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Castigo Máximo

De forma colocada, de paradinha, ou até mesmo à Panenka ou Cruijff, marcaremos aqui a actualidade leonina. Analiticamente ou com recurso ao humor, dentro ou fora da caixa, seremos SPORTING sempre.

De forma colocada, de paradinha, ou até mesmo à Panenka ou Cruijff, marcaremos aqui a actualidade leonina. Analiticamente ou com recurso ao humor, dentro ou fora da caixa, seremos SPORTING sempre.

Castigo Máximo

31
Mai20

Tudo ao molho e fé em Deus

Dicionário Sporting Editora


Pedro Azevedo

A

Academia - Escola certificada sita em Alcochete que forma abundantemente jogadores de futebol de qualidade, mais tarde convertidos em ginastas por uma visão superior em que a equipa principal do Sporting é um trampolim e não um fim.  

 

Alcochete - Espaço vanguardista onde há 2 anos se testaram os primeiros equipamentos de protecção para o rosto no âmbito da prevenção da Covid-19. Os resultados foram muito pouco animadores e para alguns implicou um prematuro confinamento forçado...

 

Alma - O segredo do negócio.

 

Aurélio Pereira - O Descobridor. Responsável pelo aparecimento de Futre, Figo e Ronaldo. O Senhor Formação (menção também para César Nascimento e Osvaldo Silva).

 

B

"Benchmark" - Padrão usado para aferir o mau desempenho dos nossos dirigentes.

 

C

Campeão - O Santo Graal de todos os Sportinguistas. 

 

Cheque - Imortalizado por Luís Duque, quando acompanhado de uma vassoura visa dar provisão a novas investidas ao mercado a fim de que a vassoura volte a actuar, e assim sucessivamente num ciclo infernal de 360º até ao esgotamento de todos os nossos recursos materiais.

 

Claques - Metamorfose do batuque do futebol espectáculo para o petardo do futebol negócio onde todos querem o seu quinhão. 

 

Comunicação - Som desarmónico, de vibrações irregulares. 

 

Contratações cirúrgicas - Operação de barriga aberta (laparotomia) às finanças do leão que deve ser executada com o paciente sócio em estado de completa sedação. 

 

Croquette - Figura da mitologia Sportinguista inspirada no nome de um antigo accionista de referência do Totta (também com 2 "t"). Semelhante a conceitos como "sportingados" ou "esqueletos", no fundo mais uma dispersão de identidade perfeitamente evitável num clube de implantação nacional e com uma base de apoio transversal à sociedade portuguesa.

 

D

Damas (Vítor) - Guardião da verdadeira alma leonina.

 

E

Esqueletos - Expressão dedicada a sócios indeterminados do Sporting que aparentemente saem de um armário na visão delirante de um presidente. (Nota do autor: nos armários cá de casa só há roupas e porcelanas.)

 

Exuberância irracional - Termo popularizado pelo antigo presidente da Reserva Federal norte-americana (FED), Alan Greenspan, para indicar o sobre-aquecimento do mercado accionista. No Sporting refere-se ao desnecessário ímpeto "facebookiano" pós-derrota de Madrid que acabaria por marcar o início do fim da presidência anterior. 

 

F

Figo - Bola de Ouro e fruto da nossa Formação.

 

"Forever" - Estado transitório que não augura nada de bom para o futuro.

 

Formação - Placebo utilizado em momentos de crise para desencadear reacções psicológicas positivas nos pacientes sócios e adeptos.

 

Fraguito - Classe sem rodilhas. 

 

G

Gamebox - Cartão de ingresso ao José Alvalade que dá acesso a grandes espectáculos... de pirotecnia. 

 

H

Herança - Legado que passa de presidente para presidente do Sporting, geralmente usado como desculpa para o insucesso. 

 

I

Idiotas úteis - Todos aqueles que não se resignam com o estado do leão.

 

J

Janela - Antigo dirigente leonino e cartilheiro-mor dos DDT do futebol português conhecido pela difusão da Cartilha de João de Deus dos Pobres de Espírito e da Alegoria da Caserna do filósofo Glutão. Tem um grupo de seguidores denominado de Testemunhas de Janelá. 

 

João Rocha - presidente visionário, inspirador e fomentador do ecletismo do Sporting. Três vezes campeão nacional pós-25 de Abril.

 

Jordão - Pintor de belos quadros dentro e fora do campo. Aquele golo de calcanhar contra o Porto foi uma tela impressionista. A Gazela de Benguela, rápido e enleante com a bola nos pés.

 

Joaquim Agostinho - Paradigma de um leão que passa a vida a pedalar, nunca anda para trás e quando cai é em glória. Um exemplo alegórico para todos nós.

 

K

Kmet - Que mete um buraco na tesouraria. Tipo de contratação favorita de qualquer dirigente leonino.

 

L

Lopes (Carlos) - O maior dos maiores para os Leitores de "Castigo Máximo". Orgulho!

 

M

Mamede - Em Estocolmo, onde morreu a razão (Descartes), (re)nasceu a emoção de ser português. 

 

Maniqueísmo - Divisão inglória entre dois grupos de radicais Sportinguistas estimulada por quem vê nisso uma oportunidade para continuar a reinar. Os moderados continuam a aguardar o resultado de um jogo que terminará com a derrota de ambas as partes e, principalmente, do Sporting.

 

Manual para Burros - Sinal de decadência final de um regime que chegou a revelar-se bastante auspicioso.

 

Manuel Fernandes - O Capitão da minha geração. Duas vezes campeão nacional e 4 golos nos 7-1 ao Benfica. 

 

Moniz Pereira - O Senhor Atletismo.

 

N

Niilismo - Com o vazio vem o deixar de acreditar seja no que for, porta aberta para o indesejável vale-tudo.

 

Novo normal - Termo usado nos negócios para definir as condições financeiras emergentes a uma crise. No Sporting refere-se ao período subsequente à saída do presidente João Rocha, tempo esse entrecortado por alguns óasis no deserto que se viriam a revelar uma miragem. 

 

O

Ó Teresa! - Interjeição repetida 114 vezes por um Sportinguista em banho maria.

 

P

Passivo - Responsabilidades crescentes contraídas perante terceiros aquando de cada nova voltinha no carrossel do mercado.

 

Peyroteo (Fernando) - Sinónimo de golo em todas as línguas. E quem disser o contrário é má língua.

 

Peyrotear - Neologismo de marcar golos.

 

Planos (A, B, C) - "May day, may day". "Houston, we have a problem!".

 

Provisório - Estado transitório que afecta qualquer treinador do Sporting, excepto aqueles que usam risco ao meio (Paulo Bento e Jorge Jesus).

 

Q

Quinze milhões - Mendilhões.

 

R

Resiliência - Anglicismo próprio de um "british" Sporting que tem na resistência dos seus adeptos o seu maior activo. 

 

Ribeiro Ferreira - 6 títulos de campeão nacional (em sete). O presidente com mais vitórias na prova máxima do calendário futebolístico nacional.

 

Ronaldo - O Maior da Cantareira. Made-in Sporting, está claro. Multi-Bola de Ouro e um número de golos superior ao de mulheres do Rei Salomão (não é fácil).

 

Rulote - Courato de software by Zegna, perdão, Zenha.

 

S

Sportingado - Mais uma expressão evitável dedicada a sócios do Sporting.

 

Sporting - A maior potência desportiva mundial.

 

Sportinguistas - Adeptos do maior clube do mundo.

 

T

Tarefa - Missão de curto-prazo entregue a Leonel Pontes, semelhante aos 12 trabalhos de Hércules.

 

Tronco - parte do corpo humano de um Sportinguista sacrificada pelo actual presidente em nome da adição de mais membros inferiores, ou não fosse o futebol a actividade principal do clube. 

 

U

Unir - Acto de alimentar discórdia ou desarmonia entre sócios e adeptos com o objectivo de manutenção nos cargos. 

 

V

Vazio - Resultado final da subtração das partes obtido por Frederico Varandas.

 

W

Wolverhampton - Sinónimo de Protocolo Chinês.

 

X

Xanax - Futebol de passe/repasse praticado pelo Sporting no tempo de Silas com o objectivo de se sagrar campeão... da posse de bola.

 

Y

Yazalde - Ó Varandas, isto é que é um avançado-centro, pá!

 

Z

Zenha - Introdutor da rulote e do protocolo chinês no léxico leonino e criador de um singular novo conceito de "reforço".  

