formação entram a zero no Balanço) e geração de "turnover". A consequência directa da existência deste sistema é a ausência do título nacional em futebol, a indirecta é a falência técnica da sociedade desportiva que sustenta o projecto(?) futebolístico do Sporting. Tolerado por algumas elites e na sua última versão fortemente suportado pelo actual tudólogo do regime (numa qualquer televisão ao pé de si), o Feddalismo ameaça acabar com o clube. Cumpre por isso mudar de vida e substituir este sistema autoritário e altamente demagógico, frequentemente populista e nada popular, explorador das expectativas dos vassalos adeptos, de economia estagnada, finanças depauperadas e política caótica, sem critério ou flexibilidade para admitir as mudanças que seriam lógicas e nos afastariam do mau caminho (qualquer caminho se faz caminhando, até o do abismo), em que mesmo um óptimo sinal como a (tardia) aposta na Formação é imediatamente contradito pela falta de critério na roda do mercado que melhor poderia enquadrar os nossos jovens jogadores. Porém, os observadores dividem-se quanto à opção a seguir no futuro. Para uns a solução é o capitalismo puro e duro, para outros, nos quais me incluo, a competência, objectivos concretos e um sistema de governação que dê garantias das melhores práticas de gestão. Uma coisa parece certa: no Sporting ainda vamos ter durante algum tempo a figura do senhor Feddal. Ao que parece, tal como no Excel, há quem acredite que o clube suporta tudo...

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12
Jul20

A Oeste do Éden(I)

Matthew Le Tissier


Pedro Azevedo

Nesta série que hoje se inicia irei apresentar futebolistas extraordinários já retirados e com carreiras bem sucedidas que por um motivo ou outro foram como deuses sem Olimpo, na medida em que muitos dos seus feitos permanecem ainda hoje desconhecidos para a maioria dos adeptos do futebol.

 

Matthew Le Tissier é o exemplo acabado do parágrafo anterior, razão mais do que suficiente para muitos poderem ficar boquiabertos ao saberem que foi eleito este ano como o "Melhor Jogador de Sempre da Premier League" numa votação levada a cabo pelo Eurosport. 

 

Quem é então este mítico jogador de futebol? Le Tissier nasceu em Guernsey, uma ilha localizada no Canal da Mancha que embora sob dependência da coroa britânica não faz parte do Reino Unido. Estreou-se como profissional aos 17 anos no Southampton e por lá ficou até ao final da sua carreira, devoção ao clube que lhe terá custado um outro reconhecimento nacional e internacional. Porém, não lhe faltaram oportunidades para mudar de ares, pois durante os anos em que esteve no activo foi uma constante obsessão de Sir Alex Ferguson, que tentou levá-lo para o Manchester United em múltiplas ocasiões. Para além dos "Red Devils", os londrinos Chelsea e Tottenham também o cobiçaram sem sucesso, mesmo tendo feito ofertas que o tornariam o futebolista mais valioso da época. Menos mal, a sua lealdade aos "Saints" valeu-lhe a adoração dos adeptos do clube do sul de Inglaterra e o espirituoso epíteto de "Le God" que cruza o seu apelido de origem gaulesa com o requinte divino do seu futebol.  

 

Centrocampista, Matthew Le Tissier foi o sexto jogador a atingir a marca dos 100 golos na Premier League, o primeiro se considerarmos apenas os jogadores de meio-campo. No total obteve 161 golos em 443 jogos no campeonato inglês e 209 golos em 540 jogos pelo Southampton em todas as competições, tendo sido grandemente responsável pelo facto de os "Saints" nunca terem descido de divisão. Tal aliás esteve perto de acontecer numa mão cheia de vezes, mas "Le God" evitaria sempre tal desígnio. Numa dessas ocasiões, em 94/95, obteria 30 golos na temporada, marca só recentemente ultrapassada por Bruno Fernandes (32 golos) e que durante muitas épocas foi o recorde de golos para um centrocampista. 

 

Número 7 nas costas, Le Tissier foi um predestinado que enchia de magia o relvado do antigo "The Dell", a velhinha casa do Southampton. Dotado de uma grande visão de jogo que lhe permitia colocar a bola à distância em companheiros bem colocados ou inesperadamente enganar guarda-redes adiantados à linha de baliza, aliava essa característica a uma técnica de remate que era um misto de força e colocação. Além disso, a sua habilidade natural permitia-lhe recrear-se com a bola em fintas e simulações que faziam as delícias da multidão que pagava para o ver jogar. Todas estas qualidades permitiram-lhe ao longo dos anos disfarçar a sua pouca intensidade sem bola e falta de resistência ou velocidade. Ele era mais do tipo artista que com uma pincelada de génio pintava uma bela tela.

 

O facto de nunca ter jogado num grande inglês fez-se sentir nas convocatórias da selecção inglesa. Muitas vezes sentiu-se injustiçado, especialmente quando Glenn Hoddle não o convocou para o Mundial 98. Ainda assim, realizou 8 jogos pela equipa de Sua Majestade. 

 

Tendo vivido em Inglaterra, acompanhei de perto a carreira de Le Tissier e senti o respeito que os adeptos do mundo do futebol britânico tinham por ele, algo que se estendia a treinadores e jogadores da Premier League. Se pensam que estou a exagerar, nada como verem o vídeo que deixo em baixo. Enjoy!

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