30
Mai20

(Des)liga de clubes


Pedro Azevedo

Mudar para ficar tudo igual? Numa era em que parece estar na moda o trabalho invisível no futebol, Pedro Proença é um dos ícones dessa singular forma de gerir em que a ponta do icebergue é o icebergue todo. Não se sabe se por falta de jeito, condicionamento dos clubes, ou por falta de apoio de um Estado Português que deveria ser o primeiro interessado na regeneração do nosso futebol, a verdade é que Proença não tem conseguido nestes anos todos ser um agente de mudança. Perguntar-se-á então o que o move? É certo que a fazer fé nas palavras de um antigo presidente do Gil Vicente, o salário de presidente da Liga Portugal é generoso, e essa talvez seja uma atractibilidade a não desprezar, mas, se for isso, confesso que fico sempre desiludido quando vejo alguém a acomodar-se ou conformar-se por motivos financeiros, sem condições para realização de obra. Nesse sentido, invoco aqui o Marquês de Maricá quando dizia que "os homens sem mérito algum, brochados de insígnias e de ouro, são como maus livros ricamente encadernados". 

 

Dito isto, também não me parece que mudar por mudar de presidente altere alguma coisa de fundo no futebol português. A ideia de querer fazer distinto com os de sempre faz-me lembrar aquela máxima de Einstein de que loucura é esperar resultados diferentes fazendo tudo exactamente igual. 

 

Não conheço os bastidores destas coisas e não sei até que ponto o lugar não está condicionado à partida e ao sabor dos mais diversos interesses particulares dos clubes. O que me parece é que só deveria aceitar ser presidente da Liga quem conseguisse à partida um pacto de regime que lhe garantisse liberdade para aplicar as necessárias reformas do futebol português. Doesse a quem doesse. 

 

No outro dia ouvi Frederico Varandas pugnar por um campeonato de 16 equipas. A coisa parece-me um meio caminho para nada. A sério, não é má-vontade contra o senhor, mas uma Liga com menos duas equipas significaria menos jogos, provavelmente menores receitas globais, e não melhoraria a competitividade dos jogos. Aquilo que veria com bons olhos seria um campeonato a 12, jogado em duas voltas, com "play-off" (primeiros 6 da fase regular) e "play-out" (últimos 6 da fase regular), em poule, com os pontos a acumular, num total de 32 jogos. Isso, sim, traria mais patrocínios, maiores receitas e faria com que os jogos fossem mais intensos e se aproximassem do melhor que se vê lá fora.   

 

Outro aspecto onde a Liga poderia actuar seria na limitação no nº de inscritos por equipa. Imaginemos, por exemplo, um limite de 20 jogadores, sendo que os restantes deveriam provir da Formação. Tal obrigaria os clubes a recorrerem às suas Academias e nelas investir e deixaria livres jogadores interessantes que habitualmente os pequenos e médios clubes não conseguem obter, ajudando a dar outro equilíbrio à competição. 

 

Já me manifestei também a favor da centralização de DireitosTV e da existência de um Fundo de Sustentabilidade (ou Competitividade) do futebol português, no sentido de proporcionar mais equidade entre clubes. Esse fundo poderia ser dotado por uma contribuição anual de 0.5% do valor do activo intangível (plantel) contabilistico dos clubes e seria distribuído pelos últimos seis classificados da Primeira Liga. 

 

Igualmente me manifestei a favor de uma muito maior transparência nos campeonatos, que passaria por um código de conduta dos agentes desportivos (dirigentes, treinadores, jogadores, árbitros, delegados Liga, empresários de jogadores, Conselho de Arbitragem, Conselho de Disciplina, etc) com sanções significativas para quem incumprisse com regras e procedimentos, desde irradiação do agente até à descida de divisão do(s) clube(s) infractor(es). Este código, entre outras coisas, deveria ser especialmente robusto no que concerne à prevenção de conflito de interesses, promiscuidade, tráfico de influências e branqueamento de capitais. 

 

Com todos estes ingredientes reunidos, então sim o futebol português seria um produto vendável. Terminariam as subserviências e todos os clubes, pequenos e médios incluídos, se aperceberiam de que as suas cedências individuais haviam gerado ganhos substanciais para todos. 

 

Tudo isto deveria fazer parte de um plano de implementação total a 3/4 anos de qualquer novo presidente da Liga. Infelizmente, nada disto é o que vamos ouvindo e lendo. Nesse sentido, a percepção popular é que mais uma vez iremos mudar para tudo poder ficar exactamente na mesma. E é pena, porque quem resiste à mudança um dia vê-se obrigado a lutar contra a extinção. 

29
Mai20

A minha reflexão sobre o pós-Julgamento


Pedro Azevedo

Hesitei em escrever este texto - na verdade nem tinha razão substantiva para me pronunciar, na medida em que nunca alinhavei uma linha que fosse sobre o Julgamento de Alcochete por não querer fazer de um blogue um tribunal de opinião pública sobre matéria cujo apuramento só deve dizer respeito à Justiça - , mas ainda assim decidi-me por partilhar os meus pensamentos pós-decisão de ontem do Tribunal, que absolveu Bruno de Carvalho.

 

A primeira coisa que gostaria de dizer é que acreditar na Justiça é indissociável de também respeitar o princípio da presunção da inocência, algo que aqui sempre fiz. Em segundo lugar, queria transmitir o meu cepticismo em relação a algo que já por aí vi escrito e dito e que consubstancia a ideia de que finalmente virámos a página no Sporting. Atenção, eu bem gostaria que isso fosse uma realidade. Simplesmente, a reacção de hoje, a quente, em O Jogo, do nosso consócio e, é bom não esquecer, juíz desembargador, Sérgio Abrantes Mendes, aponta para outro caminho bem diverso. Reparem, não se trata só da inoportunidade da intervenção que advém de o cidadão comum ver um magistrado pronunciar-se - num estilo não dizendo, dizendo, ainda que fugindo ao julgamento da matéria de facto - logo após um despacho de um seu colega, criando assim todo um ruído inerente que prejudica a percepção que os portugueses têm da Justiça. Não, isso é também, e principalmente, na medida em que dá argumentos a quem pretende a vitimização, um sinal de que a guerra de trincheiras no Sporting irá continuar. Ora, o maniqueísmo (e niilismo) que se tem vindo a apoderar do Sporting, que sempre tenho dito precisar de 2 polos para se alimentar, está nos antípodas do que é a minha personalidade e da forma como vejo o exercício responsável da cidadania leonina, desde logo porque não vivo de coisas negativas e de ódios e as minhas energias são canalizadas para a criação e não para a destruição, para a dúvida razoável que leva ao conhecimento e não para a presunção de que não preciso de ouvir ideias diferentes das minhas. Creio assim ser chegado o tempo de a ponderação e o bom senso tomarem conta da discussão, sob pena de, tal não acontecendo, irmos assistir à desintegração absoluta do clube.

 

Posto isto, devo dizer que para mim foi um motivo de satisfação ver um ex-presidente e um antigo oficial de ligação aos adeptos serem ilibados pela justiça portuguesa. Enquanto Sportinguista e cidadão, não deixando de considerar que todos os sócios têm a responsabilidade de elevar bem alto o nome da instituição, sinto que são os actos dos seus dirigentes que efectivamente a vinculam directamente. Assim, a sua inocência tem de ser considerada como positiva para a imagem do clube e sua marca, podendo ainda trazer benefícios económicos a jusante por via de dois processos em tribunal que envolvem jogadores que alegaram justa causa para rescindirem. Não deixo porém de lamentar todo o degredo da instituição (e instabilidade criada nos sócios) provocado por inenarráveis acontecimentos que, nunca será de mais referir, jamais se poderão repetir.

 

Não sou pessoa para ataques ad-hominem, pelo que nunca participei nessa singular forma de criação de desumanidade que passou até pelo escrutínio da vida pessoal e familiar de Bruno Carvalho, pessoa que não conheço pessoalmente, e julgamento público do seu carácter. Não tenho espírito de voyeur e sou respeitador de direitos e garantias e das liberdades individuais, pelo que as críticas que lhe deixei (e deixo) foram em relação aos seus actos de gestão, nomeadamente aqueles que marcaram os últimos meses da sua presidência. É um facto que sempre achei que excessos de linguagem da sua parte bastas vezes prejudicaram a mensagem e que deixei de apoiá-lo a partir do momento em que o vi dirigir ataques para dentro do mundo Sporting. Mas reconheço-lhe (e estou-lhe por isso agradecido) o excelente desempenho na temporada de 2013/14, nomeadamente através de um conjunto de difíceis e complexas decisões que permitiram ao Sporting voltar a ter oxigénio para respirar. Outras realizações foram ocorrendo - entrecortadas aqui e ali com algum ruído desnecessário - , onde se destacam a aposta no ecletismo e a construção do nosso bonito Pavilhão João Rocha, entre outras. Infelizmente, para além do equilíbrio instável do clube do ponto de vista económico que marcou os seus dois últimos anos e certamente lhe terá provocado um aumento de crispação, uma certa exuberância irracional e culto de personalidade de que sempre dei conta prejudicou irremediavelmente o seu segundo mandato e fez descer a nota de apreciação global minha e dos Sportinguistas em relação ao seu trabalho. (Mais recentemente, a forma contundente como se referiu a membros do seu antigo CD, que com ele estiveram até ao último dia, também não me caiu bem, por muito que procure justificação no calvário que certamente terá passado.)

No entanto, porque nunca gostei de me enganar a mim próprio, admito que para muitos sócios a sua expulsão de sócio (mais do que a destituição, na minha opinião) tenha tido raiz profunda na percepção generalizada dos acontecimentos de Alcochete. Dito isto, pesando tudo nos pratos da balança, essencialmente devido à linguagem desbragada e clima de intolerância que consigo fez doutrina no Sporting na recta final e à sua interpretação sui-generis dos Estatutos, gostaria de deixar bem claro que não voltaria a votar em Bruno de Carvalho para presidente do clube.

 

Ouvindo ontem Bruno de Carvalho na TVI, acho possível o surgimento próximo de um movimento que defenda a reintegração plena de todos os sócios do Sporting que não foram considerados culpados no Julgamento de Alcochete. Isso seria válido para Bruno de Carvalho como também para Carlos Vieira e restantes elementos suspensos do anterior CD, e até provavelmente beneficiaria de forma mais lata Godinho Lopes, expulso anteriormente na sequência de AG marcada para o efeito após um processo disciplinar sobre outra matéria instaurado pelo CFD presidido por Jorge Bacelar Gouveia. Ao mesmo tempo, todos aqui sabem que tomei a decisão, ponderada, de concorrer a eleições no Sporting assim que elas forem marcadas, uma declaração de interesses que considerei fundamental como forma de transparência e de interpretação a montante (sem instrumentalização) do que aqui escrevo, mas também um sinal claro de que não confundo solidariedade com cumplicidade face ao caminho que tem vindo a ser percorrido. Assim, entendo que não me devo pronunciar sobre a matéria de reintegração. É que se porventura me manifestasse contra a mesma, logo alguém viria clamar que tal se deveria a temer uma oposição futura nas urnas. Por outro lado, se a minha opinião fosse a oposta, ficaria a ideia de menor respeito da minha parte acerca das soberanas decisões dos sócios que se pronunciaram anteriormente em AG convocada para o efeito. Por isso aqui digo que aceitarei sem condicionamento de opinião da minha parte e com humildade qualquer decisão que em total liberdade caiba em consciência aos sócios tomar, caso tal venha a ser suscitado. 

 

Enfim, deixo aqui expresso o meu sentimento. Tudo o que pretendo é que o superior interesse e razões do Sporting prevaleçam sobre os meus e/ou os de qualquer sócio e que tal permita o tal efectivo virar de página que ajude a garantir a perenidade do clube como sempre o conheci e não nas mãos de um qualquer investidor. VIVA O SPORTING!!!

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28
Mai20

O dia em que Peyroteo revolucionou as probabilidades


Pedro Azevedo

Domingo, 25 de Abril de 1948. O Sporting deslocava-se à Estância de Madeira, campo do Benfica, e precisava de ganhar por 3 golos de diferença (na primeira volta fora derrotado em casa por 3-1) para poder ser campeão. Cândido de Oliveira era o Director Técnico e a ele cabia definir a táctica para o jogo, enquanto Robert Kelly orientava a equipa no campo. Apesar de o Sporting precisar de uma vitória robusta, Cândido optou por uma estratégia mais conservadora para o jogo, recuando Travassos para o meio campo. Deste modo o Sporting apresentava-se num 3-3-4 em detrimento do tradicional WM de importação inglesa (criado por Herbert Chapman no Arsenal). 

 

Antes do jogo havia algumas nuvens cinzentas no balneário leonino: embora os jogadores não soubessem, na véspera Mestre Cândido havia sido posto em causa por dirigentes do Sporting que o confrontaram devido à táctica escolhida, desconfiando do seu benfiquismo. Dado o atraso resultante da reunião e enfadado pela ofensa à sua honorabilidade, Cândido de Oliveira acabaria por adiar a prelecção que habitualmente ocorria na sede do clube no dia anterior aos jogos, marcando-a para pouco antes do início da partida. Por outro lado, Peyroteo, o melhor goleador de todos os tempos, passara mal a noite com um síndrome gripal que lhe provocara febre alta. 

 

No entanto, Peyroteo, nascido em Humpata, distrito de Huíla (Angola), viria a ser uma vez mais providencial. Após uma primeira meia hora de estudo mútuo, o ponta de lança colocou os leões em vantagem. E, ainda antes do intervalo, bisou. Regresso dos balneários e Peyroteo volta a marcar. E do hat-trick passou a póquer, antes de um Espírito Santo nesse dia pouco miraculoso finalmente conseguir reduzir para 4-1, o resultado final. Uma tarde de glória para os leões e seu avançado-centro.

 

Vinte e seis anos antes de Salgueiro Maia cercar os ministérios do Terreiro do Paço e forçar a rendição de Marcello Caetano no Quartel do Carmo, Peyroteo subjugou a Estância de Madeira e o Benfica. Em comum, ambos tinham o compromisso com a honra, a humildade, o sentido do dever e a eficácia. O Sporting acabaria por vencer esse campeonato de 47/48 que ficaria para a história como o "Campeonato do Pirolito", berlinde (pequena bola) que se podia encontrar dentro das garrafas de gasosa da época. E foi por apenas uma bola (diferença de golos nos jogos entre si) que o Sporting ganharia, pois no cômputo das 26 jornadas o Benfica terminaria igualado na liderança com 41 pontos. Cândido de Oliveira acabaria por apresentar a demissão a seguir ao jogo, mas um pedido de desculpas do dirigente César Vitorino, que mostrou a intenção de demitir-se caso Cândido saísse, acabaria por o fazer voltar atrás na decisão. Peyroteo só jogaria mais uma época, retirando-se numa altura em que ainda estava na plena posse das suas formidáveis qualidades atléticas. Para a história ficariam os seus 6 títulos de campeão, 4 Taças de Portugal, 7 Campeonatos de Lisboa e a melhor média de golos por jogo (1,68) em campeonatos nacionais de todo o mundo, numa lista onde Pelé aparece na 10ª posição. Pelo Sporting, em jogos oficiais, marcaria 531 golos em 328 jogos. Considerando também as partidas amistosas e de selecções, Peyroteo anotaria 693 golos (428 jogos). Com uma regularidade espantosa com o golo, Peyroteo fez do Belenenses (65) e Benfica (64) as suas principais vítimas. Ao Porto, o outro grande da época, marcaria em 33 ocasiões. O seu maior número de golos num só jogo ocorreu em 41/42. O mártir foi o Leça, que saiu do Stadium com 9 golos do nosso Matador e um resultado final (14-0) que ainda hoje é recorde do campeonato nacional. Ao Boavista marcou 8 golos na época da sua despedida. Por 3 vezes marcou 6 golos e em 13 ocasiões efectuou 5 remates certeiros num jogo. Os Póqueres foram mais comuns (17). Uma lenda!

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27
Mai20

O óbvio ululante


Pedro Azevedo

Conselho Fiscal e Disciplinar deixa sério alerta: "processo de redução de custos não pode ser interrompido e terá de ser reforçado". 

 

Gostaria de perguntar ao Dr Baltazar Pinto a que redução de custos se refere. É que não se pode parar algo que ainda não arrancou. Temo porém que seja fruto de mais um trabalho invisível da Direcção do Dr Varandas (os "célebres" 18 milhões por ano de cortes que "prepararam" a SAD para o advento da Covid-19, referenciados no documento de "visão" estratégica), tão invisível que não se vê nos sucessivos R&C até 31 de Dezembro de 2019. Não se trata só de investir e gastar menos, mas sim de investir e gastar menos e melhor, o que dada a profusão de erros no mercado e falta de aposta numa geração entre os 20 e os 24 anos proveniente da Academia não se me afigura difícil. Aquilo que o CFD deveria ter dito abertamente, elucidando assim devidamente os Sportinguistas, é que o clube foi apanhado na Covid-19 com um défice de exploração antes da venda de jogadores surreal (mais de 70M€), o mais alto da sua história, que os Fornecimentos e Serviços Externos estão igualmente a nível record, o valor do Activo Intangível (plantel) tem vindo a decrescer e a dívida a Fornecedores estava em Dezembro de 2019 nos 57M€, dos quais 51M€ são a pagar num prazo até 1 ano. Isso, sim, seria um serviço prestado aos Sportinguistas: a verdade nua e crua. Porque, se todos souberem onde estamos, mais fácil será reunir consenso sobre o caminho a seguir. Além de que, não é possível determinar um objectivo se dúvidas subsistirem sobre o ponto de partida. Entretanto, passaram 20 meses desde que Frederico Varandas herdou a pasta de José de Sousa Cintra. 

 

P.S. Deixo à consideração do comunidade científica como é que tanto trabalho invisível produz uma visão (estratégica, dizem eles)...

25
Mai20

Os Salteadores da Alma Perdida


Pedro Azevedo

Em cada Sportinguista há um arqueólogo em busca da alma perdida, uma identidade que outrora nos tornou invencíveis e se extraviou algures no inexorável tempo. 

 

A história diz-nos que essa alma foi mais alimentada por vitórias do que propriamente pela força de uma idiossincrasia suficientemente vigorosa que nos unisse. Ora, não ganhando campeonatos de forma consecutiva desde 1954 e não vencendo em ano ímpar a partir de 1953, os Sportinguistas foram perdendo a sua identidade colectiva. O que resta hoje são fragmentos de memórias individuais de grandeza que urge serem colados a fim de formarem um todo que depois de reunido se pretende superior à soma das partes. 

 

Sejamos francos, o Sporting é um enorme clube, mas não está um grande clube. Ainda assim, é muito mais importante ser do que estar, pois isso é o nosso ADN, o que dá sentido à nossa existência em todos os momentos. Nesse sentido, ser Sporting agrega até o verbo que transmite identidade com o substantivo que denomina a nossa tribo. E é pela nossa tribo que devemos começar. O que é um ser do Sporting? Se pensarmos bem, existem demasiados clãs nessa tribo e isso, ao longo dos anos, tem fragmentado o nosso outrora ideário comum. Se não vejamos: já fomos um clube eclético, deixámos de o ser e voltámos a sê-lo, os sócios ora são vistos como sinal de vitalidade ora como um empecilho, há quem queira entregar o futebol a investidores privados, a formação não passa de um slogan tantas vezes apregoado e tão pouco cumprido que mais se assemelha a um placebo destinado a criar um "wishful thinking" no sócio e adepto. E estamos sempre a recomeçar, num sem-propósito, como se de um castigo de Sísifo se tratasse.

 

Ao contrário do que se possa pensar, num clube tantas visões estruturais diferentes não são um sinal de vitalidade. Pelo contrário, são um sinal de fraqueza. Há coisas que não devem ser postas em causa, pois não só confundem as pessoas e atentam contra aquilo que deveria ser a nossa identidade comum como abrem as portas à desagregação e ao radicalismo. É que um clube sem referências está exposto a tudo aquilo que configura o pior da nossa sociedade. E esse é o Sporting dos nossos dias, um clube sem uma Cultura corporativa forte capaz de bloquear determinado tipo de comportamentos, em que o presidente, em vez de doutrinar pelo exemplo e aproximar as pessoas do centro, é ele próprio, por instinto de preservação pessoal, fomentador do maniqueísmo e da guerra de trincheiras que não criou.

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19
Mai20

Gentle Reminder

A frustração de a minha razão de nada servir ao Sporting


Pedro Azevedo

https://castigomaximo.com/uma-oportunidade-perdida-183792

https://castigomaximo.com/uma-nau-a-deriva-183820

https://castigomaximo.com/o-canario-na-mina-de-carvao-192636

 

Triste, muito triste! O nosso Sporting sempre adiado, emparedado entre lendas e narrativas e trincheiras várias. Pouco adianta agora vociferar ou rasgar as vestes, as coisas têm um tempo para ser ditas e eu já o usei. E sobre o dia-a-dia do Sporting em silêncio permanecerei aqui no blogue. Até ao dia em que aos sócios for anunciado que se poderão pronunciar nas urnas. 

18
Mai20

O meu Regime de Governo


Pedro Azevedo

Nos últimos dias tem-se falado de modelos de regime de governo no Sporting. Antes de mais, enquanto ponto prévio, gostaria de lembrar que a Sporting SAD, sociedade anónima cotada em bolsa, foi criada como forma de potenciar o futebol do clube através de captação de recursos financeiros e de uma gestão focada e profissional, ou seja, embora do ponto de vista formal tenha havido um efectivo spin-off corporativo a lógica que presidiu à criação da SAD não foi a separação do clube em dois, continuando o Sporting a ter modalidades e futebol (ainda que este através da SAD). É importante entendermos isso, pois esta situação é diferente de haver um grupo de empresas individuais que a dado momento, geralmente por motivos fiscais ou simplesmente por consolidação de contas, ficam sobre a alçada de uma holding, uma SGPS, a qual aparece mais tarde. Também seria diferente se o Sporting perdesse a maioria da SAD, situação em que provavelmente só o nome das suas equipas, o símbolo, as riscas verde-e-brancas da camisola e os calções pretos e, eventualmente, o nome do Estádio continuariam como sempre conhecemos, cabendo a uma administração nomeada pelo novo accionista maioritário a gestão da SAD. 

 

No Sporting existem 3 poderes: o poder executivo, personificado ctualmente no Presidente do Conselho Directivo, em 4 vice-presidentes e no restante CD (vogais); o poder "legislativo", que cabe à Assembleia Geral, onde os sócios aprovam Estatutos, elegem ou destituem Direcções, cujos trabalhos são presididos por PMAG e tem ainda 1 vice-presidente e 3 secretários; o poder de fiscalização (ou controlo), representado pelo Conselho Fiscal e Disciplinar, que aprova as contas e instaura processos disciplinares. 

 

Concentrando-nos no poder executivo, no Sporting foram eleitos 11 membros (mínimo 5, máximo 11) para o Conselho Directivo, presidente incluído, e ainda 2 suplentes (neste momento o CD já não pode estatutariamente substituir o 3º membro que se demitiu pelo que ficou reduzido a 10 elementos). O Sporting, como maior accionista da SAD, indica Presidente e vogais para o Conselho de Administração da SAD, sendo que a Holdimo, tendo uma participação qualificada, fez eleger 1 vogal. Até agora o Conselho de Administração era composto por 5 elementos, Presidente e 4 vogais, mas entretanto o Sporting fez aprovar em AG da SAD a alteração de 5 para 7 membros. A SAD tem igualmente uma MAG e um CF.

 

Neste exercício procurei explicar com a linguagem mais acessível possível a organização actual das sociedades. Mas o que me traz aqui é o meu entendimento sobre a forma de governo do Universo Sporting. Por aquilo que expressei no 1º parágrafo, o presidente do clube deve ser o presidente da SAD. Isso só por si não confere um cunho presidencialista ao modelo, e eu gostava de deixar isso claro. Desde logo porque a SAD pode ter um Chief Executive Officer (CEO), ficando o presidente como Chairman, contrabalançando-se assim os poderes, com o CEO a implementar a sua visão e as decisões colegiais do Conselho e o Chairman como salvaguarda dos interesses dos accionistas e, em particular, do accionista maioritário Sporting (deixo aqui claro que o Sporting deve ter sempre a maioria da SAD). No fundo, um modelo onde coabitam a estratégia (CEO) e a táctica (Chairman). Neste caso, geralmente existe formalmente uma Comissão Executiva que é liderada pela CEO (reuniões geralmente semanais), tendo o Chairman a incumbência de presidir ao Conselho de Administração (reuniões mensais). De todo o modo, o meu modelo também não é esse, podendo novamente supor-se um cunho presidencialista. Creio, no entanto, que não será assim. Passo a explicar: sendo presidente e CEO a mesma figura impõe-se a existência de um Chief Operating Officer (COO) - Director Técnico (profissional com vasta esperiência no sector) capaz de optimizar a Formação (visão do presidente/CEO), que irá ajudar à criação de um modelo de negócio-futebol sustentável, possuindo ainda competências de liderança e conhecimentos que lhe permitam superintender Gestão de Activos e Scouting - que ficará a acompanhar mais de perto o negócio futebol (profissional e de formação).

Não esquecer que o orgão é colegial e nele ainda coabitarão a área financeira, jurídica e comercial (todos executivos nesta nova realidade de 7 membros do CA). Para além disso, a existência de uma área de Compliance independente e um Compliance Officer, em estreita ligação ao Conselho Fiscal, irá garantir que as boas práticas de gestão serão asseguradas, nisso incluindo regras e procedimentos de escrutínio de transferências, de prevenção de conflito de interesses e de branqueamento de capitais, etc. Esse é o meu modelo para o Sporting, e creio não poder dizer-se que se trate de um modelo presidencialista lato sensu.

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17
Mai20

SCP vs PES 2000


Pedro Azevedo

Estes tempos mais recentes vieram mostrar à evidência que para a maioria dos sócios o Sporting que interessa é aquele que vai a campo. Pese embora o meu activismo presente, que tem raiz profunda na preocupação que nutro pela perenidade do clube, comungo desde tenra idade desta forma de estar dos meus consócios. 

 

Tanto é assim que às vezes dou por mim a pensar no Universo Sporting (futebol) como o "onze" que semanalmente se apresenta no relvado. Nessa linha de concepção, o sócio é o guardião do clube, preservando-o directamente com a sua militância ou através da Mesa da Assembleia Geral (representa todos os sócios). A linha defensiva é constituída pelo back office (operações), auditoria e controlo interno, sistemas de informação e compliance (e Conselho Fiscal e Disciplinar), a quem cumpre assegurar que a equipa se mantenha em jogo, garantir que a meta definida de regras e procedimentos não é violada e sair para o ataque através do processamento de informação de gestão. Na frente temos o front-office, formado por Estrutura para o futebol, equipa técnica e jogadores, de cujo sucesso vai depender o crescimento do clube em termos de proveitos, nomeadamente a nível de bilhética, merchandising, patrocínios, publicidade e DireitosTV. A linha média é o cérebro da equipa, a zona nevrálgica onde se define a estratégia (política desportiva) que pode ajudar a ganhar ou perder campeonatos, doutrinam-se atitudes comportamentais positivas e baseadas nas razões do bem-maior clube (e não de quem circunstancialmente o serve), convoca-se e fomenta-se a mobilização de sócios (e adeptos) e zela-se por boas práticas de gestão. Os titulares são os membros executivos do Conselho de Administração ou, se quiserem, a Comissão Executiva. A eles cabe definir os pilares estratégicos que vão suportar toda a actividade e os recursos (humanos e materiais) necessários para o fazer. O "Delegado ao jogo", que em sentido literal antes dos jogos reúne com o juíz (da partida), num sentido mais figurativo e ilustrativo da nossa Organização é o departamento jurídico.

 

Esta semana o Jornal Sporting apresentou a nova visão estratégica do Sporting. Para além da interacção com o sócio, que soa um pouco a interacção com o cliente, são mencionados como pilares as Pessoas, Estrutura e Sistemas de suporte, a base, segundo o referido documento, maioritariamente invisível aos sócios que permitirá a optimização do último pilar (interacção com o sócio). Confesso que esta visão me parece pobre e desfasada dos reais problemas do Sporting, os quais me parecem residir na sustentabilidade da política desportiva (modelo económico do negócio futebol) e financeira, Cultura corporativa do clube e interacção não só dos sócios com o clube mas também entre eles e nos Princípios de governo e boas práticas de gestão (SCP). Ora, eu não consigo ver (daí talvez se ter chamado de invisível) nos pilares anunciados a forma como se atingirão objectivos que estejam de acordo com os pergaminhos do clube e garantam a sua perenidade. Aliás, o que me parece é que a famoso folha de Excel que tudo comporta foi substituída pela PlayStation (PES 2000) - os 3 pilares - , tudo se passando num ambiente virtual desconexo com a realidade como presentemente a vemos. Assim sendo, na minha opinião, a possibilidade de os resultados desta visão estratégica virem a revelar-se, também eles, invisíveis aos sócios é muito grande. Lamento, por isso, que se continue a ignorar um conjunto de ideias que visam objectivos concretos e visíveis para todos e que tais ideias não estejam hoje no centro de discussão no clube.

 

P.S. Não posso deixar de lamentar a referência que é feita no referido documento a cortes de massa salarial de cerca de 18 milhões de euros por ano efectuados por esta Direcção e sua contribuição para prevenir a perenidade do clube em cenário de emergência (Covid-19). E porquê? Porque, simplesmente, esses números não têm qualquer correspondência com os R&C conhecidos até Dezembro de 2019, mesmo considerando o efeito das indemnizações pagas (6,5M€ só no 1º Semestre de 2019/20). Aliás, na comparação que no último R&C é feita entre Dezembro de 2019 e Dezembro de 2018, (semestres) a descida nos Custos com Pessoal é inferior a 1M€ (741.000 euros, para ser exacto).

14
Mai20

Foi bonita a festa!


Pedro Azevedo

A exigência máxima começou logo na pré-época com um estágio massacrante do ponto-de-vista físico para todos os jogadores. Schmeichel, que abandonara no Verão o Manchester United com o título de campeão europeu e rumara a Portugal à procura do sol e de retemperar forças, era um dos que mais se queixava. A verdade é que essas cargas viriam a ser providenciais durante a época, com a equipa a exibir grande intensidade de jogo, facto que ainda hoje granjeia a Materazzi, que não duraria muito em Alvalade, o reconhecimento pelo seu papel no título. Depois veio Inácio, e com ele a afirmação de Vidigal e de Acosta. O plantel era curto, a substituição típica envolvia Pedro Barbosa e Toñito. Na reabertura de mercado chegaram César Prates, André Cruz e Mbo Mpenza e a equipa melhorou. As correrias pela esquerda de De Franceschi, os livres de André Cruz, os golos do ressuscitado Acosta e o dúo dinâmico do meio campo defensivo (Duscher e Vidigal) iam-nos mantendo na luta. O Sporting dava espectáculo e Schmeichel era um espectáculo dentro do espectáculo com as suas "manchas" e as broncas que dava ao pobre do Rui Jorge (grande garra). O Sporting era uma equipa compacta, dirigida por um treinador (Inácio) que conseguiu expremer os recursos à sua disposição ao máximo. Delfim caíra em batalha, Edmilson também, mas havia ainda Beto, Bino e Ayew. Chegou então a altura de salvar o primeiro "match-point" da época, a recepção ao Porto, o até aí líder da competição. Perder era proibido, empatar seria mau, mas André Cruz trocou a aritmética pela trignometria e meteu a bola no ângulo. De seguida, Acosta teve um Secretário a levar-lhe a bola até à bota e não desmereceu o seu epíteto de Matador. Estávamos à frente do campeonato. Por aí continuámos até à recepção ao Benfica, o primeiro "match-point" a nosso favor para sermos campeões. A festa foi rija, mas foi antes. Almoço alargado e bem regado nas imediações do estádio, na ilusão que tudo acabasse como naqueles contos de capa e espada em que os bons no fim vencem. Mas um toque de Sabry deu-nos uma inesperada estocada no estômago e o champanhe regressou à despensa. Uma semana depois fui a casa do Zé. Éramos talvez uma dezena, nervos em franja. Ao intervalo, zero-a-zero. O Porto não fazia melhor em Barcelos, e isso aliviava-nos um pouco o sobressalto. Até que o André afinou aquele pé canhoto mágico que Deus lhe deu e o Jorge Silva foi buscar a bola dentro das redes. Explosão na sala, havia que aliviar a tensão nervosa e vencer a angústia. Logo de seguida, o Ayew apanha um passe do De Franceschi e mete-a dentro da baliza salgueirista. Mais uma erupção, mas 18 anos de contrariedades ainda nos deixavam desconfiados. A certeza da vitória só surgiu quando o Schmeichel fez uma espargata à andebol e negou o golo ao infortunado Feher. Começou a comemoração e os golos de Duscher e André Cruz (novamente de livre directo) já foram saboreados com outra tranquilidade. Agora, a hora era de marcar restaurante. Ouvimos dizer que a equipa ia para a Câmara Municipal e fomos todos jantar ao Pinóquio. Juntou-se um saudoso amigo que, supersticioso e sentindo-se incapaz de aguentar tanta emoção, se refugiara num cinema durante o jogo. Muito nos rimos enquanto ele nos contava as infrutíferas tentativas de se dissociar do que se passava em Vidal Pinheiro, entre gritos de golo à sua volta a entrecortar a fita. Do Pinóquio seguimos para a Câmara, e da Câmara fomos em romaria atras do Iordanov. Até ao Marquês. A noite foi longa e ainda nos unimos a outros amigos que optaram por ir a Alvalade, que a festa aconteceu em estéreo mas duas rectas paralelas encontram-se sempre no infinito... da noite. A noite que não queríamos que acabasse. Nunca. Ai que saudades, meu Deus, que saudades... Há 20 anos atrás o Sporting sagrava-se campeão nacional, 18 anos de espera depois. Soube-me pela vida!

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14
Mai20

Os "americanos" à porta de Bagdad


Pedro Azevedo

Se o 13 de Maio nos revelou um novo Pastorinho, a 14 produziu-se o mais recente milagre de multiplicação dos pães. A capa de hoje do Record é um atentado à inteligência de sócios e adeptos do Sporting e a confirmação do não reconhecimento da grave situação actual por quem nos dirige. Só assim se compreende que a SAD do Sporting continue em negação e ofereça a mirífica promessa de sumptuosos jantares no Gambrinus a quem não tem dinheiro para comer, num momento em que os "americanos" já estão às portas de "Bagdad". Uma capa alternativa? Maior défice de sempre de exploração da SAD antes da venda de jogadores, queda acentuada do valor do activo intangível (plantel), Custos Financeiros a subir, rúbrica de Fornecimentos e Serviços Externos e dívida a Fornecedores em níveis históricos, rácio de Custos com Pessoal/Proveitos Ordinários a aproximar-se dos 100% (5º maior de sempre). Já para não falar de uma época desportiva com um dos piores resultados da nossa história. A maior garantia de um caminho virtuoso é sabermos onde estamos. 

 

P.S. A "eficiente gestão de recursos, concretizada através do corte de 18 milhões de euros por ano em massa salarial" - R&C depositados na CMVM: Custos com Pessoal (68.9M€ em 2018/19 vs 73.8M€ em 2017/18; 35.1M€ no 1º Semestre 2019/20 vs 35.8M€ no 1º Semestre 2018/19 vs 37.6M€ no 1º Semestre de 2017/18 vs 31.5M€ no 1º Semestre de 2016/17 vs 23.4M€ no 1º Semestre de 2015/16 vs 12.1M€ no 1º Semestre de 2014/15). Partindo do pressuposto que as contas estão correctas, gostaria assim que me explicassem onde está o corte de 18M€ por ano ("determinante para a capacidade de resposta ao Covid-19") anunciado no Jornal Sporting e no Record no capítulo que diz respeito à consolidação financeira e estratégia desportiva iniciadas em Setembro de 2018. É que uma coisa é o que deveria ter sido feito - curiosamente, em Julho de 2018 escrevi no EnF que os nossos Custos com Pessoal deveriam imediatamente baixar para os 50M€ por ano - , outra é a realidade patente nos Relatórios e Contas da SAD antes da pandemia. No que diz respeito ao clube e quotizações de sócios, o R&C da SAD, referente ao Primeiro Semestre (Dezembro de 2019) de 2019/20, indica que o saldo devedor do clube à SAD aumentou 10.2M€ em apenas 6 meses (para 14.2M€), o que poderá ser uma pista. 

13
Mai20

Na Dinamarca fazem-se Hamlets sem ovos


Pedro Azevedo

Dois clubes dinamarqueses mostram ao mundo como se podem vencer dificuldades quando nos concentramos nas soluções em detrimento de nos deixarmos abater pelos problemas. No caso do Aarhus, o clube da costa leste da Dinamarca irá montar 22 ecrãs gigantes no interior do seu estádio durante a realização dos jogos, convidando os adeptos a inscreverem-se gratuitamente no Zoom de forma a aparecerem num dos quadradinhos de um ecrã e assim poderem manifestar-se ruidosamente no apoio à sua equipa, procurando assim o clube replicar da melhor forma possível o ambiente nas bancadas de um jogo de futebol. Já em relação ao Midtjylland, o ênfase estará no lado de fora do estádio. Assim, o clube da cidade de Herning anunciou a montagem de ecrãs em redor do seu estádio e a criação de um drive-in (com comida e bebida?) onde os adeptos poderão assistir às partidas da sua equipa no conforto e segurança do seu automóvel, buzinando de cada vez que quiserem expressar o seu apoio. Em ambos os casos é espectável que os clubes venham a contar com patrocínios que os compensem dos custos em que irão incorrer. Um exemplo de como a necessidade aguça o engenho das mentes inconformistas. 

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11
Mai20

O mais importante são as pessoas


Pedro Azevedo

Um enorme clube como o Sporting Clube de Portugal tem ao longo dos anos renovado e ampliado as suas infraestruturas. A título de exemplo, só neste milénio nasceram a Academia de Alcochete (2002), o Estádio de Alvalade (2003) e o Pavilhão João Rocha (2017), equipamentos que nos permitiram dar um salto em frente em termos de condições de trabalho dos atletas e de comodidade dos sócios e adeptos. Houve também inúmeros projectos (e seus ideólogos)  para o clube, uns apenas desportivos, outros que procuraram conciliar a vertente desportiva com a empresarial. Mas é importante não esquecer as pessoas que ao longo dos anos, laborando como formiguinhas e na maior parte dos casos longe dos holofotes, muito contribuíram para a grandeza do clube e valorização dos seus atletas. Por isso, hoje singelamente homenageio Salazar Carreira, Moniz Pereira, Reis Pinto, Aurélio Pereira, César Nascimento, Osvaldo Silva, Manolo Vidal, José Manuel Torcato, Sousa Marques, Ricardo Ferraz, Hermínio Barreto, Gilberto Borges e tantos outros que se confundem com a história gloriosa do Sporting Clube de Portugal. Porque na vida o mais importante são sempre as pessoas, especialmente aquelas que, muitas vezes com escassez de meios, continuam tentando mesmo quando parece não haver qualquer esperança de sucesso, são capazes de ultrapassar inúmeros obstáculos e vencem. Discretamente, sem nunca sentirem necessidade de se porem em bicos de pés, como grandes que são. Como o Sporting. 

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10
Mai20

Há 1 ano...


Pedro Azevedo

Há mais de 1 ano, em 18 de Março de 2019, escrevi um texto com o título de "Uma verdade inconveniente". Por isso, a nossa realidade presente não me surpreende de todo, o que me causa sempre espanto é os Sportinguistas não verem as coisas com clarividência no seu devido tempo, algo que na nossa história nos poderia ter poupado a grandes tormentas. Perante o actual estado de coisas já seria de esperar a emergente narrativa favorável à venda da SAD, cenário que não desejo de todo para o meu clube e que na caixa de comentários do Post anterior explico porque não considero ser a melhor opção (ou sequer opção). No entretanto, deixo aqui por extenso esse tal texto de opinião alinhavado há mais de 1 ano atrás, esperando que em tempo de "vacas magras" não olhem só para as "gordas":

 

Uma verdade inconveniente

 

"Todos queremos uma equipa de futebol competitiva, mas é preciso dizer que isso não pode continuar a ser tentado com os orçamentos milionários de 2017/18 e desta temporada. De facto, só entre o populismo e a quimera é que se pode admitir que a SAD tenha gastos gerais administrativos na ordem dos 110 milhões de euros a que, para efeito da Demonstração de Resultados, se devem acrescentar 28 milhões de euros de amortizações. Tudo somado, são 138 milhões de euros a pesar negativamente nos Resultados. E os Proveitos (Receitas/Rendimentos), perguntará o Leitor? Ora, em termos de Proveitos Operacionais (excluindo vendas de jogadores) a Sporting  SAD registou na época passada um valor de cerca de 92 milhões de euros. Adicionalmente, se a esse montante descontarmos 26 milhões de euros provenientes da participação na Champions League, então os Proveitos Operacionais seriam apenas de 66 milhões de euros, isto assumindo que não teríamos uma queda importante a nível de bilheteira. Ora, fazendo uma conta simples de subtracção, conclui-se que para a SAD ter um Resultado zero precisa, com este tipo de orçamento, de vender jogadores no valor de 72 milhões de euros. Esta é uma verdade certamente inconveniente para alguns, mas é a realidade pura e dura. Como tal, para não termos como noutros tempos de alienar desordenadamente os melhores jogadores do plantel há que cortar na classe média/baixa do plantel, ficando apenas com os jogadores de top e de qualidade alta e recorrendo à Formação para completar o quadro de jogadores. 

 

Imaginando um orçamento de custos com pessoal de 50 milhões de euros, então mesmo sem Champions teríamos um défice, antes de venda de jogadores, de 48 milhões de euros, algo que com os Proveitos da Liga Europa baixaria para cerca de 40 milhões de euros. Com a Champions, o défice suavizar-se-ia para um valor à volta de 20 milhões de euros.  

 

Há decisões muito importantes a tomar brevemente para resolver o problema de tesouraria, mas há opções ainda mais relevantes a terem de ser seguidas no final da época no que concerne à definição do plantel para 2019/20. Todos sabemos quem são os 8/9 jogadores de qualidade que compõem o plantel pelo que temos de tentar colocar aqueles que não são predominantes. E conseguir um valor razoável por eles. Se possível, um valor igual ou superior àquele que pagámos por eles, situação que nos ajudaria a reduzir o "gap" para 2019/20.

 

Há quem defenda parcerias e outras situações, mas isso implicaria a perda de parte dos passes dos jogadores e influência desmedida dos empresários e/ou fundos de investimento, algo que já experimentámos no passado com os resultados desastrosos que todos conhecemos. Como tal, deveremos pensar sim numa estratégia que assente no desenvolvimento de jogadores jovens enquadrados por uma massa crítica de atletas de indiscutível qualidade, tudo supervisionado por um treinador que não tenha objecções nem receios em apostar na nossa Formação. E sim, temos de fazer muito melhor com menos quantidade, até porque esta não é de todo sinónimo de qualidade. Se assim fosse, China, Índia, Estados Unidos e Indonésia, os 4 países mais populosos do mundo, seriam campeões mundiais crónicos no futebol, mas não é isso que acontece, pois não? À laia de exemplo, O Sporting de Braga tem custos com pessoal de 18 milhões de euros e consegue ser competitivo. O que é preciso é implementar um processo, haver um pré-diagnóstico sobre os jogadores da Formação que nos interessam, uma racionalização dos custos e apostas cirurgicas, com critério, em jogadores de indiscutível valor intrínseco e que venham adicionar qualidade à nossa equipa principal. 

 

Meus caros, se isto não for feito rapidamente daqui resultará o marasmo. Estamos a esgotar os créditos todos e se perdermos mais tempo acabaremos a vender ao desbarato os Bruno Fernandes, Acuña (esteve por um fio em Janeiro), Coates e afins, sómente para pagar salários. Chegados a esse ponto, aí sim, as esperanças desvanecer-se-ão. Se é verdade que esta Direcção não pôde actuar no início da época, também é um facto que a sua actuação no mercado de Inverno levanta várias questões. Por outro lado, o treinador não está a saber tomar as opções que nos conduziriam à sustentabilidade económico/financeira. Se daí resultasse que os resultados desportivos fossem muito bons, então aconselhar-se-ia um compasso de espera, mas infelizmente também aí as coisas não estão a correr bem, pelo que a situação caminha para se tornar insustentável. 

 

Esta é uma verdade inconveniente que resulta da simples leitura de um Relatório e Contas. Os sócios do Sporting que façam as suas próprias contas."

 

Já agora, acrescento também "E depois do adeus...", artigo de opinião escrito em 16 de Julho de 2019. Aqui vai:

 

E depois do adeus...

 

"Olhando para a realidade como ela é, e não para a percepção que se impõe dela - raramente limpa, como oposto do imaginado na citação de "Doors of Perception" de William Blake, e desejavelmente não quimicamente alterada, ao contrário do que propõe Aldous Huxley no livro homónimo - , há toda uma geração de jogadores que o Sporting perdeu porque teve treinadores principais que nunca olharam devidamente para eles. Ou se olharam, não viram, como diria o Dr Pôncio. Demiral, Domingos Duarte, Palhinha, Francisco Geraldes, Ryan Gauld ou Mama Baldé são apenas alguns exemplos. Quem não concorda com esta teoria geralmente apresenta um argumento: se esses jovens não jogaram com diversos treinadores, então é porque não têm categoria suficiente para a primeira equipa. Na minha opinião, esse argumento é frágil porque toma esses treinadores como os detentores da verdade absoluta. Porém, uma análise rápida permite concluir que falharam no passado nas avaliações que produziram. O caso mais flagrante será o que se passou com Bernardo Silva no Benfica quando Jorge Jesus era o seu treinador. Para além de não ter tido oportunidades, rezam as crónicas da época que JJ queria fazer dele um lateral esquerdo, uma invenção digna de mostra à Academia Real das Ciências. Outro caso é o de Demiral. O turco pode não ter convencido Jesus, ou mesmo Peseiro que o despachou de volta ao país de origem, mas não teve dificuldades em receber a aceitação de Allegri, que recomendou a sua contratação, ou de Sarri, que a ratificou por 18 milhões de euros quando chegou a Turim, dois treinadores de alto gabarito do futebol mundial. 

 

Outro problema de erro de paralaxe é a avaliação da nossa Formação não contemplar muitas vezes o valor relativo das coisas. Sentencia-se negativamente o valor do jogador A ou B proveniente da Academia, mas esquecemo-nos de avaliá-los comparativamente com os jogadores que vamos contratando no mercado. Pegando só nos casos mais recentes, eu não tenho dúvidas de que Eduardo (24 anos) mostrou qualquer coisa de distintivo no Belenenses, mas isso não foi mais do que aquilo que Geraldes (tem a mesma idade) exibiu no Moreirense - para quem já se esqueceu, destruiu o Benfica numa semi-final da Taça da Liga - ou no Rio Ave (11 assistências em 17/18) quando era ainda mais novo. Outras comparações podem mesmo estabelecer-se no desempenho observado em Alvalade: Matheus Pereira na época 15/16, aos 19 anos de idade, fez 18 jogos pela equipa principal, nos quais marcou 5 golos e produziu duas assistências, números em média por jogo semelhantes aos obtidos a época passada por Diaby (27 anos), o qual custou 5,5 milhões de euros. Simplesmente, essa aposta não teve continuidade para lá de uns lançamentos fetiche em jogos contra o Porto. E isto para não falar em Misic, Alan Ruiz, Elias, Markovic, Campbell, todos certamente muito fluentes em mandarim, ou, mais recentemente, Ilori ou Borja, que todos juntos custaram muito dinheiro em transferências, comissões e ordenados e não mostra(ra)m ser superiores a produtos da nossa Formação que ficaram em fila-de-espera eventualmente por não terem o guião correcto. Nesse sentido, é bom não esquecer que muitos daqueles produtos da nossa Formação de cuja carga agora nos queremos aliviar foram chamados de volta a meio da temporada de 2016/17 para esconder aquilo que foi um despautério de péssimas aquisições que redundaram no facto de 1 ano depois só Bas Dost ser titular, erro que desejo ardentemente não se esteja a repetir pois os melhores jogadores da equipa continuam a ser aqueles comprados em 2017/18 (Bruno, Acuña, Mathieu, Wendel).

 

Por fim, há uma ideia que à superfície aparenta fazer sentido que consiste em que já não há muito valor a apurar em jogadores da nossa Formação com idades entre os 22/25 anos e que as apostas devem ser feitas, sim, em jovens entre os 17 e os 21 anos provenientes da Academia. No entanto, quando vemos entrar um ainda lesionado Rosier (5M€ + Mama Baldé), percebemos que Thierry Correia poucas hipóteses irá ter. O mesmo acontece com a aquisição de Rafael Camacho (5M€?), continuando Elves Baldé a rodar fora de Alvalade e persistindo a interrogação sobre o futuro de Jovane, numa altura em que o Sporting tem uma hiper-inflacção de alas, o que até seria uma boa dor de cabeça se todos os adquiridos fossem de nível "top". 

 

O presidente do Sporting, Dr Frederico Varandas, sentenciou que havia défice de qualidade na Academia entre os 17-23 anos. Ninguém lhe perguntou se tal percepção se devia à sua convicção pessoal, à de técnicos especializados, ou se derivava de outras motivações. Por isso, à primeira vista, o número de jogadores da nossa Formação que se encontra em estágio é incongruente com esse ponto-de-vista. Porém, se virmos à lupa, verificamos que dadas as aquisições para médio defensivo observadas desde Janeiro (Doumbia, Matheus Nunes, Eduardo) dificilmente Daniel Bragança terá uma oportunidade, ele que ainda nem se estreou no estágio. O mesmo se passará com as opções nas alas, analisando os investimentos em Camacho e Plata. Haveria, no entanto, aqui uma boa oportunidade para os defensores da rotação por "buckets" etários mais baixos: vendia-se Borja (26 anos), aquele jogador a quem a meio do caminho parece faltar corda e que agora dizem estar super-hiper valorizado pela ida à selecção colombiana, e dava-se uma oportunidade a Abdu Conté, ou Nuno Mendes, de aprender com Marcos Acuña. Igualmente, porque já tem 26 anos, fazia-se o "write-off" de Ilori e punha-se Eduardo Quaresma (17 anos) a crescer ao lado dos consagrados Mathieu, Coates e Neto, podendo jogar na Taça da Liga e em alguns jogos da Taça de Portugal.  

 

Uma última reflexão, que repete uma outra que publiquei no "És a nossa Fé" em 1/9/2018, com o título de "E depois do adeus": "nenhum clube tão assiduamente, e na praça pública, trata os seus atletas como activos como o Sporting. Não estamos a falar de acções nem de obrigações, nem sequer de sobreiros mas sim de um outro tipo de seres vivos, com pensamento e vontade própria. No dia em que pensarmos o clube não como um entreposto de compra/venda de jogadores, mas sim como um clube de futebol que quer manter os seus melhores jogadores, rendibilizando-os do ponto-de-vista desportivo, financeiro (via proveitos ganhos com conquistas desportivas) e económico (merchandising assente nos feitos dos jogadores) estaremos mais perto de uma cultura de clube vencedora e de um modelo de Organização onde impere o respeito entre todas as partes. No entretanto, continuaremos a dizer sim a défices de exploração constantes, proliferação de importação de jogadores para as mesmas posições e outros desvarios que nos levarão, em pouco tempo, a consumir os proveitos inerentes ao contrato com a NOS. Depois, acordar será tarde." 

 

Parece ainda estar actual, não é? Ora, de forma a podermos manter os nossos melhores jogadores, ou vendê-los apenas por preços irrecusáveis, não se podem desperdiçar recursos - escassos na economia - em compras na classe média/baixa do futebol mundial. Para isso, complementa-se o plantel com a Academia, onde investimos uns milhões de euros anuais em infra-estruturas, atletas e técnicos especializados que conhecemos bem. 

 

P.S. Se o Demiral tem ficado no Sporting, aceitando ir jogar para os sub-23 como foi noticiado que lhe foi proposto, não seria hoje também alvo da narrativa daqueles que não veem valor na nossa Formação? É bom lembrar que o turco foi preterido em função de Marcelo, um central que poucos meses depois foi dispensado. Um filme que se repete, em sessões contínuas, no "cinema" de Alvalade. Depois do fado (1ª arte) de 17 anos sem ganharmos o campeonato, a Tragédia Grega (2ª arte) desencadeada por aquela abominável peripécia de Alcochete, o quadro das nossas finanças (3ª arte), o Scouting que faz tábua-rasa da nossa Formação (escultura/4ª arte), o Estádio e suas "funcionalidades" (arquitectura/5ª arte) e as narrativas de criação de uma percepção sobre a Formação (literatura/6ª arte), eis a "Sétima Arte" leonina em todo o seu esplendor. Os sportinguistas têm mesmo de ser muito resistentes..."

 

É chegado o tempo de acordar o leão!!!

08
Mai20

Trocas de cromos e alfarrabistas


Pedro Azevedo

O futuro próximo do futebol vai assemelhar-se ao meu tempo de menino, dos bancos da escola, onde para completar as cadernetas de cromos trocávamos os repetidos entre os colegas. Ainda assim, ficavam sempre a faltar dois ou três cromos mais difíceis que, caso o mesada assim o permitisse, só uma visita ao alfarrabista permitiria colmatar (comprar carteirinhas de cromos não era solução, por ser caro, originar mais repetidos e não dar garantia alguma de solução do problema). 

 

O caso do Sporting será paradigmático disso. Com excesso de jogadores que não fazem a diferença, todos muito iguais entre si, e com uma necessidade imperiosa de baixar os custos do plantel, há muitos "repetidos" por colocar e um ou outro "cromo" por adquirir que complemente o que já existe na nossa colecção (boas compras anteriores e aqueles "cromos" gratuitos - Formação - que já vieram com a caderneta). Ir ao mercado comprar de novo por grosso (ou pescar de arrastão) é proibitivo, pelo que o mais certo é este(s) último(s) ter(em) de ser pescado(s) à linha no "alfarrabista". Todavia, recordo sempre aquela troca com o Galatasaray em que cedemos o Mpenza, o Spehar e o Horvath e fomos buscar o Jardel. Que esse seja o exemplo a seguir.

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08
Mai20

Sugestão do dia - Futebol Total


Pedro Azevedo

Nem sempre estou de acordo com o que oiço e às vezes o politicamente correcto ofusca o que poderiam ser ideias mais renovadoras ou análises mais consentâneas com a realidade como eu a vejo, mas o programa "Futebol Total", do Canal 11, é uma lufada de ar fresco no panorama do comentário futebolístico do audiovisual nacional. Aqui vive-se e fala-se essencialmente do futebol jogado nas 4 linhas, de jogadores e treinadores, sistemas tácticos, ideias/princípios de jogo e opções de construção de plantéis. Tem um conjunto de comentadores que se complementam bem e pivôs (o experiente Pedro Sousa e Miguel Belo, um jovem muitíssimo promissor) que imprimem um bom ritmo ao programa, tudo isto contribuindo para proporcionar ao telespectador uma mistura muito agradável de entretenimento e conhecimento do que é o jogo. 

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07
Mai20

Pergunta a Frederico Varandas


Pedro Azevedo

Segundo o que declarou em entrevista, Bruno Fernandes foi vendido por 65 milhões de euros (sic) e hoje valeria muito menos (20, 30 milhões...), narrativa que faz de si uma espécie de oráculo da catástrofe, capaz de antecipar e prever a ocorrência da Covid-19, tudo, certamente, mérito da sua gestão e nada atribuível ao factor sorte (que aceito também ser importante e não menosprezo) e a necessidades de tesouraria ou de prencher um défice de exploração (sem venda de jogadores) substancial. Nessa mesma linha de pensamento, atendendo a que na sua gerência o senhor gastou cerca de 50 milhões de euros na compra de 15 jogadores, a que acrescem salários anuais que decorrem da duração de cada contrato, perfazendo um investimento total que não andará longe dos 100 milhões de euros, gostaria de lhe perguntar quanto vale hoje esse investimento? 20, 30 milhões de euros? E, já agora, qual foi o custo de oportunidade de não ter havido aposta em mais jovens jogadores, tais como Domingos Duarte, Matheus Pereira, Mama Baldé (oferecido) ou Matheus Nunes (aquele que o senhor inclui num lote de jogadores com 17/18 anos e já completou 21 anos)? E dou de barato a compra de Ruben Amorim por 10 milhões de euros (mais 3 milhões de euros de salários anuais, segundo foi noticiado), treze dias antes da declaração do Estado de Emergência e menos de 1 semana antes da paragem da Primeira Liga, o que para um oráculo convenhamos que não foi uma grande profecia de curto-prazo. Venha então a tão propalada aposta na Formação (que apoio totalmente e espero não estar dependente nunca de conjunturas e ser estratégica). Pena é a qualidade superlativa que melhor a permitiria enquadrar já praticamente não estar entre nós, excepção feita a Mathieu e Acuña, após desnecessárias aquisições no mercado (que objectivamente não fazem a diferença face a jogadores da nossa Academia) nos terem obrigado a vender os melhores jogadores. Porque o Sporting nasceu para ganhar (tal como o Manchester United que contratou Bruno), não para ser um "trader" no mercado de jogadores de futebol. E ir ao mercado tem de ser cirúrgico (de cirurgião plástico) e obrigatoriamente significar acrescentar qualidade. Qualidade, não banalidade. 

 

P.S. Segundo comunicação oficial, Bruno Fernandes foi vendido por 55 milhões de euros mais cinco objectivos específicos de cinco milhões cada. Foi ainda paga uma comissão de 10% e há divergência de opinião sobre se a Sampdoria tem direito (ou não) a 10% do valor da transferência. 

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